Give In To Me escrita por DanyellaRomanoff


Capítulo 22
Primavera Antecipada


Notas iniciais do capítulo

Vou deixar pra conversar no final, ok?
Nessa playlist tem as músicas que imaginei que tocariam no baile, assim como umas que sempre foram tema dos dois, principalmente nessa fase da história. https://open.spotify.com/playlist/4BZZ5IOVZx4OCQzRP8nHly?si=fff9634951fd44ed

Aviso: contém narrativa sexual.

Boa leitura ♥



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De forma atípica, para um dia igualmente extraordinário, a rainha de Arendelle estava despertando do sono. Em sua rotina normal, a sensibilidade de seus tímpanos já aguardava o tormento das batidas de suas damas de companhia. Sem atrasos, arrancando-a de suas fantasias da noite anterior e devolvendo-lhe o peso da realidade. Seja dito de passagem que, quase no fim de sua inconsciência, Elsa suspirou aborrecida no aguardo de tudo isso, achando um tanto mais tortuoso ter que levantar aquela manhã. Seu leito parecia infinitamente mais atraente, mais aconchegante... E quão inefável fora aquele sonho... Maldito seja o despertar, resmungou em pensamento. De todo modo, algum imprevisto dentre os criados lhe daria merecidos instantes à mais para apreciar a calmaria enquanto acordava a seu tempo. Após levar a mão ao rosto para suavizar a invasão da luz, que de alguma forma estava mais intensa, ela abriu os olhos lentamente. Mas seu reavivar não fora definitivo ao abri-los e sim ao perceber um baixo ressonar masculino em suas costas, trazendo à tona a concreticidade de seu suposto sonho na noite passada.  

Lentamente, o restante de seu corpo começava a refletir o que outrora experimentou. Uma dor petulante entre as pernas, semelhante à que sentiu em suas primeiras aulas de montaria, e uma menos presente, porém mais estranha, em seu ventre. Eram marcas que certamente poderiam ser inoportunas no decorrer do dia quando estivesse trabalhando, porém não seria assim que a sensação perpassaria em seu corpo, pelo contrário a fariam suspirar e rescaldar de lembranças em seu interior.   

O nível de intimidade carnal a que chegaram mal pôde ser processado ao todo em sua mente deslumbrada e suas responsabilidades já estavam prestes a serem retomadas. Tão cedo? Mal tivemos tempo... Um tanto aborrecida, a monarca sentou-se comprimindo os lábios, o movimento das omoplatas como prenúncio de seu estresse àquele que não tardaria a abrir os olhos. Estava tudo perfeito em uma proporção extraordinária ali – isolada com seu amante e provida desse calor estrangeiro –, colocar os pés fora dos domínios de seu paraíso recém construído não era algo para o qual se preparou. E, se apenas soubesse que seria tão delicioso e... exigente de energias..., haveria de ter tido todo um planejamento. O que fariam a partir dali também era uma questão pertinente. Afinal, seus propósitos foram mudando assim como seus sentimentos. O que antes era um estrito ato de sacrifício pelo povo arendeliano, no qual abdicaria de suas ambições e planos envolvendo suas primeiras experiências, agora se tratava também de um egoísta caso de paixão proibida. Apesar de não haver qualquer arrependimento, ainda precisava elaborar uma boa forma de lidar com a presente situação. Aliás, tornando-se oficialmente desperta e mais perceptiva, precisava pensar em uma maneira de tirar Hans daquele quarto sem que ninguém suspeitasse.    

Àquela altura, os dentes da jovem moça, de forma nada prazerosa se comparar ao modo como o príncipe adormecido ao seu lado sempre fazia, puniam a carne de seu sofrido lábio, e as pernas sacodiam ritmicamente em agitação enquanto a mente recém desperta já era posta para trabalhar sem piedade. E por mais eficiente que ela fosse mediante o costume de uma boa dose de inquietude todos os dias de reinado, o toque certeiro provindo de mãos familiares era igualmente eficiente em fazê-la maneirar. Aquelas saudosas mãos pareciam lembrar cada músculo do cansaço que insistia em ignorar ao mesmo tempo em que os relaxava para que a mente não se culpasse por isso.   

— Sou fascinado pela maneira como sua mente funciona, minha rainha... — Céus, que ele não parasse de manuseá-la daquela forma. — Mas vou sugerir que diminua o ritmo um pouquinho... E tenha misericórdia destes pobres lençóis que tanto amassa. — Brincou ao passo que pousava as palmas sobre os dorsos das delicadas mãos e as persuadia a largar o tecido.  

— Temos tanto a fazer... — Em seu comentário já exibia quão manhosa estava, arrancando um riso baixo daquele que a agradava.   

— Oh sim, de fato. — Murmurava o príncipe escondendo seu rosto entre o mar de fios loiros que cobriam a nuca da monarca, ao passo que a envolvia com seus braços trazendo os dela junto para apertá-la confortavelmente em um aconchego de bom dia. Suas narinas dilatavam aprazidas pelo aroma invernal e doce que ela carregava naturalmente consigo, totalmente diferente do ar que pairava naquele ambiente, cujo cheiro seu olfato afiado como o de um almirante detectou em seus primeiros segundos de consciência.  

Aquele que antes estava impedido de fluir, agora o fazia e enviava saudações a todos salgando o vento persistente. O mar estava livre novamente e, a julgar pelo discreto aroma floral que trazia consigo (sem mencionar uma irritação nascente de sua alergia a pólen), não se tratava apenas de um descongelamento. A primavera estava ali e, para ter chegado de tal forma, certamente foi um espetáculo injustiçado pela falta de espectadores.  

— Há muito o que preparar para a despedida dos hóspedes, eu suponho. — Completou na felicidade contida em meio a ansiedade de vê-la feliz com tal realização.  

Elsa emitiu uma risada mista de cócegas e divertimento com o que ela acreditava ser uma piada. 

— Hmm muito engraçado, mas eu falo de... pra começar... — Disse rouca e vagarosamente saindo de seu aconchego para pôr-se em pé de frente para ele, acariciando seus cabelos ruivos e alinhando-os, enquanto o assistia sorrir com um ar de mistério. — ... dar um jeito de tirá-lo daqui sem que o vejam, amante da rainha... — O humor dissipou-se no ar quando a visão periférica captou um azul matinal de verão e seu cenho franzia em igual lentidão enquanto interrompia-se dotada de uma compreensão oferecida àquele sorriso ansioso nos lábios do rapaz. — Um momento, a não ser que esteja... que você esteja... — Suas mãos já se erguiam a esta altura como quem pede calma, muito provavelmente para si mesma, antes de lentamente se voltar para a janela pela primeira vez desde que acordou. E diante do que viu, um chiado de estupefação escapou de sua boca. — ... Esteja falando sério! 

O príncipe Hans das Ilhas do Sul jamais imaginou que ficaria um dia maravilhado de tal forma, apenas pelo júbilo de seu próximo. Na verdade, duvidava que até o mais bruto dos corações resistiria à emoção de presenciar aquele par de olhos profundos e azuis como o Norskehavet arregalarem-se com a boa nova e falharem quando as lágrimas já embaçavam a visão da agraciada. Questionava-se naquele instante como é que ele mesmo, anos atrás, seria capaz de aprazer-se com igual choro em um contexto de tragédia. Seu peito ardeu em culpa e simultaneamente em uma gratidão de quem escapa por pouco da morte eterna, por estar ali fazendo parte da felicidade dela, abrindo-lhe os braços quando ela buscou o amparo deles e sussurrou contra seu peito entre risos fracos inúmeras vezes que haviam conseguido. Porque ele possuiu o mais invernal dos corações e agora era evidente que a primavera o consumia também. Tanto tempo cultivando o melhor que podia achar dentro de si para se redimir e agora podia enxergar o começo de um ciclo dentro de si. Restaurando-o. E, como todo ciclo, apresentando-o novos desafios. Inspirando fundo e engolindo o nó que já persistia doloroso em sua garganta, aquele homem renascido estreitou seu abraço, tirando os pés de sua majestade do chão e afagando seus cabelos, a face jamais descolando do topo de sua cabeça.     

— Conseguiu, meu amor... está tudo bem agora. — Rumorejou tomando o rosto avermelhado em suas mãos, permitindo-a notar que seu par de esmeraldas também se emocionava por sua vitória. Pairou o sentimento de cumplicidade em meio a sorrisos tortos trocados antes de salpicar-lhe beijos por onde as lágrimas alegres lavaram segundos atrás. O príncipe nunca teve oportunidade de presenciar momentos realmente bons na vida de Elsa, não esteve presente (pelo menos não consciente) quando ela se libertou em aceitação e confiança logo após o marco histórico do Grande Descongelamento, tampouco sua reconciliação com Anna, ou sua primeira demonstração pública voluntária de seus poderes. E agora que podia, deixaria claro o quanto gostaria de celebrar com ela. 

Assim como todos no castelo queriam. 

As batidas na porta tardaram, mas não falharam a chegar. Do outro lado, Kai a saudava entusiasmado, informando-a o horário e pedindo que autorizasse a vinda das damas de companhia para prepará-la. Como a moça já deixara articulado todo um protocolo para tal situação, certamente a esta altura já haviam emitido o comunicado oficial de que finalmente os estrangeiros poderiam rumar para suas terras. Ademais, começariam logo pela manhã a checar a integridade dos barcos para que todos pudessem partir no dia seguinte dentro do horário previsto. E, segundo o mordomo, a princesa Anna já se encontrava coordenando os preparativos para o baile que encerraria a tudo diplomaticamente e em grande estilo. E segundo o que cabia à representante soberana nesse plano, seria um longo dia de reuniões e processos burocráticos. Enfim, após uma pequena pausa, ela pediu com firmeza que, por enquanto, apenas Gerda viesse até ela, sendo tal objeção a responsável por um frio na barriga enquanto afagava a mandíbula do rapaz e pedia que ele se vestisse, assim como colocava seu robe de seda em meio a profundas tomadas de ar. Hans compreendeu o que ela pretendia. 

— Tem certeza? Elsa... Eu posso dar um jeito de sair pela janela sem problemas, não quero que ache que tem que se expor por minha causa. Ainda mais agora. — Assegurou-lhe o homem tentando acobertar a própria insegurança com um sorriso, tomando a pequena mão em seus dedos.   

Quão surpreendente fora jovem loira retribui-lo com um sorriso encorajador e um balançar da cabeça em sinal negativo, determinada a seguir com sua decisão quando ele pensava que ela iria concordar e mostrar seu medo costumeiro. Erguendo suas mãos dadas até seus delicados lábios ela emitiu calmamente: — Espere apenas um segundo no closet, certo? — À qual ele assentiu e se dirigiu quase correndo para onde solicitado, uma vez que Gerda já anunciava disposição. 

Elsa liberou entrada silenciosamente enquanto a senhora de baixa estatura a saudava com um terno “bom dia” e uma venha, logo em seguida dispensando demais cordialidades para disparar em tagarelices sobre o tempo e o andamento da ornamentação pré baile, sem notar a princípio que a mais nova não estava conversando junto como de costume e sim apenas fitando-a com as mãos juntas em expectativas pois como bem a conhecia, logo iria converter-se em estranhamento. 

—... ah minha criança, precisa contar a sua velha ama os detalhes desse feito, foi um verdadeiro milagre! Um milagre! Anna está inquieta, teremos bastantes florais por todo o grande salão, será uma grande festa pode ter certeza, estamos caprichando e... — Ali estava, as pálpebras naturalmente enrugadas tornando-se de repente mais franzidas para uma varredura completa do local ao passo que as narinas experientes da mesma torciam irresolutas, recusando-se a acreditar no que estavam detectando. — Um instante... — Mais uma volta completa ao redor do leito bagunçado e não havia mais como negar, certas evidencias poderiam ser notadas até pelos mais desatentos. — Oh... Elsa! — Exclamou enquanto a loira platinada miava timidamente em resposta.    

Maman... — Restava à loira apenas seguir uma Gerda em puro desassossego por todo o cômodo agarrando-se às amarras de seu robe e retorcendo-as enquanto ouvia o sermão.    

— Minha menina... minha menina inocente... E sou testemunha de que não te faltou exemplo de sabedoria. E foi bem instruída sobre fornicação antes do casamento! Ah se eu pego o salafrário que fez isso com você... SUA MÃE! — Mencionou exaltando-se e virando para uma Elsa que cobriu o rosto com uma das mãos, suspirando mediante a cena. — Que os céus a tenha, ah se ela sonha com isso em seu sono eterno... Quão danada ficaria! Destes seios — Abarcou seus próprios montes em mais um lapso inconsciente dentro daquele monólogo, fazendo a rainha sacudir os ombros na tentativa frustrada de conter uma risada. — Destes meus seios não saiu leite de tolice para abastecer sua fome, disso eu tenho certeza! Ora essa, não ria criança, estou falando sério!     

— Perdão maman, mas por favor acalme-se, eu imploro! — Pediu Elsa pousando as mãos sobre os ombros da mais velha que ainda ofegava, os olhos úmidos pedindo uma explicação. — Sei que minha mãe também ficaria alarmada se soubesse dessa forma da minha quebra de valores... Mas há tanto além disso... Assim que me deixar explicar, estou certa de que irá entender. A primavera antecipada...     

— Ora essa! — Interrompeu a servente rasante, cochichando ainda nada convencida a abandonar seu exaspero, o indicador apontado para sua filha de leite tão inquieto quanto o tamborilar de seu saltinho no chão. — Não tente me driblar dizendo que abriu as pernas apenas para mudar o clima!  

—  AMA! — Guinchou Elsa, a esta altura tão enrubescida que sua pele naturalmente pálida parecia em brasas. 

— Está apaixonada, criança. Eu a conheço como palma da minha mão! Além do mais, moças apaixonadas fazem loucuras! — Os resmungos permaneciam. — Eu devia ter percebido logo...   

— Por favor, preciso que se recomponha! — Enfim foi preciso que a moça a trouxesse de volta ao equilíbrio com um breve sacolejar. — Se tão bem me conhece, sabe que eu não sou propensa a fazer qualquer besteira. Certo? Certo, ama? Mamei sabedoria, não? — Algumas respirações guiadas e a velha senhora já se encontrava rendida, pronta para pedir desculpas e reconsiderar seus preceitos conservadores. Assim, Elsa finalmente pôde retomar sua fala anterior. — Bem, como eu ia dizendo, tudo o que tenho feito... refletiu em mim de uma forma que me permitiu ter controle sobre a problemática envolvendo meus poderes. Sumarizando, se eu não fosse envolvida por essa... hm, inconsequência, o fjord ainda estaria intrafegável. Eu não tinha me permitido sentir ou conhecer certas coisas por muito tempo, maman... E, infelizmente, por minha ligação forte com a natureza, meu povo acabou sofrendo comigo. Mas está certa sobre uma coisa, a primavera seguiu o curso natural das coisas uma vez que eu me encontrei completamente... apaixonada. — Declarou timidamente devido ao segundo ouvinte. 

Gerda tossiu algumas vezes, seu instinto materno retumbava em superproteção ao ver sua filha de leite tornando-se mulher. Mas após ter o bom senso embaçado pelo susto, já se acanhava pelo vexame anterior. Elsa sempre foi uma criança especial, assim como honesta, jamais usaria seus poderes como justificativa para atos imundos. E de todo modo, devia admitir a si mesma que os tempos estavam mudando, por baixo dos panos da sociedade puritana muita coisa já não funcionava de forma rigorosa em relação à inocência das jovens, ainda mais quando se tratava de alguém tão independente quanto sua menina.  

— Ah, minha querida! Perdoe sua velha maman... — Por fim suplicou e, após um esticar compreensivo dos lábios de sua protegida, proferiu curiosa: — E então, posso vê-lo? Sei que ainda está aqui, a não ser que tenha saído pela janela, mas a julgar pela última vez... se encontra debaixo da cama, eu suponho?  

Elsa riu um tanto nervosa, aprontando-se para mais um momento de tensão. Virando uma Gerda em direção a seu closet, a qual logo solicitou que o rapaz se mostrasse. E, ao avistá-lo, som algum deixou sua boca e a última coisa que avistou fora o traidor das Ilhas do Sul correndo em sua direção preocupado e um gritinho vindo da jovem loira antes do escurecer de sua vista e seu desfalecer nos braços da mesma. 

— Ama? Ama... Está me ouvindo? — A visão de Elsa aparentemente serena fora aos poucos tomando foco diante de Gerda, em seguida ouviu-se um dueto de suspiros de alívio quando a velha senhora emitiu um grunhido um tanto dramático.  

— Meus seios... Sabedoria, Elsa... — A performance de lamúrias rascantes e desconexas não duraram muito depois que o jovem casal sentou a governanta sobre o chaise longue e ofereceu-a uma taça d’água.  

Dada sua posição de servente, era certo que não havia muito o que discutir diante do claro resultado daquele relacionamento inesperado, uma vez que não lhe competia o que a rainha tiver a resolver com a princesa Anna sobre tal situação. Seu olhar miúdo e desconfiado percorreu cada centímetro da face do príncipe do Sul quando ele se prostou diante dela, apresentando-se formalmente.  

— Eu sei perfeitamente quem és, meu jovem rapaz. Escute-me bem, à rainha de Arendelle tenho devoção e...  à Elsa, meu coração tem proteção, de mãe, até o fim. Por ela irei ajudá-lo... MAS minha confiança é conquistada. — Cada palavra fora recebida por ouvidos compreensivos e um homem disposto a tudo que indiretamente lhe fora proposto, inclusive ao pequeno tapa no topo da cabeça com o qual ela finalizou seu ultimato.   

Embora duras tenham sido suas palavras, logo a ama apressou-se em uma tentativa de desamassar as vestes do rapaz como faria uma mãe perfeccionista, enquanto orientava sua senhora a conjurar uma escadaria glacial que ligaria a janela dos aposentos reais à do quarto do príncipe para facilitar uma boa fuga. Com a saída de Hans, as mãos da ama de leite foram requisitadas. Àquela altura já houvera a ruptura necessária do vício da monarca em sempre associar seus anseios aos de seus próximos, ela se encontrava implacável e seu âmago seria seu guia. A aprovação de Gerda não era essencial, mas era importante. — Ama... — E ali, com as mãos daquela senhora que tanto estimava entre as suas, ela esperou que pudesse ter uma reafirmação.  

— Está tudo bem criança, eu sei... — Era tudo o que precisava ser dito e ambas sabiam. A ela não cabia questionar e sim somente garantir o bem estar de sua soberana em título e pequena princesa por questões de afeto.  

E tudo aquilo estava evidente no momento.   

A manhã correu devagar, a única amostra que a rainha possuiu de sua própria realização temporal fora o limitado enquadramento da paisagem primaveril das janelas do castelo. Para que tudo ficasse acordado até o fim do dia, os súditos foram divididos em comissões. A comissão de danos auxiliaria com a parte burocrática das reuniões de negociação de possíveis prejuízos do incidente climático, outra foi designada para atender às demandas do baile sob a idealização da princesa Anna e, por fim, uma última iria a campo para supervisionar os preparativos da partida dos dignitários.  

Dentre as maçantes horas envolvendo semelhantes processos e revisões de documentos a serem assinados, a jovem alteza se permitia dissociar mentalmente por instantes. A memória de cada toque, de cada estímulo, em cada pedaço seu que aquele homem adorou, inclusive a expectativa de revê-lo ao final de tudo, abastava-lhe as forças para fechar aquela jornada rumo à retomada da paz de Arendelle. 

Após o almoço, enquanto finalmente pôde tomar um ar no balcão de seu escritório, um aroma de glögg recém preparado perseguiu suas narinas, gerando um automático eriçar em apreciação, perfeito para repor as energias pós refeição. Não sendo conveniência o bastante, outra fonte ainda mais forte de prazer já induzia o relaxamento de seus ombros, enquanto o ministrante parecia mais interessado no cheiro provindo de seus cabelos platinados do que no da bebida que jazia no parapeito ao seu lado. 

— Hmm preciso estar desperta, não me faça tanto agrado... — Murmurou com um sorriso nos lábios, a voz entrecortada por gemidos de conforto enquanto os dedos de sua companhia amassavam-na em pontos já bem estudados por seu dono. Mais um miado preguiçoso da moça e o rapaz sorria divertido antes de cessar com um beijo e se afastar para servir as taças. — Obrigada... — Agradeceu Elsa, logo tomando um farto gole e sendo observada pelo príncipe à sua frente.   

— Gerda me ajudou a chegar até você sem levantar suspeitas... — Comentou o ruivo após copiá-la e, assistindo-a observá-lo com o olhar esfumado pelo calor da bebida, acrescentou em um só fôlego. — Estive a manhã toda esperando por essa oportunidade.   

A consumação costuma renovar sensações, tudo o que já haviam obtido um do outro inúmeras vezes adquirira um ineditismo junto às novas experiências que seus corpos viciados já reclamavam por repetição. Bastou a simples declaração do rapaz para que os glöggs de repente perdessem seu atrativo e uma necessidade latente de outras coisas ameaçasse ebulir entre ambos quando vossa graça apoiou sua taça de volta no parapeito, deixando sua mão deslizar por todo o pequeno espaço até onde a de Hans repousava, afastando a taça do mesmo do caminho do almejado toque. 

E, em contraste àquele a sua frente, Elsa proclamou em uma fina expiração um: — Eu também...  

O olhar de sua majestade quase vacilou ao cair sobre os lábios do rapaz enquanto ele os umedecia em uma prece silenciosa por ela. E a divindade diante dele não deixaria de atendê-lo. Hans guiou-os precavidamente para dentro antes de tomá-la em seus braços. Arrepios eram causados pelo inspirar sonoro na curva do pescoço femíneo. Lentamente, beiços substituíram o nariz, enquanto seu dono recebia um roçar felino na lateral de sua face em resposta, seguido de um fungar apreciativo em suas costeletas e uma trilha de beijos foi traçada por ambos até que as bocas finalmente se encaixassem. Havia urgência no modo como suas carnes se pressionavam e Elsa tombava a cabeça para trás, deixando-o como maestro do dueto de suspiros em resposta a cada libar carregado de vício. Com um cronômetro mental do tempo que tinham a sós, o qual Gerda reforçou tão fervorosamente, o príncipe usou de todo o seu auto controle para interromper aquele deleite compartilhado, afastando a jovem moça gentilmente enquanto afagava seus braços. Ambos riram do quão ofegantes se encontraram, a monarca limpava o canto dos lábios com um humor remanescente que Hans adorava apesar de que jamais conseguira definir como timidez genuína ou malícia velada. 

Rapidamente, o ruivo retirou do bolso interno de seu casaco uma ciclame magenta, suas írises que não queriam deixá-la acabando por desviarem com sua nascente pusilanimidade assim que notou a flor um pouco amassada. — Queria trazer-lhe um pouco da primavera, uma vez que foi uma conquista sua... Não seria justo que todos desfrutassem exceto você. Sinto muito que tenha amassado... — Ainda feria seu orgulho não poder cortejá-la apropriadamente, enviar cavalarias com joias e posses materiais chamativas, ou bouquets decentes e bem adornados. Sendo ainda um príncipe sem privilégios mal visto no reino de sua amada, não havia muito o que oferecer além de uma singela flor. Porém, antes que divagasse mais sobre suas diferenças, o afago de sua pretendida trouxe-o de volta para capturar o terno ato, atípico para uma rainha, de depositar um beijo demorado nos nós dos dedos dela. 

— Oh não, não, está perfeita! Obrigada... por me trazer a primavera. — O singelo presente foi recebido com tanto esmero que, embora o ruivo já estivesse convicto em demasia do caráter adoravelmente húmil daquela que presenteou, ainda lhe restava um mar de admiração para transbordar dos olhos. Dessa forma, pôde apenas colar seus beiços na fronte da moça para evitar ser flagrado. Adentrando o convite dela naquela esfera de acolhimento, o rapaz sentiu-se capaz de sentimentos de sublimação que raramente experienciou em vida, muito menos em tal magnitude. — Eu vou guardar comigo pra sempre. 

Uma paz merecida pairava como o sol a pino daquele início de tarde. A natureza pareceu querer adornar o momento em que se despediram na promessa de um reencontro à noite, como em um encerramento de um primeiro ato espetacular. Algumas sementes errantes de dente-de-leão amarelo, vindas com a brisa vespertina, tiveram sua invasão ao cômodo interceptada pelos fios platinados da moça. O pólen rendeu alguns espirros ao rapaz, mas ele se manteve inabalável ao se retirar sem perder um segundo sequer da visão daquela que, para ele, se tratava da protagonista. Elsa apenas sorria e balançava a cabeça, fingindo apressá-lo, enquanto o rubor do lisonjeio gritava o contrário. Um lindo fim. 

— Vossa Graça, o último dignitário já está a seu aguardo.  

O pôr do sol se aproximava, restava ainda mais uma reunião com um chanceler representante do reino de Viersenton que havia solicitado o último horário disponível. A mulher suspirou em exaustão enquanto massageava as têmporas, a vista já protestando pelo excesso de leitura e revisão de acordos, em seguida permitiu a entrada do tal solicitante com um aceno.  Quando seus guardas deram passagem e seu corpo endireitou-se para as formalidades, uma figura masculina tomou a frente dispensando todo o protocolo e o ministro que deveria mediar a reunião, para que ficassem a sós.  

— Majestade, não imagina o quanto eu estava ansioso por este momento.   

Numa rápida espiada em seu pergaminho, a monarca pôde identificá-lo. Para seu desgosto, tratava-se de Lorde Beau de Viersen, um poderoso comandante militar cujas alianças de seus homens com outros reinos fora definitiva na vitória de batalhas que decerto entrariam para a história. Era um de seus mais insistentes cortejadores e sempre fazia questão de deixar desconfortavelmente claras as suas intenções em cada carta que enviava, tal como suas tentativas de convencê-la do quão invencíveis seriam se aliassem suas habilidades glaciais ao potencial bélico de Viersenton.  

— Lorde Beau. — Em uma reverencia discreta, ela o cumprimentou. — A que devo tanta discrição? Há algum problema? — Indagou em um semblante impassível. Se por um lado não queria ficar sozinha com aquele homem, também queria evitar que ele se sentisse ofendido. Diplomacia era praticidade em um momento como aquele.   

— Oh não, não... Apenas aprecio a privacidade. — Proclamou o estrangeiro impudicamente à medida que se aproximava, seu sotaque conferindo uma brutalidade à sua mirada invasiva que a monarca não ousaria perder de vista por sua própria segurança. Sua tensão apenas ofereceu trégua quando percebeu que ele apenas entregaria um pergaminho em suas mãos e logo tomaria distância segura novamente, dirigindo-se ao lado oposto da sala para observar o exterior através do vitral. — A mim sempre coube trazer soluções, Vossa Graça, por onde passei... — Embora tais palavras devessem inspirar boas sensações, a jovem loira estava certa de que todo esse cenário em que se encontrava não predizia algo bom. E o quão malditamente certa estava quando o pergaminho revelou uma lista de exigências, sendo a primeira uma proposta matrimonial.    

— Do que se trata...? — Sua sobrancelha automaticamente arqueou diante do que via. 

— A primavera arendeliana é magnífica, magnífica! Jamais vou me cansar de admirar seus feitos, minha rainha. Mesmo que sempre estejam acompanhados de algum tipo de... escândalo. — Houve uma risada breve enquanto ele se desculpava de forma falsamente desajeitada, como se cada segundo de seu discurso houvera sido ensaiado várias vezes. Elsa, já podia sentir o ardor de uma regurgitação em sua garganta. — Eu particularmente adoro escândalos. O que não é a realeza, se não um espetáculo para os olhos da sociedade? Devo dizer que escolheu uma temática bem interessante, rainha e traidor... é de prender a atenção, um verdadeiro show. Concorda?   

Segundo ato. 

A rainha de gelo instintivamente se colocou de pé, esbarrando em seu assento que tombou com um estrondo, ao passo que o dignatário se voltou novamente em sua direção. Seu músculo masseter protestava de dor, tamanha a contração por raiva e temor puro. Logo se iniciaram batidas na porta, com indagações sobre o barulho. Não havia o que dizer. 

— Como eu havia mencionado, temos a solução. Arendelle lucrará, meu exército irá servir a nós, assim como terá a chance de se redimir com Weselton. Acaso não saiba, meu velho tio avô adoeceu fortemente diante da sua decisão de romper laços comerciais. — Houve uma pausa, na predição de que um soluço escaparia por entre os dedos trêmulos sobre a boca da jovem, cujo olhar marejado estava em sentinela do vulto avante de Beau. — Mas não se preocupe, meu bem... tenho certeza de que ele morrerá agradecido por ver tudo isso sendo concertado e seu herdeiro no ducado tendo um mandato promissor.  

— Como...? — Era muita informação, seu estômago pesava enquanto vasculhava sua memória com flashbacks de tempos atrás. Um frustrado duque de Weselton sendo escoltado a se retirar das dependências do reino, assim como momentos bem mais recentes, de encontros com o príncipe do Sul onde pudessem ter sido vistos. Àquela altura, o lorde já se encontrava emanando seu hálito forte de congnac e fumo próximo a seu rosto para cochichar. Elsa não recuou.  

— Devia ter tomado mais cuidado ao checar os quartos que entrava antes de abrir as pernas pra ele- 

Outro ruído ecoou, dessa vez mais baixo, do impacto da palma da moça contra a face do rapaz. Desta vez, dois guardas que estavam em seus postos do lado de fora adentraram acompanhando o ministro, os quais a moça tranquilizou. 

— Está tudo bem, eu tive um breve mal estar por estafa, mas Lorde Beau me ajudou.  

Dito isso, tendo o homem afirmando orgulhosamente em concordância como se ela fosse sua marionete, todos se prepararam para se retirar. 

— Farei o pedido hoje à noite. — Sussurrou em seu ouvido, tirando proveito para inspirar seu aroma sem temer represálias.  

Elsa conteve a magia glacial âmbar em raiva entornando seu pulso, enquanto abria a boca minimamente para resmungar. 

— Estou farta de todos se intrometerem na minha vida. 

— Tão farta a ponto de colocar sua reputação em jogo? Sabe que só há uma escolha a se fazer. — E assim se retirou, mal ouvindo o grunhido frustrado de pura ciência. Pois ela o sabia, como sabia. 

Grande fora a sorte da rainha ao notar que seu gelo interior fora quebrantado em demasia a ponto de não permitir que o clima fosse abalado novamente mediante a ameaça de Beau. De todo modo, refletiu a moça em meio ao burburinho entre suas amas de companhia, fazia parte de seu destino se sacrificar. Ela nasceu para servir, seus desejos pessoais sempre foram postos de lado uma vez que fora criada para tomar conta de toda uma civilização, e, em seu caso especificamente, havia o agravante de viver uma vida de segredos por conta de seus poderes. Concluiu que se tratava de só mais uma situação onde teria de agir de mesma forma, enquanto sentia cerdas macias de uma escova passearem em seu couro cabeludo assim como dedos trançarem seus cabelos em uma bela twisted crown.  

Apenas mais um dever para sua conta, ela repetia como um mantra em seus pensamentos, o aroma frutal a inebriando em um toque final enquanto suspiros femininos eram emitidos em resposta pelas moças ao seu redor, todas admirando sua obra final enquanto uma delas encaixava a ciclame em um ponto central do penteado, conforme sua soberana havia solicitado, entre as pequenas flores que já se encontravam como adorno. Seu vestido fora escolha de Anna, com a elegância rocaille cheio de bordados em dourado e mangas flare em renda a partir dos cotovelos, uma exposição generosa do busto e design da saia que dispensava uso das crinolinas que a jovem tanto detestava. A princesa apenas queria que sua irmã mais velha tivesse a noite de sua vida e, apesar dos recentes infortúnios, a monarca fez questão de expressar todo o seu carinho assim que encontrou a jovem antes de serem anunciadas.  

Antes mesmo de adentraram o grande salão, o som de violões espanhóis e cellos já vibrava em seus tímpanos, assim como a batida de cajóns parecia descompassar seu coração em um convite sedutor ao se corpo para que o mesmo se juntasse à melodia. Era inacreditável o grande feito daquela decoração dado o pouco tempo que tiveram. Alguns hóspedes de Valência tiveram o prazer de colaborar, eles sabem como ninguém como receber a primavera, comentou a princesa de Arendelle em euforia diante do que se assemelhava a um carnaval. 

Em questão de poucas horas, a festa estava um frenesi puro regado a mezcal e vinhos das Ilhas do Sul, vestidos e cabelos rodopiavam em um emaranhado de corpos que não mais se preocupavam com a compostura. A princípio, a governante de Arendelle concedeu danças a seu cunhado, entre os alegres momentos em que apenas improvisava com giros e moções divertidas junto de Anna. Punhados de pétalas e serpentinas eram distribuídos entre todos para que se entretecem atirando aos céus e entre si. Em alguns momentos, quando iniciavam ritmos mais tendentes ao flamenco, um educado cavalheiro de Valência convidou sua rainha anfitriã, à uma experiência de simples passos, os quais a mesma rapidamente captou com a habilidosa didática do mesmo. Ao longe, seu amante das Ilhas do Sul a observava afetuosamente ter aquele momento tão descontraído, sorrindo com a felicidade dela ao girar como uma criança e deixar chuvas de pétalas caírem sobre si. Aguardava pacientemente o momento em que todos estariam alterados demais para lembrar que ele entrou em cena, aproveitando inclusive para treinar o ritmo espanhol com outras parceiras de dança para que estivesse perfeito quando a abordasse.  

Em uma coincidência infeliz, outro alguém escolheria o mesmo instante para fazer o mesmo. 

Todos foram chamados para apreciar a queima de fogos de artifício do lado de fora e, embora Elsa também viu ali sua oportunidade para ir de encontro a Hans, a figura inconveniente de Lorde Beau surgiu em seu caminho. 

— Está na hora. — Ele deve ter dito, mas tudo o que processou fora a visão do ruivo ao longe franzindo o cenho em confusão enquanto suas passadas de pressa para alcança-la eram parados abruptamente, além da mão estendida do outro que ela não tinha escolha a não ser juntar com sua própria. Mais uma mirada por sob o ombro, a rainha apenas se deixou guiar enquanto desejava que esse pesadelo passasse depressa, como um beliscão, que logo seria afagado pelos toques de Hans assim que ela pudesse esclarecer tudo.  

O vozerio estava baixo, as palavras de Beau não lhe eram interessantes, envolviam algo como descobrir estar perdidamente apaixonado dentro de circunstâncias tão difíceis, além de outra estupidez sobre ter encontrado o amor no meio do caos. Seu semblante poderia ser interpretado como sendo de surpresa e timidez, o que convenceria a todos sobre o porquê de ela não estar tão sorridente. E então veio o pedido. 

“Rainha Elsa de Arendelle, me concede a honra de ser seu marido?” 

Em seguida, após seu sim, que não era digno de ficar na memória, os fogos explodiram num design perfeito de uma cena romântica. Braços indesejados a enlaçaram e relutantemente seus próprios se apoiaram nas ombreiras daquele cavalheiro, colaborativa, enquanto seus lábios forçaram-se a encenar um beijo que ela teve pressa em findar. A parte em que Anna a abraçou entre gritos de júbilo foram de certo conforto pois tudo o que queria era se sentir acalentada de alguma forma. 

Gradativamente, o assédio aos noivos fora diminuindo. Esgueirando-se de cada felicitação da forma mais educada que conseguiu e contando com a misericórdia de Beau de libera-la após tanto impedir suas tentativas de deixar seu tiracolo com seu braço forte em torno da fina cintura, a monarca finalmente se encontrou sozinha sob o pretexto de ir buscar algo para se refrescar. 

Em sua busca, a loira adentrou a parte central do salão, onde por sobre pendia uma tenda florida e cheia de fitas coloridas, com vinhas pendentes em cascatas sobre as cabeças daqueles que bebiam e dançavam ali. Não precisou vasculhar muito para achar seu príncipe levemente ébrio e absorto na conversa com uma marquesa, provavelmente com o dobro de sua idade, que se expressava muito bem com a protuberância de seu busto e suas mãos impertinentes. Em uma fração de segundo, o chão sobre eles tornou-se escorregadio como uma pista glacial, levando a dama não a deslizar para longe como Elsa pretendia, mas a cair para a frente e ser amparada pelo seu acompanhante. Elsa bufou impaciente com as risadas pretenciosas daquela mulher para o príncipe, enquanto se segurava para não congelar as ceroulas dela também antes que o homem a dispensasse. 

No entanto, assim que teve a atenção total dele sobre si, Elsa recuou com todo o seu ciúme e baixou o olhar em penitência. Ela não tinha o direito de reivindicá-lo, não após ter ficado noiva de outro sem ao menos avisar. 

Compassos envolventes se iniciaram antes dos violões produzirem a melodia que os guiaria um ao encontro do outro, o olhar inquisidor daquele homem jamais deixou o seu par oceânico de súplicas silenciosas. Cada vez que ele a girava e trazia para si, ou a prendia tão apertado durante os passos que mal podia respirar, ela sentia sua frustração. Não havia forma melhor de diálogo no meio de tanto barulho. Antes que pudessem findar, Elsa fora arrancada de suas sintonias com um arquejo de protesto, mais uma vez obrigada a forjar uma dança romântica com Beau enquanto seu olhar se mantinha fixo em Hans, pedindo-o com todas as suas forças. Desta vez, o ruivo não ficaria ali para assistir e, ao vê-lo dar as costas e se retirar para subir as escadas, a jovem rainha tentou discretamente desvencilhar de seu noivo ao passo que o sentia estreitar mais ainda o aperto sem nunca interromper a dança. Sua cota de fingimentos para aquela noite estava findada.  

— Já chega. — Esfriou os braços que a prendiam a ponto de causar dor e soltá-la no processo. — Acordamos que eu seria sua noiva, não sua propriedade. Tenha uma boa noite. — Declarou firmemente antes de se retirar às pressas para alcançar o príncipe, certa de que o olhar possesso de Beau estaria em suas costas. Lidaria com as consequências depois, por hora, tudo o que lhe apetecia era desfazer aquele mal entendido.   

A melodia dançante ainda ressoava longe de ter um fim, sendo possível ouvir em grande volume mesmo nos andares onde ficam os aposentos. Apesar dos chamados incansáveis em seu encalço, o jovem ruivo não diminuiu a velocidade com que se dirigia ao seu quarto. Não havia como simplificar tudo o que sentia no momento diante da quebra total de suas expectativas para aquela noite, mas acima de tudo o abalou a superior diferença entre Lorde Beau e ele. O atual noivo da mulher por quem estava apaixonado era mais digno e a ofereceria bem mais. De todo modo, vê-la se casar com outro era algo a se esperar, estavam condenados a isso pois a monarca jamais colocaria sua vida pessoal acima de seus deveres e ele também jamais a permitiria fazê-lo. Apenas não esperava que seria tão cedo, tampouco sem nenhum aviso da parte dela. 

— Hans! — O rapaz já se encontrava afrouxando seu fraque e jogando o pesado casaco sobre sua poltrona, ignorando por completo o baque suave de uma Elsa ofegante esbarrando na guarnição da porta para frear sua corrida até ali. — Escuta... eu-  

— Há quanto tempo estavam planejando isso? — Ele virou bruscamente em torno de seus próprios pés, o rosto contorcido em cólera, sua mente maquinando sem parar todas as teorias possíveis que justificassem o que presenciou mais cedo.   

Aquilo refletiu em Elsa numa onda melancólica, seu expirar sonoro e as tentativas de umedecer a garganta seca abrandaram-se diante disso. Lentamente fechando a porta atrás de si, a jovem rainha tentou organizar suas justificativas. 

— Nada disso foi planejado, eu não tive escolha... 

— Poderia ter me contado. Me pouparia de ver todo aquele circo. — Retrucou um Hans que levava as mãos aos cabelos, castigando seus fios com as imagens dela nos braços daquele sujeito o assombrando, além do discurso do mesmo, aquilo o enlouquecia.    

— Entenda, por favor... — Mediante sua necessidade de reafirmação, a loira aproximou-se e buscou um toque, ao menos o mínimo deles, antes de Hans a impedir no início do percurso. Seu olhar descrente enquanto tinha o pulso dela seguro entre seus dedos, já colocava a prova o que mais tivesse a dizer. — Até pouco antes do baile eu não fazia ideia de nada. Aquele homem sabia sobre nós... Hans, por favor, eu não tive escolha a não ser acatar com o que ele exigiu em troca de silêncio. — Sentia-se aos poucos fraquejando, as lágrimas finalmente salpicando suas bochechas enquanto recuava sua mão para abraçar-se em profundo desamparo. — Além disso, eu dei motivação a essa vingança. Pelo visto, a família de Beau possui influência política em muitos reinos... Soube que o Duque de Weselton é tio dele. E... ele está muito doente, por minha culpa. O rompimento de laços que eu decretei foi demais para ele...  

Nem no auge de sua insanidade, o novo homem que o príncipe do Sul havia se tornado, deixaria de proteger sua majestade. Frente ao que acabara de ouvir e o estado de pequenez daquela a sua frente, prontamente converteu sua prioridade em ser seu suporte. Suas mãos encoparam o rosto da jovem loira enquanto inclinava-se para que estivesse à altura dela, sempre com a mesma delicadeza. Seus polegares afastaram os filetes lacrimosos e sibilou calmante quando ela fez menção de soluçar. A jovem mulher poderia ver nele a devoção de sempre, como um servo, um amigo, alguém que a respeita e almeja seu bem estar. Entretanto, não lhe estava sendo permitido acesso a seu amante. 

— Elsa, preste atenção. Esse fardo não é seu. Weselton foi tão mal intencionado quanto eu quando veio aqui, ele mandou matar você. Ter padecido em doença foi consequência de seus próprios atos. Não é culpa sua, entendeu? Por favor, não chore mais por isso. É a rainha mais dedicada que conheço, é boa e justa, só estava protegendo a si e a seu reino. Não chore, eu imploro. — Finalizou suplicante, seu próprio olhar lacrimoso quase o traindo e com isso levando-o a depositar um beijo delicado na fronte femínea, sempre impedindo as tentativas de encurtar distância, antes de tirar as mãos dela novamente. — Agora volte para o salão, precisa aproveitar sua noite. Você merece mais do que ninguém. 

— Então... Vai me dispensar assim? — Questionou uma Elsa incrédula, fungando para afastar o tremor recorrente do choro em seu peito. Podia sentir o altruísmo nas palavras do ruivo, ele genuinamente desejava que ela estivesse aproveitando a noite no final das contas. — Quero aproveitar minha noite com vo- 

— Vá embora! — Interrompeu o príncipe em tom meramente exaltado, algo que não soava convincente nem para si mesmo.  

No conseguinte silêncio que pairou no cômodo logo em seguida, ambos se mantiveram vigilantes ao olhar um do outro. Hans ofegava levemente enquanto assistia seus adorados olhos azuis mostrando a mulher a sua frente transitar entre o dilatar do breve susto inicial e o semicerrar de uma desconfiança nascente. Por fim, sentiu-se profundamente desnudo pela análise dela. Aquela discussão estava longe de acabar. 

— Hans... — Sussurrou a moça carregando insistência em seu semblante, afinal, após tanto ter sido exposta diante dele, era injusto ser mantida no escuro quando ao que ele estava pensando. A ofenderia caso a sensação de conforto para falar sobre o que sentia não fosse recíproca, ainda mais quando se conheciam bem o suficiente para notar quando algo estava sendo ocultado. 

— Mas que droga Elsa, será que não vê? Eu e Weselton éramos iguais, eu não sou digno de você. — Ele permanecia visivelmente irritadiço em repetir toda a velha narrativa de sua vilania, além da culpa que perduraria em sua alma. A monarca apenas suspirou ao ouvi-lo, exibindo sua própria frustração diante de tudo, pois para ela também era enfadonho se encontrar posta como uma vítima. Tratava-se de um gatilho para os dois. 

— Você sabe que não é verdade. — Continuava contra atacando a agitação com serenidade, reconhecendo a si mesma nele.  

— Eu tentei matar você! — Finalmente disparou como quem expele algo pútrido que estava preso dentro de si, intoxicando seu interior há muito tempo. E ela mal arregalou os olhos em surpresa diante disso, o que aumentava seu desespero. Aquele era seu último recurso para afastá-la.   

— Eu também... — Havia cansaço no modo como ela se permitiu emitir um meio sorriso desprovido de humor. — Vê? Isso tudo não importa mais... — Arriscou um passo tímido à frente enquanto ele refletiu recuando igual distância, deferindo golpe após golpe de rejeição, culminando ao dar as costas como deixa para que ela saísse. 

A imagem de um Hans apoiado pelos cotovelos na parede oposta, com os dedos punindo os cabelos, enquanto fechava os olhos para esconder a auto depreciação. E a insistente ideia que saía quase inaudível daqueles lábios. Eu não a mereço. Todo aquele conjunto fê-la se sentir imersa em um motim onde ele a aprisionou, afogando-se nas profundezas dos dois enquanto ele tomava um barco e rumava para longe. Aquilo a enraivecia. Ela apenas queria que ele a tomasse de novo, seja triste, seja com raiva, que ele a tivesse nos braços, que naufragasse ou ancorasse nela.       

— Você... Vo- Você abusou da minha família, e desonrou meu lar enquanto estivemos mais vulneráveis. — Começou a rainha em um murmúrio audível o suficiente para fazê-lo ouvir, e ele engatou a respiração para isso. — Eu o desprezei com todas as minhas forças, jurei em minhas orações que jamais o permitiria em meus domínios novamente, que o eliminaria da minha vida e da vida da minha irmã. — Apesar do olhar baixo, Elsa carregava uma incredulidade em suas feições, como quem revisa a própria trajetória. — E então, eu cometi um deslize e minha vida se tornou um caos novamente. E eu achei que por tudo de volta em seu lugar seria a solução... Mas não era... — Fraquejando, Hans a captou de esguelha emitir um suspiro exausta, seus ombros tremendo levemente no processo. Viu a face angelical contorcer-se em desgosto, em seguida colérica, e denunciou a si próprio quando ela o flagrou espiando. Sentiu que padeceria sob a mira gritante da jovem dama. Jamais deveria ter lhe dado as costas. Ele não tinha o direito, constava nas duas mentes. Ela continuou alteando a voz, mais firme. — Todo esse tempo eu precisava de uma bagunça, diferente da que Pabbie disse estar na minha cabeça, uma bagunça que me libertasse para sempre. E você soube disso antes mesmo do que eu. E isso me assustou tanto, Hans... Assustou como o inferno. Eu deveria ser inalcançável para você. Não falo do meu aquecimento, afinal, não tive escolhas e nem tempo. Falo dos meus sentimentos, do que não devia sentir com o passar do tempo. Ora... somos da realeza, quantos de nós se casa, troca beijos e vai para a cama sem amor? Deveria ter sido fácil...    

Ele não conseguia encará-la por muito tempo, seu par de esmeraldas vacilavam a cada sentença do monólogo da rainha das neves. Ela ria desgostosa, imersa no próprio devaneio. — Eu até rezei! Eu supliquei a seja lá quem estivesse ouvindo que você fosse o último homem na face da terra a ter a droga do meu coração. — O retumbar cardíaco castigava a caixa torácica do rapaz e o ensurdecia para tudo exceto aquela voz, a voz feminina que comandava cada centímetro de seu organismo. Quando a jovem praguejou e ameaçou quebrar, acreditou que perderia seu firmamento e tombaria de joelhos. Se ela derramasse uma lágrima por ele, não se perdoaria jamais. — E você não colaborou, seu... idiota! Você me encurralou, me forçou a admitir o que eu tentei a todo custo evitar. — Despejou Elsa, sem controle ou piedade. Sua magia reluziu em torno das mãos quando bolas de neve iam sendo geradas, uma após uma, as quais ela atirava incansavelmente contra ele. — Me igualei a uma traidora! Tenho sido suja. Indigna. Pecadora. Por me envolver assim. Por sentir o que sinto quando estou com você. — O impacto dos projéteis diminuía e tornava-se menos frequente. — Por pensar o que penso quando me lembro de você... E eu lembro o tempo todo...   

O violino lá embaixo parecia rasgá-los desnudos. Mais ainda.      

— Eu optei por desonrar minha família e meu reino junto com você. E então, sua alteza, uma vez que eu estive entranhada nisto até o último fio de meus cabelos, decide me afastar. Decide concluir à esta altura, depois de tudo, que não me merece. Como você se atreve? — Ela fez uma pausa quando mais um riso seco fugiu de sua garganta, desta vez assemelhando-se à um soluço. — Eu deveria ter o mínimo de orgulho, certo? Aproveitar da sua desistência para ter uma chance de sair disso, seguir seu conselho e voltar para o meu noivo. — Deu de ombros, enquanto Hans pareceu dispersar-se em uma triste conclusão de que ela estava certa. Até um timbre peculiar chamá-lo de volta a si, confuso para o momento, contraditório, ele diria. — No entanto... — Um arfar agudo, não como ele a ouvia fazer quando estava amargurada, e sim quando ele a persuadia com beijos. — Eu disse, estou entranhada, e não sei o caminho de volta para sair disso. — A moça estava perigosamente fora de seu campo de visão, apenas seu ciciar dotado de uma serenidade suspeita sinalizava sua presença. — Ah Hans, estou tão cansada... — Quanta melancolia devia conter aquela voz rouca em necessidade. — Cansada de viver à mercê de todos e das circunstâncias. Céus, estou sendo forçada a casar com alguém que não amo. Vai mesmo me deixar completamente nas mãos dele? Como se não se importasse? — Indagou um tanto tímida dessa vez, ao passo que repousava sua fronte no ombro tenso do príncipe, engolindo em seco e despejando uma última declaração. — Estou aqui, não como sua rainha, mas como uma mulher, como uma simples mulher.  

Então ela se calou, e o único barulho audível fora o tilintar de cintos sendo abertos e o desabotoar de calças. 

— E- Elsa... — Gaguejou.    

— Shh. — Silenciou-o com serenidade, igual ele fizera em seu primeiro encontro na biblioteca, quando ela mal conseguia tocá-lo e curiosidade era a única coisa intrigante sobre ele que pairava em sua mente. Entretanto, agora era diferente, não era algo experimental, ela sabia onde queria chegar. Ele a moldou assim. — Talvez... Apenas talvez, eu não tenha deixado claro o modo como você faz eu me sentir. — Balbuciou contra os pelos ruivos eriçados sobre a nuca masculina. 

— Não! Rainha Elsa, você não... — Tentou novamente, o suor brotando de suas têmporas diante da resistência, resistência esta que ela sofrera inicialmente, e que agora ele pôde provar da borda. 

— Pare de me chamar assim! — Cortou-o severamente e ele apenas ruiu em resposta, ao toque dos dedos femíneos em seus quadris.   

— Elsa, por favor... — Insistiu entre dentes até engolir o restante das palavras quando uma mão ágil o atingiu dentro das últimas restrições da vestimenta e expos sua virilidade. Ele abaixou a cabeça, e não havia surpresa quando pôde se ver completamente duro para ela. — O que fizemos? O que eu fiz com você? 

— Oh não se culpe por eu ser uma boa aprendiz. Esse fardo não é seu. 

É isso o que acontece quando se chega a um limite onde a culpa se torna inerte, e o desespero de ser deixada sozinha na ruína é latente. Cabelos ruivos eram prensados entre a parede e a fronte suada do rapaz enquanto sua boca era esmagada contra a mesma superfície, como em um intento falho de fundir-se ali para escapar dela. Era doloroso resistir ao que jamais deixou de querer. 

— Eu sinto tanto pelo o que aconteceu... — Murmurou Elsa, abraçada a ele, o tecido fino da camisa de linho do rapaz sendo mastigado por suas unhas enquanto a ministração da rigidez masculina jamais cessava por parte dela. — E-eu... — Oh, o desespero. — Eu estou... — Ele leva à confissão. — Eu estou apaixonada... E preciso de você mais do que nunca, por favor, não me mande ir... 

O sangue pulsava suplico diretamente para abaixo dos quadris, enquanto Elsa pressionava o busto duramente contra as costas de Hans. O timbre morno em contraste com a irônica habilidade de suas mãos de incendiá-lo não oferecia escolha a não ser atender ao pedido silencioso de ambos os corações. Bruscamente, o fino pulso da moça fora envolvido, parando-a. E antes que a mesma pudesse protestar, Hans já estava virando-se para avançar sobre ela, intimidando-a, oprimindo-a, servindo-a como sua refeição sobre a escrivaninha que por conveniência estava por perto. Não os ofereceria o conforto de um leito desta vez, teriam a pressa e o desalento do adultério. O modo como o ruivo levantou a saia e rasgou a última camada de tecido que o separava da carne úmida de sua majestade, dispensou mais trocas de palavras antes de enterrar-se por inteiro dentro dela. Apenas um inspirar agudo escapou dos lábios da moça enquanto ele vocalizava como nunca antes. “O quanto a queria. Como a queria.” Alívio em sua mais pura representação, como se houvessem interrompido uma abstinência. Era muito estímulo para suportar, ele empurrava como um louco dentro dela, agredindo-a com a pressão avassaladora de uma penetração para a qual ela não estava preparada. Não tardou para que o corpo da rainha tombou para trás enquanto seus pulmões queimavam reivindicando ar, ela rogou e gemeu com o queixo nas alturas, conferindo mais acesso ao príncipe para adorá-la por toda a região abaixo. Os dedos grossos forçavam as mangas do traje fino da jovem para baixo, cujo design facilitava tal tentativa de despir. Uma lamúria bruta quando não foi possível deixar muito mais pele a mostra fez Elsa estremecer, ele a necessitava de tal forma que a mesma se questionou se seu corpo seria capaz de comportar tanto querer. E sem dar mais espaço para o raciocínio dela, o homem atormentado em volúpia apoiou firmemente seu joelho na borda amadeirada e tomou os delicados tornozelos de sua donzela para que conseguisse flexionar os joelhos trêmulos dela contra o abdômen da mesma. Hans rugia dentre seus golpes em pontos diferentes. 

Elsa estava completamente refém de seu desejo, sentia o sabor delicioso do ordinário enquanto suas costas já ardiam com o atrito brutal de vai e vem sobre a superfície dura que repousava. E frente ao peso da responsabilidade de ser especial, era tudo o que ela precisava. Ele a penetrava com tanto vigor que seus cabelos já molhados de suor açoitavam as maçãs de seu rosto corado, a vista era majestosa, tão majestosa quanto a sensação de sua mucosa o recebendo. Desejou tocá-lo, senti-lo mais contra si. E assim que ele deu atenção à mão vacilante que o alcançava encaixando-se atrás de sua nuca, pedindo-o, endireitou-se e liberou uma das pernas femíneas para atendê-la colando-a contra si. A outra perna permanecia acoplada na curva de seu braço, volvendo-o em puro delírio ao ver o quão flexível ela podia ser. Sem jamais desconectar-se do interior de sua soberana, o príncipe era majoritariamente veloz, reduzindo o moer de seus quadris entre as cochas trêmulas apenas momentaneamente para então surpreendê-la ao deferir um impulso mais profundo e forte. Os sons adoráveis que ela emitia no ritmo de suas investidas era tão instigante quanto os clamores mudos cada vez que ele rompia com seus limites logo após senti-la derramar-se de prazer em torno dele.  

Enlaçada ao redor do pescoço de Hans como quem busca pela salvação, a rainha de Arendelle entoava gemidos sôfregos, o salino de suas lágrimas misturando-se ao suor. A nova posição conferia-lhe um agrado a mais em seu botão sensível cada vez que a carne de Hans encontrava a sua, deixando-a completamente arruinada. E ele também o estava sendo, perceptível pelos movimentos já irregulares. O rosto contorcido em prazer cru, por várias vezes se voltava aos ombros em uma vontade de mastigar aquela pele leitosa e na aquarela de sardas estampar sua marca. Quando emergisse daquele frenesi, o rapaz mal saberia dizer quantas vezes seus dentes carimbaram o mesmo lugar, mas sentir um leve gosto de seu sangue certamente lhe daria uma ideia a respeito. As paredes do cômodo e do corredor ecoavam como únicas testemunhas dos baques dos corpos se encontrando, uma vez que a melodia festiva andares abaixo ainda reverberava em altura mais do que suficiente para isolá-los. Mas naquele momento de inconsciência, recorrente entre quaisquer casais de adúlteros, pouco lhes importaria se alguém descobrisse. E assim o príncipe anunciou o ápice em um esturro de puro gozo, sob a luz vigilante do luar, afagado pelos dedos de Elsa que, mesmo exausta pela sobrecarga de estímulo sem direito a trégua, permaneceu murmurando docemente o quanto queria que ele se desfizesse junto dela. 

Acariciando suas costas com ternura, Hans aguardou que ambos estabilizassem suas respirações. Em meio ao seu percurso, seus dedos acharam a ciclame, agora perdida entre os fios, e em um sorriso envergonhado levantou-a a altura de sua visão. O lembrete de que, embora fossem um segredo, era a ele que o coração dela pertencia. Sua adorada Elsa fora valente, apesar de tanto suplício, ela manteve sua confiança e inclusive o trouxe de volta para si. 

Em movimentos mínimos, desatou as amarras das vestes elegantes e a liberou do vestido para que dormisse mais confortável, antes de levá-la para a cama. E por fim, permitiu-se fechar os olhos, cantarolando em deleite quando notou a temperatura cair a mando dela, o suficiente para refrescá-los. 

— Elsa? Anjo... Está acordada? — Seu chamado era suave como um farfalhar, a fraqueza aluindo seus sentidos. No entanto, ainda havia algo não dito e que mantinha seu coração acelerado sob a palma da rainha repousante em seu peito. 

Elsa, por sua vez, apenas moveu seu indicador para roçar a pele de seu acompanhante. Sendo tal movimento o máximo que seu corpo exaurido conseguiria para sinalizar que ainda o estava ouvindo. Sorrindo em concordância, ele prosseguiu. 

— Eu sou completamente apaixonado por você. 


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Notas finais do capítulo

Uau, quanto tempo hein. Aconteceu tanta coisa na minha vida desde a última vez que postei, coisas que inclusive me fizeram deixar a escrita de lado, mas devo dizer que o universo de Frozen sempre foi constante pra mim. Tenho um carinho muito especial pela Give, meu processo de autodescoberta quanto à escrita aconteceu enquanto eu postava ela e fui me moldando a cada capítulo. Por conta disso, além do fato de eu ser cadelinha dos meus ships, sempre pretendi finalizar a história passasse o tempo que for. Só não imaginava que seria tão lento kkkk Enfim, espero que ainda tenha alguém que leia no final das contas, vou ficar bem feliz se for o caso :) Se tiver gente lendo, me deixa saber??? Comentários sempre são muito muito importantes ❤️ E mesmo que meus leitores não estejam mais aqui, queria deixar registrado que sempre vou ter um carinho enorme por cada um. Fiz muitas amizades maravilhosas graças à Give e vou ter isso comigo pra sempre! Vou terminar a história nesse meu tempo tortuoso e sem prazos, mas vai acontecer kkk E é isso aaaa