Give In To Me escrita por DanyellaRomanoff


Capítulo 12
La Belle et la Bête


Notas iniciais do capítulo

CONSIDEREM TRÊS COISAS ANTES DE LER:
*Tellement beau. Belle esprit, corps et âme. = Tão linda, de mente corpo e alma. (Retirado da adaptação do conto original, se tiver algum erro quanto à tradução, mil perdões rs)
*Os dois, principalmente Hans, principalmente MESMO, estiveram alcoolizados no decorrer do capítulo.
*Apenas advertindo: Há uns pequenos acontecimentos no final, não quero causar desconfortos.>
Bon appétit



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Estavam prontos para conversar.

– Então... Elsa. Qual seria a sua pergunta? – Indagou Hans, encorajando-a. Um centelho de curiosidade já o dominava, ao vê-la daquela forma. O príncipe sabia que ela tinha um grande potencial, não por conta de suas habilidades com o gelo, mas uma mulher daquelas, uma vez que aprendesse a libertar o que estava reprimido, seria completamente arrebatadora. E não seria outro, senão ele, que a levaria por esse caminho, afinal, para ser aquecida, ela precisava estar livre de sua prisão pessoal, livre de sua culpa e de seus preceitos recatados. A questão era que ambos sabiam que um precisava de redenção, enquanto outro, de rendição.

– Conte-me sobre o seu passado. O que o trouxe aqui? Refiro-me à primeira vez em que veio. – Perguntou Elsa assumindo um semblante impassível, enquanto molhava os lábios atenta ao que iria ouvir, apoiando o cotovelo elegantemente no braço de seu assento.

Hans arqueou uma sobrancelha diante do questionamento. Encarou-a um tanto incrédulo – o que não abateu os cintilantes olhos azuis que o fitavam em expectativa – antes de decidir respondê-la de uma vez, desconcertado, pois embora tenha sido audacioso no escuro daquele cômodo, não houve um pingo de álcool para estimulá-lo, a não ser cada gota de Elsa, unicamente Elsa. Ele precisava abastecer-se de um bom vinho, aliás, isto era necessidade dos dois. A bebida arranca do homem sua mais crua sinceridade, e como dois perfeitos mentirosos e habilidosos no fingimento, ambos precisavam de alguns goles.

– Pois bem, acho que não há mistério por trás disso. Deixei bem claro as minhas intenções. Usurpar o trono e tornar-me rei de Arendelle, assim como herói, ser amado por meus súditos... Isso já é de seu conhecimento. – Emitiu o príncipe com certa monotonia na voz, em sinal de que tal discurso já havia sido pronunciado em demasia pelo mesmo. Seu andar, perseguido acirradamente pelo olhar de Elsa, alcançou uma estrutura de madeira polida e envernizada, e seus dedos logo correram pelos variados rótulos das garrafas que jaziam intocáveis ali há um bom tempo.

– Sim, claro. – Murmurou Elsa deixando de olhá-lo, no entanto, não foi o suficiente para suprir o que a intrigava. Mordiscou o lábio por uns segundos, sem relaxar a tensão em seu cenho. – Bête... – Chiou, e Hans deliberadamente voltou sua atenção para a jovem e suas as pupilas azuis que dançavam enquanto ela perdia-se em seus pensamentos altos.

– Como? – Perguntou o rapaz, dando-a espaço para divagar enquanto ele concentrava-se em reunir duas taças sobre uma mesinha de drinques, certo de que a rainha já havia notado que ele já não se sentia parte da linha de pensamento da mesma, até ela inclui-lo novamente.

– Você conhece o conto La Belle et la Bête príncipe Hans? – Perguntou a rainha com a voz instantaneamente alteada, saindo totalmente de seus devaneios.

A esta altura, Hans já havia sabiamente selecionado um château branco importado. – Reserva especial de Navarra. Ótimo. – Murmurou para si, antes de tomá-lo em mãos e os ombros se agitarem em uma respiração profunda. – Pergunta-me sobre o conto francês estúpido que tenta convencer os leitores a serem desesperados por amor a ponto de acharem que um ser desprezível como Bête merece tal sentimento?

– Uhm, exatamente. – Fungou a loira platinada após abstrair-se de uma curta risada em retorno ao preconceito e à falta de fôlego do homem.

Hans aguardou, recriminando-se por estar tão ansioso para que ela continuasse. No entanto a mulher se calou, enquanto observava ele medir uma quantidade razoável da bebida em cada recipiente cristalizado. Ignorando qualquer queixa posterior, o príncipe acomodou-se propositalmente em um almofadado destinado ao repouso dos pés, em frente à rainha, sentindo um enorme privilégio apenas com a visão dos contornos visíveis das pernas adoráveis sob o tecido pesado do vestido que agora ele pôde observar com calma à luz das chamas que sua cor era de um tom amaranto e possuía uma fenda do lado esquerdo. A esperada reclamação de Elsa não veio, obviamente, embora sua insegurança e preceitos puritanos reivindicassem um afastamento por parte do rapaz, ela sabia que não caberia mais fazê-lo, teria de mantê-lo perto. Teria. Queria. Que seja.

– Elsa? Estou curioso. – Admitiu Hans, após pouco esperar que ela retomasse sua linha de raciocínio, ter pressa era o seu forte. Elsa levou uma mão ao beiço, em uma risadinha de vitória.

– Achei que tal conto não o interessava, Hans. – Limpou a garganta com uma breve e irreverente tosse, enquanto aceitava, desta vez sem hesitações, a taça que pairava na frente dela, esperando por seu deguste. – Bom, eu tenho certo apego por esta obra, mamãe me deu de presente quando eu era uma menina e estava nas minhas primeiras aulas de francês, ela me dizia que todos têm algo bom dentro de si, mesmo aqueles que não acreditam nisso. Isto sempre me acalmava quando eu temia machucar alguém com minhas habilidades glaciais. – Um sorriso sonhador teimou em esticar os lábios cereja da mulher, antes de sua continuação. Ela sorriu tão bonito que Hans sentiu uma pontada de arrependimento por sua crítica ao livro. – Enfim, o fato é que venho pensando sobre Bête. Perdão, ele apenas me lembra de você. – Disse cautelosa, após uma pausa e um olhar que pedia certa permissão para prosseguir. – Como sabe, trata-se de um príncipe, cujo incidente passado o fez cair em maldição, tornando-se uma criatura que afastava a todos...

Após interromper sua divagação, sem saber mais como continuá-la, Elsa saboreou um longo gole enquanto analisava o olhar escurecido do homem a sua frente, que guardava um quê de amargura que ela queria explorar, e dissecar, a fim de entendê-lo.

– Ainda me sinto como Bête, Hans, de certa forma. Tornei-me um monstro por um sacrifício. – Declarou a rainha debilmente, enquanto girava o líquido transparente contido no copo, e em seguida, após um longo suspiro, continuou. – Mas, e quanto a você? O que aconteceu com você, exatamente? Eu apenas gostaria de acreditar que...

–... Que achando algo em meu passado que me torne vítima, irá diminuir sua culpa por se envolver comigo? – Interrompeu-a o príncipe, tão rápido e brusco, e com uma suavidade rasante que descompassou seus batimentos cardíacos. As unhas masculinas emitiram um leve tilintar ao cutucar o vidro do cálice, ele entornou quase metade. Elsa que instintivamente levara uma mão ao peito e entreabrira a boca, sinalizando surpresa, acompanhou um fio de château escorrer do canto dos lábios até gotejar da ponta do queixo de Hans. Ela não ousou responder.

– Elsa, caso não lembre, o passado de Bête é o que o condenava, embora ele fosse uma criatura mais atraente durante este tempo. Meu passado é simples: Eu sempre tive tudo, fui mimado até que minha idade exigisse minha independência e atitudes que impressionassem. Acontece que ter doze concorrentes tornava tudo mais difícil. Cada um era o melhor em alguma coisa, eu cheguei a questionar minha mãe sobre em quê eu era melhor. – Hans parou, as esmeraldas tediosas, arregalando-se brevemente a uma provável lembrança, seguida de uma exclamação seca, apenas uma tentativa de rir. – Ela respondeu que uma vez havia lido em um livro de pesquisas que os filhos caçulas são mais bonitos. – Bufou zombeteiro, não deixando de sorrir involuntariamente quando se atentou a uma risada feminina abafada. – Poderia ter-me dito tanta coisa mais convincente, ter inventado algo em que eu fosse bom como qualquer outra mãe faz com seus filhos, mas talvez por preguiça de pensar no assunto, ou por simplesmente não se importar, ou quem sabe, ainda sim, fosse à melhor das intenções em me fazer sentir bem, ela preferiu falar sobre beleza. Beleza é bom, é algo delicioso. Mas até um homem como eu sabe que não é tudo, e naquele momento eu me senti tão inútil, tão... – Hans cerrou o punho da mão livre, e apertou os olhos fechados, censurando uma raiva crescente. Respirou fundo, e prosseguiu. – Que como forma de ironizar a o que disse minha mãe, eu passei a cuidar bastante do meu físico, já que ser bonito era uma habilidade, eu a impressionaria. Foram tempos bons, devo dizer que isto me rendeu diversão em massa com muitas princesas, e camponesas que realmente achavam que eu casaria com elas... Até que isto chegou aos ouvidos do meu pai. Eu sinceramente tive de entendê-lo, é um fardo desnecessário ter um filho que não faz outra coisa aos olhos dele, a não ser... Perambular. – Grunhiu Hans, respirando pesadamente, mais um gole, um piscar de olhos para aliviar a volatilidade do álcool, seguido de uma observação de esguelha para aquela que ainda o ouvia atentamente, em uma expressão de profunda concentração. – Enfim, foi exatamente disso que ele me chamou: fardo. E francamente, pouco me importava. Meu pai não me conhecia, não conhecia a nenhum de nós por inteiro, ele mal sabia das minhas noites em que eu preferia estudar a dormir, e que eu tinha planos para mim, muitos. Mas então, Guilherme, meu irmão mais velho que seguia meu pai como um babão idiota por todo o lugar, e só pelo fato de ser o herdeiro achava que poderia ser um segundo pai para nós, aquele pedaço de... merda, oh, perdoe-me, enfim, ele ousou me dirigir à palavra para me dar um sermão. Eu obviamente não deixei, rebati com ofensas piores, berrei aos quatro ventos sobre as vezes em que o vi escapando pelos corredores do castelo para encontrar algumas damas durante os bailes. Ele não tinha moral alguma para falar sobre isso. – Outra risada, desta vez, demonstrando uma pontada de orgulho. – Qual desonra é maior do que um príncipe aspirante ao trono trair sua mulher? Oh sim, ele estava noivo da filha do rei do parceiro comercial mais importante das Ilhas do Sul, que vergonha seria se descobrissem, seria uma perda para o nosso reino. Dormi com um olho roxo naquela noite, e com Guilherme não foi diferente. Enfim, ele passou a me perseguir mais do que eu o perseguia, deste este dia... – Deu de ombros. – Elsa, quando se tem tantos irmãos, a ponto de sua família ser comparada a uma ninhada de coelhos, normalmente a maioria fica jogada à mingua. Meus pais viviam ocupados, as babás já haviam desistido de nos domar, um era mais hiperativo que o outro, e só tendíamos a piorar cada vez que descobríamos que seja lá o que fizéssemos logo o rei e a rainha ignorariam, afinal, eles tinham que focar sua educação apenas no herdeiro. Quando crescemos, nos tornando mais civilizados, a maioria já prestes a selar união, bem... Eu me vi completamente agoniado, queria sair daquela comodidade, queria fazer algo grandioso, ser enxergado. Minha ambição só cresceu, a ponto de eu almejar ter meu próprio reino, e então um convite de Arendelle chegou ao escritório de meu pai, e como eu era o único desocupado, fui enviado para representar as Ilhas do Sul na coroação da princesa Elsa. Mas daquela vez, eu prometi a mim mesmo, eu iria provar que não seria só uma mera representação reserva do reino, provaria que eu não era só um estepe ou uma figura nos quadros da família. – Hans mordeu o lábio e apertou os olhos contendo-se, a esta altura já totalmente ereto em exaltação. Esmoreceu novamente, bicando o vinho e prosseguindo. – Seria fácil, durante a viagem não se falava em outra coisa a não ser nas princesas isoladas, ora... Pessoas isoladas são tão carentes. Conseguiria rapidamente me infiltrar na família.

Hans parou, entornou o resto do conteúdo transparente de seu copo. Elsa, que não deixou de observá-lo mudar de expressão e perder-se em memórias enquanto falava, não abandonou sua testa franzida e o lábio machucado de tanto prender entre dentes, nem mesmo quando ele passou a devolver-lhe o olhar. Ficaram em silêncio por um breve momento, a rainha passeava o indicador na borda de sua taça, encontrando certa dificuldade em absorver toda a história enquanto o analisava. Não saberia se o empecilho de processar tudo se dava pelo álcool que vaporava e rodopiava em sua cabeça, ou pelas palavras que ouvira. Por fim a face que antes ela assumira, de surpresa e atenção, dissipou-se na costumeira neutralidade.

– Ridículo. – Emitiu arqueando uma sobrancelha.

Por mais suave que tenha sido a resposta da rainha, Hans não conteve um breve espanto. Quem sabe ela sentiria pena, ou raiva. Mas aquele desprezo, vindo dela, foi certeiro em seu orgulho. Ele, no entanto, embora desacreditado com o que aqueles lábios pronunciaram, apenas encarou os pés descalços daquela à sua frente, e um sorriso sarcástico puxou um lado de sua boca.

– Certamente... – Não negaria de qualquer forma, afinal, como ele já o tinha alertado, acreditava não ser uma vítima, não havia nada em sua defesa. – Certamente, em parte muita coisa é ridícula. Em parte eu que me tornei ridículo. – Seu olhar então subiu, flagrando-a com os cotovelos apoiados sobre as pernas, favorecendo sua inclinação para ele, o observando e contradizendo seus pensamentos de que o interesse da jovem em sua vida já havia sumido. Passaram alguns segundos mantendo a vigilância um no olhar do outro, o rapaz tentava a todo custo poder descrever para si o que estava vendo naqueles olhos azuis, ao que concluiu, aquele olhar estava fazendo o mesmo que ele: procurando.

Elsa de fato estava em uma busca, embora Hans estivesse consideravelmente mais encorajado pelo vinho de Navarra, sentia que algo nele estava incompleto, havia algo que ele não havia demonstrado ainda, e não era sua amargura, tampouco seu arrependimento. E ambos só estariam terminados quando ela descobrisse.

– Então. – Ele a despertou, chamando-a. – Vê que eu sou um homem arruinado. Meus atos me condenam e não há o que eu possa dizer sobre meu passado que me justifique.

Elsa permitiu-se sorrir, voltando-se para trás novamente, destruindo novamente as especulações do príncipe sobre sua reação.

– Ora príncipe... – Começou a rainha, entre risos.

– Hans. – Corrigiu-a confortavelmente.

– Hans – Continuou, anuindo. – Você é réu primário, estou certa? Creio que nunca tenha tentado o que tentou conosco antes. – Soou Elsa, com uma pontada de interrogação em suas palavras, pedindo com o olhar que ele confirmasse ou negasse sua afirmação.

– Exato. Aquilo foi minha primeira tentativa...

– E única. – Cortou-o a jovem, antes que o rapaz sequer tomasse fôlego para prosseguir o que dizia. A rainha, em um lampejo de ideia, lentamente voltou a abaixar-se em direção ao príncipe, que estremeceu provavelmente por estar perdido frente à atitude repentina da mesma. Parou apenas a centímetros, onde poderia sentir a respiração ébria do rapaz soprar em suas narinas, enquanto isso, uma mão apoiava-se no joelho do homem, ao passo de que a outra tateava a maciez do tapete ao lado dele, até encontrar o que procurava.

– Achei. – Murmurou, sem vacilar um segundo em confusão ou hesitação. Hans enrugou a fronte, tentando devolvê-la um olhar mais dominante, sem sucesso. Antes que ele pudesse dizer ou fazer algo, ela se afastou de repente, pondo-se de pé, em sua mão encontrava-se o cálice do homem junto ao seu. – Deixe-me enchê-los.

O príncipe ficou atordoado, observando o dançar dos quadris de Elsa enquanto a mesma caminhava para a mesinha de drinques, algo que o rapaz não conseguia ignorar em todas as ocasiões em que ela andava na frente dele. Apenas uma coisa não abandonava seus pensamentos enquanto atentava-se às delicadas mãos servindo os dois de château: Jamais deveria tê-la subestimado. A rainha retornou, entregando-o sua taça, e trazendo a garrafa consigo.

– Algo mais? – Indagou o príncipe, enquanto instintivamente virou a bebida de uma só vez em seus lábios, logo sendo servido por ela de mais uma dose.

– Está realmente arrependido do que fez? – Ela devolveu em uma pergunta, quase que imediatamente. Enquanto meditava e escolhia palavras, Hans passou os dedos entre os fios ruivos, escovando-os para trás, enquanto Elsa imperceptivelmente cerrava os punhos controlando o impulso de ter feito isso por ele.

– Sim, estou mais do jamais do que chegaria a pensar... É realmente incrível como ficamos cegos diante das próprias ambições. Eu escolhi ser uma desonra camuflada em príncipe, achando que minha máscara jamais caísse e revelasse o que eu era, achei que poderia vir e bagunçar a vida de outras pessoas só para tentar encobrir o caos que estava a minha. Ora, o que eu estava pensando... – Após uma breve de suas frequentes risadas secas, Hans molhou a garganta com mais uma dose, ao passo de que se serviu de outra. – Que me tornar rei e ser adorado por um reino que não me pertencia de fato, e tampouco justamente, eu iria suprir a falta disso no lugar ao qual eu pertencia? Porque, de qualquer forma, se eu resolvesse visitar as Ilhas do Sul, certamente iriam me lembrar de que jamais ninguém ali acreditou na minha capacidade, e muitos de meus irmãos com toda certeza perguntariam qual golpe eu usei. E mamãe,... – Hans riu sem humor com a menção da mesma. – Ela ficaria orgulhosa, e eu acho que não dormiria em paz noite alguma sabendo que eu não merecia tal sentimento por parte dela, nem de ninguém.

A bebida extrai do homem sua mais crua sinceridade.

– No entanto, estou grato por você ter estragado tudo. – Deu de ombros.

Elsa entreabriu os lábios ao ouvi-lo, e após nervosamente ingerir uma boa quantidade de seu cálice, tornou a fitá-lo com uma expressão interrogativa.

– Desculpe, eu não entendi.

– Oh, você sabe. Eu não estava preparado para sua beleza extraordinária, tampouco para a súbita revelação de seus poderes. – Declarou, e a rainha poderia jurar para si mesma que ela não era a única a adquirir um chamativo tom carmesim nas maçãs do rosto, no entanto, ela foi a primeira a desviar-se de olhá-lo.

– Belo flerte, príncipe Hans. – Comentou, enquanto observava o canto dos lábios do rapaz curvarem-se em um sorriso ao tempo que ele embebia mais uma taça. – Porém, creio que tenha deixado bem claro para mim o quão descartável era minha beleza, na noite da coroação. – Acrescentou em uma lentidão que o perpassou uma melancolia, afinal, Hans não fora o único dispensado naquela ocasião como ele pensou todo esse tempo.

O príncipe engasgou em seu último engolir, tomado de uma repentina preocupação. Embora aquela dama de gelo não demonstrasse a angustia pelo o que ele fez, embora ele soubesse até mais do que ela que não era o tipo de homem por quem valesse a pena tal sentimento, bastaria olhá-la nos olhos, aquelas pupilas azuis cintilantes, cintilantes como seu castelo da Montanha do Norte, e tão transparentes quanto o mesmo, mostrariam a ele o que se passava naquele coração, dar-lhe-iam uma pista sobre o conteúdo daquele livro fechado. E Hans não oscilou em mergulhar naquele par de oceanos, embora pouco vacilantes, ele pôde perceber em sua profundidade, circundando as pupilas, um fino arco de coloração roxa, cujo significado ele desconhecia, mas desconfiava ser tristeza; O príncipe abriu a boca para falar algo, mas logo emudeceu para voltar a mergulhar nos olhos dela novamente, franzindo o cenho enquanto acompanhava uma centelha âmbar crescente, ao ponto de quase fundir-se ao roxo, o que ele conheceu como indício de raiva, já que o castelo esteve desta mesma cor enquanto ele a flagrou lutando contra os capangas de Weselton anos atrás. Era mágoa. Hans piscou duas vezes, aturdido e um tanto desacreditado, enquanto o amarelo alaranjado consumia a outra cor. Ora, ele nunca parou para pensar durante todo esse tempo no fato de que a intocável rainha de Arendelle poderia ter seu orgulho machucado logo no primeiro contato com um homem, assim como Anna, e ele foi esse homem em ambos os casos. Aliás, tudo o que pensou fora no próprio ego ferido enquanto ela saía por aquelas cortinas, além de retomar seus planos de eliminá-la de seu caminho dali em diante. Todo esse tempo, pensando em Elsa como uma ameaça, alguém que o recusou, não por seus medos, mas por capricho, alguém que o atrapalhou desde o início. No entanto, por mais poderosa que fosse ainda se tratava de uma mulher, uma jovem mulher humana e profundamente traumatizada por ninguém menos que ele. Hans suspirou, devia mais do pensava. Não houve tempo para mais devaneios, pois logo Elsa emitiu um ruído, chamando sua atenção, enquanto suas pequenas mãos o empurravam de leve para que se afastasse, levando-o a dar-se conta de que havia se aproximado demais.

– Me desculpe, eu apenas estava observando algo... – Levou a mão à nuca, enquanto ganhava tempo para prosseguir. – Preciso saber uma coisa, sobre o nosso encontro no baile da coroação, ainda guarda mágoas por isso?

– Prefiro deixar isso de lado, não há necessidade de remexer este tipo de lembrança... – Emitiu Elsa, esfregando as mãos inquieta.

– Não, não. Por favor, vamos conversar sobre isso. – Interrompeu-a impetrante enquanto tomava suas mãos agitadas sem permissão, notando que ela também já havia terminado seu vinho. – Eu, durante este tempo todo guardei o mesmo rancor, porque desde o instante em que pisei aqui, e a olhei, eu fiquei completamente cego por você. – Sentiu Elsa lutar contra o contato, o peito estufar-se em um respirar acelerado, e vestígios de geada dando parecer entre seus dedos, o que ele calmamente tentou abrandar massageando-os com o polegar e segurando-a mais firme para que não deixasse de segurá-la. – Não se preocupe, apenas escute. Pois bem, quero seu perdão, não pela minha tentativa de usurpar o trono, mas por não ter sido o homem que merecia. Eu não deveria ser comparado a Bêste, pois ele jamais tratou Belle como algo descartável.

– Certo, no entanto eu não tenho haver com Belle, agora pare... – Tentou Elsa apreensiva, fazendo a inútil força de desprender-se dele.

– Está enganada. “Tellement beau. Belle esprit, corps et âme.”* Tens mais haver com Belle do que imagina, a prova viva é o seu atual sacrifício. E eu ainda não terminei. Eu jamais pensei em como deve ter se sentido pelo que fiz, por demonstrar tanto interesse e em seguida surgir com sua irmã nos braços. Eu... – Hans segurou as mãos macias mais apertadas, enquanto suspirava em meio à tontura. – Eu apenas quero que saiba o que senti quando a cumprimentei pela primeira vez, para que se sinta bem consigo mesma, oh e quando dançamos, bem... Não chegou a ser uma dança, fora apenas um lento balançar que nos levou a ficar a sós, mas, me senti maravilhoso de estarmos nos movendo tão próximos. No entanto, como eu disse, eu gostaria de explicar o que senti, mas não poderia jamais, porque eu nunca havia sentido aquilo antes. Sempre fui muito persistente, então me perdoe por tê-la perseguido e a encarado tanto desde que nos fomos apresentados, eu só estava meio louco, era a coisa mais linda que já vi, e estava tão distante, não fisicamente, mas seu olhar, tão vazio, e quando percebi que havia reagido ao meu toque de alguma forma, eu sabia que devia ir atrás de você. – Hans encontrava-se ofegante, não a encarava durante todo o tempo em que emitia tais palavras, mas as breves vezes em que se voltou para ela, apenas poderia ver diversos olhos totalmente azuis girando arregalados para ele. Céus, ele realmente estava estonteado. – Queria você para mim, somente para mim, e poderíamos governar juntos, poderíamos ter tido tudo. Mas então, você me negou e todos os motivos pelos quais eu estava em Arendelle naquele dia me vieram à tona, e eu voltei a ser o monstro que sempre fui. Isso está tirando o meu foco, pensei. Mesmo depois dos nossos encontros posteriores, eu mantive minha determinação, embora eu deva dizer que suas novas vestimentas de gelo que a valorizavam mais ainda, não facilitaram muito as coisas para mim. Aliás, aquela sua imagem, aparentemente cáustica, no entanto vulnerável, habitou meus sonhos durante meu período de exílio. – Hans parou novamente, afrouxando o aperto de mãos, enquanto se permitia encolher os ombros e sorrir do crescente rubor da mulher estupefata diante dele. – Oh, não quero que se envergonhe, ou se assuste com isso. Quero que se dê conta do que pode fazer até com os corações mais brutais. E não preciso que me entenda, quero apenas que me conheça.

O príncipe pausou para prepara-se para tocar na parte delicada em que ele a tentou matar, momento em que sua ambição chegara ao auge a ponto de desafiá-lo a algo que não se julgava capaz, falaria a verdade nua e crua, do sentimento possessivo e da sede de poder que o tomou no momento em que decidiu sentencia-la. Porém, algo fez com que seu raciocínio, já comprometido pelo álcool, se dissipasse: Elsa. E o restante de seu discurso jazeu esquecido em seu subconsciente.

A moça pareceu despertar com o que ouvira dele instantes atrás, encheu as taças inúmeras vezes para instigar o príncipe a falar, e fazê-la enxergar a essência que ela sabia que ele escondia. E ali estava Hans, sem poupar qualquer detalhe a ela, seu par de esmeraldas, o jeito como a olhava, apenas pedia que ela fosse a primeira pessoa a ter fé nele. Ele não fora totalmente ridículo, havia muita mágoa deixada por muita gente em seu interior, havia um príncipe diferente dentro da fera, e ele estava ali de frente para ela.

– Não eu... O compreendo, estou começando. – Murmurou para ele em resposta, vendo um crescente brilho de satisfação em seu olhar dilatado.

– Elsa, agora vê que sou o mais adequado para aquecê-la. Eu certamente não a mereço, não mereço tocá-la, traidores como eu não merecem nada disso, entretanto... Eu prometo que o que tenho a oferecer irá fazer com que se sinta mais confortável durante seu aquecimento. Agora que sabe sobre mim, espero que confie na minha mudança. Jamais a tentarei machucar novamente, sob nenhum aspecto. Estou perdido, desde que fui enviado de volta para as Ilhas do Sul e abandonei aos poucos o objetivo mesquinho de roubar algum reino, venho tentado procurar algo novo a fazer. Seriamente pensei que minha sina fosse o negócio dos vinhos. Entretanto, me sinto necessário a alguém, e agora que precisa de mim, irei servi-la. Serei dedicado à minha rainha até que não seja mais preciso, e assim terei feito o mínimo para me redimir.

Elsa soltou uma exclamação de surpresa, e abafou um suspiro ao vê-lo prostrar-se diante dela, algo tão inusitado, que por um momento a jovem pensou ser fruto de ilusões causadas pelo álcool, aliás, tudo o que saíra da boca de Hans estava fora do que ela considerava realidade. No entanto, o roçar dos cabelos masculinos em seu joelho exposto pela fenda do vestido, assim que ele se curvou para ela, fê-la abandonar parcialmente suas dúvidas. Como quem lê pensamentos, o príncipe logo depositou um beijo na trêmula articulação feminina, enquanto Elsa levava uma mão ao rosto, mascarando suas expressões faciais tão chamativas à luz do fogo.

– Sou seu. – Balbuciou Hans, tomando a perna que tanto adorava em mãos, Elsa permitiu-se espiá-lo pela fresta entre seus dedos: um perfeito embriagado, acariciando e namorando uma parte do corpo.

Ela deveria pará-lo, sua moral a advertia que abusar da embriaguez alheia era totalmente incorreto, para não mencionar humilhante. No entanto, aqueles dentes fincados em sua panturrilha, proporcionando-lhe cócegas agradáveis, eram tão convidativos. E, oh, céus, deveria culpar a reserva especial de Navarra por levá-lo em poucas doses a usar a língua daquela maneira. Ela não conseguiria pará-lo, sua escassa resistência fora corroída pelo álcool, junto ao seu poço de culpa, além do mais, não se para algo prazeroso. Não, Hans, não suba, não... pare. Submissos, impotentes, e alcoolizados. Ambos. Hans já repousava as mãos sobre os joelhos vacilantes da rainha, enquanto libava uma coxa gelada como se sua absolvição dependesse de sua intensidade bucal.

– Deixe-me recompensá-la, minha rainha. – Sussurrou grogue, e Elsa já sentia os conhecidos dedos acoplarem-se atrás da panturrilha, puxando-a para ele.

Não era necessário, mas era culpa do vinho. Tudo culpa do vinho, tudo estava girando quando Hans sumiu por baixo da saia, levando seus lábios consigo, farejando de onde vinha a necessidade, e algo lhe dizia que estava quase encontrando. Uma rápida reviravolta, Elsa diria se estivesse sóbria para analisar a situação. No entanto, mal poderia saber se estava conseguindo guardar seus gemidos para si, diante da dormência em sua garganta, e até nos próprios pensamentos. Era realmente tudo culpa do vinho, ou a boca majestosa tinha sua parcela de responsabilidade?

Uma faísca de consciência, vinda provavelmente dos frequentes pedidos silenciosos da moça aos céus de que houvesse uma saída para aquilo, brotou no interior da mesma, e Elsa institivamente prendeu a cabeça de Hans entre seus joelhos com força o suficiente para que ele não prosseguisse.

– Por favor? – Ouviu-o ofegar, ansiando para que ela permitisse uma continuação, mas seu aperto fora persistente até que o próprio Hans decidiu se afastar em sinal de desistência.

– Príncipe Hans? – Tomou a cabeça masculina pendente entre suas mãos, enquanto o chamava e encarava os verdes olhos baixos como o sol poente, e que escondiam uma perversão que subjugaria sua posição submissa ali. – Já fizemos muito por hoje, guarde sua recompensa para outra ocasião. Agora, preciso fazer algo para que nos tornemos iguais.

Ele apenas emitiu um ruído, assentindo, sua cabeça latejava dando-lhe lassidão o suficiente para não dizer mais do que isso. Elsa prosseguiu, escorregando-se para fora do sofá. Enquanto suas trocânters tocavam o chão, as delicadas mãos deslizavam por dentro do colete do príncipe, retirando-o em seguida. A rainha cerrou a mandíbula, ao mesmo tempo em que desfazia os primeiros botões do traje do rapaz, expondo o pescoço masculino. Era impressão sua, ou as sardas dele bruxuleavam juntas à luz das chamas? Ela deveras precisaria de um bom chá para voltar ao normal. Ele parecia saber do que se tratava cada atitude da loira platinada, no entanto seu olhar ainda pousava sobre ela, a espera de uma confirmação.

– Você me deixou marcas, nada mais justo do que demarcá-lo também. – Respondeu-o em intransigência disfarçada, antes de aproximar-se pacatamente de seu destino, parando apenas a um lábio de distância para questionar. – Posso?

Não esperaria resposta, mesmo que ele quisesse negar tal privilégio. Elsa estava usufruindo de seu direito como rainha dele, e como alguém que também não pôde responder quando ele a demarcou. Não tardou a Hans sufocar em êxtase ao sentir a rainha sendo voraz pela primeira vez, denteando e sugando-o como se sua pele fosse alimentá-la, logo em um ponto sensível na curva de seu pescoço, que ele mesmo desconhecia. Sentiu um breve afastamento por parte da jovem, paralelo a uma pesada e fria respiração, que fez sua pele formigar, enquanto ela tomava fôlego, analisando o pequeno hematoma nascente na região. Ainda insatisfeita, tomou-o novamente, enquanto ele silvava com a pequena dor, segurando-a firmemente pelos braços.

– Elsa? É o suficiente... – Pediu Hans, com um olho fechado e outro entreaberto, totalmente vulnerável. Uma verdadeira reviravolta, e ela não precisaria estar totalmente consciente para concluir isso.

Finalmente ela se encontrou satisfeita com seu registro no pescoço do ruivo. Eles se entreolharam brevemente, acusando-se, advertindo-se do remorso do dia seguinte, preparando-se para o que aquelas marcas anunciavam. Apenas entreolhando-se. Hans se levantou cambaleante, e facilmente ergueu a rainha.

– Estarei por perto. – Assegurou, enquanto tomava as duas mãos da moça e beijava-as ternamente. Elsa dirigiu-se à porta, apoiando-se nas prateleiras carregadas de livros que jamais os denunciariam, levou um certo tempo para vasculhar o chão atrás de seu par de sapatos, em seguida deu uma última olhada por cima do ombro, o príncipe já se encontrava atirado e adormecido onde ela outrora esteve sentada. Não pensaria em nada do que aconteceu desde o momento em que adentrou este cômodo, não, deixaria que o peso de sua consciência a esmagasse o quanto fosse apenas no dia seguinte. Por agora, ela exclusivamente queria fazer o mesmo que ele, em seus aposentos. Saiu.


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Notas finais do capítulo

E então? Será que consigo fazer algum fantasma aparecer? kkk Enfim, comentem viu ? Vocês não sabem o quanto que é bom acordar no dia seguinte e ver seus comentários *o*