Ouvi sirenes a poucas ruas de distância. Eu não sabia o que estava acontecendo. Me rendi à curiosidade e levantei da cama. Calcei minhas botas que estavam ao pé da cama e corri para a porta da frente. Peguei meu casaco que estava sobre o sofá do hall de entrada e saí na escuridão da noite.

Do lado de fora eu conseguia escutar o caos que se passava na rua de baixo da minha. Desci às pressas e me juntei à multidão que se aglomerava em frente à casa dos Harrison. Eu os conhecia desde que me mudara para cá, há cinco anos. Ester Harrison era uma mulher sempre bela, esforçada. Não deixava que nada a abalasse. Seu marido, Nathan Harrison, era daqueles tipos clássicos de trabalhador. Sempre chegando em casa tarde da noite e sendo recebido com ânimo pela pequena Agatha. Eu cheguei a ver o nascimento de Agatha, filha deles, que hoje deve ter uns quatro anos.

Fui esbarrando nas pessoas e abrindo passagem com os cotovelos. Quando eu cheguei na frente, onde não tinha mais ninguém atrapalhando minha vista, pude perceber o quão grave era a situação. Bombeiros corriam de um lado para o outro, carregando enormes mangueiras ligadas aos hidrantes que ficavam na beira da calçada. Eles tentavam controlar as chamas que saiam pelas janelas, portas e qualquer espaço que permitia a saída do fogo.

-Matt, Matt! Aqui! - Isabelle acenava com os braços acima da cabeça. Ela era uma garota legal que estava no início de seus vinte e três anos. Cabelos longos, negros, que desciam até a cintura, formando pequenos cachos. Quando me mudei pra essa pequena cidade no sul da Florida, ela foi a primeira a me dar boas-vindas. Ela até me levou uma travessa de lasanha!

-Izzy, o que aconteceu? Como a casa pegou fogo? - falei em um tom desesperado. E se a família ainda estivesse lá dentro?

-Ninguém sabe! Estão tentando tirar a Ester lá de dentro... Agatha está bem, está com os bombeiros, mas o Nathan... - ela olhou para o chão, trêmula - Sinto muito... Sei que vocês eram amigos ha bastante tempo, mas não puderam fazer nada para salvá-lo!

Meu corpo ficou paralisado, rígido. Eu não conseguia me mexer. Flashes de momentos que eu passara com aquela família vieram na minha cabeça. O momento em que nós nos conhecemos, o nascimento de Agatha, as festas, saídas para bares, aniversários, tudo veio à tona naquela hora. Ai meu Deus.Agatha.Ela estava com os bombeiros, certo? Eu precisava encontrá-la. Precisava mantê-la a salvo. Por Nathan.

Olhei ao redor e só o que eu enxergava eram pessoas e mais pessoas. A multidão ia aumentando a cada minuto. Peguei a mão de Izzy e corri em direção aos caminhões de bombeiro. Foi fácil identificar a pequena loirinha no colo de um dos enfermeiros com uma máscara de oxigênio maior que a própria cara.

Peguei-a no colo e tudo que eu consegui fazer foi abraçá-la e sussurrar que tudo iria ficar bem.