The Challenge escrita por Marquesa


Capítulo 12
Tratado de paz.


Notas iniciais do capítulo

Olá dignissimos leitores, não queiram me matar, por favor! Como disse no aviso, eu estou trabalhando feito gente grande! Enfim, eu curti bem esse capítulo e a Dani ( minha beta gatissima, um beijo) também!

Eu espero que curtam e aos que tem deixado comentários que Deus abençoe vocês, e aos que não, que Jesus venha habitar em seus corações viu.

Capítulo betado pela Boow!

Boa leitura pequenos Samurais.



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Coloquei minhas chaves na fechadura e girei com cuidado. A cena era exatamente igual aqueles filmes adolescente onde a garota passa a noite longe de casa e de manhã volta e caminha nas pontas dos pés até o quarto para não serem descobertos pelos pais, sabe? A diferença é que eu já não era mais uma adolescente, e também não tinha pais. Mas eu tinha a Samantha, e acredite ou não mas aquela loira de olhos redondos sabia ser igualmente ameaçadora.

Por sorte, eu tinha fé de que ainda era cedo de mais para encontrar minha amiga esquentadinha andando de pijamas pelo apartamento. E além disso, ela era apenas dois curtos anos mais velha que eu. Isso não lhe dava direito algum de gritar comigo.

Não dava.

Mas me assustava.

Não tinha sinais da loira pela casa, claro, a não ser por seus objetos pessoais espalhados pelos cantos. O gato ingrato que sonha em ser cachorro estava deitado no sofá e pareceu não se importar muito com o meu retorno. Estava tudo quieto e como sempre tudo de pernas pro ar.

Antes de me dedicar à faxina de sábado me sentei nos sofá a uma distancia segura de Rex e soltei os cadarços do meu tênis, logo depois os tirando do pé. Depois de ter me levantado e pisado em uma tampa de garrafa de cerveja, entrei em uma guerra épica com o zíper da minha jaqueta de moletom. Eu ia até a lavanderia quando cheguei perto da porta do banheiro e ela se abriu magicamente.

Primeiro uma nuvem enorme de vapor e o cheiro de erva-doce do sabonete tomaram conta do corredor e em seguida Matthew brotou entre ela como se aquilo fosse um show misterioso com um tipo de apresentador atraente.

Muito atraente.

O ser desprezível a minha frente não tinha nada no corpo além de uma toalha branca e gotas de água que escorriam do seu cabelo para seu corpo. A princípio imaginei que talvez ele não tivesse me visto já que saiu devagar com os olhos fechados e com os dedos sacudindo os fios de seu cabelo. Mudei de ideia no momento em que seus pés finos, grandes e descalços pararam na minha frente. Por dois segundos eu o olhei no rosto, por apenas dois.

–Dormiu comigo? – Ele falou e levou a atenção dos meus olhos pra um risinho torto na sua boca. Bom agora já deveriam ser quatro segundos. Droga.

Eu não tinha prestado uma vírgula de atenção nas palavras que saíram da sua boca, observar aquele sorriso convencido e torto era mais interessante. Eu buscava entender o porquê. Bom, talvez pudesse ser pela baba que caia da minha boca ou pelo quanto eu fui tapada na noite anterior me rendendo de tal forma ao seu beijo.

– Que? – Perguntei depois de voltar do meu devaneio.

– Você, ta parada ai meia hora me olhando – Ele falou levantando o braço apontando pra mim, foi só então que me toquei – e não falou nada, por acaso dormiu comigo? – Repetiu a pergunta e arqueou uma das sobrancelhas – Mas bom, se não dormiu, ta com cara de que queria muito. – Completou rindo.

–Vá se ferra Avery! – Passei por ele esbarrando contra seus braços.

–Se quer que eu tire a toalha é só falar ruiva. Eu tiro! Não precisa tentar arrancar na força.

Eu ignorei seu comentário ridículo assim como fazia com todos os outros. Era o único modo de encarar o seu sarcasmo sem desistir da vida em pleno sábado de manhã.

Sábados... assim como todos os outros tinha a minha rotina.

Limpar a casa.

Hoje no entanto estava sendo um tanto mais complicado que os demais dias.

Eu adoraria que Matthew Avery fosse uma sujeira, seria super simples eliminá-lo, mas se analisar ele está mais para uma mancha enorme de graxa em uma camisa branca.

Vanish não o limparia tão fácil.

Após ter me preparado comecei a minha limpeza.

Desde que Matthew Avery trouxe sua áurea proibida para debaixo desse teto, parece que a bagunça se triplicou. Não tinha nem uma semana que ele convivia comigo e já tinha me dado o trabalho de uma vida.

Sábado além de ser o dia da faxina também era o dia escolhido por mim e por Alexis para fazermos os trabalhos da semana. Durante a semana ouvi alguns comentários de que hoje a noite teria uma palestra no campus, a dona de uma editora de NY estaria aqui. Alexis me fez o convite, minha amiga de sorriso contagiante e língua afiada disse que pra ela seria a oportunidade de uma vida.

“-Imagina Nath, eu fazendo as fotos daquela editora!”

“-Imagine Nath eu fazendo a cobertura dos eventos que rolam da JJ Magazine de New York!”

“ - Imagine Nath eu viajando pelo mundo com tudo pago por aquela editora!”

Eu já estava ficando cansada só de “imaginar” os sonhos altos da minha amiga.

Alexis tinha um carisma sensacional, se a mesma trocar duas palavras com qualquer pessoa que seja, é capaz de conseguir absurdos. Ela tinha segurança em si, e claro, em relação ao seu trabalho, era impossível não ver nos seus olhos a sua paixão.

Ouvi um coçar de garganta atrás de mim enquanto passava pela milésima vez o pano sobre o balcão, já era uma hipótese considerável que aquele mármore se rompesse de tanto ser esfregado por mim.

–É... eu acho que isso é seu. – Só pela voz grave deduzi que fosse Matthew, Samantha era meio bruta e quando adoecia ficava com a voz mais grave, mas aquele timbre, aquela voz sexy e desleixada, nem de longe seria da loira.

Virei-me sem pressa e encostei o quadril no balcão me apoiando nele.

Ele segurava a mesma caixa de ontem.

–Não, não é. – Respondi e voltei a me virar para passar o pano sobre a pedra, só que dessa vez sem tanta intensidade. Na verdade, aquilo foi mais um modo que encontrei de não ter que encará-lo.

–Por favor, aceita. – Ele deu alguns passos e colocou sobre a mesma pedra que eu insistia em tentar desgastá-la com uma flanela. – Ruiva, por favor. - Sussurrou baixo o suficiente para me fazer arrepiar.

E de novo pergunto qual a necessidade de certas ações dele. Para entregar uma caixa de botas a uma garota você não precisa apoiar sua mão sobre a dela e nem fazer cara de cão sem dono. A essa altura do campeonato eu já tinha parado com o pano e mão dele estava tocando a minha direita – que por acaso mantinha a flanela entre os dedos -, e é totalmente desnecessário isso.

–Você não vai me dar paz enquanto eu não aceitar isso, certo? – Falei tirando a minha mão debaixo da dele e a pousei na cintura, assim, soltando ar dos meus pulmões.

– Certíssima. – Respondeu com seu olhar penetrante.

Então eu bufei, revirei os olhos e desisti. Rendi-me e peguei a caixa do balcão, ia levando ela para meu quarto mas parei no centro da sala e me virei para trás tendo em vista Avery debruçado no balcão, aparentemente com um celular na mão.

–Eu aceito, mas com uma condição.- Falei e ele se virou rápido, como se não esperasse pelo som da minha voz. – Eu fico com elas e você tem que me deixar em paz. Sem presentes, olhadas minuciosas, piadinhas e tem que esquecer a noite passada. Esse é o trato, é a minha condição.

Ele cruzou os braços sobre o abdômen e deu uma de suas típicas risadinhas tortas.

–Eu aceito. – Disse ele com um ar divertido e assentiu com a cabeça, pôs o celular no bolso, assim se desencostando e colocando seu corpo alinhado. – Eu aceito Nathaly.- Completou trocando o ruiva por meu nome. Coisa que as vezes eu cheguei a pensar que ele não soubesse.

Eu precisava de paz, nem que pra isso tivesse que fazer um trato com o inimigo.

Enquanto ia para meu quarto guardas as botas – que eu nunca usaria -,encontrei Sam no corredor saindo de seu quarto. Eu esperava que ela grudasse em meu pescoço e gritasse por ter saído daquela maneira e sem dar explicação de nada.

Errei.

Ela sorriu amigavelmente e me desejou um bom dia. Apesar de ter achado a atitude da Robbins estranha não me prendi a isso, não no momento. Assim que entrei no quarto percebi o visor do meu celular aceso e com a foto de Shane piscando.

Coloquei a caixa sobre a cama com rapidez atendi a chamada.

–Pensei que tivesse sido sequestrada. – Falou assim que ouviu minha voz dizendo oi.

Desculpe sair sem avisar. Você estava dormindo tão bem, que não quis te acordar.- Sorri ao lembrar da cena, das suas costas subindo e descendo com a sua respiração.

Realmente, eu não quis acordá-lo. Seu sono parecia extremamente profundo.

Ele gritou dizendo de que isso era bobagem, e que era perigoso sair desacompanhada. Era incrível como Shane insistia em me tratar como criança, eu era mais a velha de nós.

–Alexis me ligou, você vai para a tal palestra? – Perguntou após a sua crise de cuidado excessivo ser concluída.

–Não sei. Eu não estou muito afim de ir. Apesar de que Alex disse que ia ser bom para nós. – Respondi me sentando na cama e me encostando nos travesseiros da mesma.

–A palestrante será alguma fotografa?

–Não, ela é dona de uma das maiores editoras de nova York. A palestra deve ter alguma coisa a ver com o jornalismo, publicidade ou o caramba a quatro.

Desde quando você usa esse tipo de expressão? “Caramba as quatro”.– Shane perguntou e fez uma tentativa falha de me imitar.

–Eu passei a fazer muitas coisas estranhas ultimamente.

Ficou apenas o silêncio na linha. Ele talvez soubesse ao que essa frase se referia, ou pelo menos em partes. Talvez ele já estivesse mentalizando os tipos de influencias ruins que andavam sobre o mesmo chão que eu nesse apartamento.

–Está tudo bem ai? – Ele fez uma pausa, mas manteve um grunhido como se pensasse no que dizer – Sabe, com aquele cara morando ai. Ontem você chegou aqui tão, sei lá, parecia que alguma coisa estava muito errada.

E está, está tudo muito errado. – Pensei.

–Shane, o cara não sabe usar o rodo ou a lava-louças, como isso poderia estar certo?- Ri disfarçando, ou melhor, fugindo do foco da conversa. Por mais que eu soubesse que minha amizade e a dele era estruturada o suficiente para compartilhar qualquer problema, eu não me sentia a vontade para dividir isso com ele, Avery era confusão e eu não queria mais ninguém a par dessa bagunça a não ser nós dois.

Shane continuou no meu embalo, falando que eu era paranoica com esses “bangues” de limpeza, e que eu deveria desencanar.

– Oh céus! Que droga!!. – Resmunguei ao ouvir o som de alguma coisa se quebrando com o chão.

Deixei Shane na linha me perguntando o que houve e sai as pressas indo até a cozinha de onde o som parecia ter vindo

–Que droga Avery! – Gritei ao ver os estilhaços de um ex prato no chão.

–Que droga você Nathaly, volta a falar com aquele seu amigo cabeludo e não me enche. –Matthew respondeu agachado no chão pegando os restos mortais do prato de porcelana.

Com certeza a velha do andar de baixo amaldiçoaria até a nossa quinta geração.

Não que a minha geração já não fosse amaldiçoada. Afinal nem de longe viver com Avery era um tipo de benção.

Estava prestes a voltar para o quarto quando escutei outra vez a voz de Avery:

Droga! – Ele gritou e logo depois eu vi gotas vermelhando caindo no chão.

O chão que eu havia acabado de limpar!

Shane, depois a gente conversa. - Falei rápido - Passa aqui em casa as sete, eu vou pra aquela maldita palestra. Beijos. – Desliguei ignorando as suas perguntas sobre o que havia acontecido eu desliguei o celular.

Coloquei meu telefone em cima do balcão e peguei o primeiro pano que encontrei. Um dos meus panos de prato de vaquinha favorito. Com muita resistência Matthew deixou que eu enrolasse o pano na sua mão. Por um momento pensei que ele quisesse sangrar até morrer ou que só fazia aquilo para piorar a situação do meu chão branco.

–Você precisa ir em um médico Matthew, isso parece fundo. – Falei preocupada depois que vi o corte na palma da sua mão. Não que eu estivesse preocupada com a saúde dele. Claro que não! Que coisa estúpida...

Certo, talvez só um pouco preocupada.

–Eu não preciso de ajuda Nathaly, eu sei me virar. – Retrucou tentando se fazer de machão.

Era evidente que ele não sabia o que fazer, apenas segurava o pulso enquanto via o sangue fugindo de dentro dele.

–Avery, não seja tonto, nós fizemos um tratado de paz, não me obrigue a quebrá-lo. – Respondi encarando o ser humano a minha frente de forma dura. – Agora me deixa fazer um curativo que de ao menos para você chegar em um hospital.

Deixei Avery no chão agachado e me levantei para pegar um kit de primeiros socorros no armário da cozinha. Eu ainda não entendia porque os fabricantes e montadores de moveis não pensavam nas pessoas pequenas. Eu sentia que estava por um fio de me rasgar ao meio de tanto que me esticava para alcançar a maldita prateleira.

–Quer brincar de enfermeira mas, não consegue nem pegar os materiais. – Ele falou debochado e com a mão boa pegou a maleta. - Deveria existir uma altura mínima pra esse tipo de brincadeira não?

–Pelo menos eu sei pegar pedaços de vidro sem me cortar, agora cala a boca antes que eu mude de ideia. - Disse eu rude.

Quando os gazes e esparadrapos já estavam sobre o balcão, eu comecei a fazer um curativo na mão do meu colega de apartamento. Sam por um milagre divino pegou o rodo e limpou o chão onde havia sujado. Tinha alguma coisa muita errada, Robbins nunca pegava em uma vassoura ou rodo. Normalmente ela teria tentado me matar pela noite anterior e jamais colocaria a louça do seu café na lava-louças– coisa que ela havia feito hoje -, isso só significa uma coisa. Um apocalipse zumbi se aproximava.

Droga Nathaly, isso é uma mão de verdade, não é um boneco. – Disse puxando a mão pela milésima vez, isso já começava a me irritar. – Isso por acaso é vingança pelas sandálias?

– Não – Respondi levantando um pouco meu olhar para ver seu rosto. Sua expressão era engraçada. Um misto de irritação e dor. – Mas me parece uma boa ideia. – Respondi e soltei uma leve risada.

Quando terminei Sam já tinha acabado de limpar o chão e juntar o resto dos cacos.

É claro que eu limparia tudo de novo, era sangue que tinha caído ali, no mínimo eu usaria muito mais que água e sabão, mas claro, só faria isso quando ela não estivesse por perto.

–Obrigado ruiva, quer dizer, Nathaly; – Falou coçando a cabeça e com um sorriso calmo e agradecido no rosto, eu não imaginei que veria um desses nos lábios de Avery.

Assim, depois que arrumei as coisas e dei uma bronca no Matthew por ter quebrado um prato da minha coleção eu voltei a limpar o resto da casa. Trombei com Samantha algumas vezes no meio da casa. Na última vez que a vi estava de saída, encontraria alguém mas não me disse quem e ela tinha todo o direito.

Quando a tarde caiu, por volta das três da tarde encontrei com Alexis na recepção do prédio. Quando a morena passou pelos corredores foi impossível de não notar os olhares que ela arrancou dos homens que trabalhavam na reforma do lugar. O elevador continuava quebrado, mas ao menos o teto não cairia mais na nossa cabeça.

O problema com os ratos também seria o próximo a ser solucionado, de acordo com o quadro de avisos na recepção. O problema maior foi quando entramos no meu apartamento.

Alex não me disse que tinha pavor de gatos, ela passou a suar frio quando viu meu amável felino que sonha em ser canino deitado no tapete no meio da sala.

–Nathaly Cloe, você nunca pensou em mencionar que tinha um gato?

Naquele momento eu fui a pior amiga do mundo. Eu comecei a rir descontroladamente, Alex era muito segura de tudo e nunca demonstrava ter medo e nem fraquezas, ver ela tremendo e soando frio na porta da minha casa depois de ver o Rex dormindo foi realmente engraçado.

–Desculpa, eu não sabia que você tinha medo de ... – Ela me interrompeu.

–Pânico, Nathaly, Pânico.

–Quem diria, Alexis com medo de gatos. – Falei de um jeito zombeteiro indo até Rex.

Eu sabia que a ideia de tocá-lo enquanto ele dorme não era a mais inteligente, com certeza ele me arranharia ou como de costume cravaria seus dentes na minha mão.

Ele estava todo enrolado e quando percebeu a minha aproximação levantou a cabeça e miou. Já preparada para o ataque eu o peguei. Rex estava no meu colo. Aquele gato que sofre graves distúrbios estava no meu colo e não me atacou. Alexis quase entrou na parede, eu estava parada no mesmo lugar que antes Rex dormia.

–Eu cuido do gato – Ouvi uma voz surgindo do corredor – Olá, Lex? – Ele disse.

Alex revirou os olhos de tal forma que pensei que eles jamais voltariam ao lugar. Ela odiava que errassem seu nome. Mas o que talvez fosse o motivo principal era o fato de Matthew estar naquela casa, eu ainda não tinha tido a oportunidade de contar a ela sobre meu novo inquilino – se é que posso chamar assim -, eu não achei necessário repassar a informação.

–Alexis, meu nome é Alexis – Respondeu seca. – Olá.

Enquanto ela fulminava Matthew com os olhos e ele ria da sua cara, eu me perguntava como Matthew sabia de todos os assuntos daquele apartamento em tempo integral. Hoje mais cedo ele fez a mesma coisa, ou ele tinha poderes ou o safado tinha posto câmeras para filmar Sam zanzando pela casa de lingerie para buscar alguma coisa que esqueceu antes do banho.

–Tanto faz, Alexis. – Respondeu ainda encarando . – Eu cuido do gato para vocês estudarem.

Antes que pudesse dizer não, o gato traidor de pelos negros pulou do meu colo quando viu Matthew se aproximar e esticar os braços para ele.

–Toma cuidado traidor! – Gritei assim que ele virou as costas indo em direção aos quartos.

– Eu vou ficar bem ruiva, relaxa – Matthew respondeu do corredor com o mesmo tom de voz cretino e seguro de sempre.

–Eu me referia ao gato. – Respondi.

Alexis já tinha ficado mais relaxada agora que o felino estava trancafiado em um quarto.

Ela se desencostou da parede com um olhar desaprovador e questionante.

–O que ele faz aqui?

–Talvez eu tenha me esquecido de falar – Comecei dizendo e fui até a porta para fechá-la – A situação ficou um tanto apertada, e bom, ele foi a solução de um problema.

–Eu não vim aqui para questionar o que você faz ou deixa de fazer na sua vida e muito menos na sua casa, mas amiga, toma cuidado com esse cara. Eu conheço caras do tipo dele, não deixe que ele te engane. Esse cara é problema.

–Obrigado pelo aviso. –Tentei soar da maneira mais educada e amigável possível, mas acho que essa frase não pode ser colocada tão bem nesses padrões, soou como seu eu não me importasse com ela tinha acabado de dizer.

Quando chegamos ao termino do assunto “Avery” fomos até meu quarto para que pudéssemos estudar, não seria horas e mais horas como Alex tinha o costume de fazer, hoje teria a tal palestra e a morena dos fios cacheados estava determinada a não perder por nada.

Enfiamos a cara nos livros e depois de umas três horas parecia que as paredes do quarto começaram a se fechar entre nós. Era uma matéria maçante, quase tanto quanto o Sr. Hans, eu já tinha feito tantas anotações que se continuasse naquele ritmo certamente eu teria de começar escrever nas paredes.

–Eu não aguento mais Nath! – Me assustei quando Alex falou fechando o livro com força.

–Eu também não – Resmunguei me jogando sobre as almofadas atrás de mim e esfregando os olhos. – Parece que as letras do livro estão se mexendo.

–Eu vou indo, preciso me arrumar. – Alex se levantava do chão enquanto falava – Sabe esse cabelo aqui não costuma deixar que o comandem tão facilmente.

Soltei um breve riso, eram raras as vezes em que Alex se animava com algo a ponto de fazê-la se preocupar se cada cacho estava no seu devido lugar. Quando ela juntou seus livros e endireitou sua roupa no corpo eu a acompanhei até a porta por livre e espontânea pressão, a morena basicamente me arrastou com medo de que o Rex estivesse esperando para atacá-la.

–Por favor, Nathaly, não se atrase começa às sete e meia. – Ela repetiu a orientação e eu me recostei sobre a porta aberta e assenti sorrindo.

–Nem sete e vinte e nove, e nem sete e trinta e um. Entendido. – Respondi e logo após me despedi com um beijo no rosto. – Até logo. – Completei antes que ela chegasse até nas escadas e ela devolveu com um sorriso amigável nos lábios.

E fechei a porta e comecei a organizar algumas coisas que estavam fora do lugar como: um par de sapatos masculinos, copos na bancada e coisas que Rex tem mania de arrastar pela casa. Tomei um banho e em seguida comecei me arrumar, faltava pouco tempo para que Shane chegasse. Eu não tinha muita pressa, eu sabia que ele se atrasaria no mínimo meia hora, sempre foi assim.

Não coloquei nada de extravagante, uma legging preta, botas corriqueiras e meu sobretudo de moletom cor de abóbora com botões grandes. A maquiagem de sempre apenas para cobrir o cansaço do dia a dia e meu cabelo não requeria muita atenção, apenas o amarrei em um rabo-de-cavalo simples. Resolvi aproveitar o tempo que me restava livre para tomar meu tão amado café.

Tudo indicava que Sam e Avery não estavam em casa. Matthew sempre ficava largado no sofá e Sam ficava fazendo tours entre um cômodo e outro.

Quando passei pelo corredor vi que a porta dos quartos estavam abertas e como consequência notei a ausência de seus donos, assim confirmando minha tese. Quando parei para fechar a porta do quarto do Matthew ouvi um miado, estranhei já que Rex só miava quando estava nos pés pedindo comida. Invadindo a privacidade do meu amigo insano e vulgar entrei no quarto e comecei a procurar por ele. Eu já tinha me acostumado a ideia de que aquele gato só se escondia em lugares improváveis, mas definitivamente aquilo não era obra de um gato.

Ao menos não do de quatro patas.

O meu gato estava no beiral do prédio, o detalhe que mais me enfureceu foi que ele estava amarrado com um cinto e o que o impedia de voar era a fivela presa do lado de dentro, a janela era pesada e aquela fivela era grande o suficiente para não escapar, mas, de qualquer forma, aquilo era um absurdo.

Se Matthew aparecesse na minha frente eu juro que o mataria. Ele se ofereceu para cuidar do gato e sumiu. Ele amarrou meu gato em um beiral no quarto andar. E eu odiava.

Rex pulou para dentro e com esforço consegui soltá-lo sem muitos futuros hematomas, em mim claro. Assim que solto ele saiu correndo para algum lugar que não me importei. Eu nunca tinha entrado naquele quarto, claro, com exceção da noite anterior. O quarto era organizado diferente do que eu imaginava. Não tinha roupas e objetos por todo o canto, mas o que me chamou atenção foi uma foto dentro de uma das malas.

Era extremamente errado, era invasão de privacidade e se ele desconfiasse com certeza gritaria comigo até seus pulmões explodirem, mas eu não consegui conter a curiosidade. Era dois garotinhos ajoelhados no que me parecia ser um gramado extenso e um deles segurava um cachorro labrador amarelo pelo pescoço. Pareciam unidos. Eu ainda estava com a foto na mão quando ouvi a porta da sala sendo batida com força, o tempo para eu guardar a foto no lugar foi o necessário para Matthew entrar feito um furacão bêbado no quarto.

–O que você está fazendo aqui Nathaly? – Falou alterado por causa da bebida, ele não parecia ter controle nem da própria voz.

– Eu que pergunto o que o Rex fazia lá fora! – Falei e apontei pra ele no mesmo tom usado por ele. – Você é maluco? Ok, não precisa responder, eu sei que é. A noite nem caiu e você já está bêbado! Ah claro, me esqueci que a vida é um grande oba-oba pra você. Ridículo.

Matthew estava com um cheiro fortíssimo de álcool e mal se mantinha em pé. - Se isso voltar a acontecer quem vai pra fora daqui é você! - Passei por ele na porta e ele tentou me seguir só que no meio do caminho acabou tropeçando nas suas próprias pernas e caindo com rosto no chão.

–Droga Matthew! – Falei nervosa depois de me virar e vê-lo com um corte na testa. – Você está tentando se matar e fazer com que pareça minha culpa? – Completei e fui até ele para ajudá-lo se levantar. Tonta, isso que eu que era. Com esforço extremo consegui levar ele até o sofá e foi ai que percebi o quanto ossos são pesados.

Larguei aquele peso no sofá e aproveitei para tirar meu casaco, depois de ir pendurá-lo em um cabide bem longe de qualquer vestígio de sangue daquele maldito assassino de gatos, fui separar o que seria necessário para fazer outro curativo em Matthew, pela quantidade mínima de sangue que escorria com certeza não precisaria de pontos. A campainha tocou e tive que largar meu kit de primeiros socorros para atendê-la.

Era Shane.

Hora errada, com certeza.

–O que aconteceu? – Shane foi logo entrando assim que abri a porta e perguntou quando viu a situação do meu odiado colega de apartamento.

–Nada que um banho frio não vá resolver. – Falei sem olhá-lo enquanto molhava o algodão em um antisséptico.

Os olhos de Shane acompanhavam cada passo meu e revirava os olhos toda vez que Avery reclamava por doer.

– Desde quando você é enfermeira Nath? – Shane se sentou em uma banqueta próxima ao balcão e me perguntou com tédio. Ele parecia não aceitar que eu ajudasse aquele projeto de homem no meu sofá. Eu não respondi, eu sabia que aquilo poderia gerar uma discussão. Shane não fazia o menor esforço para esconder o quanto era contra que eu dividisse o mesmo teto com Avery. – A gente precisa ir, vamos nos atrasar. – Deu uma breve pausa e respirou fundo impaciente depois de novamente não obter resposta. – Alexis odeia atraso.

–Eu não posso largá-lo aqui assim Shane! – Exclamei me virando para o mesmo.

–Nathaly, não é sua obrigação fazer isso. Ele já é bem grandinho para cuidar da própria ressaca. – Respondeu no mesmo tom que eu havia usado com ele e ai que percebi que já começávamos a gritar um com o outro.

Matthew mau se mexia no sofá. Sai de seu lado e me aproximei de Shane que estava visivelmente irritado.

–Ele bateu com a cabeça, não posso deixá-lo aqui sozinho, ele pode ter uma convulsão ou sei lá o que. – Falei baixo para que morto-vivo no meu sofá não ouvisse.

–Ele esta bêbado e você não é uma enfermeira. Nathaly, já observou que nesses poucos dias que esse cara entrou na sua vida e pôs os pés na sua casa tudo em você está girando em torno dele? – Shane tinha um olhar que era capaz de te fazer sentir-se culpada mesmo não sendo, por mais que Avery não valesse o chão que pisa eu não podia deixar ele nesse estado sozinho, seria desumano e imprudente.

–Isso além de não ser verdade não ter nada a ver com a situação. – Debati.

–Não? Duvido que você ter saído de casa ontem aquela hora não tenha nada a ver com ele, ou que ter torcido o tornozelo por estar com sandálias maiores que seus pés não tenha dedo dele também e eu vendo todas as minhas câmeras se toda essa confusão em você não tiver nenhum dedo dele no meio. Quer saber, faça o achar melhor. Alexis está esperando.

Dito isso a única coisa que vi suas costas finas se virando para mim, a sua mão esquerda entrando no bolso da calça e a porta sendo aberta e logo depois fechada com força.

–Droga! – Balbuciei.

Quando terminei o curativo o levei para o banheiro. Claro, antes troquei de roupa e aproveitei e liguei para Alexis pedindo desculpas e ela me pareceu ser um pouco mais compreensiva que Shane. Matthew era pior que uma criança de cinco anos, quando voltei a sala para levá-lo até o banheiro ele estava procurando por um analgésico.

–Você é maluco cara? Quer misturar medicamento e álcool? – Falei advertindo-o e tomei o pote com remédios de sua mão.

–É só um analgésico.

Mesmo fazendo arte ele ainda não parecia estar o suficientemente bem para andar sozinho. O levei até o banheiro e antes de abrir o registro mudei a temperatura para gelado. Foi bom vê-lo reclamando da água, era provável que ele pegasse uma super gripe depois disso.

Ele se sentou no chão e deixou a água cair sobre si, apenas passava a mão no rosto às vezes. Eu havia sentado no chão do lado de fora do Box e me encostado na parede, assim poderia ter certeza de que ele não conseguiria a proeza de se afogar no chuveiro. Como eu já esperava a água estragou todo o meu trabalho para tampar o corte, eu teria que refazê-lo se não quisesse ser culpada por uma infecção.

–Pode me ajudar? – Falou chamando minha atenção que estava perdida na porta branca a minha frente. Quando eu olhei vi que se referia a camiseta no seu corpo, ele queria remover a mesma só que não tinha força nem para elevar os braços acima da cabeça. Para mim era bem mais pratico e seguro que ele continuasse do jeito que estava, no entanto, uma hora ou outra ele teria que arrancar ela dali.

Como ele já estava ali a alguns minutos achei por bem desligar o chuveiro antes que eu causasse uma pneumonia a ele.

–Chega por hoje, – Disse levantando e fechando o registro. – Pegue. – Falei entregando a toalha a ele que já sustentava o peso do corpo sobre os pés. – Se seca, vou deixar sozinho enquanto vejo se encontro algo seco pra você vestir.

Sai do banheiro e fechei a porta. Como dito fui até o quarto dele e comecei a procurar por peças de roupas secas. Não houve muita dificuldade quanto a isso já que suas coisas ainda estavam nas malas do chão.

– É seguro entrar? – Perguntei dando leves batidas na porta e a empurrando devagar. Na verdade nada com relação ao Matthew era seguro, mas não custava perguntar.

Ele estava sentado em cima do vaso sanitário quando eu entrei e quando viu as roupas em minhas mãos se pois de pé.

Puta merda!

Ele com certeza não tinha o menor pudor. Estava apenas de cueca Box preta e ainda por cima molhada. Não que eu fosse tarada ou coisa do tipo, mas ainda era uma mulher e não notar a o quanto atraente ele era se tornava impossível naquela situação.

–Desculpa! – Falei e me virei depois de poucos segundos – Eu achei que não tinha se despido ainda. Vou deixar as roupas aqui. – Disse e as coloquei sobre a pia. – Quando sair me procura para eu colocar um curativo seco ai.

Eu fiquei na cozinha ajeitando algumas coisas enquanto esperava por ele. Sam ainda não tinha voltado de onde quer que ela tenha ido. Tentei ligar para Shane mas ele não atendeu nenhuma das chamadas, então deixei uma mensagem na caixa postal para que me ligasse. Por mais que ele estivesse se tornando um ótimo profissional e fosse dono de qualidades invejáveis, nem isso e nem aqueles cachos eram capazes de esconder a teimosia dele.

Eu estava organizando as almofadas do sofá quando ouvi passos atrás de mim

– Vamos? - Perguntei.

–Eu não sou uma criança, não preciso que você me vigie. – Ele disse e se sentou no sofá que eu havia acabado de organizar, se ele o bagunçasse de novo eu partiria a outra metade da cabeça. Matthew já parecia estar um pouco mais sobrio, mas seus olhos permaneciam avermelhados e inchados como se por algum motivo ele tivesse chorado.

–Além de idiota é mal agradecido. Sabia que você podia ter se matado se não fosse por mim? Ou eu coloco um curativo ai ou você pode dirigir ao hospital geral, você pode ir até a casa do caramba, mas desse jeito aqui você não fica. – Respondi e ele respirou fundo se dando por vencido.

Quando já estava quase no fim ele segurou minha mão e ficou me encarando com dificuldade já que eu estava na reta da lâmpada.

–Por que você esta me ajudando? – Perguntou sem me soltar. – Achei que me odiasse.

–Por que eu não quero ser culpada da sua morte – Respondi e ele deu um riso forçado – Apesar de te odiar.

Eu não o odiava.

Mas eu precisava, era uma necessidade, era questão de sobrevivência!

Mesmo que Matthew Avery tenha nascido com o dom de me fazer odiá-lo, eu não conseguia.

–Nós fizemos um tratado de paz – Disse eu colocando um band-aid em sua testa.

Só não sabia por quanto tempo.


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Notas finais do capítulo

Eae gostaram? #MatthewSuicida
Qualquer erro por favor avisem, revisei com pressa porq preciso comer e dormir - amanha a vida dificil retorna -

Bom, pra mim voltar rapído depende unicamente de vocês, qual é, eu não posso fazer sacrificios sozinha, não é mesmo? Faça o login no site e deixe um lindo review pra mim ficar feliz, right?

É isso ai boys and girls.
Beijos e até!
~Marquesa.



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