Com as mãos ainda trêmulas ela levou a água gelada ao rosto. Passou lentamente entre o seu nariz arrebitado. Gotas caíam pelo seu rosto branco sem nenhuma mancha, pinta ou algo do tipo. Seu rosto era limpo e liso como de um anjo.

Apesar de muitas garotas invejarem sua beleza, tudo que ela queria era ter cachos ruivos extravagantes e olhos verdes luminosos, assim como sua irmã mais nova Lily. Ela nunca admitiria em voz alta, mas sentia uma inveja tão grande de sua irmã que tinha vontade de quebrar tudo o que via pela frente, seu coração latejava cada vez que alguém falava como Lily era brilhante e inteligente a ponto de ganhar uma bolsa de estudos numa escola particular, um internato bem longe, luxuoso e grande. Mal eles sabiam pra onde ela ia todo primeiro de Setembro. A princesinha da família era na verdade, uma aberração.

Já Petunia era alguém naquela família? Ela era importante? Lembrada sempre? Uma atração? Não. Definitivamente não.

Não tinha cabelos chamativos, nem olhos intensos. Não tinha um corpo bonito e esbelto, nem sardo pelo rosto nada delicado como o de uma princesa. Não tinha o namorado mais bonito, um melhor amigo que faria qualquer coisa por ela, e nem era tão feliz como muitos acharam.

Ela não era Lily Evans. Ela não era uma bruxa.

Mas era tudo que ela queria ser.

Porque não ela? Porque toda aquela magia havia escolhido a irmãzinha sem graça e não ela? Ela era mais velha, até mais bonita aos olhos dos amigos, tinha um sorriso maravilhoso, um namorado atencioso, tirava boas notas, era representante de turma e até fazia parte das líderes de torcida. Além de ser uma ótima filha. Mas não era uma boa irmã. Definitivamente não.

Mas quem ligava? Certamente Lily nem se lembrava dela quando conversava e beijava o namoradinho, o tal de Potter. Não se lembrava dela enquanto praticava feitiços, fazia poções e até tinha uma vassoura para voar. O quê Petunia não daria para voar numa vassoura?

—Petunia querida— ela ouviu sua mãe a chamar, com aquele tom de voz só podia ser... —, seu noivo está aqui.

Na mosca. Seus pais odiavam a ideia dela casar cedo. ''Ainda mais com o idiota do Dursley'' foi exatamente isso que seu pai disse, ela não queria, mas naquela hora teve um ataque de risos imenso. E isso deixou o noivo irritado por semanas. Deus, como ela odiava brigar com ele.

O que muitos não achavam, ou fingiam não perceber era que ela amava Vernon de verdade. Não era para irritar os pais, ou ter alguém para mandar e ainda chamar de seu. Ela o amava intensamente.

Um amor louco, insano, idiota, prepotente e maravilhoso. Estar ao lado dele era o que ela queria mais que tudo e por isso iria dizer ''Sim'' quando entrasse na igreja e ainda daria gritinhos de felicidade.

Afinal, ela tinha que ser feliz alguma vez na vida. Mesmo ela não sendo Lily Evans.

Ela parou em frente ao espelho e observou seus cabelos loiros escuros ou até castanho claro ondularem até chegar a sua cintura, seus olhos castanhos com pequenos pontos azuis e seu rosto de mulher bem decidida e forte. Ela não era mais uma adolescente, já tinha 20 anos, estava noiva, queria ter um filho e ser dona de casa. A vida perfeita para uma, como é que eles falavam mesmo? Trouxa. Isso. A vida perfeita para uma trouxa como ela.

—Estou descendo amores. — a noite ela havia sonhado com um belo bebê gorducho, loiro e de olhos escuros como os de Vernon. Então decidirá que tinha que engravidar logo. Botou a roupa mais sexy que tinha por baixo do sobretudo preto: Um vestido vermelho que ficava no meio das suas coxas, com um decote que mostrava seus seios fartos. Colocou meia ¾ preta e um salto agulha da mesma cor. Contornou seus olhos com lápis, passou uma sombra escura e batom vermelho.

—Mesmo com essa capa aí... — ele sussurrou assim que ela o abraçou e lhe deu um selinho. Ela riu. — Você está muito linda, princesa.

Os pais da garota já haviam deixado à sala. O garoto de no máximo 25 anos se aproximou, fez uma pequena reverencia e beijou a mão dela que ficou corada.

—Pare de falar baboseiras, Vernon. A única princesa dessa casa é a Lily.

Ela disse amargurada. O rapaz pensou em como ela era besta de não perceber a sua beleza, os seus modos... Ela sim era uma perfeita princesa, nascerá para ser da realeza. Ter do bom e do melhor. —Pra mim sempre vai ser você. — ela olhou o rosto dele, seu rosto sereno com os cabelos loiros e barba mal feita. Então ela o beijou.

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Cerca de duas semanas depois daquele dia, a bela moça acordou com uma preguiça que nunca sentirá, seus músculos estavam fracos e ela sentia vontade de vomitar tudo que tinha jantado. O cheiro do café da manhã a enjoava mais e mais. Ela levantou rapidamente e correu ao banheiro do corredor.

Antes mesmo de perceber, ela já estava sentada agarrada ao vaso vomitando até o que não tinha mais no estomago. Era um enjoo horrível e que ela não desejava que ninguém sentisse. Ela ouviu um barulho, mas não teve coragem de levantar o rosto.

Sua cabeça dava voltas. Ela queria gritar.

—Oh meu Merlin. O quê aconteceu Tunia? — com esse palavreado só podia ser Lily. Quem falava Por Merlin no mundo deles? —Deixa que eu te ajudo.

Ela segurou os cabelos da irmã e ficou esperando até ela parar de vomitar. Ajudou ela a tomar banho, Petunia contou pra ela o que sentiu.

—Você está grávida.

Não era uma pergunta, era uma afirmação. Simples e eficaz. Ela desejou tanto ouvir aquilo, mas agora não parecia certo. Como ela contaria para as pessoas? Como ela cuidaria de uma criança sozinha? Por Deus. O quê Vernon falaria? E se ele não assumisse? Esses pensamentos fizeram sua cabeça rodar e latejar, ela correu para o banheiro novamente. Lily sorriu e balançou a cabeça indo atrás da irmã.

Nove meses depois, Dudley Dursley nasceu.