As mãos de Emma escorregaram entre os dedos de Regina, e logo a fumaça roxa apagou a cidade do mapa e as memorias de seus visitantes.

***

As paredes eram familiares, oscômodoseram familiares, os moveis eram familiares; mas o castelo estava vazio. A rainha arrastou o vestido longo pelo piso brilhante por vários minutos, procurando. O espelho estava lá, e o único rosto visível era o seu, não mais o alter-ego.

Um gesto largo embaçou o reflexo e revelou Emma. Regina sentou-se, pálida, mãos tremulas, olhando para os lados como se Emma fosse pegá-la espiando e lhe dar uma bronca. Ainda podia sentir seu perfume. Era pior olhar ou não olhar? A rainha não se moveu, e logo seu corpo relaxou.

Emma andava pelo apartamento, cozinhava, limpava, via TV com Henry, trabalhava, saia para beber com amigos... os olhos de Regina acompanhavam cada detalhe, o cabelo, as roupas, o maldito cadarço enrolado no punho. Um troféu? Uma lembrança? Como poderia?

Eventualmente a loira dormia, e Regina continuava lá. As vezes os olhos pesavam e a vista embaçava, a rainha esticava o braço na intenção de tocar a moça, mas sempre encontrava o vidro frio onde esperava um corpo quente.

Meses atrás a rainha sentara uma noite com Emma no Granny's. Entre copos de whiskey,a loira sorria e falava com tanta paixão de lembranças que a rainha nunca tivera a oportunidade de ter, mas sorria e a acompanhava com igual vigor, como se fosse parte daquela felicidade.

Agora os olhos contemplavam, num lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas, o jeito como os lábios de Emma se moviam, e o cabelo, e as mãos, e os copos de whiskey. Uma imagem de tal beleza que não podia deixar de provocar um sorriso no rosto da rainha. Um sorriso inexplicável, pois obviamente a rainha não fazia parte dessa felicidade.

Tímidas lagrimas ofuscaram as emoções de Regina, ela deslizou os dedos sobre a figura daquela que teria para sempre seu amor, e se voltou para o castelo vazio.