– Papai, já chegamos? Já chegamos?

– Ainda não Nick... Ainda não.

– Falta muito?

– Em um minuto estaremos lá filho, só mais um pouco!

Era uma noite fria e escura, já passava das onze e o vento soprava fraca e raramente, mas quando vinha, trazia consigo uma terrível sensação gélida, fazendo Nick Albert e seu pai, Agustín Albert, encolherem-se nos confortáveis bancos de um minúsculo conversível prateado. Não havia sequer pássaros sobrevoando o céu, provavelmente já estavam escondidos preparando-se para a rigorosa noite de inverno que viria. A estrada... Do mesmo jeito que os céus e arredores, vazia, sem uma alma á vista.

Uma pequena neblina começava a se formar, forçando Agustín a aumentar os faróis ao nível máximo, facilitando sua visão ligeiramente. O garoto de cinco anos estava elétrico, bem acordado e empolgado, esbanjando ansiedade. Percebiam-se brilhos nos grandes orbes castanhos, deixando transparecer as visões que possuía para tal viagem de férias junto de seu velho. A primeira vez dormindo fora de casa é sempre inesquecível, planejada há semanas, foi escolhida uma pequena casa de campo no meio do nada. Era uma viagem cansativa, seis horas já haviam sido percorridas e nem sinal de placa para a tão procurada “Hospedaria Me & You”.

“Droga... Onde nós estamos?...” – Resmungava Agustín, com a mente repleta de pensamentos ruins e negativismo. As probabilidades de estarem perdidos era gigante, atormentado o homem psicologicamente.

Esconder tal fato de seu filho era de vital importância, ocultando ao máximo a preocupação, exibia seu sorriso em conjunto com um olhar de “Está tudo bem” para Nick. Ver toda a felicidade de seu filho transformar-se em desespero era o pior dos cenários possíveis, e o homem de trinta e oito anos faria o possível e impossível para que isso não acontecesse.

A neblina mantinha-se presente, ficando mais forte conforme a noite transformava-se em madrugada. Os faróis já não iluminavam completamente o caminho, transformando-se em uma das dificuldades que enfrentariam daqui pra frente. Assim como qualquer garoto de sua idade, Nick começou a sentir sono, coçando os olhos com suavidade, demonstrava claramente que sua energia estava acabando.

– Está com sono, filho?

– N-Não! Não estou! – Por mais que quisesse manter a imagem de “garoto forte”, o sono predominava completamente. Uma insana luta para que as pálpebras não se fechassem começou, mas em cerca de quinze minutos, Nick já se encontrava em um profundo sono, parecia até um anjinho em forma humana.

Agustín parou o carro no acostamento logo em seguida, abriu o porta-malas e de lá retirou um pequeno cobertor branco, feito inteiramente de algodão 100% legítimo. Cobriu o garoto, deu-lhe um beijo na testa e continuou o percurso. Com celulares e comunicadores sem sinal, não havia maneiras de pedir ajuda a amigos ou familiares. Tanto o sucesso daquela viagem quanto o sorriso de seu filho dependiam dele, só dele.

– Droga... Onde é que eu vim parar?!

O desespero tomava conta de sua mente, a escuridão do caminho e a neblina eram poderosas, tornando aquela uma das piores cenas de terror possíveis. No lugar daquele sorriso exibido para Nick, mostrava-se presente um semblante sério e amedrontado.

...

Passavam das quatro horas, Agustín começava a sentir as pálpebras pesarem. Sua concentração já não era a mesma, assim como resistência e ânimo. Seu psicológico estava destruído e o corpo exausto. Notavam-se rastros de lágrimas secas em seu rosto, parecia até estar em transe, apenas seguindo reto como se fosse uma estrada infinita. Com sua mente em branco e pensamento ao longe, o maior erro de sua vida foi cometido... Erro? Ou seria destino? Sorte? Acaso? Não foi erro, foi acerto...

O homem adormeceu, a batalha entre sanidade e desespero havia terminado, já inconsciente, invadiu a pista contrária e continuou... Até onde o destino os levasse...