Ele me reconheceu imediatamente e controlei meu corpo para não demonstrar a vontade ridícula de correr. Sorri ao perceber a mútua lembrança enquanto ele se levantava para me cumprimentar.

Não parecia tão velho quanto eu pensava de mim ao me olhar no espelho. Mas lembrei de me chamar internamente de idiota: tínhamos vinte e cinco anos. Ele vestia uma jaqueta jovial e uma camiseta de banda. Era um pai jovem, muito jovem, anotei mentalmente.

– Você! Nossa, Nanda, você está diferente! - Ele me seguiu de cima a baixo com os olhos. - É óbvio que está - e riu -, quer dizer, há quantos anos? Oito?

– É, acho que sim. - Respondi sem graça. Se eu corasse, estaria vermelha. Ele me conduziu pelo ombro a uma distância da família, onde a mãe fazia bolhas de sabão para o pequeno garoto estourar. Paramos próximos a um banco de madeira envernizadinho, mas não sentamos. Jordan voltou a olhar para mim, as sobrancelhas erguidas.

– Dois filhos. Uau. - Disse sem emoção.

– Sim, são tudo pra mim.

– Imagino que sim. Quantos anos?

– O André tem cinco e a pequena ali tem dois. É, eu fui pai bem cedo. No meio da universidade, pimba, um filho. Mas ainda bem. - Ele concluiu esperando que eu falasse do meu casamento.

– Nada de "pimba!", filhos, pra mim. - Respondi e ele riu um pouco. Bem pouco, porque percebeu que não era exatamente uma piada.

– Ah, mas, no geral, como está sua vida?

– Estou trabalhando e tomando café.

– Namorando?

– Não, nada de amor também.

– Uma fase de isolamento inspirador, daqueles que te fazem trabalhar mais?

– Não. - Encerrei.

Nos encaramos por cinco segundos constrangedores.

– Me conta. - Pedi - Me conta tudo.

– Certo... Desde que nos vimos pela última vez? Eu entrei na universidade, num curso de engenharia. Tanto fazia o curso, na verdade, foi mais por dinheiro. Encontrei a Mariana lá, ela foi um anjo. Fez o curso parecer muito mais amável. Começamos a namorar em dois meses, no segundo ano do curso ela engravidou. Ficamos desesperados, é lógico, mas trabalhávamos e nos viramos. Casamos há dois anos, quando ela estava gravida da segunda vez. Ela estava linda, com uma barriga gigante, quase estourando o vestido. - soltou uma risada carinhosa em direção a mulher. - Nós nos viramos, sabe?

– Sei. Sua família é linda.

– É mesmo.

– Sinto saudades de você.

– Eu sinto saudades daquela época, mas acho que estou melhor agora.

– Que bom pra você. - pareci grossa, era apenas um pouco de inveja.

Ele me olhou com atenção novamente, e soube no que pensava.

– Você costumava me amar.

– Eu sei. - Ele sorriu.

– Desculpa - eu forcei uma risada tranquila, mas estava remoendo um pouco. Bobagem, eu sei.

– Tudo bem, é verdade, de qualquer forma.

Olhei para o céu, que já escurecia, e notei a Mariana chamando meu amigo. Provavelmente para irem embora. Ela sorria lindamente, estava feliz e começou a rir ao perceber que a garotinha tentava girá-la. Eu me virei de volta para Jordan quando ela passou a fingir que estava sendo girada à força. Puxei a manga da blusa para a ponta dos dedos, porque estava esfriando, e um vento novo e frio começava a soprar em meu rosto.

– Meu número e e-mail, só pra... bom, pra não me perder novamente. - Ele falou singelamente ao me entregar um pedaço de papel. - O nome dela é Fernanda. - Ele apontou para sua pequena filha, que agora tentava correr para a mãe com suas pernas fofas e sem equilíbrio. Ele dera meu nome. Meu nome. - Eu gostaria que ela se parecesse com você.