escrita por Kou


Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

É pessoal. Talvez seja estranho, talvez não. Porque nada é tão único no mundo, né?

Nasceu enquanto eu ouvia no aleatório as músicas de Love Lust Faith + Dreams, porque, de alguma forma, essas músicas ainda novas e esquisitas me transmitem uma intensa sensação, e pelas letras, algo como fé. Só apliquei.
Boa leitura C:



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Uma Questão de Fé

Não era fim de tarde nem nada do tipo que valha ser descrito. Era uma perdição em tons de cinza com um vento pouco ameno para acompanhar. Fazia frio. Pesava.

O quê? O que pesava?

A realidade. Era a realidade que pesava. A realidade que ele acreditara ter que aceitar. A realidade tosca que ele teimava em se fazer aceitar, que ele queria querer que fosse verdade, que fosse absoluta, que o salvasse de si. Fora aconselhado a isso, a abrir o olho e se achar no mundo. Tecnicamente, então, ele nunca estivera perdido. Porque estava em Londres, a cidade na qual morava.

E ainda ali que ele vivia, e passava a tarde, em um lerdo e vacilante passeio às margens do rio Tâmisa. Ou seja, só não valia a pena descrever porque era ele quem estava olhando, em seu atual papel de sonso. De quem pensava que não queria pensar. Como se fosse um surdo que acha que só pode ver se for pelo ouvido, e portanto também é cego. Como alguém que não entende o sentido de aproveitar o que ele próprio pode oferecer.

Antes da realidade seu mundo era sua própria religião. Suas preces soavam conforme seus passos cruzavam estradas, trilhas e caminhos, em qualquer que fosse a direção. Seus cânticos louvavam todos os seus sonhos, das profundezas da sua imaginação, aos silêncios dos momentos de criatividade. Suas orações representavam cada batida de seu coração aventureiro, e toda a sua fé era direcionada ao que apenas ele parecia ser capaz de ver, ao seu lado do mundo, e a si próprio, perdido nos versículos da sua liberdade.

Era incrível, magnífico.

Mas depois da realidade, ficou como uma lei, o decreto de uma proibição cruel e insana, à qual ele se forçava a se adaptar, como se fosse algo que sempre lhe fora normal. De toda a bíblia que percorria anteriormente, restara-lhe apenas um quadro, seco e imutável, emoldurado na parede de tal tarde londrina – ou do tempo, melhor. Explícito, sem portas para uma interpretação pessoal, certa e errada, somente impossibilidades. Eram os limites.

Pela primeira vez aquela palavra soara literal para ele. Limitada e limitadora. E ele acatou, surdo, mudo, cego, paraplégico.

E ele achava que isso era ser gentil consigo mesmo. Era não se importar por estar se poupando de seus próprios sentimentos, por estar vendo por olhos de outros, que não os seus.

Por isso que era lerdo. O passeio, cercado de pesos – pesados pesadelos, além da inútil compreensão.

Suportar de fato ele não suportava, mas achava que sim.

Deu um suspiro, que em nada o aliviou.

A água turva do rio roubava seu olhar de tempos em tempos, e se perdia logo à frente, fora de foco. Ele era um míope trazendo a realidade para seu curto campo de visão. Vultos disformes preenchiam os espaços mais distantes, erráticos, na outra margem.

Um deles pareceu parar, se alinhar com sua marcha lenta. Por via das curiosas dúvidas, procurou os óculos que estavam em algum lugar consigo e os ajustou aos olhos. Para garantir que não era a sua amiga miopia lhe pregando uma nova peça.

Se o questionassem o motivo daquilo, quem sabe desse de ombros e murmurasse não saber. Quem sabe dissesse que só queria ver ali, mais além. Sequer notaria – aposto alto – os respingos de seu antigo eu lutando e se debatendo fracamente com tão eminente afogamento.

Mas tudo bem. Já deu para constatar a tolice do rapaz.

Então ele viu.

Viu que o vulto disforme era uma moça encasacada, de touca nos cabelos e dedos nas luvas. O frio de cada mostrando para o que viera. Em uma das mãos tinha um pequeno copo de algo que parecia café. As pontas das mechas onduladas escondiam o pescoço, junto de um cachecol xadrez para compensar a gola. O primeiro era castanho, o segundo vermelho e verde. O resto preto e cinza, como o cenário.

E ele nem se tocou que estacava no lugar, pés fincados na calçada e olhos atentos até onde lhes era possível. Com a outra mão a desconhecida levou uma colherada de café à boca.

Espera. Ninguém toma café assim. Aquilo não era café, nem a fumacinha subia. Que se come de colherada no potinho... Era sorvete?! Surpreendeu-se com o pensamento.

Que acaso mais interessante. Enfiou as mãos nos bolsos, apreciando as divagações.

Rendeu-se.

Procurou com o olhar uma ponte e arrancou as raízes do solo, espiando volta e meia para ter a garantia da presença da mulher, para garantir que seu ato não era vão.

Atravessou, se aproximou. Por sorte ela continuava lá.

– Oi. – falou, com um simpático curvar de lábios.

A moça estranhou o cara parar logo do lado dela. Não sentiu maldade, era um oi. Devolveu.

– Qual é o sabor? – perguntou ele, que viu, agora de perto, as bochechas dela, rosadas de frio.

– Flocos. – levou outra colherada à boca.

– Tem gosto de neve? – ela deixou uma risadinha escapar pelo nariz. – Que foi? – armou-se ele de inocência.

– É gelado igual.

E a conversa seguiu, na simplicidade daquela tarde de frio.

Aquele encontro rendeu mais um, uns dias depois. Ela descobriu que o nome dele era Zoe, que tocava violão e que preferia o sorvete para gelar a boca quando o dia não estava pra lhe gelar o resto do corpo.

Marcaram de se ver em um café. Ela aceitou, divertida, se preparando para encarar o que lhe entregava a vida: uma oportunidade de uma nova amizade, inesperada e ocasional.

A espessa camada de tolice dele parecia se desfazer naquela ideia.

A touca do dia era verde, e ela lia uma revista na mesa, esperando-o. Quando a cadeira em frente se arrastou ela ergueu os olhos, e viu um Zoe quieto e radiante. Um lenço azulado entornava seu pescoço, luvas quentinhas de couro recém postas sobre a mesa. A gola da jaqueta desalinhada, as listas de um suéter se mostrando pela parte do zíper que mantinha aberto. As orelhas vermelhas pelo vento gélido.

– Com licença, Cassie.

– Seja bem-vindo, Zoe. – sorriu, deixando a revista de lado. – Curtindo o frio?

– Não podendo evitá-lo, não é. Eu não reclamaria de uma lareira agora.

O riso dela nublou seus ouvidos.

– E você se dizia um aventureiro...

– Eu gosto de frio. Acho bonito. Principalmente quando está do outro lado da janela.

Sem perceber, fitou a janela próxima, com a vista acinzentada da cidade, o andar dos passantes apressados e encolhidos pelo tempo. A temperatura ali no estabelecimento era bem mais agradável.

– Desculpe o incômodo, então. – ironizou, uma vez que fora ele quem lhe fizera o convite.

– O que estava lendo? – indicou a revista com o olhar.

– Ah, isso. – Cassie pegou a revista com as duas mãos, virando-a para que pudesse ler a capa. Era algo de casas, jardins e decoração. – Estava fazendo umas pesquisas para aplicar na reforma que estou planejando. Quero mudar as caras da minha casa.

– Uhun... – confirmou ele com a cabeça.

– E você, não esqueceu nada? – a pergunta atingiu em cheio seu olhar. Ele falara mesmo em trazer algo? O que, flores? – Seu violão.

Procurou tolamente nas proximidades das suas costas e concluiu que não o trouxera, mesmo.

– Acho que não, devo ter deixado dormindo.

Cassie franziu as sobrancelhas. Violão dorme? Zoe tamborilou os dedos na mesa, chamando a atenção.

– Não me arrisco muito a tocar na rua nesses dias, entende. Ninguém vai parar para olhar um violonista qualquer arranhando os dedos nas cordas. É congelante.

– Você toca nas ruas?!

O atendente do café interrompeu o assunto, oferecendo placidamente seus serviços de garçom, anotando o pedido e deixando-os com um “aguardem, por favor”.

Ele fez que não, passando o polegar na ponta dos outros dedos, sentindo a pele fina, fora de hábito.

– Eles são muito preguiçosos nesse tempo. Não querem saber de exercício, só de luvas. – referindo-se aos dedos.

Ela riu da meninice do quase estranho à sua frente. Estava sem óculos dessa vez. Ele tinha um jeito engraçado de olhar.

O atendente voltou trazendo os pedidos em uma bandeja. Cafés, pãezinhos, biscoitos. As xícaras estavam queimando. Ela nem adoçou, bebeu um gole. Às vezes queria entender por que estava ali. O casaco nas costas da cadeira, a bolsa também pendurada nela, o cachecol frouxo, as luvas de lado, próximas à revista.

– O que você faz?

– Hm? – atrapalhou-se ela, saindo de seus pensamentos.

– O que você faz? Trabalha?

– Estudo arquitetura.

– Faz sentido... eu trabalho em um escritório pelas manhãs.

– Empregado?

– Às vezes dono, auxiliar, amigo, pesquisador. Empresário nas horas vagas. De certa forma, um estudante também. Cuido das tabelas e chatices de informática.

– Nossa, tudo isso? De chefe à moça do cafezinho, então?

– Esse aí raramente. É de um amigo, então recebi o convite de ajudá-lo. Parece muita coisa, mas para ser meio expediente é ótimo.

– E com uma companhia conhecida, também.

– Sim, mais fácil. E eu costumo resolver os problemas mesmo.

– Você entende de computadores, então...

Balançou a cabeça, como quem diz “mais ou menos...”.

– É, é, eu também. Mas deve ser menos do que você.

– Qual o seu problema? – inclinou-se levemente para frente.

– Programas de arquitetura. Mas quando eu me der por vencida considero a sua ajuda, certo, resolvedor de problemas.

– Às ordens, cara Cassie.

– E a música?

– Interesse antigo meu. Ganhei meu violão de meu pai, anos atrás, e demorei muito para aprender a tocar. Ou querer aprender, talvez. Gostava dele apoiado na parede, meio empoeirado. De uns tempos para cá me dediquei, mas como vê meus dedos sem calos e as unhas curtas, dei um tempo também.

– Te faz falta.

Ele a olhou, intrigado. Que observação sagaz.

– Um pouco. – admitiu.

– E assim, você o deixou em casa. – ele confirmou em resposta. Não conseguia ter a menor pista do que ela estava pensando.

Aproveitou e sorveu quase todo o café da xícara, já quase frio.

Depois dali foram se embrenhar pelas calçadas, andar pela tarde nublada, antes de se despedirem. Para já ter no calendário um novo reencontro. Eles estavam se dando bem.

– Você gosta de ler? – perguntou Zoe, depois de esbarrar com ela na saída do restaurante, terminando seu almoço no final do expediente.

– Mais ou menos. Um pouco. – ponderou ela.

– Então por que seu compromisso do dia é ir à biblioteca?

– Estudos. – olhou-o como se fosse um ser profano, sem cérebro.

– Calma, eu só não liguei coisa com coisa, Cassie. – se bem que onde estavam era bem longe da biblioteca. Mas ele não podia concluir muita coisa, não sabia de onde vinha, o que estivera fazendo. Se morava para esses lados ou sei lá. – Para um trabalho?

– Enorme, tenho que escolher um período entre uns lá, pesquisar, entender, preparar até maquete.

Ele sorriu.

– Maquete? Não faço isso desde a escola.

– É que eu ainda não saí dela, sabe. – comprimiu os lábios, num sorrisinho brincalhão, com um olhar no canto dos olhos.

– Nada de informática?

– Não, sua utilidade aqui é inútil, obrigada.

– Disponha. – alguns metros de silêncio. – Eu vou atrapalhar na biblioteca ou você vai só pegar uns livros?

– Não sei. Qualquer coisa eu expulso você de lá, fazer o quê. Se não for algo tão ofensivo, quer dizer.

– Certo. Vou compreender. E vou aproveitar para procurar alguns também.

– Pesquisa?

– Lazer.

– Você gosta de ler, então?

– Algumas histórias valem à pena. Vou me dispor na biblioteca para ver se alguma delas me acha.

– Não vá se perder. – ele quase sorriu pelo tom despreocupado de preocupação que escapou com as palavras dela. Bem que podia ser apenas sua imaginação, não é.

– Vou é encontrá-la, impedir que se perca.

– A tal história?

– Sim. – “não, você” pensou, culpado.

Olhou-a, só por olhá-la. Só para decifrar os contornos do rosto dela, rodeado de lã e cabelo, clareando o tom da pele, que parecia invejar a neve pela sua brancura.

Ele não podia se negar dos detalhes. Cassie era atraente. Zoe gostava disso.

Horas mais tarde.

– Você não acha que já pesquisou demais, não? – Zoe irrompeu na mesa onde ela está alojada, batendo as mãos silenciosamente na madeira e assustando-a com o meio-tom, o máximo permitido no local. Ela sorriu com o pulo que deu. – Desculpe quebrar a sua concentração.

– Espera, me deixa juntar os cacos. – disse, botando a mão no peito para normalizar seu ritmo.

– Eu não devia ter feito isso, foi mal. – ela estava mesmo abalada. – Nunca vi a arquitetura como algo tão interessante assim.

Cassie piscou para os livros, fazendo-o entender a situação.

– Ah! A moça estudiosa não estava pesquisando e aprendendo sobre arquitetura?

– Zoe, seja menos infantil, por favor. – “idiota”, ela quis dizer. Colocou uma mecha atrás da orelha, que agora estava descoberta da touca.

– Tá. Então o que você estava lendo aí?

– Um romance. – respondeu rápido, fechando o livro. Quanta vergonha por uma irresponsabilidade tão comum quanto a distração, credo. Cassei, Cassie. Devia ser um romance daqueles, né?

– Um romance de amor?

– Não, um romance de horror, quem sabe.

– Desculpa, sério. – pausa. – Você teve uma reação meio esquisita.

– Eu tinha esquecido que você ainda estava por aqui. Achei que já teria desistido, Zoe.

– Não, até que não. Uma boa história me encontrou.

– É? E como ela era?

– Te conto se... você tomar um sorvete comigo.

Ele adorava fazer convites movidos a chantagens. Ou chantagens movidas a convites.

– Ainda é de tarde? – perguntou ela, perdida entre a pilha de livros com quem dividira as últimas horas, organizando-a.

– Não sei. – “mas espero sinceramente que não. Porque sorvete é uma ótima sobremesa.”

Claro que ele não era honesto o suficiente para pronunciar essas palavras. O ritmo da história ainda estava em fase de testes, ele lá ia saber quando ia ou não fazer alguma cagada? E tinha coisas que ele preferia deixar bem distantes da possibilidade da palavra merda, se fosse possível.

Porém, como Zoe gostava de acreditar, ele não era uma pessoa insegura ou mesmo ruim, tratando-se dos seus interesses. Ele podia fazer a coisa direito. Ele não queria perder a chance. Ele não queria deixar pra lá. Ele queria continuar acreditando, confiando. Em si, nos outros, nela, em si em relação aos outros.

Conversar com Cassie era ótimo. Ele gostava do jeito simples dela de se vestir, e da maneira que ela gostava dos mais diferentes frios que pudesse sentir, aos quais pudesse se expor. Gostava do foco dela em seus objetivos, do jeito de andar, de sorrir. De como ela lhe perguntava as coisas sem maiores preocupações, casualmente. E dela se dispor a sua companhia.

Queria ver do que era capaz, de verdade.

O gosto do sorvete era de baunilha, assim como o sabor dos lábios dela. Doce, frio e cremoso. A noite já chegara e o casal estava na porta da casa dele, trocando um morno e delicado primeiro beijo, sem muito abraço ou aconchego pela quantidade de roupas que os separavam. E a boa e honrada resolução de Cassie, é claro.

Separaram os rostos, recém-aquecidos de um pouquinho do calor do outro, e Zoe insistiu, repetindo um convite, sem sorrir nem piscar, para não se denunciar ainda mais.

– Não quer mesmo entrar? – ela simplesmente riu.

Teria sido mais educado tê-la levado em casa, mas, nesse caso, ele preferia tentar em um terreno conhecido, e não apenas escoltá-la pela noite londrina para descobrir seu endereço, mesmo que fosse de importante uso posterior...

Não era uma boa desculpa.

– Não, acho que dá para esperar. – respondeu, não olhando para Zoe.

Esperar, esperar... É, ele podia, sem o menor problema. Ela podia estar menstruada, porque não.

Esperar nem era lá uma má ideia.

Despediram-se com boas-noites, sem maiores contatos, e, cansado, Zoe entrou em casa, sem vê-la se distanciar em seu caminho.

Não lembrava mais se era a mesma noite, se era a seguinte, ou a de uma semana depois. Lembrava-se das conversas, dos pensamentos, das sensações, das reações. Dos olhares, dos assuntos. Das perguntas que ainda queria fazer. Poderia ter dito que não queria ir até a casa dela de noite porque não daria para ver direito tudo o que ela planejava mudar, reformar, aplicar seus conhecimentos... Isso seria mais bem visto de dia. Teria sido bem mais atencioso da sua parte.

Ou então voltar ao tópico dos romances e enveredar por outro caminho, menos tortuoso e com uma vista melhor, com mais espaço para um agradável e revelador diálogo.

Em breve, em breve ele se daria tal oportunidade...

Ele piscou uma, diversas vezes, lutando contra o colorido que tomava sua visão. A moça do outro lado do rio voltou a andar, deixando o potinho em uma lixeira e desaparecendo ao longe.

Ele entendeu que aqueles pequenos instantes que permanecera ali, parado, serviram para lhe mostrar que não seria capaz de suportar uma realidade tão grande de tanta simplicidade. De tanta obviedade. Que ver apenas a moça do outro lado do rio e enxergá-la somente como uma moça do outro lado do rio não era a realidade que ele queria ser apto de perceber.

Era pouco.

Deprimente. Ele se perdera por uns instantes e... a mudança pareceu vir ao chão, com pontas afiadas e tilintantes contra o calçamento. Não queria se lembrar. Não queria se lembrar do motivo que o levara a crer em carregar tal peso como uma vitória. Era nada mais que um estorvo. Ele não se arrependia de ter tentado, de ter dividido sua mente com um estorvo daqueles por esse tempo.

Era meio que... uma forma dele se entender perante todos os outros. Que o mundo de todo mundo não era o melhor mundo para ele. Mesmo que ele frequentemente ouvisse o contrário.

Respirou fundo naquele quase fim de tarde nublado, pensando. Com clareza. Como ele.

Que...

Não se proíbe os pequenos prazeres da imaginação. Que não é simples encarar a realidade com a pura certeza de que vê-la assim vai mudar algo em você. Nele. Não é como engolir uma pílula e sentir o efeito. Que não dá para louvar um quadro com a ousadia de repintá-lo a cada dia. A tinta demora mais para secar. Para tomar forma.

E aquilo não era o suficiente.

E quando deu-se conta da sua falta de foco, engoliu. Engoliu sua descrença e sorriu com a fantasia. A fantasia enlouquecida de um fraco sonhador, covarde à sua própria cota, que não sabia ter fé na pobre e seca realidade. Que tinha fé na sua hipocrisia – momentânea – de que tudo pode ser mudado, melhorado, mas não para o igual.

De que seus olhos lhe mostravam o mundo da melhor maneira para si, fosse ele real ou fosse um sonho. Um devaneio. Nenhum crédulo se deixaria levar tão facilmente por algo tão oposto a sua fé, mesmo que a camuflagem fosse boa. Mas, o melhor de tudo, é que ele não se importava de se admitir um burro.

Ele poderia muito bem espiar ela de vez em quando. A realidade não iria fugir.

Ele é quem fugiria dela novamente. Com todo o bom senso, como sempre fizera.

Ergueu os ombros, colocando as ideias no lugar. As sombras da tarde já se esvaíam na escuridão, e ele resolveu que estava cansado de ficar parado. Deu a volta e seguiu andando, despreocupado e sonhador.

Acreditando.


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Notas finais do capítulo

aaaaaaaaaaaaaaaahm...
Obrigada pela atenção ^.^
~



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