Perseu Jackson é o tipo de cara que não vive longe de problemas, nunca conheceu o pai e havia enterrado a mãe Sally há pouco tempo.
Embora só vivesse com Sally, o garoto não estava acostumado à vida sem ninguém, sua rotina a dias atrás se resumia em voltar para casa todas as noites para cuidar da mãe doente. Agora, sem família e sem rumo, Jackson passava as noites vagando pelas ruas da Europa renascentista em busca de um novo sentido para sua vida, algo para acreditar.
Em um desses passeios noturnos, o garoto viu, ao longe, um vulto correndo por cima dos telhados e, minutos depois, homens da rainha saíram do castelo em busca de algo.
O que estava acontecendo ficou óbvio para Perseu em poucos segundos, ele era um pouco lento em certos assuntos, mas muito perspicaz no geral.
Temendo ser confundido, apressou-se em adentrar um beco e esconder-se entre as sombras.
Quando os guardas sumiram, ele apenas saiu de vagar e correu para casa.
Ainda naquela noite, deitado em sua cama pouco confortável e observando as rachaduras do casebre que antes dividia com a sua mãe, o garoto chegou a uma conclusão,
Seria um ladrão, mas não um simples ladrão de galinhas, mas um ladrão da corte; atacaria apenas os membros mais prestigiados e ricos da dinastia Tudor. Afinal, julgava-se merecedor de um pouco de conforto.
Trabalhou por anos como aprendiz em uma guilda de sapateiros e para quê? Mal podia alimentar sua mãe doente.
Mas para ser um ladrão não basta nomear-se, é importante agir.

No dia seguinte, logo cedo, Jackson se pôs a pensar em um plano de ataque, o alvo já havia sido escolhido, Jonathan Lupside, um lorde rico e famoso por suas mesquinharias.
Quando escolheu o alvo, Perseu riu de si mesmo por prestar o papel de Robin Hood, sabia que não estava sendo caridoso com ninguém além dele mesmo, entretanto não teria coragem de tirar daqueles que possuem poucos bens.
O plano estava traçado e seria colocado em prática naquela mesma noite, quando o lorde estivesse indo jogar um pouco de úiste no clube de campo como era de seu costume as quartas feiras à noite.
Jackson vestiu roupas escuras, um sobretudo discreto e colocou-se a caminho da casa do velho Lupside. Ao chegar à propriedade, ficou aliviado ao constatar que não havia muitos empecilhos em seu caminho.
O ladrão de primeira viagem entrou na casa com facilidade, pois aproveitou a proximidade de um velho carvalho com a casa e com agilidade conseguiu saltar dos galhos da arvore até a janela de um quarto.
Era um quarto de hóspedes, sem nada de valor, o plano era chegar à sala de estudos, onde provavelmente encontraria um cofre e alguns itens de valor.
Não foi difícil encontrar a sala, entretanto, assim que adentrou o local, ouviu passos e correu para esconder-se.
Dentro da grande e velha lareira, conseguiu sair do campo de visão da governanta que acabara de adentrar o cômodo para preparar o local de descanso de seu patrão.
Ao estudar cautelosamente os movimentos da governanta, Perseu logo percebeu que a mulher se preparava para acender o fogaréu exatamente no local em que ele havia escolhido como esconderijo, portanto rapidamente tratou de escalar pela chaminé para que não fosse pego no flagra.
Assim que o fogo foi aceso, Perseu, que estava pendurado como uma aranha na chaminé com seus pés apoiados em tijolos desalinhados, sentia o fogo aquecendo suas partes baixas. Mais alguns minutos e estaria literalmente com as calças pegando fogo.
Mas o jovem foi paciente e esperou ansiosamente pelo barulho da porta batendo, o que indicou a saída da governanta da sala.
Para descer de onde estava sem se queimar era necessário que a sua inteligência fosse testada. Entretanto não demorou muito para uma ideia perspicaz povoar os pensamentos do jovem. Com muita habilidade o garoto tirou o sobretudo que estava vestindo e o jogou em cima do fogo para abafa-lo, o que o daria pouco tempo para sair da chaminé sem passar pelo fogo forte, mas ainda sim era sua melhor opção.
Com pressa de sair dali antes da fumaça gerada pela queima do sobretudo chamar a atenção, mas também numa tentativa desesperada de terminar o que começara,
Jackson pegou um exemplar de Mobidick da estante, o valiosíssimo fabergê que decorava a escrivaninha e os óculos com armação de ouro que estavam sobre a mesinha de canto. Infelizmente, enquanto deixava a propriedade, foi descoberto pelos criados que soltaram os cachorros no jardim. Perseu conseguiu fugir por pouco, mas carregava dentro de si o sentimento de vitória absoluta.
A partir deste roubo aparentemente bem sucedido, Jackson passou a atacar todos os nobres de Londres e seus arredores. Roubava coisas inusitadas, mas longe de serem sem valor.
Logo seu nome ficou conhecido por toda Inglaterra, agora temido por sua perspicácia, maleabilidade e destreza, passava a ser um foragido da justiça.
Para proteger seus últimos roubos sem levantar suspeitas, enterrou-os junto a um velho baú perto do jardim da casa onde nascera. Iria roubar a última família nobre que restara e com a fortuna que já tinha levantado com a sua conduta criminosa mais o que conseguisse essa noite, planejava fugir do país até a poeira baixar.
Rachel Elisabeth Dare seria, sem dúvida, a próxima vítima.