Quando eu era mais novo, as outras crianças sempre tiravam sarro de mim por eu sempre ter sido mais alto que o normal. Então, eu nunca tive amigos. Consequentemente, eu cresci meio isolado de todos, sempre indo de casa pro colégio, do colégio pra casa. Sempre evitava conversar com os outros e não gostava quando se aproximavam de mim.

Um dia, quando eu tinha 10 anos, eu estava voltando pra casa quando um grupo de meninos mais velhos veio pra cima de mim e começaram a me bater, xingando e rindo de mim, falando de como eu era ridículo e que eu nunca ia achar uma namorada sendo daquele tamanho (claro que isso é meio bobo, mas eles deviam ter uns 12 anos, acho que fazia sentido pra eles). E eu fiquei parado, chorando igual um bebê, não reagi nem nada. Eles foram embora e eu continuei lá jogado no chão, todo machucado.

Ai apareceu um menino, devia ter a minha idade, de pele pálida, cabelo preto com a franja cobrindo o olho esquerdo, uma pinta debaixo do olho direito e não era tão baixo, comparado as outras crianças. Ele me olhava meio curioso, meio preocupado.

– Você tá bem? – Ele me perguntou. Mas ele não parecia ter má intenção alguma. Então me estendeu a mão, me ajudou a levantar. Apresentou-se como Himuro Tatsuya. Foi a primeira vez que alguém foi gentil comigo. Ele me disse que morava na casa em que eu estava, anteriormente, caído na frente e falou que ia me ajudar. Me levou para dentro dela, limpou meus machucados e pediu para que a mãe dele ligasse para a minha. Foi um ato tão simples, mas que mudou a minha vida.

Depois daquele dia, toda vez que eu passava na frente da casa de Himuro, ele sempre me chamava para brincar e com isso nos tornamos amigos. Meu primeiro amigo.

Ele não ligava se eu era estranho, de eu ter minhas manias. Não se importava de eu ter que lavar minhas mãos a cada 29 minutos ou de eu ter que escovar os dentes sempre que falava com alguém, por que eu ainda acho que as bactérias que as pessoas tem na boca vão passar para a minha. Ou quando eu quase caia na calçada por que tentava desviar as rachaduras que nela havia. Ele até achava graça nisso. Dizia que se sentia seguro por que tinha certeza que ninguém nunca entraria em casa por que eu tinha que verificar 9 vezes se eu havia trancado a porta, mesmo estando dentro de casa. Sempre dizia que isso era fofo, que isso que me tornava especial. Ele dizia me amar mesmo assim. Sempre que ele falava que me amava, até a alma dele sorria.

E hoje fazem exatos 9 meses que ele foi embora para outro país.

Eu nunca disse a ele que ele significa o mundo para mim. Nunca falei que ele era a única pessoa em que eu não ligava de andar de mãos dadas sem precisar lavar-las depois. Nunca disse que eu não me importava em beijar ele sem precisar ficar escovando os dentes, que eu não ligava de pegar as bactérias dele. Ele não sabe que eu sou capaz de sair correndo pelas ruas, sem me preocupar com as rachaduras, sem me preocupar com as pessoas falando ao meu redor, só para poder alcançar ele. E, também, acho que ele nunca vai saber que eu não tranco a porta, por que eu tenho a esperança que um dia ele volte e me diga mais uma vez o quanto ele me ama.