Capitulo 2 – Péssima ideia

No dia seguinte acordei logo cedo, ainda não eram nem oito da manhã e eu já estava no banho

Eu precisava tomar uma ducha e tirar toda aquele sentimento de ontem à noite. Eu era uma agente da SHIELD não uma civil.

Me enrolei no roupão e fui para a cozinhar fazer o café

Eu não tinha a mínima ideia do que havia acontecido comigo ontem. Passei minha vida inteira sozinha e fugindo de relacionamentos, então por que eu tinha agido daquele jeito com Clint? Eu não podia estar realmente apaixonada por ele, devia de ser carência. Havia passado praticamente dois anos sozinha e sem ninguém, eu estava apenas querendo companhia e fiquei magoada por Clint não poder me dar isso enquanto eu sempre estive ao seu lado enquanto ele precisava

Eu entrei pros Vingadores apenas por que ele tinha sido comprometido, eu nunca quis bancar a heroína mas eu fiz isso por ele.

—Não sabia que tinha a chave do meu apartamento – Falei colocando o café em uma xícara e me virando para entrega-la a Clint

—Fiz uma cópia a muito tempo – Comentou Clint aceitando a xícara

Ele tinha entrado silenciosamente no apartamento, provavelmente querendo me pegar de surpresa.

Mas eu nunca era surpreendida

—O que faz aqui tão cedo? Quer companhia para treinar? – Perguntei me encostando na pia e o encarando por cima da xícara

Clint era realmente bonito, seus olhos azuis e seu rosto duro e carrancudo era uma combinação perfeita, seu rosto já dava sinais do tempo mas nada que o fizesse se preocupar, o que ele mais tinham eram marcas do tempo em seu corpo.

—Na verdade eu queria falar com você. Você estava estranha ontem a noite

—Na verdade só estranhei você Clint. Você nunca foi um cara família

Ele respirou fundo e deu uma bom gole na xícara de café, provavelmente ela queimou sua língua e toda sua garganta, mas ele não demonstrou dor

—Eu sei, mas a pouco mais de três meses eu cansei disso

—Disso o quê?

—Dessa coisa de viver sozinho. Sei que nossa profissão pede isso, mas não precisa ser sempre assim. Sei que você não entende, você sempre foi auto suficiente e sem sentimentos

—Sem sentimentos? – Perguntei arqueando a sobrancelha

Então era assim que Clint me via, como uma mulher sem sentimentos algum? Eu interpretava tão bem assim meu papel de espiã durona?

—Você não é chamada de viúva negra à toa Nat

—E você Clint ainda tem sentimentos? – Perguntei deixando a xícara de lado e o olhando seriamente

—Há alguns meses eu achava que era como você. Não sentisse mais nada, de que era apenas matar e cumprir ordens. Mas descobri que não era assim

—Então você está apaixonado – Clint gargalhou e me olhou divertido

—Ter sentimentos e estar apaixonado é diferente Nat. Você não entende por que nunca se apaixonou

—E você já Clint? – Disparei sem me dar conta

Por que eu queria cavar mais fundo nesse assunto? Não fazia sentindo, só me deixaria com mais ideias na cabeça, ideias que eu não queria ter

—Talvez Nat – Ele admitiu se apoiando em minha bancada e me olhando atenciosamente – E você?

—Como você mesmo diz eu não tenho sentimento – Falei dando os ombros e terminando de tomar meu café

—Você é uma excelente atriz sem dúvida Nat. Mas eu te conheço a tanto tempo que você não me convence mais – Disparou Clint caminhando em minha direção

Congelei na pia esperando o que ele ia fazer, mas ele apenas deixou a xícara vazia na pia e se apoiou ali me olhando

—Não teria certeza disso Clint

—Por que não saímos hoje? – Ele perguntou analisando minhas reações

Eu sabia perfeitamente que aquilo era um teste

—Por favor não fale cinema, não quero ficar vendo você e Juliet se beijando. Sou sua amiga, mas não preciso saber tanto de sua intimidade, não mais – Clint sorriu de canto e apenas colocou a mão dentro de sua jaqueta e tirou um papel me entregando

—Knicks Vs Heat. Ainda torce para os Heats certo? – Não consegui esconder o sorriso ao ver o ingresso

Eu amava basquete! E Clint era o único que sabia disso! Eu não tinha mais ninguém para compartilhar isso e sem dúvida me levar para um jogo de basquete era o melhor jeito de me alegrar

—Ganhamos algum título nesses dois anos?

—Eles foram campeões da temporada passada

—Que horas você me pega?

—Passo aqui as 17h

—Estarei te esperando Clint – Falei sorrindo.

Clint acompanhou meu sorriso e beijou minha bochecha se despedindo e já indo em direção a porta

Um jogo de basquete com Clint e sua namoradinha não podia ser tão ruim certo?

Voltei de novo para o quarto e coloquei uma roupa de ginastica, eu precisava treinar. Sai do apartamento enrolando algumas faixas na mão já me dirigindo a uma academia abandonada que ficava na rua detrás de minha casa.

Assim que entrei, como o esperado, ela estava vazia e escura, fui até a caixa de luz e acendi o interruptor.

Era uma velha academia de luta, os sacos de pancadas ainda estavam pendurados e também haviam outros equipamentos para levantamento de peso. Por diversas vezes eu sentia que não era a única a vir aqui

—Vamos lá Natasha, você precisa colocar os pensamentos no lugar

Admiti em voz alta deixando minha mochila num lugar próximo e estratégico

Eu iria socar aquilo até minha mão sangrar.

“Você não tem sentimentos Natasha”

Soquei o saco de pancadas com força fazendo sua corrente ranger

Isso não era verdade, eu tinha sentimentos sim, só que eu os deixava para a minha vida pessoal

Ok talvez eu não tivesse uma vida pessoal, mas isso era culpa do trabalho, a SHIELD ocupava todo o meu tempo, não tinha tempo para brincar de casinha como Clint, só conseguia me envolver com os agentes, mas logo enjoava deles.

Eu sempre descartei todos meus envolvimentos amorosos é verdade, mas tinha um que não e o nome dele era Clint Barton. Nunca dispensei o gavião por que pensei que tínhamos os mesmos interesses mas parecia que não era o que estava acontecendo agora.

Estávamos em conexões diferentes, eu não queria um relacionamento sério. Eu não podia quer, eu era chamada de viúva negra por um motivo e eu iria honrar esse motivo!

Não ia ceder a uma vontade fraca, eu tinha passado por vários treinamentos a fim de saber esconder minhas vontades e era isso q eu colocaria em pratica agora!

Parei de socar o saco de pancadas e percebi que os nós de meus dedos já estavam vermelhos assim como o peito do meu pé

Era hora de parar. Não precisava me matar de treinar. Não ainda

Suspirei cansada e peguei uma das toalhas enxugando meu rosto e já bebendo água

Senti meu estômago reclamar ao sentir a água cair no vazio. Eu precisava comer alguma coisa

Coloquei a toalha na mochila e sai da academia apagando todas as luzes.

Olhei para o relógio e percebi que já se passavam das 15h, havia treinado um pouco mais de cinco horas

—Isso por que estou de férias – Comentei sozinha já entrando em uma lanchonete perto da academia

—Pois não? – Perguntou a atendente me olhando de cima a baixo

—Dois sanduiches de peito de peru pra viagem por favor

—Algo para beber?

—Suco de laranja

—Certo – A Atendente me deu mais uma olhada de cima abaixo e saiu fazendo careta

Me acomodei melhor no banco do balcão e dei uma boa olhada em volta.

Adolescentes comendo atrasados, uma idosa bebendo café e tricotando, um homem conversando nervoso no celular enquanto provavelmente espera seu café expresso

Não havia nada de fora de comum ali, nenhuma ameaça

Suspirei cansada e comecei a brincar com o guardanapo

Era um habito de agentes observar tudo a sua volta e detectar um possível perigo, não conseguia me livrar disso. E nem queria.

Não estava na lista das dez pessoas mais agradáveis, mas sem dúvida entrava na lista das dez pessoas mais perigosa, talvez junto com Hulk

Um arrepio inconsciente percorreu meu corpo

Não gostava de pensar no Hul... No homem verde, não era uma lembrança agradável

—Posso ofer...

—Não – Cortei sem nem ao menos olhar para o homem que havia acabado de se sentar ao meu lado

—Mas eu nem terminei de falar

—Não precisa – Falei me virando e lhe lançando um olhar frio – Não estou interessada, agora por que não tenta a atendente, ela parece bem disposta – Acenei com a cabeça para a atendente que havia me analisado mas o homem nem ao menos a olhou

—Não estou interessado – Soltei a respiração cansada e dei as costas ao homem

Os insistentes eram sempre os piores.

—Talvez queira que eu lhe acompanhe até em casa? – Ele perguntou, provavelmente dando um daqueles sorrisos sedutores baratos

Peguei a sacola que a atendente havia trazido e deixei o dinheiro no balcão

—Prefiro ser estuprada no meio do caminho – Falei sem o olhar

—Grossa – Ouvi o homem gritar enquanto eu me retirava

Não podia negar que ele tinha um certo charme, mas não estava interessada, não agora.

Caminhava tranquilamente pelas ruas quando senti uma mão tocar meu ombro. Me virei rapidamente e peguei a mão da pessoa torcendo-a e imobilizando o cara

—Calma viúva sou apenas eu! – Falou a voz divertida de Steve

Foi então que percebi as costas largas e os cabelos loiros perfeitamente alinhados do meu agressor.

Sem dúvida era Steve Rogers

—Capitão – Falei soltando

Steve se virou com um sorriso divertido me analisando

—Acho que não devo mais tocar em você – Ele brincou me fazendo dar um sorriso mínimo

—Talvez não – Comentei analisando-o

Steve estava com uma calça de moletom, aparentemente velha, e um moletom cinza um pouco surrado. Suas mãos também estavam enroladas em esparadrapos como a minha

Ele ia treinar

—O que faz por aqui? Fury me falou que estava de férias

—E estou

—Você mora por aqui?

—Tenho uma casa por aqui sim

—Acho que a SHIELD deve ter comprado casas para todos aqui perto – Admitiu Steve descontraído – Moro também há algumas ruas daqui

—Coincidência

—Sem dúvida. Indo comer? – Ele perguntou apontando para a sacola da lanchonete em minha mão

—Sim, indo almoçar

—Um pouco tarde para o almoço

—Perdi a hora treinando – Falei dando os ombros

—Então acho que agora é a minha vez

—Então até mais capitão

—Até viúva – Steve deu um sorriso e um pequeno aceno e saiu caminhando na direção em que eu havia vindo

Sem dúvida a SHIELD tinha colocado Steve perto de mim de propósito

—Não irei bancar a babá Fury – Falei sozinha enquanto caminhava de volta para casa.

—x-x

Quando eram 17h em ponto vejo o carro esportivo de Clint apontar na rua e parar a minha frente

—Demorei? – Ele pergunta me olhando divertido

—15s atrasado Barton – Falei no mesmo tom já entrando no banco de trás – Olá Juliet tudo bem? – Pergunto olhando-a carinhosa

Eu sabia muito bem que Clint estava me testando para ver minha relação com Juliet e obviamente não ia dar oportunidades pra jogar na minha cara que eu estava com ciúmes dele

Por mais que eu realmente estivesse com ciúmes

Eu ia encarar essa saída como uma missão, uma missão onde eu teria que ser a amiga perfeita.

—Tudo, e com você?

—Devo admitir que estou bem ansiosa – Falei olhando distraída pelas ruas

—Clint me falou você é uma grande fã de basquete

—Sem dúvida, Clint sempre me acompanha nos jogos

—Bem já aviso vocês que sou péssima nisso

—Não se preocupe, eu te ajudo – Falou Clint dando um sorriso de canto para Juliet

Senhor, ver os dois agora tão perto de mim era muito mais difícil eu me controlar.

—Ele realmente é bom nisso me ensinou tudo sobre basquete – Admiti um pouco contrariada

Isso era a mais pura verdade, foi Clint que me ensinou a amar esse jogo, por que ele era tão apaixonado quanto eu e sem dúvida na Rússia não havia muitos jogos de basquete

—Então terei um ótimo professor – Falou Juliet acariciando o rosto de Clint e dando um selinho

Eu estou começando a achar que essa saída pode ter sido uma péssima ideia

Assim que chegamos ao ginásio Clint nos conduziu para as primeiras fileiras, as mais perto da quadra.

Sim, ganhávamos uma grana razoavelmente boa na SHIELD, principalmente por que não tínhamos muito no que gastar, ou tempo para gastá-la

Sentamos Clint, Juliet e eu. E meu auto controle estava sendo fortemente testado para não mata-la

Quando o jogo se iniciou eu consegui me concentrar e me distrai abstraindo da presença do casal, mas quando chegou no intervalo do 2º para o 3º tempo nem as líderes de torcida despertaram a atenção de Clint como geralmente acontecia. Ele estava compenetrado demais em explicar para namorada como que ocorria os lances livres

—Então quando o cara estiver pra fazer a cesta e o outro atrapalhar é um lance livre

—É – Respondeu Clint com um sorriso divertido ao ver a dificuldade da mulher em entender

—Mas como o juiz vai saber que ele queria arremessar para a cesta e não fazer um passe? O juiz não lê mentes

—Não dá para confundir – Falei tentando disfarçar minha irritação com um sorriso

—Eu estou atrapalhando vocês dois não? – Falou Juliet aflita – Sabia que não devia ter vindo! Eu atrapalho completamente o jogo de vocês com perguntas idiotas!

—Imagina, está divertido – Falou Clint rindo e passando os braços no ombro da namorada e a trazendo para mais perto – Você é mais difícil de ensinar admito, mas não está sendo nenhum sacrifício

Tive que segurar minha expressão de nojo e preferi me concentrar no telão onde passava os melhores lances do jogo, mas logo apareceu aquela câmera do beijo e o meu terror.

O primeiro alvo daquela câmera estava bem ao meu lado, assim que os dois perceberam Clint riu

—E agora? O que fazemos? – Perguntou Juliet num sorriso divertido

—Nós beijamos – Me virei incrédula e vi que o que não queria

Clint beijava Juliet, mas não era um simples beijo, era um beijo de verdade. Um beijo que me fazia querer correr para casa e me esconder em meu quarto embaixo do meu edredom

Por que isso agora? Sabia que seria uma péssima ideia sair com os dois

Me virei para frente e tentei me concentrar em outra coisa, mas a imagem de Clint beijando a Juliet aparecia em qualquer lugar que eu olhava, como um música no repeat.

Uma triste música no repeat.

O resto do jogo foi péssimo, os Heats perderam e Clint e Juliet ficaram de romance. Uma coisa que eu nunca pensei em ver Clint fazer, ele sempre evitou carinhos em público, bem pelo menos comigo era assim.

—Estava errado sobre você – Admitiu Clint quando ele parou o carro em frente ao meu prédio.

Dessa vez ele tinha deixado Juliet primeiro e eu tinha certeza que ele iria querer falar comigo

—Sobre o quê?

—Pensei que estava com ciúmes da Juliet

E eu estou

—Admito que fiquei incomodada no começo, mas somos apenas amigos – Falei sorrindo para Clint

Ele ficou alguns minutos me encarando mas por fim assentiu

Uma pontada de decepção surgiu, pensei que depois de todos esses anos Clint saberia reconhecer quando eu mentia, mas pelo visto eu continuava sendo uma espiã melhor

—Você tem razão

—Amanhã a gente se fala – Falei beijando sua bochecha – Até mais

—Até Nat – Falou Clint destravando a porta e me deixando sair.

Ajeitei meu casaco e entrei no prédio

Pela segunda noite consecutiva eu ia dormir me sentindo incomodada com a solidão.