Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 56
Vingança Explosiva. Faço minhas loucuras de sempre.


Notas iniciais do capítulo

Fiquei até com medo do Lian depois desse capítulo. Ele quase perdeu o controle. Muito perto de enlouquecer.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/477213/chapter/56

Ele sorri calmamente para nós. Descarrego a cano cerrado em seu peito.

O demônio cai de encontro à parede, parecendo surpreso. Megan segue o meu exemplo. O sal das balas vai mantê-lo quieto por enquanto.

Provavelmente o demônio esperava conversar comigo, achava que eu estaria com tanta raiva que cometeria alguma imprudência. Que eu não atiraria de primeira, e que ele ficaria zombando da minha coragem de atirar, como naqueles filmes de segunda categoria. Dá para ver que ele não me conhece.

Eu estou com muita raiva. Antes de terminar o que quero fazer, ele vai implorar para ser mandado para o Inferno. Mas isso não em deixa imprudente. Apenas me deixa mais letal.

Descanso a arma no ombro.

— Faça uma Chave de Salomão. — Falo para Megan. Ela assente e começa a entalhar no meio do quarto, usando seu punhal.

Quando ela termina, eu pego o demônio, ignorando o sangue, e o levo até a marca. Atiro-o ali no meio. Seus ferimentos já estão se curando, mas o sal evitou quer ele se mexesse e fugisse. Pego um cantil no bolso e derramo metade na boca dele, o obrigando a beber. O demônio grita, muito alto.

— Água Benta com sal. — Falo calmamente para ele. — Isso é só o começo. — Me viro para Megan. — Saia, por favor.

Ela parece que vai discordar, mas algo na minha expressão a faz concordar. Ela sai lentamente, mas noto a preocupação em seu rosto. Olho de relance o meu reflexo num espelho quebrado no canto. Meu rosto parece estar morto, sem expressão ou emoção. Mas meus olhos cintilam negros, e as olheiras fundas me dão uma aparência assustadora. Desvio o olhar sem dar atenção.

— Comece a falar. O quanto mais tempo falar, mais tempo vai evitar a tortura. — Digo sem emoção. O demônio sorri sádico.

— Chama isso de tortura? Eu vim do Inferno, seu idiota. Aquilo foi uma caricia amigável.

O demônio me olha, com o sorriso irônico no rosto. Apenas sustento o olhar, focando o fundo de seus olhos. Ele é o primeiro a desviar o olhar, parecendo inquieto.

— Acho que vou falar. Não vai fazer diferença mesmo. — Ele tenta parecer confiante e zombador, mas parece um pouco assustado. — Imagino que queira saber os meus motivos de ter organizado esse showzinho?

Apenas continuo em silêncio, sem me mover, sentado no chão o mais longe dele, escorado contra a parede. A cano serrado está pousada no meu colo, displicentemente.

— Ah, foda-se. — O demônio fala. — Eu trouxe o seu grupinho de loucos para aquela cidade subterrânea por mais de um motivo. Acabar com os Caçadores era o principal. Mas também queria, como tenho certeza que adivinhou, acabar com os únicos capazes de parar os zumbis. — Ele faz uma pausa, sorrindo superior. — Nós estamos cansados de você, e de Lúcifer, aquele pária. Ele era um Arcanjo, não sabe o que é ser um demônio. No inicio, dominávamos a terra. Depois que ele caiu, as coisas mudaram um pouco. Antes era cada um por si, a lei do mais forte. Agora, existia um mais forte que a maioria, capaz de nos matar se quisesse. Tomou as rédeas. Mas nós não devemos ter um líder.

— O tempo passou e as coisas mudaram pouco, mas se tornou mais fácil. — O demônio continua, o sorriso desaparecendo. — Lúcifer não se metia muito. E nós ainda dominávamos o mundo. Até vocês surgirem. — Ele cospe no chão, na minha direção. — Caçadores. Humanos que nos caçam até a morte. Tiraram o que era nosso, e agora vão pagar. Vamos erradicar os Caçadores, e dominar a terra novamente. Um domínio totalmente Infernal, para a civilização humana voltar ao que era.

— Claro que ela está bem parecida. — O demônio reflete. — Caos e terror a dominam, sem precisar de muito da nossa influencia. Vocês apenas agora afirmam que são livres, que fazem o que querem. Bom, o que vocês fazem é muito parecido com o que nós fazíamos. Então por que não estar no controle?

— É só isso? — Eu pergunto entediado. O mesmo papinho revolucionário e libertador que já ouvi mais de uma vez. Coitadinhos dos demônios, tããão injustiçados.

O demônio me fita por um momento.

— Eu sabia da Winchester lá em baixo. Tinha esperança que um de vocês a conseguisse, para depois eu roubar. Imagino que a tenha achado?

— Isso não importa. — Eu respondo, me levantando. — Também não importa o que queria fazer com ela, ou com a humanidade. Para você, acabou.

Jogo a cano serrado para um canto, então pego uma caixa no bolso. Ela é preta, com desenhos prateados. Os desenhos são marcas. Na mesma língua que os necromantes usam para seus feitiços mais poderosos, na língua mais poderosa e antiga que a humanidade já dominou. Apenas a força da magia que protege aquela caixa já é o bastante para o demônio recuar até o limite do circulo.

A caixa não tem fechadura, nem friso de abertura da tampa, na verdade. Apenas uma pequena depressão côncava na parte de cima, o suficiente para uma gota. Pego o punhal e furo levemente a ponta do dedo médio, então deixo uma gota cair na depressão. As marcas começas a brilhar, e a tampa começa a recuar para os lados, se abrindo.

Dentro, um frasco de vidro está pousado em uma superfície de veludo acolchoado. Pego o frasco. O liquido dentro dele é preto puro.

Tiro a tampa do frasco. Um leve odor escapa dele. Um cheiro sobrenatural, poderoso, frio. Um cheiro de morte e de poder. As marcas em meu braço esquerdo brilham negras.

— Isso... Não pode ser! — O demônio exclama visivelmente assustado. Sua pupila amarela cobre o olho inteiro, tomado pelo pavor. Ele tenta sair do circulo, mas não consegue. — Por favor!

Ignorando suas súplicas, eu bebo o liquido. Ele desce queimando pela minha garganta. Uma onde enorme de energia percorre meu corpo. Meus sentidos são elevados ao máximo. Ultrapasso os de um vampiro. Vejo cada mínima rachadura nas paredes, consigo ver os poros do demônio e sinto o cheiro de seu pavor. Sinto também o odor doce e agradável de Megan no andar de baixo, e os cheiros de Jene e Joe vindos da rua. Consigo até ouvir o batimento de seus corações. O ruído de um cupim na madeira, atrás de mim.

Também consigo sentir a vida a minha volta. A aura demoníaca do demônio, não propriamente uma vida. Consigo sentir a luz forte da alma de Megan, brilhando como um farol lá em baixo. As almas de Joe e Jene também são luminosas. Sinto como se pudesse extingui-las com apenas um pensamento.

O ar começa a ficar gelado ao meu redor. Os microorganismos do ar morrem só de estar perto, assim como as bactérias, os cupins e as pragas no soalho. A própria madeira começa a apodrecer lentamente. Ando na direção do demônio.

Ele parece se resignar e me encara, abrindo os braços.

— É esse o poder do Sangue de Ceifeiro. Imagino o que você pode fazer agora, já era um Necromante poderoso. Vamos lá então, mostre o seu pior, garoto. E ainda espera me julgar depois disso? Vamos lá, acabe logo com isso! Faça!

Ele grita provocador, mas percebo a histeria, o medo e o pavor na voz. Sorrio me deliciando com isso.

Aponto um dedo em sua direção. O demônio é jogado ao chão, se contorcendo e berrando. Berrando de dor. Um grito devastador, aterrorizante. Ele convulsiona, ainda berrando de dor. Essa dor é cem vezes pior que a pior tortura do Inferno. É a dor de ter a alma destruída, arrancada do corpo e dilacerada. Para um humano, morreria só com os primeiros segundos. Mas um demônio não. Sua alma funciona de modo diferente. E a dor é maior. E vai demorar mais.

Por trás dos gritos, ouço passos. Megan bate na porta e chama meu nome, mas não respondo. Concentrado demais no que estou fazendo.

Percebo o tempo passar lentamente. Os gritos continuam intensos. Com o passar do tempo, começo a deixar de notar meu próprio corpo, cada vez mais alheio a tudo. Até que finalmente eu apago.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por falar em desmaiar, ele faz isso bastante.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Caçador" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.