Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 49
Jogamos o jogo da morte


Notas iniciais do capítulo

Então, quem aí achou que eu matei o Lian? Bom, ainda não.
Aí vai a sequencia. Demorei um pouco para escrever, é que quero fazer algo bom, e já tive cinco provas essa semana, três delas ontem. Sério, aja sexta-feira ruim. De manhã, matemática e inglês, de tarde física. To quase trocando os meus problemas pelos do Lian. Quase.



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Recupero a consciência. Não lentamente, como se estivesse acordando. Se súbito, muito rápido.

Abro os olhos e me ergo com um pulo, a mão procurando o punhal que sempre levo comigo em uma bainha na perna. Me tranqüilizo um pouco ao sentir o cabo por entre os dedos.

Solto um grunhido satisfeito e olho em volta procurando o inimigo. Mas não vejo ninguém.

Estou num espaço amplo e vazio. Parece ser um armazém vazio. O teto alto, as paredes de metal e o chão de concreto. Antes poderia ter sido uma fábrica, ou mesmo uma oficina, mas agora está completamente vazio. As janelas bem no alto filtram muita pouco luz, então imagino que seja noite. Olho para o relógio e confirmo. Passa um pouco da meia noite.

Analiso um pouco mais o ambiente, pensando em que enrascada me meti dessa vez, e vejo dois corpos deitados no chão. Levo um momento para reconhecê-los.

— Megan! Jene! — Corro até elas, me agachando entre as duas. — Vamos, acordem!

Noto que estão respirando isso é bom. As duas estão deitadas com a boca ligeiramente aberta, como se estivessem dormindo. Sacudo o ombro de Megan, tentando acordá-la. Ela apenas resmunga e muda de posição.

Suspiro, entendo o que é. Sonífero. As lembranças começam a voltar, ainda indistintas. O hotel, o quarto, o demônio de olhos amarelos. Pô, se for Azazel eu quero reembolso.

Faço um pequeno corte na palma da minha mão e deixo duas gotas pingarem nos lábios de Megan. Inconscientemente, ainda dormindo, ela lambe o sangue. Então os olhos se abrem e ela dá um pulo.

— Ei, calma. — Eu peço.

Megan me olha alarmada por um momento, então se acalma.

— Onde diabos nós estamos? — Ela pergunta olhando em volta.

— Não sei. — Respondo. — Acordei aqui, e vi vocês duas.

Nisso, Megan nota Jene. Ela se ajoelha ao seu lado e testa a pulsação.

— Aqui, deixe para mim. — Eu falo, me aproximando.

— O que é esse corte na sua palma? — Megan me pergunta.

— Hã... Eu ainda tenho um pouco de sangue de demônio no organismo. Deve ser por isso que resisti melhor ao sonífero. Demorei mais para apagar, e acordei antes. — Falo, colocando a mão alguns centímetros a cima da boca de Jene e pressionando os dedos num punho. — O sangue está diluído no meu, então vai ser o bastante para quebrar o efeito do sonífero sem efeitos colaterais.

Algumas gotas pingam na boca de Jene. Ela, assim como Megan, acorda num pulo, olhando em volta. Noto que as marcas da sua tatuagem brilham levemente, então voltam ao normal. Ops. Esqueci que as dela foram feitas com sangue de demônio. Talvez a ideia não tivesse sido a melhor do mundo.

— Onde estamos? — Ela pergunta, confusa.

— Ótima pergunta. — Respondo. Explico rapidamente sobre o dono do hotel e o demônio. — Foi idiotice minha não ter notado o sonífero. Nunca conseguiram me pegar tão fácil. Podiam ter nos matado facilmente.

Termino de falar amargurado. Foi muito fácil para o demônio. Abaixei a guarda, foi culpa minha.

A expressão de Megan se suaviza.

— Hey, não se culpe. Estamos bem, não foi culpa sua. — Ela passa um braço por sobre os meus ombros. — Como vamos sair daqui?

Olho em volta, pensando.

— Não sei. Acho que pela porta...

Nesse exato momento, uma voz me interrompe. É a mesma voz rouca que ouvi no quarto.

Todos estão acordados. Bem vindos.

A voz parece vir das paredes, e ressoa pelo armazém. Fico girando no mesmo lugar, preparado para um ataque.

Essa mensagem está sendo levada para toda a cidade, para todos os Caçadores aqui presentes.

“Todos os Caçadores?” Megan pergunta, sem fazer som.

Trouxe todos vocês aqui para um torneio, para saber quem são os melhores do ramo. Vocês podem usar a cidade inteira, e o objeto será matar, até ser o último sobrevivente.

Vocês podem estar se perguntando o que quero dizer com isso, ou pensando que não vão fazer porcaria nenhuma, apenas sair da cidade. Pois bem, não podem sair da cidade. Não vão conseguir, pelo menos até sobrar apenas um. Apenas o Caçador mais forte, o único sobrevivente, poderá sair da cidade.

Mas cuidado. Não serão apenas os Caçadores humanos que estarão tentando matá-los. Tenho várias das criaturas que vocês matam tentando matá-los, espalhadas pela cidade.

Ainda podem estar pensando que não vão matar outros Caçadores humanos. Bom, acham que os outros não tentaram matá-los? Apenas um poderá sair. Façam suas escolhas.

A voz some. Praguejo em alto e bom som, e bem praguejado mesmo. Isso está parecendo uma cópia do que o Azazel fez. Estou realmente me perguntando se não foi ele que resolveu nos seqüestrar.

— É, isso explica por que ainda estamos vivos. — Megan comenta.

Jene empalidece.

— O que ele quis dizer com último sobrevivente?

— Fique tranquila. — Eu falo para ela. — Vamos dar um jeito.

Começo a vasculhar o armazém. Eu notei que estamos só com as armas que carregamos normalmente. Meu punhal “mata-tudo”, e o Colt carregado com seis balas. Megan e Jene estão com uma faca e duas pistolas cada. Mas isso não vai ser o bastante.

Nós passamos um pente fino no armazém, mas não conseguimos achar muita coisa. Um pé-de-cabra, uma barra de ferro, e só.

Decidimos vasculhar a cidade. Mesmo com outros Caçadores, estamos preparados para isso. As portas principais do armazém estão emperradas e muito bem fechadas, então nem tentamos abri-las. Saímos por uma portinha lateral, quase escondida.

A cidade parece meio grande. Não uma metrópole ou coisa do tipo, mas não é uma dessas cidadezinhas pequenas. Diria que, quando habitada, devia ter a população de mais ou menos uns 30 mil habitantes, ou coisa do tipo.

A rua está deserta. Começamos a andar cuidadosamente, atentos a tudo. Sem luzes nas ruas, está bem escuro. Mas a lua cheia permite a visão do que está por perto. Estremeço. Lua cheia significa lobisomens.

Conseguimos achar um mercadinho depois de andar por um tempo. Arrombo rapidamente a porta, e nós entramos. Fecho a porta de novo ao entrar. Evitar chamar atenção.

O mercadinho é pequeno, mas bem abastecido. Encontramos algumas caixas de biscoitos ainda dentro do prazo de validade, algumas garrafas d’água e lanternas. Cada um de nós fica com uma, e várias baterias reservas.

Aproveitamos para fazer um lanche ali mesmo. Biscoitos com água. Melhor que passar fome. Acho também algumas mochilas, e enchemos elas com o que podemos.

— O que você acha Lian, ficamos ou saímos para explorar? — Megan pergunta depois de um tempo.

Eu hesito, pensativo. Olho para a frente do mercado.

— Ficamos, pelo menos por enquanto. Está escuro demais. Podemos cair facilmente numa emboscada.

Elas assentem. Jene se levanta para vasculhar o mercadinho novamente, os míseros seis corredores. Fico matutando se procuro nos fundos do mercado quando Megan vem se sentar ao meu lado.

— Sabe, isso está parecendo filme de apocalipse zumbi, nós nos escondendo por aqui, numa cidade deserta, e saqueando um mercado abandonado.

Reprimo um sorriso.

— Saímos de Supernatural e entramos em The Walking Dead.

— Que bom que gosto de Resident Evil. — Megan responde rindo. Então fica séria novamente. — Estou preocupada com Jene. Ela é novata nisso, e se vamos realmente brigar com outros Caçadores... Em geral eles são ótimos em combate, e sem escrúpulos. Eu e você... Bom, daríamos conta sem problemas. Mas ela...

— Provavelmente teremos de cuidar dela. — Eu falo. — Mas entendo o que quer dizer. Podemos morrer por isso. — Suspiro. — Vamos ter que improvisar. E ela vai se sair bem, tenho certeza. Ela se subestima, e nós a subestimamos também. Ela dá conta.

Megan me olha em dúvida, mas permaneço confiante. Embora não esteja tão confiante. É melhor eu me convencer de que estou certo.

Megan pega uma das garrafas d’água e toma um gole. Então fica brincando com a tampinha, girando-a nos dedos. Fico observando-a. No começo, estamos um pouco tensos por causa de tudo que aconteceu, mas por fim vamos relaxando, e isso se torna apenas mais um caso. Megan se escora em mim e fecha os olhos, embora duvide que ela vá dormir.

Fico observando o foco da lanterna de Jene mudar gradualmente de direção, a medida que ela examina o mercado. Então ele some atrás de uma estante, mas ainda consigo ver uma pouco de luminosidade ali. Começo a murmurar comigo mesmo.

I'm rolling thunder, pouring rain. I'm coming on like a hurricane. My lightning's flashing across the sky. You're only young, but you're gonna die. I won't take no prisoners, won't spare no lives. Nobody's putting up a fight. I got my bell, I'm gonna take you to hell. I'm gonna get ya, Satan get ya. Hells bells. Hells bells, you got me ringing. Hells bells, my temperature's high. Hells bells.

Murmuro mais uma vez “Hells Bells”, quando ouço um som fraco. Exatamente o som de alguém abrindo a porta do mercado.


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Notas finais do capítulo

Sinos do Inferno. Abertura do primeiro episódio da terceira temporada. E de fato é meio irônico, pois na série o Inferno estava aberto. Dessa vez não é tão dramático, só a ironia de outro inimigo demônio.



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