Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 20
Preparações


Notas iniciais do capítulo

Que tal o despertador?



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Back in black, I hit the sack

I've been too long, I'm glad to be back

Yes, I'm let loose from the noose

That's kept me hangin' about

I've been livin' like a star, 'cause it's gettin' me high

Forget the hearse, 'cause I never die

I got nine lives, cat's eyes

Abusing every one of them and running wild

Desligo o despertador com um resmungo. Onze e meia. Mais do que na hora de acordar, se eu quiser comer alguma coisa.

Vou para a sala, e vejo Megan e Amanda já sentadas com um prato de torradas na frente.

— Café da manhã meio tarde, não? — Gracejo, pegando uma cadeira e uma torrada.

— Amanda achou melhor ficarmos por aqui até vermos em que pé estão as coisas. E eu, infelizmente, concordo com ela. — Megan fala de má vontade.

— Então — começo depois de um momento de silêncio desagradável. Estou vendo que o clima vai ficar bem legal agora que Amanda está por aqui. — Em que pé estão as coisas? O que sabe sobre isso.

— Sobre o ninho? Pouca coisa além do que disse. Tem pelo menos um demônio metido nisso. Mais lobisomens e vampiros. Chuto que sejam mais de 100, pelos desaparecidos. — Amanda dá os ombros. — Deixaram um rastro bem grande. Um dos vampiros foi capturado, mas levado daqui para sei lá onde por uma divisão secreta do FBI ou coisa do tipo. Subornei o xerife. Acharam alguns corpos carbonizados num beco perto dos armazéns que combinam com algumas das vitimas. Só estranharam por que todos estavam em pedaços. Seja quem for, arrancou fora os membros para matar. Braços, pernas, cabeça... E quanto ao hotel onde achei vocês... — Amanda estremece. — Nada bonito. Eu cheguei a ver... Fizeram o trabalho completo, seja lá quem for. A policia desistiu do caso. Agora o FBI está em peso aqui, e mais alguns agentes da CIA. A coisa está muito feia.

— FBI e... – Megan começa.

— ...CIA. – Eu termino. — Epa dos grandes. A coisa vai esquentar.

— Com certeza.

— Vamos ter problemas.

— Você acha? Só temos que evitar pegar uma prisão perpétua agora. Nada de mais.

Amanda, que estava nos olhando com a boca meia aberta, interrompe.

— Contei minha história. Quero a de vocês. Preciso entender um pouco mais disso tudo antes de me envolver.

— Ninguém está convidando você para participar. — Megan murmura. Não dou atenção e conto a história. Cada vez mais Amanda vai ficando pasma e escancarando a boca. Quando chego na parte do massacre no hotel, ela estremece de novo. Por fim, conto rapidamente nosso ataque ao ninho.

— Vocês mataram vinte e cinco vampiros de uma vez só! Nem mesmo Elkins seria capaz disso! — Amanda exclama se referindo ao lendário Elkins. O Mestre Caçador de vampiros que viveu na década de 1990. Ele fez uma limpa, quase levando os vampiros à extinção. Nos últimos anos, antes de serem quase extintos, bastava dizer o nome dele para que qualquer vampiro recuasse. Era sinônimo de morte para eles, até ser morto durante uma Caça em 2000 com 80 anos de idade. Levou cinco vampiros com ele. Alguns anos depois, foi usado em Supernatural. — Então você é um necromante. — Amanda sussurra, prestando atenção em mim.

Dou os ombros.

— Sou um Caçador. É isso que importa.

Amanda assente.

— Vocês me deram muito com o que pensar. Vampiros, Lobisomens e zumbis... A participação de um demônio que era necromante... — Ela olha para Megan preocupada. — Essas visões que você vem tendo...

— Visões vírgula. Só um desenho no chão que acabou se mostrando estranhamente profético. — Megan protesta. — E de qualquer modo, só o cara do desenho estava certo. O local não.

—Detesto discordar — interrompo. — Mas você está errada. Aquilo foi uma reprodução muito boa de como Seattle era na época da fundação. Os registros históricos humanos podem dizer algumas coisas diferentes, mas falei com um conhecido que estava vivo naquela época. Então...

Megan me lança um olhar de puro veneno, e começo a desejar ter ficado quieto.

—Não quer falar dos seus sonhos, Lian? — Megan pergunta suave e acidamente.

Amanda ergue uma sobrancelha curiosa. Solto um suspiro resignado. Fui mexer em ninho de maribondo... Procurei encrenca.

— Todas as noites. Ou melhor, quase todas as noites — me corrijo com uma careta — tenho um sonho estranho. São todos parecidos, e acontecem com mais frequência quando estou Caçando. E cada vez ficam mais frequentes. Sempre a mesma coisa. Sonho que estou no centro da cidade onde me encontro no momento. Tudo está em tons mortos de cinza. As pessoas andam, os carros passam como se fossem feitos de fumaça, mas ninguém me nota. Posso chamar as pessoas, posso tentar tocá-las, não dá certo. Sou o único que tem cor. Até os sons vêm para mim abafados, um leve murmúrio. Hoje sonhei de novo. Dessa vez, havia mais uma pessoa com cor que podia me ver. Mas quando cheguei perto, ela sumiu. As vezes isso acontece.

Olho pela janela, surpreso com o quanto o sol subiu. A expressão de Megan se suaviza.

— Desculpe. Não sabia que tinha sonhado de novo. Não devia ter provocado.

Dou os ombros, então levanto e me espreguiço.

— Caracas. Não sei você, mas estou precisando de ação. Não fui feito para o ócio.

Megan me olha com cara de paisagem.

— Feito para o que?

Olho para ela incrédulo.

— Nunca ouviu essa palavra? Ócio quer dizer... Ócio. Não sei como explicar.

— Vida monótona, parada, tranquila. Alguma coisa assim. — Amanda interrompe. Ambos olhamos para ela até que cora. — Que foi? Eu leio bastante.

— Eu também. — Me animo um pouco. — Que tipo de livros prefere...?

— Se meteu numa furada mana. Quando ele começa a falar de livros, não para mais. — Megan me interrompe. Mas à mais carinho do que irritação na voz dela. Fuzilo-a com o olhar.

— Deixando isso de lado — Amanda fala como se não tivesse nos ouvido. — Matar 25 vampiros no dia anterior não agitação o suficiente?

— Não. Foram 25, mas sem graça. Estávamos escondidos, e pegamos a maior parte de surpresa. Nenhum deles conseguiu fazer uma resistência que realmente nos pusesse em risco.

Megan me olha com o canto do olho.

— Você até parece decepcionado.

Aceno com a mão descartando o que ela disse.

— Não é isso que quero dizer. Preciso de alguma ação antes que entre em colapso, e precisamos continuar atacando antes que Harren possa se mover e contra-atacar. — Me sento novamente. — Teremos alguma facilidade. Logo após serem criados, vampiros e lobisomens são mais fáceis de matar. Ainda não se acostumaram com sua nova forma.

— Sei... — Amanda fala. — Tipo olfato e visão muito apurados, o que acaba prejudicando. Sem falar no descontrole da força.

— Isso. – Eu respondo. — Na prática, no momento, a nossa maior ameaça são os lobisomens.

Me deleito por um momento com as expressões de surpresa de Megan e Amanda.

— Eu diria que são os que menos impõe perigo. — Amanda fala cuidadosamente. ­— Veja, eles só se transformam na lua cheia. Enquanto os vampiros estão 24 horas por dia prontos para nos matar. A maioria dos lobisomens nem deve saber que são o que são.

— Não está raciocinando. — Respondo. — Normalmente, eu concordaria. Mas se esquece de quem é o nosso inimigo. Posso apostar que todos os lobinhos sabem muito bem quando as garras crescem. E devem ter algum controle sobre sua forma lupina. E que tropa melhor para Harren? É praticamente impossível distinguir um humano comum de um lobisomem quando o último está em forma humana. Podemos estar conversando amigavelmente com o porteiro do prédio durante a noite, e então ele se transforma e arranca nossas cabeças.

— E o que sugere? — Megan pergunta. Pelo seu tom, noto que ela já adivinhou que tenho um plano totalmente bolado.

Sorrio. Um sorriso perigoso. Definitivamente não queria estar no lugar de Harren quando isto terminar. O que deve acontecer logo.

— Muito bem. Hora de jogar pesado. Vamos nos concentrar em acabar com eles. Se tivermos sorte, terminaremos logo e sem ferimentos. Se tivermos azar, não será tão rápido. Talvez uns ossos quebrados, nada fatal.

Elas concordam com a cabeça, mais sérias do que vi desde que as conheço.

— Bom. Para começo de conversa, Harren conta, atualmente, com exatamente 50 zumbis, 19 lobisomens e 32 vampiros.

— Como...?

— Alguns rituais... — Respondo. Calmamente. — E alguns palpites através do que já conseguimos. Bom, vamos direto ao ponto. Os zumbis vão ser fáceis. Conseguimos detectar facilmente os vampiros, se for preciso. Mas não sabemos quem são os lobisomens. Precisamos achá-los. E para isso, tenho uma ideia.

— Detesto as suas ideias. — Megan interrompe. — Mas são as melhores que temos no momento, então vamos tentar.

Rio com isso.

— Muito bem, vamos fazer o seguinte...

Amanda empalidece a medida que vou contando o meu plano. Megan ergue uma sobrancelha, mas não parece muito surpresa com a ideia. Eu mesmo admito que ela é um pouco louca, mas situações desesperadas pedem medidas desesperadas.

— E como você vai achar? – Amanda pergunta depois que termino.

— Na verdade, já achei. Só temos de ir até lá.

Amanda concorda, mesmo parecendo desconfortável com a ideia. Mas Megan já tinha se levantado e ido em direção ao carro.

— O que vai precisar? — Megan pergunta do quarto.

— Já levei tudo pro carro. Não tem mais nada aqui dentro. Vamos.

Sem esperar resposta, me levanto e saio pela porta. Consigo ouvi-las me seguindo.

A recepcionista nem nos nota, ocupada em atender um casal de turistas. Tanto melhor.

Entro no Dodge, estacionado em frente ao hotel. Megan, rápida como um relâmpago, senta no banco do carona. Amanda olha de relance para ela antes de sentar atrás.

Acelero. Tocando Highway to hell sigo para o cemitério. Realmente, a música é sugestiva. Mas não sou eu que vou voltar para o Inferno. Definitivamente.


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