Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 11
Revelações! Desculpe pelas marcas de queimado e pela porta!


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco tentando escrever esse capítulo. Não sabia ao certo como explicar direito o que tem nele.



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— Quando eu achar o maldito que reanimou aquele zumbi...

Megan me olha com o canto de olho.

— É olha que nem foi você que quase foi estrupado por um cadáver. Não gosto nem um pouco de necrofilia. — Ao ver que não esbocei nenhum sorriso com a piada, Megan revira os olhos. — Há, pare com isso Lian. Não aconteceu nada. Pare de ficar se remoendo.

Olho para ela por um instante, então caio na risada.

— Você está certa. Estou fazendo papel de bobo.

— Concordo plenamente.

Finjo que não escutei o que ela disse.

Olho em volta, tentando me concentrar. O que não é a coisa mais fácil de fazer quando se é hiperativo. Ficar parado é quase doloroso.

Estamos numa espécie de sala de estar do nosso quarto. Este hotel é maior que o outro, e bem mais caro. Mas dinheiro não é problema. Alguns quadros abstratos nas paredes, duas janelas, e duas portas, uma para cada quarto. Os quartos têm banheiros internos.

Fico fitando as linhas de sal nas janelas. Não vão impedir nenhuma das criaturas que estamos caçando de entrar, mas me sinto mais seguro com elas, até por que...

— OI! Terra chamando Lian! Está acordado ainda?

Olho para Megan e percebo que deixei a mente vagar nos últimos minutos e não ouvi nada do que ela disse.

— Desculpe, mente longe. O que dizia?

— Eu dizia — ela fala com a irritação na voz —, que seria mais fácil descobrir o ninho sabendo quem reanimou os zumbis.

Dou os ombros.

— Só achar um necromante.

Megan ri. Então fica séria quando nota que eu falei sério.

— Você está brincando, não está? Não existem mais necromantes. Você me disse que não existem mais necromantes. Foram, tipo, exterminados á séculos pelos Ceifeiros que não gostavam de alguém se metendo no que faziam.

— Eu menti. — Respondo simplesmente. Então me corrijo. — Bom, não exatamente. Os Ceifeiros mataram mesmo todos os necromantes que existiam, mas... Bom, a Necromancia é uma arte. Uma habilidade, uma ideia. Você pode matar uma ideia? Mesmo matando todos os necromantes, uma hora ou outra a humanidade aprenderia de novo as técnicas.

— Simplifica. — Megan pede, girando um punhal em cima de mesa como se fosse um pião.

Ergo uma sobrancelha.

— Essa foi a versão simplificada. Há, deixe pra lá. Pense assim: Mataram todos que sabiam, alguém descobriu de novo. Bum! Novos necromantes surgindo. Humanos 1, Ceifeiros 0. Entendeu?

Megan acena que sim com a cabeça. Eu hesito por um momento, então acrescento:

— Eu mesmo sou um necromante.

O punhal cai no chão com um baque.

— Você o que? Está brincando, não é? — Megan pergunta, me olhando como se fosse louco.

Suspiro. Bom, lá vai então.

— Nops. — Abro a mão e murmuro algumas palavras. Baixo demais para Megan ouvir. Uma chama negra se acende na minha palma. Sinto apenas um leve calor na mão, embora a chama possa queimar qualquer coisa. Deixo ela acesa por um instante, observando a cara de espanto de Megan, então fecho os dedos. A chama se apaga.

O silêncio se estende. Fico observando a cara de Megan, tentando decifrar o que se passa por sua cabeça. No começo, a expressão é incrédula e surpresa. Depois, um leve receio permeia seus olhos, para por fim sua expressão ficar calma de novo. Um leve sorriso se abre em seu rosto.

— Muito bem, garoto cadáver, quem trouxe de volta os zumbis?

Ergo uma sobrancelha, olhando para ela, agora eu estou surpreso.

— Nenhum grito, medo nem nada? — Pergunto, genuinamente curioso.

Megan revira os olhos, juntando o punhal.

— Nem vem. Já sei o que esperava. Algum discurso do tipo: “Quem é você? O que quer comigo? Se afaste” e algo como eu apontando esse punhal e tentando te matar, ou saindo correndo com medo ou raiva. Pode esquecer. Por mais estranha que seja nossa vida, isso não é um filme. — Ela para por um momento, então continua, com a voz mais suave. – Isso não muda quem você é. Te conheço à anos. O fato de saber acender uma fogueira sem precisar de um isqueiro não vai mudar isso.

Sorrio, ficando aliviado.

— Você só me conhece à três anos. — Então acrescento num sussurro: — Obrigado.

A expressão de Megan se suaviza e ela segura minha mão.

— Nem está quente? — Ela brinca. Noto que é a mesma que usei para acender a chama. Reviro os olhos. — Vamos lá Lian, já que também é um necromante, não faz ideia de quem quer que tenha sido? Ou pelo menos, não sabe um jeito fácil de mandá-los de volta?

Tiro minha mão da dela, surrupiando o punhal, e começo a balançá-lo na mão.

— Não sei. Trazê-los à vida é complicado. Mandá-los de volta para o túmulo é mais difícil ainda. — Atiro o punhal para ela. Megan pega com a mão esquerda e coloca na bainha num movimento displicente. — Eu sei o que está pensando: O zumbi morto no beco. Não sei como fiz aquilo. Magia é uma arte complicada. Não posso, ainda, usá-la por instinto no meio de uma luta. E o necromante...

— E o necromante...? — Ela estimula.

— Não sei. Não tive tempo de analisar totalmente os corpos. Não consegui detectar a assinatura do mago. E ele também camuflou bem. Vai ser complicado achá-lo.

Me levanto e vou até o frigobar no canto da sala e pego duas Cocas. Atiro uma para Megan e abro a outra. Para a maioria das pessoas, açúcar e cafeína fazem com que fiquem mais “elétricas”, mas no meu caso, que já sou hiperativo, me acalmam. Fazem com que eu pense mais facilmente e mais claramente.

— Que criaturas podem trazê-los de volta?

Saio do meu estado de divagação e olho para Megan. Ela está me olhando como quem espera uma resposta.

— Desculpe, o que? Pensamento longe.

Megan revira os olhos e se levanta, vindo até o meu lado e se escorando na parede. Ela está perto, bem perto.

— Que criaturas podem reanimar um cadáver? No “Crianças, Não Brinquem com Coisas Mortas”, uma garoto consegue trazer um zumbi de volta. — Megan se refere a um episódio da segunda temporada de Sobrenatural. Para nós, Caçadores, Sobrenatural é algo obrigatório. Vários de nós se perguntam se os irmãos Sam e Dean Winchester existem mesmo. — Quem mais pode? Talvez não seja um necromante.

— Tenho certeza que é um necromante. — Tomo um gole da Coca. — Quase qualquer um pode fazer o ritual. Um vampiro, um Lobisomem, um ser humano, um demônio, qualquer criatura com um corpo humano. Mas você sabe o que aconteceu. O garoto perdeu o controle da zumbi. Os zumbis do beco se referiam a um “mestre”. Só um mago experiente, um necromante, a propósito, seria capaz de controlar um zumbi.

Tomo outro gole da Coca. Megan fica me olhando com uma expressão meio de divertimento, meio de outra coisa que não consigo identificar.

— O que foi? — Pergunto.

— Adoro quando você dá uma de professor. Fica fofo.

Eu coro e desvio o olhar. Megan ri. Ela está muito perto. Consigo sentir seu hálito fazendo cócegas no meu rosto. Ela se aproxima mais um pouco, os olhos negros como obsidiana fixos nos meus, a respiração suave...

Não sei o que teria acontecido naquele momento se a porta não tivesse explodido numa chuva de lascas de madeira.


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