Sangue Quente escrita por Tenneb


Capítulo 14
Halloween




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– Está ótimo - falei para minha tia. Digamos que a maquiagem de vampiro estava perfeita, eu parecia mesmo o Drácula que saiu do livro de Bram Stoker. O único problema era que eu odiava usar luvas. Minha tia olhava para o reflexo que aparecia, e digamos que eu estava perfeito. - Eu pareço uma dessas criaturas...

– Você esta magnifico! - Comentou

Bem, eu não poderia negar. Vestindo um colete bordado, uma camisa social branca como a neve, uma gravata vermelha do tom de sangue - que hoje em dia está bem marcada em minha mente essa cor- presa com um alfinete de ouro da minha família. Uma calça social, tão escura como os olh... como a noite, não acredito que eu estou pensando de novo naquele garoto. E sapatos sociais, que minha tia me fez deixa-los brilhando hoje de manhã.

A campainha toca. Tia Vivian e eu olhamos pela minha janela, era Thomas com seu Porsche

– Você está incrível - eu disse em voz baixa. E era verdade; ele estava reluzente e lindo no smoking que vestira. Eu fiquei surpreso dele ter concordado com isso, mas quando fez a sugestão, ele pareceu se divertir mais do que qualquer outra coisa. Agora o rapaz estava elegante e confortável, como se as roupas fossem tão naturais para ele como os jeans.

– Você também está bonito - falou Thomas - É melhor irmos - disse, num tom igualmente baixo.

Eu assenti e o segui até seu carro, mas seu coração não estava mais apenas frio; estava gelado. Ele estava distante e eu não fazia ideia de como resgata-lo para perto de mim. Isso já se passava a mais de uma semana, desde que aquele invasor apareceu no ginásio.

Trovões grunhiram no alto enquanto íamos para a escola e eu olhava para a janela com desânimo. As nuvens estavam tão espessas e carregadas que poderia chover a qualquer minuto. O ar estava carregado de eletricidade e as nuvens davam um aspecto de um céu de pesadelo.

– Clima perfeito para o Halloween... - falei.

Ameaçador e de outro mundo, conclui na minha mente. Desde aquela noite não me sinto mais o mesmo.

Uma miragem de olhos escuros surgiu diante de mim. Aquele garoto! O garoto a quem eu quase cedera, o menino que me fizera esquecer Thomas por um instante. Eu não parava de pensar naqueles olhos escuros como o a noite. Enquanto Thomas parava em um semáforo, olhei de novo para a janela. Foi o momento que eu o vi. O rapaz estava do outro lado da calçada. Parecia que ele me encarava, mesmo que o vidro do carro fosse completamente preto, o garoto parecia ver através dele e deu um sorriso debochado.

Chegamos no estacionamento da escola e me obriguei a sorrir e seguir pelos corredores. O ginásio era um caos mal organizado. Desde a minha partida, tudo tinha mudado. Depois, o lugar ficou cheio de veteranos: membros do Conselho de Alunos, jogadores de futebol, o Clube de Xadrez, todos dando os últimos retoques nos adereços e cenários. Agora esteva cheio de estranhos e a maioria nem era humana.

Vários zumbis se viraram para mim quando entrei, os crânios sorridentes visíveis através da carne podre dos rostos. Um corcunda deformado mancou para mim, junto a um cadáver com a pele lívida e buracos nos olhos. E um duende, acredito eu, com pele pálida, orelhas pontudas, cabelos azuis e lentes da cor de clorofila.

Eu percebi, com um sobressalto, que não conseguia reconhecer metade daquelas pessoas fantasiadas. Depois elas estavam em volta de mim, admirando minha roupa e anunciando problemas que já tinham surgido. Eu acenei para que se calassem e me virei para uma bruxa, cujo o cabelo ruivo fluía pelas costas de um vestido branco apertado, com um sinto de prata.

Era algumas coisas que estavam acontecendo em uma parte do ginásio que eu tive que resolver.

As portas foram abertas, música de terror começou a rolar. Relâmpagos começaram a surgir, o clima estava perfeito. Andei para me certificar de outra parte do ginásio. Cortei caminho pela Sala de Desembarque Alienígena e pela Sala dos Mortos-Vivos, deslisando entre as divisórias, saindo no primeiro ambiente, onde os visitantes estavam entrando e eram recebidos pelo lobisomem. O lobisomem tirou a cabeça e falava com um casal de múmias e uma princesa egípcia.

Tive que admitir que Allison ficava bem de Cleópatra, as linhas de seu corpo bronzeado francamente visíveis através do envoltório de linho transparente que vestia. A garota mudara bastante desde o primário, ela e eu eramos amigos, mas a garota se afastou de mim, e passou a começar com um desprezo inacreditável, mas eu nunca soube o porque.

Bruno, o lobisomem me olha e abre seu sorriso encantador.

– Tudo certo por aqui? - retribuo o seu sorriso.

Bruno assenti com a cabeça e desejamos um para o outro sorte. Eu mal o vira desde ... Desde quando mesmo? Eu tenho me afastado bastante dele, e não gostava disso. Sabia também que ele e Thomas estavam distantes também. E embora Bruno não pudesse ser criticado, ele magoava à Thomas também.

Do lado de fora, o trovão soou de novo, e através da porta aberta eu vi o clarão no céu noturno.

– Espero que não chova - disse Miah.

– Sim - falou Allison, que estava parada em silêncio enquanto, eu olhava para a porta.

Eu olhei incisivamente para ela e vi o ódio declarado nos olhos estreitos e felinos da menina.

– Allison - disse por impulso-, escute. Você e eu não podemos parar com isso? Não podemos esquecer o que aconteceu, seja lá o que tenha acontecido e começar de novo?

Sob a dobra em sua testa, os olhos de Allison se arregalaram e se fecharam de novo numa fenda. Sua boca se retorceu e ela se aproximou de meu ouvido.

– Eu nunca vou parar, e isso tudo está apenas começando, querido - respondeu ela, depois se virou e saiu.

Eu olhei da Miah para o Bruno. Não entendemos nada. Eu fui até a porta para sentir o ar frio no rosto. Do lado de fora, podia ver o campo e os galhos dos carvalhos agitando por causa do vento. Senti um pressentimento de algo ruim que correu da minha nuca até o tendão. Alguma criatura estava por perto. Corri para dentro procurando Thomas ou Miah, mas eles estavam absorvidos pela multidão. Tentei ligar para eles mas estava sem sinal.

Porém fui puxado para ajudar a resolver os problemas que vinha ocorrendo durante a noite. Eu sempre gostei dessa parte, diga-se de passagem, era a mais divertida. Consegui ver a cabeça de Thomas alguma hora, mas não consegui chamar sua atenção. Então tudo para e sinto uma pontada no meu corpo. Algo tinha acontecido, tive certeza.

Dessa vez consegui achar Miah e puxei a menina comigo. Pelo que percebi ela também sentira algo no mesmo momento que eu e também me procurava. Fomos para o estacionamento, consegui ligar para Thomas, falei para ele ir pro carro que era algo urgente. Chegando lá, peguei algumas armas que estavam no porta-malas do carro e tentamos correr para os fundos da escola, onde estava vindo uma força.

Sr. Lyman estava caído no asfalto, com uma poça enorme de sangue ao seu redor. O sangue vinha de uma ferida no pescoço.

– É obra de um vampiro - falou Miah em um tom baixo.

Olhei no redor, não vi simplesmente nada. Até surgir um ser das sombras, como fizera o garoto daquela noite. Era o duende da festa que não conhecia de lugar algum. Mas era estranho, porque vampiros não parariam de sugar o sangue, a menos que tenha sido interrompido, ou... Ele só queria chamar a atenção!

– Senhor Thomas Castellani... Eu... Tenho uma mensagem para o senhor... - falou o garoto perto do corpo.

– Diga- disse Thomas com uma tranquilidade absurda.

– O seu tempo está acabando... - Pronunciou a criatura com certo desdem.

– Espera! Quem te mandou - falei com uma raiva que não sabia de onde surgira.

– E você Bennet... Tenho ordens para matar...

O vampiro veio até mim e pulou. Eu me joguei para um lado e ele pousou no chão como um gato. O menino mostrou as presas de vampiro, tão finas quanto um alfinete. Quem poderia fazer isso a uma criança? Ele tinha aparência de um garoto de apenas 15 anos agora, mesmo mostrando os dentes. O garoto correu até mim de novo, e foi recebido por um feitiço de Miah, que o fez voar para 6 metros longe de mim e se contorcer de dor. Thomas o pegou pela garganta e falou alguma coisa com ele. Só que o vampiro deu um soco em seu estomago ou algo do tipo, que conseguiu se livrar.

Foi a minha chance, ele estava de costas para mim. Invoquei a magia dos anjos que eu aprendi lendo alguns livros e o ataquei com uma adaga que eu possuía. Mas o vampiro se virou rapidamente e me atacou primeiro e mordeu meu pescoço. Eu senti algo perfurar a minha pele e puxar meu sangue por um tempo, pareceu que ele se comunicava comigo. Estávamos conectados e consegui entrar nas suas lembranças.

Uma criança da renascença, vivia com os pais e seus 2 irmãos. Era o mais velho dentre eles. Tinha uma vida feliz para o que ele conhecia, até um dia pessoas encapuzadas bateram em sua porta e sua mãe abriu e os convidou a entrar.

Depois disso as lembranças ficam meio confusas, porque tem sangue, gritos, corpos no chão e tudo termina no fogo.

O menino acorda em um lugar diferent...

Thomas o tira de cima de mim. Eu voltei ao mundo real, Miah estava ajoelhada no meu lado. Usando alguma magia para tentar me curar. Meu sangue... Ele sugou meu sangue!

Meu corpo fica em temperatura super elevada, sinto o poder vindo. Recito o poema em latim para ganhar mais poder. Fecho os olhos, vejo a criança... os capuzes... Eu os abro e começo a correr em encontro ao vampiro, que se surpreende comigo e cai no chão. Com um simples golpe e com muita força, eu empurro meu punho para dentro do tórax da criança e arranco seu coração sem pena. Seus olhos encontram os meus e percebo que ele me agradeceu por alguma coisa que não consegui identificar, depois fechou os olhos, que eu pude notar que eram verdes mesmo e não eram lentes de contato.

Eu larguei o coração e cai para o lado. Estava exausto, Thomas ficou perto de mim até eu fechar os olhos.

Uma criança... Capuzes negros... Sombras... Gritos e morte. O meu sonho foi baseado nisso. Apenas um sobrevivente da família. Mas quem eram aquelas pessoas? Que lugar era aquele?

Eu acordei dentro do carro de Thomas. Ele me olhava como se estivesse tentando decifrar o que eu sonhara...

– Você está bem? - perguntou o menino, preocupado.

– Já estive pior - respondi sem animo.

– Bem... Como foi? - Ele estava curioso.

– Estranho... Parecíamos... Conectados de alguma forma...

Thomas ficou quieto o resto da festa. Eu não tive mais forças para voltar para o ginásio, então ele me levou para casa. A chuva começou a cair, que final de Halloween, pensei comigo. Relâmpagos apareciam no céu. Parecia lágrimas. E finalmente a ambulância passa para a escola, alguém descobriu o corpo e com toda certeza tentarão cobrir as evidencias de ataque de vampiro. Eu me sentia péssimo, parecia que eramos superiores a eles, contudo eu só queria ser normal e ter uma vida normal.

Chegamos a minha casa. Thomas me olha, dentro dos meus olhos. O garoto tinha olhos tão cinzas que pareciam entrar dentro da minha alma. Thomas parecia conseguir decifrar a minha codificação, que ninguem nunca conseguiu. Eu era perdidamente apaixonado por ele. O rapaz começou a retornar para o carro:

– Thomas! - gritei.

– Diga? - falou ele se virando

– Pode ficar essa noite?....


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