Say goodbye escrita por Kim Misaki


Capítulo 1
Capítulo 1




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Vá para o jardim, estarei te esperando" foi a mensagem que ele mandou. Lisa saiu imediatamente do centro de investigação de onde trabalhava, nos Estados Unidos. Estava de noite, chuvendo e frio. A jovem ignorou o mau tempo e foi ao jardim, atravessando a mata fechada e seguindo a trilha pelo chão. Sabia onde ele estava e ele sabia que ela conhecia o caminho. Não deu detalhes na mensagem, não poderia ser outra coisa. Ele não a mandaria a um lugar desconhecido.
As plantas estavam encharcadas e o caminho era escuro, mas mesmo assim ela continuou. Já estava ensopada quando chegou à clareira. Havia um poste de luz do lado e uma pessoa em baixo. Ela reconheceu de imediato a silhueta dele. Costas curvadas para frente, cabelo volumoso e rebelde, dedo na boca como de costume. Estava segurando algo.
-Ryuzaki...
Ela correu até ele mas, assim que ficaram cara a cara, não teve coragem de abraçá-lo. Apenas parou e encarou-o. Sua expressão parecia vazia, melancólica. Estava muito pálido.
-Lisa, você está diferente. Está mais alta. Fez dezenove semana passada, certo?
-Sim - disse ela vendo aonde ele queria chegar. Tinha certeza de que aquele não era o motivo para vê-la.
-Parabéns. Vou enviar um bolo pra você assim que possível.
-Não precisa - riu ela - já comi bastante bolo. Meu cérebro não gasta tantas calorias quanto o seu, não quero engordar.
Ele sorriu e ficou quieto por alguns segundos, olhando-a.
-Vou viajar para o Japão e não sei se vou voltar - disse ele. Lisa encarou-o atentamente até absorver suas palavras.
-Como?
-Tenho um caso muito importante lá, a polícia está praticamente sem saída.
-E por que você não vai voltar? - perguntou ela lutando contra um nó na garganta que começava a estrangulá-la.
-É uma situação extremamente perigosa. Todos estarão arriscando suas vidas para solucionar o caso. Se não fosse por isso eu com certeza a chamaria para fazer parte da equipe, mas você é talentosa demais para ser posta em risco.
-Eu? Eu sou talentosa demais para ser posta em risco? - perguntou ela, começando a ficar nervosa - E quanto a você? Você é que não deveria estar se envolvendo nisso! E se acontecer alguma coisa! E se você se ferir! Você também não pode se arriscar assim! Você...
-Por favor, se acalme. Estou com tudo sobre controle.
Ele percebeu que o rosto dela estava ficando vermelho e seus olhos cada vez mais molhados. Não dava mais, ela não conseguiria se segurar. Permitiu com ódio que uma lágrima escapasse. Ryuzaki ficou surpreso com a reação dela. Nunca pensara que sua partida fosse fazer alguma diferença para alguém, nunca acreditara realmente que fosse fazer falta para alguém.
-Não vai acontecer nada - disse ele, procurando confortá-la - estarei protegido e Watari vai me ajudar.
-Não quero que se machuque - disse ela - quero que você volte pra cá e continue nos ajudando - ela limpou seu rosto e olhou para ele - você faz parte da nossa família. Não é justo que nos deixe assim.
Desta vez ele ficou mudo. "Família", sua única família até onde se lembrava era Watari. Estava sempre ocupado demais para fazer amizades e não estava acostumado com aquilo. Mas vez Lisa, vê-la chorando, vê-la olhando no fundo de seus olhos fez com que surgisse uma enorme vontade de ficar.
Sim, mesmo sem perceber, ele havia se apegado a aquele lugar, àquelas pessoas, aquele estilo de vida. Não se imaginava mais sozinho, em uma sala cheia de computadores, escura, fria e silenciosa. Naquele momento ele percebeu que gostava do burburinho dos outros agentes, da alegria de todos ao fazerem uma pausa para descançarem e em como vibravam quando chegavam mais perto de solucionar um caso. Ele não queria voltar a trabalhar sozinho, realmente não queria. Mas como proteger sua família de um assassino que matava apenas com o nome e rosto das pessoas?
Tudo bem, ele poderia dar-lhes identidades falsas e providenciar lugares seguros pra eles, mas mesmo assim...
Não queria que nada de mal acontecesse com eles. Se morresse, pelo menos saberia que alguém choraria por ele. Se os outros morressem, ai ele estaria completamente sozinho, e não sabia se seria capaz de suportar à solidão. Não podia arriscar seus entes queridos.
-Eu digo o mesmo - respondeu ele. A chuva parou de cair - quero manter vocês à salvo e seguros. Se acontecesse alguma coisa com vocês eu...
Sua expressão ficou ainda mais melancólica. A dor transpareceu através de seus olhos.
-Pois eu também digo o mesmo! - falou ela, mais algo do que de costume - Como você acha que o pessoal vai ficar se acontecer alguma coisa? Como eu vou ficar? Você não pode sumir assim achando que é o único que tem sentimentos! Quem você pensa que é?
-Sou o maior detetive do mundo. Não sou um novato, você está me subestimando. Posso resolver o caso sozinho. Arriscar a vida de vocês nisso seria tolice.
-Nós também não somos nenhuma porcaria, não. Se você, o maior detetive do mundo, nos procurou é porque temos algo de especial. Tolice seria você ignorar a nós como se não fôssemos nada! Também temos potencial, nós podemos te ajudar nisso, Ryuzaki. Por favor, confie em nós! - gritou ela, aproximando-se dele e encarando-o. Sua respiração estava acelerada, mais lágrimas caiam de seu rosto, suas mãos e lábios tremiam, ela estava ensopada.
-Está frio, você deveria entrar agora. Só vim me despedir e entregar isto - disse esticando uma caixa de madeira dentro de um saco plástico. Ela o pegou - Quero que saiba que confio em vocês, mas não em quem estou enfrentando. Prometo que vou me proteger e dar o meu melhor para pegá-lo. Vocês podem me ajudar, mas quero que fiquem aqui. Eu dormiria muito mais tranquilamente se vocês ficarem. Eu mando as informações e nós podemos manter contato. Não é um adeus definitivo.
Lisa não suportou ouvir a palavra "adeus" e se debulhou em lágrimas, soluçando com força. Ela se abaixou e abraçou suas próprias pernas, sem se impostar com o chão enlamaçado. Aquilo praticamente destruiu o coração de Ryuzaki. Ele se ajoelhou no chão e abraçou Lisa, permitindo que ela chorasse em seu peito. Doia pra ele também, mas era algo que precisava ser feito.
As mãos dela se prenderam na blusa dele, puxando-o de encontro a si. Ela ergueu a cabeça e olhou-o.
-Você promete que vai se proteger? Que vai ligar pra gente e mandar notícias? PROMETE?
-Sim, prometo. Prometam que vão continuar investigando e que vão se esforçar. Você será minha substituta. Dê o seu melhor!
-Prometo - disse ela sorrindo. Aproximou-se do rosto dele, segurou-o e beijou-o.
Ryuzaki correspondeu e abraçou-a. Se abraçaram mais uma vez e se levantaram.
-Se cuida, tá? - disse ela afastando-se em direção à trilha de volta.
-Você também. Vou te trazer um bolo quando voltar.
-Vou deixar um preparado pra você também.
-Combinado.
Acenaram um para o outro e seguiram seus caminhos, cada um para um lado. Ela retornou ao centro de invetigação, mas deu uma olhada para trás, ouvindo ao longe os passos de Ryuzaki, que se afastavam. Ela entrou no prédio e pegou o elevador. Estava encharcada, sua calça estava suja de lama, haviam folhas em seu cabelo e sujeira em sua blusa, mas não se importou com nada disso. Tocou os lábios e chorou mais uma vez.
Deu de cara com sua equipe esperando-a do lado de fora. Todos estavam tristes, mas a acolheram com carinho. Eles já sabiam. Ryuzaki deve ter conversado com eles antes. Foi lá apenas para se despedir dela, mesmo. O pensamento a agradava um pouco, mas o nó na garganta permanecia intacto.
Ela entrou e trocou de roupa, sem trocar nenhuma palavra com ninguém. Pegou a caixa de madeira de dentro do saco plástico e abriu-a, sozinha em seu quarto. Ela sorriu quando viu o conteúdo. Dezenas de doces, balas, pirulitos e biscoitinhos. Ela foi até a sala e dividiu-os com todos. Os papeis das balas foram lavados e presos na parede da sala principal do escritório. A caixa foi colocada em cima da mesa de centro, com uma foto do grupo dentro.
Era realmente linda aquela imagem. Ninguém estava preparado para a foto. Cada um estava de um jeito diferente, engraçado, único, revelando suas personalidades. Lisa estava ao lado de Ryuzaki, que não estava prestando atenção na câmera. Ela estava falando com ele sobre algo em cima da mesa. Estavam no fundo, mas eram bem visíveis. Os outros estavam na frente, tentando se ajeitar, preparar uma pose, um ângulo bom. A foto estava tremida e os dedos do fotógrafo apreciam no canto esquerdo da imagem. Era um verdadeiro tesouro.
E continuaram a trabalhar arduamente, liderados por Lisa, solucionando casos cada vez mais complexos. Alguns anos depois da morte de Ryuzaki, o centro mudou de nome para Secret Provision for Kira ( SPK ) e com a ajudar de um novo membro, terminaram a missão que Ryuzaki começou.
Fim.


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Notas finais do capítulo

É isso ai, não está uma maravilha literária mas está aceitável.
Até mais..