Era madrugada, os lábios do japonês colavam-se tristemente nos do detetive. Pensara que seu plano era perfeito, que conseguiria manter o maior investigador de todos os tempos vivo, apesar de o mesmo querer mandá-lo para a prisão.
Era um assassino, sabia disso, mas suas intenções sempre foram boas. Queria apenas paz, uma sociedade mais correta, um país mais seguro. Assumiu a responsabilidade de limpar o planeta, mas as consequências haviam sido maiores do que jamais poderia imaginar.
Agora o corpo pálido e magro jazia frio em uma maca de hospital, à espera dos últimos preparativos para o funeral. Ele não queria aquilo, jamais quis.
Queria que seu amado visse o seu novo mundo. Um mundo justo e seguro para todos. Se não fosse ela... Se não fosse aquele maldito shinigami.
Não parou para pensar na possibilidade que aquela criatura fosse realmente dar a vida por Amane. O que ela tem de tão especial? Deveria ter batido a porta na cara dela na primeira vez em que se viram.
O japonês deixou uma lágrima cair no rosto gélido do detetive.
Enfim alguém surgiu em sua vida, alguém digno de seu respeito e admiração. Alguém tão inteligente quanto ele mesmo. Era a primeira vez que se apaixonava de verdade. Era a primeira vez que seu charme não adiantou de muita coisa. Tinha que disputar a atenção de seu amado com doces e sorvetes. Mas não se importava.
Só queria ser alvo daqueles enormes olhos negros. Queria ver seu cabelo bagunçado e seu jeito desleixado de sempre. Queria ouvir sua voz calma e admirá-lo enquanto sua mente extraordinária trabalhava.
Queria apenas estar na presença dele. Só isso.
Mas agora...
Chorou mais.
Pra quê continuar se esforçando? Não teve nem tempo de confessar seu amor! Havia falhado. Havia arriscado demais e perdido tudo. Era um fracassado.
Teria sido melhor nunca ter encontrado este caderno.
Seu último beijo era um beijo falso, um beijo forçado.Sabia que Ryuzaki nunca aceitaria ser beijado por ele.
Saiu do quarto.
Queria ter provado daqueles lábios enquanto ainda estavam quentes. Queria ter sentido o gosto de morango de sua língua.
Pegou o caderno.
Queria sentir novamente o cheiro de suor depois de ter jogado tênis com ele. Queria sentir suas mãos incrivelmente macias tocando seus pés novamente. Queria ficar debaixo da chuva com ele de novo.
Escreveu seu próprio nome.
Queria todos aqueles momentos de novo. Queria revivê-los pra sempre, por toda a eternidade.
Voltou para o quarto e deitou na cama.
Aquele que usa o caderno está fadado a ser corrompido.
"Eu ficaria triste se você fosse Kira..."
Está condenado ao vazio eterno.
"...porque você..."
Está condenado à carregar a culpa pelo resto de seus dias.
"...é o meu primeiro amigo"
E o japonês derramou sua última lágrima antes de ser arrastado para o vazio eterno.