Broken Strings escrita por Anny Taisho


Capítulo 1
Constatações


Notas iniciais do capítulo

Notas iniciais: Olá amores, estou de volta, depois de muitos RPGs da vida com minha mokona favorita Linzin se tornou minha paixão. Então mesmo sendo clichê, aqui vai essa sendo dedicada a SenjuYume. Não será uma história longa, cinco capítulos no máximo, espero que gostem.
Kisskiss



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Broken strings

Capítulo I - Constatações

A jovem mulher caminhava pela casa sem parar um minuto fazendo todas as tarefas possíveis e sempre havia mais o que fazer tendo quatro filhos. Entretanto, o motivo de sua agitação era outro, toda vez que parava começava a ter aqueles pensamentos que tanto tentava afastar. Fazia seu melhor para que o episódio da fuga com a família não os afetasse mais que o necessário, entretanto aquela noite deixou marcas profundas, ou melhor, estilhaçou com o que a muito já estava partido.

LinBeifong, a mesma mulher que quase destruiu a ilha e a fez como refém tantos anos antes tinha praticamente dado a vida para salvar suas crianças. A mulher de metal provou todo seu valor e colocando de lado as diferenças fez o que tinha de ser feito para que a linhagem airbender não se perdesse. Não podia mais nutrir qualquer rancor ou sentimento negativo pela dobradora que quase perdeu sua dobra para salvar filhos que nem eram seus.

Pema podia não ser dobradora, mas convivendo com o marido e filhos descobriu que essa habilidade era algo do cerne de quem possuía, parte importantíssima de quem eram. Para um bender perder essa habilidade era como perder um membro.

Viu as crianças ocupadas e foi rapidamente até o quarto onde tirou do fundo de uma gaveta um envelope pardo escondido entre algumas coisinhas. Sentou-se no banco da penteadeira e o abriu pegando o maço de papéis ali dentro. Correu os olhos pela centésima vez e sentiu o peito apertar, tinha pedido aquilo num momento de raiva logo após o reencontro de Lin com Tenzin quase dois anos antes.

Tentou exaustivamente por quinze anos se fazer amar, mas talvez não fosse esse seu destino estando ao lado do monge. Tinha uma boa vida, tranquila e acreditava na fidelidade dele, o mais provável era que envelhecessem juntos vendo os filhos formarem suas próprias famílias, mas nunca seria mais do que isso. Uma vida tranquila, morna que imitava conto de fadas sempre na mesma linha e marasmo.

Casara tão cedo e nunca viveu nada intensamente.

Não conhecia nada além daquela vida tranquila e insossa, algo dentro de si gritava que queria mais, precisava de mais! Mas para isso precisava deixar para trás o marido... Sempre gostou de Tenzin e quando ele aceitou seu amor achou que fosse explodir em felicidade. Imaginando que viveria uma grande história de amor onde seria a heroína romântica. Só que tudo o que teve foi uma vidinha provinciana. Não que desdenhasse do que tinha, só imaginava como era ser amada como LinBeifong foi e ainda era amada.

Como seria sentir aquela ferocidade que viu nos olhos dela tantos anos antes? Como seria amar alguém daquele jeito? Como seria que alguém a amasse tanto que mesmo mais de uma década depois ainda houvessem lembranças?

Ouviu o filho mais novo chorar e acordou de seus devaneios guardando os papéis e os escondendo novamente.

***

Era um dia de chuva quando brigavam escondidos por um toldo dos presentes perto dos prédios da grande academia Beifong. Lin não acreditava no que ouvia, tinham brigado semanas antes e agora ele lhe dizia que ia casar como se não fosse nada. As emoções de Lin estavam numa torrente que podia rachar o mundo no meio com sua fúria.

- Casamento, Tenzin? Mas como assim? E a gente? Não pode simplesmente se casar com aquela garota! – disse batendo o pé no chão enquanto olhava os olhos azuis –

- Sim, Lin, vou me casar com Pema e achei que deveria saber por mim. O que vivemos foi lindo, mas acabou. – disse o monge preso dentro de sua resolução –

- Não pode se casar com ela! Uma história como a nossa não termina assim! Ela é uma pirralha! O que sabe de você? O mais importante, o que sabe dela?

- Eu sei que ela gosta de mim, Lin e está disposta a me dar o que eu sempre quis e você não quis dar! – disse perdendo um pouco de sua calma –

- Oh claro, as crianças! Sempre essa história! Eu só te pedi um tempo, Tenzin, minha mãe morreu não faz um ano! Todo o legado dela caiu em meu colo! Não posso simplesmente parar!

- Você nunca pode parar,Lin! Há quantos anos venho tentando compreender seu tempo e necessidades? E você sempre querendo tempo, nunca podia parar, sempre com uma desculpa! Eu não posso esperar mais! Agora é a morte de sua mãe e o que vai ser depois?

- Vai casar com uma mulher unicamente para ela lhe dar filhos? Vai viver uma vida em função disso? Eu entendo que tenha um peso em seus ombros, mas isso não pode lhe guiar a vida! Não acha que ela merece mais que isso?

- Não, não entende! Eu sou o último airbender, Lin! Preciso não só ter filhos como também passar toda história, conhecimento e tradições do meu povo para eles! Se eu não fizer isso toda história dos nômades acaba em mim, isso quebraria até mesmo o ciclo avatar! Entende o que isso quer dizer? É maior do que eu, maior do que nós! Eu te esperei a vida toda! Tentei ao máximo dobrar-me as suas vontades, só que não dá mais! Meu pai morreu,Toph... Isso só me mostra que o relógio está correndo e não estou cumprindo com minha missão!

- E vai jogar toda nossa vida fora?? Estou só te pedindo mais um tempo! Um ano, dois no máximo! – a essa altura a mulher já chorava, o desespero da perda tomando conta de si – Estou te pedindo, não se case com ela, Tenzin!

- Agora me pede um ano, depois vai pedir outro e mais outro... Se disser que casa comigo agora e que vamos começar nossa família, eu largo tudo, caso contrário, não dá! Não dá mais!

- Não posso largar tudo agora, tente entender! Está muito abalado, seu pai e agora minha mãe... Também estou perdida!

- Tente me entender você, Lin! – a segurou pelos ombros, nunca seu legado foi tão pesado – Eu a amo desde sempre, mas isto é maior do que eu! Não posso ser egoísta ao ponto de botar minhas vontades acima da grandiosidade do meu legado! Você sempre sonhou com grandes coisas... E eu simplesmente em ter uma bela família, todos esses anos achei que poderíamos conciliar nossos sonhos, mas não, não dá!

- Você me deu sua palavra e sempre disse que a palavra de um nômade era o que ele tinha de mais valioso!

- Dei minha palavra ao meu pai também, e hoje, dar continuidade ao meu legado é mais importante do que a gente. Se não pode ceder por mim, também não posso por você, desculpe... Espero que um dia possa me entender.

- Eu nunca vou entender porque está quebrando meu coração! Está jogando toda nossa história fora porque está assustado com as mortes de nossos pais, mas não estarei aqui quando vir o tamanho de sua loucura!

- Realmente gostaria que fosse de outro jeito, que fossemos nós dois para sempre ou que entendesse meus motivos apesar de não poder ceder a eles, mas você está sendo teimosa como uma pedra. Não me arrependerei disso.

- Tem razão, sou dura como as rochas que dobro! – disse soltando-se das mãos dele – Eu não posso ceder e você também, chegamos a um impasse e você já colocou outra em meu lugar! Vá lá, case-se com a garota, tenha filhos, tenha toda essa vida feliz! Mas eu achei que seriamos nós...

Naquele momento, LinBeifong partiu-se.

Foram tantos pedaços que ela levou mais de uma década para remendar seu coração, mas não foi a única a perder algo precioso ali. Tenzin sentiu metade de seu coração ficar com ela naquela noite, mas não podia ceder, não daquela vez.

- Desculpe,Lin, realmente desculpe... Mas temos prioridades diferentes. Espero que um dia possamos ser amigos.

- Eu não quero ser sua amiga! – disse fria erguendo o rosto – Esqueça meu nome e o caminho a qualquer lugar que eu estiver. Se vai casar, desejo felicidades, mas não peça para ficar olhando-o com outra! Partiu meu coração, Tenzin, espero realmente que valha a pena para você toda essa dor que sinto!

E então deu as costas sumindo debaixo da tempestade deixando suas lágrimas se misturarem as gotas de chuva.

Os olhos verdes abriram-se fitando o teto acima de sua cabeça.

Fazia anos que não sonhava com aquilo e nem se quer evocava essas lembranças. Aquela noite só foi pior do que quando soube do nascimento de Jinora. Anos depois. Tenzin esperou quase cinco anos casado sendo que lhe pedira somente mais um, aquilo lhe corroeu as entranhas como ácido.

Durante anos odiou o monge, mas o tempo é sábio e cura feridas. Hoje sentia falta do que poderia ter sido, mas não fazia mais diferença. Ele era feliz em seu casamento e com suas crianças. Uma felicidade que talvez nunca teria dado a ele.

Sabia que não dormiria mais aquela noite, por isso levantou e vestindo sua armadura de metal foi durante a madrugada para o QG. Ficar sozinha em casa era assustador. Fitou-se no reflexo de uma vitrine, os cabelos acinzentados passavam dos ombros, há mais de quinze anos os cortou pois as ondas lhe lembravam Tenzin, mas depois da perda de sua dobra e tudo o que veio depois. A restauração do equilíbrio em sua cidade e tudo tinha lhe comido todo o tempo... Nem lembrou-se que eles estavam longos novamente.

Era primavera, talvez fosse tempo de recomeçar.

***

Tenzin meditava numa área afastada do monastério e de casa. Podia ouvir o som das ondas que batiam contra a areia e a leve brisa da primavera contra sua pele. Abriu os olhos e olhou o pôr-do-sol. Finalmente o equilíbrio parecia estar sendo restaurado, ainda precisava ajudar Korra a reestabelecer sua ligação com os Avatares anteriores, mas achava que o tempo lhe ajudaria a encontrar a solução.

Respirou profundamente e ao fechar seus olhos azuis uma imagem surgiu diante de seus olhos como um relâmpago. Lin pedindo que não voltasse por ela e indo derrubar aquele dirigível. Nunca em toda sua vida sentiu-se tão impotente. Ela fez o que era preciso, mas não o seguro. Podia ter morrido, perdido sua dobra para sempre. Foi desesperador não poder impedí-la ou pelo menos se juntar a ela.

Tantos anos passaram desde que se separaram e seu sentimento de perda ali foi como se nem um dia houvesse passado. Nunca deixou de amá-la. Foi como o pai disse certa vez, o amor é um sentimento que sendo verdadeiro, não morre, se recicla. Teve uma boa vida com Pema até ali, lindos filhos que dariam continuidade a sua linhagem, uma vida realmente boa, mas às vezes se pegava lembrando do passado. Da infância e juventude pela ilha. Cada pedaço daquele lugar contava uma história, um pequeno conto de um longo livro.

Fechando os olhos ainda podia ouvir as risadas e lembrar perfeitamente das conversas.

Sentia-se culpado por ainda manter esses sentimentos sendo casado com outra, mas não dava para evitar. Realmente amava a esposa e agradecia aos filhos perfeitos que lhe deu, só que era um amor diferente. Quase uma amizade misturada com gratidão pela vida que tinham. Levava com Pema quase a mesma vida que os pais levaram naquela mesma ilha, com a diferença de que não eram o grande amor um do outro. A mulher era tão jovem quando se declarou e se lembrava dela ser uma garota tímida e caseira, todo o mundo dela era aquele que tinham. Acreditava em seu amor, mas com certeza era mais algo pautando em um sonho, do que numa realidade.

Sentia falta de Lin.

Demorou quase três anos até ter algum tipo de vida matrimonial com Pema, não podia simplesmente deixar a Beifong para cair com outra. Ambas mereciam respeito. Não dormiria com uma pensando em outra. A esposa foi paciente e conquistou espaço em seu coração dia-a-dia, só que depois daquela noite parecia impossível continuar.

No passado acusou Lin de não compreender seu legado e agora ela esteve disposta a dar a vida para salvar seus filhos com outra mulher. Foram esquecidas todas as dores, feridas e rancores. Naquela noite ela estava disposta a protege-los a qualquer custo. Quase ficou sem sua dobra, logo ela, a maior earthbender do mundo sem poder nunca mais dobrar. Seria como matá-la.

Tinha tudo o que sempre sonhou e de repente isso não parecia mais o bastante. Estava cumprindo todas as suas obrigações e enquanto ocupado com isso, sem problemas, mas sem isso sentia-se vazio. Pois abriu mão de suas próprias necessidades em troca de coisas muito maiores do que ele. E disso não se arrependia. Tinha uma dívida com seu povo e necessitava quitá-la, só se sentia vazio enquanto homem comum.

Estava cumprido seus deverem de Abade passando as tradições para aqueles que fariam aquilo depois dele, mas o homem estava perdido. O homem que Lin amou um dia não sabia mais se encontrar naquela vida... O problema talvez tenha sido exatamente esse, ela amou-o enquanto Tenzin simplesmente. Diferente do resto do mundo que esperava grandes coisas dele, ela esperava somente que a amasse de volta. Não era egoísmo ou falta de compreensão pura e simples, Lin não entendia porque não o via como o último airbender, aquele que deveria dar continuidade a linhagem.

E assim, não conseguia compreender suas necessidades.

Oh Espíritos, se tivéssemos aos vinte o entendimento de vida dos cinquenta provavelmente seria mais fácil. Ainda hoje lhe doía a dor que viu nos olhos dela aquela noite em que contou que se casaria. E ao lembrar de como foi protegido por ela, em como ela abriu mão de si própria em prol de algo maior, sabia que agora ela o compreendia. Só que tal conhecimento não trazia mais paz.

Não podia deixar a esposa, ela lhe dera tanto, mas também não podia abrir mão de si mesmo. Existia atrás de todas as alcunhas que trazia desde o nascimento. E esse ser atrás de todos esses encargos queria de novo a chance de amar a Beifong cada dia como fez na juventude. Não sabia se ela ainda se sentia assim em relação a si mesmo, mas uma esperança no fundo do coração dizia que sim, que ainda era amado hoje como foi quinze anos atrás.

Era uma dualidade cruel.

E via-se cada vez mais perdido nela.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Notas finais: Então? Mereço pedras ou rosas? Me digam o que acharam! Anny Taisho