Sangue na Neve escrita por Broken_Watch


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Seria essa a famosa segunda pessoa? Talvez. Cheio dos "Você você você" eu juro que tentei evitar, juro mesmo. No final mudei para a terceira, para o alívio de vocês.



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A neve parecia forte lá fora, da janela da sala de música. Não que isso fosse relevante, nesses dias eu costumo fazer um chá de camomila ou erva doce com biscoitos mais adocicados. Algo mais simples visto que o que faço na verdade é tocar o meu piano sentindo cada acorde em melodias divinas pelos meus dedos e mente. É a forma que encontrei para aquecer meu coração nesse rigoroso inverno. Mas ultimamente, nem mesmo a mais nobre música está conseguindo acalentar meus pensamentos e temores, que a alma me faz questão de lembrar a cada floco de neve que caia nesse tempo. Será uma cicatriz que demorará para curar.

Pois ao contrário de todos, eu ainda enxergo seu sangue na neve.

...

Confesso que você é uma pessoa muito fácil de achar entre as multidões. Seu sorriso exibido que coroava o egocentrismo que tinha irritante egocentrismo, diga-se de passagem era só uma das suas diversas características que o fazia se destacar. Mesmo entre as tantas baixas jazidas no chão nos confrontos em que lutou antes da Primeira Guerra. Eu confesso que odeio como para você, tudo era resolvido no braço. Chegava a ser insano e incômodo como as outras formas de obter territórios eram um pesadelo para você... Se bem os casamentos também se tornaram um pesadelo para mim. Você não estava em guerra, você era a guerra! Uma peça valiosa de um jogo de xadrez, que não se importava de arrancar a vida até mesmo de seus irmãos, sua espada e olhos manchados pelo vermelho do sangue era a verdadeira representação do quão Neanderthal você era em batalha, mas o que me incomodava mais que tudo... É que parecia ser apenas uma parte do que você realmente era.

Acho que foi justamente depois da Primeira Guerra que essa dúvida foi sanada. Justamente quando seu irmão estava passando por problemas graves – Este que você egoistamente “criou” matando todos os seus antigos irmãos, em uma ação sem sentido – Justamente nesse frágil momento, que comecei a notar um lado seu que talvez nem seus amigos, nem mesmo a Hungria ou Ludwig conheciam.

A nossa relação começou de modo deturpado. Você era um chato indisciplinado, tão ao ponto de fazer questão de entrar de modos mirabolantes em minha casa. Seja de penetra com os países que eu convidava para entrar, seja pela janela ou ainda outros modos que que podia render-lhe um processo bem caro. Tudo com o fútil propósito de testar a minha paciência com besteiras até eu atingir o estopim e te expulsar de casa. Mas... havia havia algumas raras vezes que você vinha apenas para escutar eu tocando. Nas vezes em que estava muito concentrado, apenas notei sua presença depois de encontrar as janelas abertas. Foram avanços vagarosos, certas vezes me acompanhando com uma flauta transversa, e me espantei quando você dominou a música com um talentoso jeito para o violino.

Você ainda vinha para me irritar, mas agora em alguns momentos apenas queria alguém para conversar. Às vezes suas conversas eram surreais, tolices, mas às vezes eu podia notar que Frederico II te deu uma educação digna. Você podia livremente ir de um cavalheiro nobre ao mais frio psicopata. Mas você simplesmente prefere ser o idiota que se autodenomina “Incrível eu” por ser mais divertido. Porém, além desses aspectos positivos, a cada vez mais que nos aproximávamos de 1º de setembro de 1939, sua expressão pesava e seus olhos perdiam o brilho.

... Você sabia, não é? Tendo vivido para a guerra, você saiba que tinha uma surgindo.

Foi uma surpresa quando o chefe de Ludwig conseguiu me anexar consequentemente me recrutando para a Segunda Guerra Mundial. Eu não queria mais lutar. E, por mais estranho que seja, nem você. Éramos dois países fartos de tudo isso, mas ainda sim você acatava cada ordem que era lhe dado, com um sorriso convincente, mas não verdadeiro. No seu caso, era isso, ou ser submetido à um mero Estado independente. E depois de tanto tempo te tendo ao meu lado, compreendi o que você queria com esse seu jeito peculiar. Você queria viver mais. Preferia qualquer coisa a morrer com seu orgulho quebrado e História apagada. Você queria ser lembrado. Pelo idiota, pelo guerreiro, pelo país que criou uma potência com o entusiasmo de um pai. Aos olhos externos, você ainda era aquela pessoa bruta, incomunicável. Mas para mim – A pessoa que tinha mais certeza dessas características negativas – você se mostrou jovial, culto, talentoso e em nossas raras conversas civilizadas, uma pessoa que vivia pelo ontem, hoje e amanhã. Uma proeza que exigia muito esforço. Mesmo que no final das contas... Fora em vão.

...

Ver-te daquele jeito... tão imóvel... As ataduras eram normais mas não seu peito gelado e seus olhos fechados. Certa vez, você me disse que enxergava as coisas, nubladas, desfocadas. Claramente era uma metáfora sobre como se sentia... E pensar que agora essa escuridão seria eterna agora. A notícia que você foi dissolvido foi a primeira vez que experimentei o desespero. O desespero do herói de não ter mais um vilão para combater, de não ter o amigo que fazia sempre besteira para corrigir... De perder o seu oposto. Tive uma queda de pressão e desmaiei ao ver que era o seu fim. E ao acordar numa cama, em algum outro cômodo tudo o que eu podia ver na janela era a neve caindo, misturando ao sangue. É claro que aquilo não estava lá, era apenas uma alucinação minha. Evitei de comentar isso porque achariam que eu tinha enlouquecido, e por uma razão bem “insignificante”. Mas eu sabia bem porque dessa visão distorcida. Sangue na neve... Esses objetos lembravam seu cabelo branco e seus olhos vermelhos, Gilbert. Claramente, o sangue que julgava ser seu iria me assombrar em cada inverno rigoroso a partir daquele dia, como hoje.

Eu entendi o que havia de errado comigo.

Tanto tempo ao seu lado, não poderia dar em nada. Pouco a pouco eu fui me apaixonando por você, e nem percebi isso. Talvez meu orgulho bateu mais alto, talvez eu não queria mais me iludir com relações conjugais, talvez nem você, mas os nossos momentos juntos já era o bastante para saciar a paixão que cada um, inocentemente, nutria pelo outro.

Eu me odeio por só ter percebido isso justamente quando você se esvaiu. Diz um ditado que nós só damos valor quando perdemos. E como era verdade. Ainda não me acostumei com certas composições sem seu acompanhamento tão contrastante de sua personalidade externa – e mesmo que o lugar esteja mais calmo e tranquilo – o silêncio me lembra que você não está aqui. Ich liebe dich, era o que eu deveria ter dito antes de você ter morrido, e é meu maior arrependimento.

...

Ouço um barulho estranho na cozinha, parecia o leve choque de um vidro com o outro. O que era um tanto perturbador... eu estava sozinho. O barulho do vidro parou, mas agora virou de passos. Temendo ser uma invasão de propriedade, eu me levantei e peguei de um armarinho quase esquecido da sala de música uma espada. Estava preparado para contra-atacar qualquer movimento do inimigo – E ele estava perto, pelos seus passos. Aproximei-me da porta, no exato momento que a maçaneta girou. Pronto para tudo, minha expressão atenta rapidamente se tornou uma de surpresa, ao ver que o albino que acabei de devanear ali estava, bem na minha frente tomando uma caneca de cerveja... Algo digno de alucinação.

Qual é da cara de quem viu um defunto e dessa espada velha? - Ele riu, pois sabia o porquê da minha reação. Era muito óbvio. Eu apenas fiquei imóvel, tentando acostumar minha mente de que ele realmente estava lá. Ele até tocou meu ombro, e num terno sorriso, continuou – Até parece que a morte iria deixar alguém tão incrível como eu ficar longe de todos vocês.

Eu nada podia fazer, além de suspirar aliviado, e numa trégua entre nosso jeito de se relacionar, abracei-o firmemente. Claro que ele estranhou de início, mas depois retribuiu o abraço.

–Seja bem vindo de volta, Gilbert. - A partir deste reencontro, o sangue desapareceu da neve.


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Notas finais do capítulo

Corrido não? IEJQWPI Eu não quero apanhar ok? Fiz isso em 3 dias, me dá um desconto DKJPQEJ. Enfim, eu espero que o Austria tenha ficado bem IC e o Pru também. Sei lá, cada um tem seu ponto de vista do char, e não é simples tentar equalizar isso. Mas saiba que foi um presente feito com carinho, pois mesmo que tenha saído curto, fiz questão de manter o enredo por todo esse tempo, desde que li suas preferências.

Obrigada por terem lido até aqui.



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