Unexpected escrita por Ingrid Lins


Capítulo 1
Capítulo Único




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Eu podia sentir o cheiro amadeirado de longe e isso fez com que minha animação — antes zero — aumentasse. A presença dele não mais me incomodava, agora era o motivo do meu alívio. As dores de cabeça sumiam com sua presença e isso me deixava aliviada. Saber que ele estava seguro lá em casa também ajudava a me fazer relaxar, as coisas já estavam tensas o suficiente para que o colocássemos em perigo também.

Do topo da escada dava para vê-lo parado na porta. O sorriso cresceu em meu rosto mesmo que eu não quisesse. Respirei fundo, sentindo um par de olhos me observando e nem precisava do meu poder para saber que era Edward e sua mania de bisbilhotar a mente alheia.

—Olá, Jacob — a voz de Esme se fez presente. Ela tinha um sorriso polido no rosto, algo como se fosse ensaiado. Não que fosse feito de maldade, de certa maneira, o vampirismo nos impedia de ser espontâneos. — Eu estou muito feliz por você ter voltado.

—Eu também — respondi com um suspiro profundo. Desci as escadas, fazendo uma careta. Ele não está atrasado para um compromisso, me recriminei em pensamento. Olhei de relance para Edward, mas ele parecia focado em outra coisa.

—Uh, oi — ele respondeu sem graça. Devia ser estranho tentar ser educado onde não se era desejado. Desviei o olhar tentando parecer desinteressada. Jacob entrou na mansão e olhou em volta, provavelmente, procurando por Bella. As desvantagens de ser um vampiro era ter seus sentimentos ampliados e a frustração era desproporcional ao meu tamanho.

Jacob piscou algumas vezes, talvez tentando lidar com a claridade dentro da mansão. Esme rapidamente apareceu com um prato de comida coberto e uma muda de roupa. Ela estava se esforçando para que Jake e seu pequeno bando de desertores se sentissem acolhidos, mesmo que fosse pelo clã que eles odiassem. Alheia ao que acontecia ao meu redor, sentei no sofá de um branco puro e cruzei as pernas, como se fosse uma coisa não pensada. A atuação era algo que vinha com o tempo.

—Onde está Bella?

Olhei as unhas antes de responder. Da janela eu conseguia ver Seth em sua forma de lobo cor de areia deitado na grama no jardim. Ao contrário de seu alpha, Seth parecia muito à vontade ao nosso redor, ele confiava em Edward e acreditava que éramos diferentes; estava disposto a lutar por nós como tinha provado no inverno passado quando nos ajudou a combater Victoria e seu exército de recém-criados. A loba, irmã mais velha de Seth, preferia ficar isolada de todos nós, como se pudesse morrer só de estar ao nosso redor. Uff, uma idiotice. À minha frente, Jacob ainda esperava uma resposta.

—Banheiro. Ela está na dieta do líquido, sabe? Além do mais, pelo que eu soube, esse negócio de engravidar faz isso com você.

Nós ficamos num silêncio desagradável até Bella chegar. Algo me incomodava e eu não sabia exatamente o que. Do outro lado da sala, Edward me lançou um olhar estranho, então logo tratei de esconder aqueles pensamentos tão confusos. Algo no rosto do lobo se iluminou quando Bella entrou na sala e aquilo me incomodou mais do que sequer imaginei.

—Jake, você voltou! — Bella exclamou assim que Rose chegou com ela em seu colo.

—Pois é.

Ele passou a mão no cabelo com um sorriso encabulado. Era engraçado como, às vezes, ele ficava constrangido com poucas coisas. Rose colocou Bella deitada no sofá com as pernas esticadas sobre minhas pernas. Jake desabou no chão e colocou os embrulhos de Esme ao seu lado. Temerosa, analisei Bella, sua barriga crescia a cada hora e já estava assustadoramente grande. Seu rosto afinava na mesma velocidade que o bebê crescia, a deixando com a aparência de doente. O futuro de Bella estava impossível de ver, o bebê bloqueava qualquer chance de saber se, quando tudo aquilo acabasse, ela ainda estaria ao nosso lado. A dor de cabeça que isso me causava — tanto física quanto psicologicamente — era infernal, até que Jake se tornou um santo remédio. Para desespero de Edward e Rose, agora haviam duas Cullen querendo a presença do lobo.

Encostei a cabeça no sofá, tentando dissipar aquela tensão que nos oprimia desde que Edward e Bella tinham voltado da Ilha de Esme. Era inútil, aquela nuvem pesada só iria embora depois que o bebê nascesse, se tudo desse certo. Bella esticou os dedos até alcançar o cabelo crescido de Jake, os acariciando. Ele fechou os olhos ao toque dela, me fazendo desviar o olhar. Não queria ver aquele tipo de intimidade.

—Durma um pouco, parece cansado — sorri um pouco, mesmo que eu quisesse ficar séria. Bella já usava o tom maternal até quando não queria. Como uma criança, Jake obedeceu, levantando-se. Não sei porque exatamente, ele suspirou antes de sair do ambiente.

A sala ficou em silêncio, como se todas as respirações estivessem suspensas, esperando o que poderia acontecer. O tempo todo estávamos alertas esperando que algo ruim acontecesse e para saber disso, não precisava prever o futuro. Suspirei e levantei deixando os guardiões de Bella fazendo a segurança dela. Vaguei disfarçadamente até a janela, e de lá pude vê-lo aconchegado embaixo de uma árvore.

—Há algo errado, querida?

Tomei um susto quando Jasper apareceu atrás de mim, e se eu pudesse empalidecer, aquele teria sido o momento. Rosalie vivia constantemente me cercando, tentando entender o que havia de errado comigo. Eu colocava culpa na dor de cabeça causada por Bella e seu filhote, mas a distração tinha outro nome. Um que eu não tinha nem coragem de pensar.

—Não, meu bem. Tudo certo.

—Ótimo — ele apoiou uma mão na minha cintura e girou meu corpo, depositando um selinho nos meus lábios. Tão previsível. Às vezes eu queria que Jasper tivesse mais atitude, voltasse a ter mais ações de quando era um soldado sanguinário. Talvez viver ao seu lado naquela época tivesse mais emoção.

Afastei-me dele e lhe acariciei a face, meio sem vontade. Um gesto apenas para não passar indiferença. Havia algo nos olhos de Jazz que me pegaram de surpresa, uma sombra, algo que eu não conhecia. Não me peguei a isso, já bastava minhas preocupações.

—Vou caçar.

—Tem pouco tempo que caçamos.

Fechei a cara, sem paciência ou desculpas para sair. Um incomodo apertava meu coração — há muito tempo morto e sem motivos para se afligir — e dizer seu motivo era uma sentença de morte. Maneei a cabeça na tentativa de tirar aqueles pensamentos da minha mente. Um ato sem importância, eu sabia.

—Eu quero espairecer, Jasper. Não posso?

Não dei tempo para resposta e saí correndo. Já estava no jardim em direção à saída da propriedade, quando minha vista ficou turva, me dizendo exatamente o que estava por vir. Eu não tinha muita clareza na visão. Estava tudo escuro e embaçado, mas consegui com dificuldade distinguir a mim mesma, não tendo a mesma sorte com a outra pessoa.

Sinta, Alice. É isso, carinho. Amor e prazer.

A frase encheu minha mente de repente. A imagem estava borrada, em desfoque, como uma TV ruim. Isso me assustou, pois era exatamente assim as visões que envolviam Bella e o feto ou os lobos. O medo tomou conta do meu corpo. Minha visão voltou ao normal, mas eu demorei para andar novamente. Adentrei a floresta e fui andando a esmo, não tinha direção certa. Fui me embrenhando ao longo da mata, pulando de galho em galho, tentando ao máximo ocupar minha mente com qualquer coisa que não fosse as constantes comparações que eu andava fazendo entre meu amado marido e o lobo. O mesmo lobo que estava nos ajudando apenas — somente e estritamente — por causa de Bella.

Okay, eu estava confusa demais, então achei melhor para minha sanidade, não pensar. Para minha surpresa, acabei me deparando com a casa branca de dois andares que eu conhecia tão bem. Por que diabos eu fui acabar na casa dos Swan? Talvez eu estivesse carente de atenção familiar, de pai e mãe, e naquele momento, Bella estava monopolizando os meus.

—Hey, Charlie — cumprimentei assim que ele abriu a porta para mim.

—Alice, mas que surpresa! Entre querida.

Adentrei a sala, e sentei no sofá, olhando em volta sorrindo. Ali tinha jeito de lar, eu podia sentir o conforto de família impregnado naquele lugar e sonhei que um dia aquilo pudesse ser meu. Era só um sonho mesmo, pois minha natureza nunca permitiria aquela atmosfera morna e confortável. Como Bella poderia trocar aquilo tudo por uma eternidade gelada?

—O que aconteceu? Quer algo para beber?

—Não, Charlie, obrigada. Eu só vim fazer uma visita.

Ele foi até a cozinha e voltou com uma cerveja na mão. Ri, aquilo era tão típico dele. Assim que sentou no sofá ao meu lado, abriu a lata e ligou a TV. Charlie era meu ideal do que um pai deveria ser, Esme e Carlisle eram os melhores pais que eu poderia ter, mas havia algo diferente em Charlie. Um algo a mais, algo humano que me fazia sentir querida. Acolhida.

—Sabe Alice, eu sei que há algo acontecendo. Ainda não consegui chegar à conclusão do porque não posso ver minha filha, mas não vou apressar as coisas — assim que Charlie proferiu aquelas palavras, engoli em seco. Só então seu olhar pesou sobre mim. — Eu não sei se quero realmente saber o que há de errado, sabe Alice? Eu gosto de pensar que as coisas terminarão bem.

—Eu também Charlie.

Ficamos um tempo em silêncio e não era constrangedor como com os Cullen. Era bom saber que eu poderia ficar em silêncio sem ter alguém bisbilhotando meus pensamentos.

—Alice eu não sou bom em falar, não mesmo. Sou péssimo em dar conselhos, mas eu vou tentar algo. Não estaria aqui se não precisasse de algo. Bella está aos cuidados da sua família naquele hospital esquisito, então acho que o assunto é comigo mesmo.

Ele torceu o bigode e eu não pude evitar o sorriso. Numa necessidade extrema, lhe abracei. No início, ele ficou meio atônito, mas depois retribuiu. A quentura de Charlie era um balsamo para minha dor de cabeça, embora não tivesse o mesmo efeito de Jacob.

—Estou confusa, Charlie. Não consigo pensar com clareza — fui honesta mesmo que ele não notasse a dificuldade por trás de minhas palavras.

—Imagino que esteja dizendo isso em relação à Jasper. Certo?

Assenti. Tinha a ver com Jasper, comigo e toda história que compartilhávamos há mais de cem anos. Será que Charlie me ajudaria a entender meus sentimentos? Sem meu consentimento, meus pensamentos voaram até o lobo que estava em minha casa. Tinha a ver com ele também, afinal de contas.

—Nada é eterno, Alice. Você é jovem, pode trocar de namorado quantas vezes quiser.

Ah, se Charlie soubesse que não havia nada nessa vida mais eterno que minha espécie! Se ele soubesse que a maldição da nossa vida era ser eternos, não importava as bênçãos que isso trazia. Os malefícios sempre seriam maiores que qualquer coisa boa, só Bella não conseguia ver isso. Solucei, sufocando uma lágrima que não existia mais.

—Mas e se a outra pessoa for... proibida? — A pergunta era boba e infantil, mas naquele caso era verídica. Éramos letais um para outro: a mordida dele era minha ruína, meu veneno era sua sentença de morte. Não havia meio termo, não havia uma chance.

—Nada é proibido, Alice. Amor é amor em qualquer lugar do mundo. Pense nisso.

Nós passamos mais algum tempo juntos, fazendo coisas que eu nunca fizera antes com Carlisle e que Bella certamente também não era fã, como ver futebol e torcer junto. Como família. Depois do jantar, voltei correndo para a casa dos Cullen. Não que eu quisesse ver alguém da minha família, e sim um lobo pelo qual eu não devia estar nutrindo sentimentos nenhum.

 

 

Todos haviam ido caçar, me deixando sozinha em casa. Apenas eu e meus pensamentos loucos e embaralhados. A visão que eu tivera dias atrás não saia da minha cabeça e isso me deixava apreensiva. Eu estava tendo sentimentos por Jake.  Até onde aquilo poderia me levar? Podiam ser apenas uma confusão por estar naquela situação com Bella e o bebê, o medo de perdê-los me fazendo interpretar as coisas erroneamente. As coisas eram tão complicadas!

—Hey. Onde estão todos?

A voz profunda de Jacob me pegou desprevenida, e meu coração, parado há tanto tempo, vacilou uma batida. Seu cheiro amadeirado — que antes eriçava meus sentidos — me desnorteava como o melhor dos perfumes. Respirei fundo e escondi os dedos trêmulos. Era ridículo uma vampira ter uma reação daquelas. 

—Oi. Er, estão caçando. Só sobrou eu.

O silêncio que pairava sobre nós era frágil e poderia despedaçar a qualquer momento. Minha garganta seca denunciava meu nervosismo, minhas mãos alcançavam o pescoço toda hora, numa tentativa boba de tentar aplacar aquele sentimento que me tornava humana de novo. Jake, talvez, tenha interpretado minhas reações de forma errada, olhando onde eu tocava com um olhar restritivo. Talvez pensasse que eu fosse atacá-lo. Não havia chances de isso acontecer.

Fui até a cozinha, procurando por um copo d’água, como se aquilo pudesse me salvar. Não podia. Nem todo o sangue do mundo poderia controlar aquele turbilhão de sentimentos e deixar minha garganta confortável. A sensação de queimação da sede me torturava, mas era como suar. O nervosismo fazia isso, como se eu tivesse dissecando, morrendo de fome. A água inútil desceu pelos tecidos ressecados sem cumprir sua promessa de hidratação, me frustrando ainda mais. Não senti passos atrás de mim, e tão pouco suas intenções quando braços quentes me abraçaram por trás. O susto sacudiu meu corpo despreparado, minha primeira reação foi recuar, mas os braços de Jacob eram fortes o suficiente para me deter. 

Nossas respirações aceleradas, subiam e desciam em sincronia, como se fossemos um só. Quem dera, pudéssemos ser!

—Jacob, o que está fazendo? — A aflição estava explicita na minha voz. Aquilo terminaria mal, eu não precisava das minhas visões para saber.

—O que eu estou com vontade de fazer há muito tempo, Alice.

Sem aviso prévio, sua mão grande girou meu corpo com a habilidade de um homem feito embora ele parecesse só um garoto. Minha boca foi esmagada num beijo devastador. O medo estava ali impresso na forma bruta com a qual sua língua fervente se enroscava na minha. A mão em minha cintura apertava com força, se aproveitando do fato de não precisar de limites comigo. Eu correspondi o beijo na mesma intensidade, com o mesmo medo e as mesmas esperanças.

Eu também sentia medo do que viria a acontecer se não conseguíssemos ignorar as borboletas que eu não sentia há mais de um século, e mesmo assim, não podia negá-lo ali, quando tudo em mim estava tão claro. Eu estava apaixonada pelo Black. A vontade imensa era de ficar beijando-o para sempre, mas Jacob ainda era humano e precisava de ar, por isso permiti quando ele desgrudou a boca da minha. Sua respiração estava pesada, ele ainda tinha os olhos fechados. A boca inchada e vermelha pela violência do beijo deixava claro o que estava acontecendo. Não havia meios de negar.

—Você não tem noção do que acabou de fazer! — Repreendi, sabendo o peso daquele beijo. O que estava destinado a acontecer em nossos futuros.

Você que não tem noção do quanto eu estava louco para fazer isso.

O sorriso de Jake ao me rebater se agigantou e me fez estremecer. Como uma criança teimosa, ele não iria abrir mão daquilo que queria, tentar era uma perda de tempo, eu sabia. O conflito sacudia minha cabeça, o que eu acreditava que seria certo e errado, o fatídico destino que nos assolaria se decidíssemos ir por aquele caminho. A visão sem foco e clareza não saia da minha mente. Seria Jacob, o alpha de uma matilha de desertores, um lobo, um garoto quem me mostraria o verdadeiro sentido da vida?

Respirei fundo, ainda abobalhada, tentando me separar de seu corpo musculoso. Os contras daquela possibilidade eram esmagadores demais para sequer pensar sobre aquilo. Sobre me entregar ao um inimigo natural, uma pessoa que estava ali por outra pessoa que não era eu.

—Jacob, eu sou casada e... você é um lobo...

—E você uma vampira, e daí? Agora só posso beijar mulheres da minha espécie? — Jake ainda tinha minhas mãos presas entre suas numa tentativa de não me deixar ir. Como ele não via o perigo daquilo? — Pare de procurar desculpas para não fazer o que nós dois queremos.

—Como pode ter tanta certeza sobre isso? Será que não entende o que isso significa? É diferente para pessoas como nós, você sabe.

Uma sobrancelha incrivelmente grossa e preta arqueou e um sorriso cínico apareceu. Ele parecia estar muito ciente do que eu falava. Lobos assim como vampiros tinham uma dimensão diferentes sobre sentimentos e vontades. Não existia sexo casual ou nada disso para nossas raças. A dificuldade de nossas ações e decisões era saber o peso de estar em nossas peles.

—Você sente essa vibe, eu sei. Se entrega, Alice — ele beijou meu pescoço ignorando as consequências. — Pare de resistir.

—Isso é tão errado... — ofeguei, engasgando quando senti sua língua fervente se arrastando sobre minha pele fria, o choque térmico me fazendo estremecer. Jacob poderia ser jovem e inexperiente, mas parecia saber meus pontos fracos com perfeição. A nuvem de desejo começava a inebriar meus pensamentos, me impedindo de pensar claramente.

Suas mãos passavam por meu corpo, volta e meia apertando minha cintura de pedra. Minha respiração acelerava à medida que ele avançava em sua busca por mim, lábios e mãos sedentos e obstinados em me fazer ceder de qualquer maneira. A excitação me tornava sensível a qualquer toque, a pele quente e úmida de Jacob me causava calafrios conforme me ganhava pelo cansaço. Minhas mãos também o agarravam, o trazia para perto de mim, como se eu quisesse fundi-lo ao meu corpo. O desejo de Jacob latejava contra meu baixo ventre, enquanto brincava de levar minha excitação ao pico.  

—E quanto a Bella?

Ele bufou e rosnou como quem não acreditava naquela pergunta. Eu também estava frustrada por tantas coisas. Suspirei: minha blusa na cintura, meus seios pequenos e arrepiados ao vento esperando que ele voltasse ao que estava fazendo antes de minhas inseguranças interrompe-lo.

—É sério isso? — Ele levantou uma sobrancelha em ironia ao momento de minha pergunta. Enxergando minha seriedade, ele apenas bufou e negou com a cabeça. Mãos apoiadas na parede ao lado de minha cintura, intensões nenhuma de me deixar fugir. — Bella me trocou por um... Por ele.

Não havia mais nenhuma questão, nada que eu pudesse dizer para fazê-lo desistir. O não, antes entalado na minha garganta, não existia mais, o sim implorando para que o gritasse. Sim! Sem escapatória para nenhum dos nossos problemas, seus lábios esmagaram os meus, enquanto eu era prensada na parede. Sua boca quente como o inferno desceu pelo meu pescoço. Suas mãos trabalhando ansiosas para me despir e me preparar pelo que viria. A ansiedade me fazia tremer, gemendo em voz baixa ao pé de seu ouvido, puxando-o para perto. Mais perto, mais fundo, mais...

Arregalei os olhos quando Jacob me beijou, acariciou meus seios, e com a confiança de um homem que sabia o que queria, desceu até o meio de minhas pernas. A língua molhada de Jake tocou suavemente um músculo igualmente fervente. Gemi de prazer e surpresa quando ele me beijou ali, bem ali onde Jasper nunca tinha ido. As sensações que me despertavam eram desconhecidas e deliciosas, me faziam gritar sem perceber. Ele me olhava no fundo dos olhos, me instigando, me devorando, me levando ao delírio. Suas mãos grandes e quentes alcançaram meus seios, os provocando, disposto a me fazer ir à lugares que eu nem sabia que existiam.

Meus músculos contraiam, espasmos corriam meu corpo, a sensibilidade aumentada um milhão de vezes. Arrepios percorriam minha pele, minha respiração estava pesada, e se pudesse morrer, aquele seria o momento. Uma sensação diferente de tudo que eu já tinha sentido. Com o aumento gradativo dos meus gemidos, Jake aumentou o ritmo de suas lambidas, uma fome fora do comum. Não demorou muito, uma última lambida sobre o músculo pequeno e pulsante e me desmanchei. Meu corpo contraiu pela última vez como as vibrações de uma música. O orgasmo me levou para longe, fora de mim ou daquela atmosfera. Minha mente estava nublada de desejo, minha atenção focada apenas naquela sensação que meu corpo experimentava pela primeira vez. Jacob me tirou do torpor sexual com um beijo avassalador, puxando minhas pernas até sua cintura. Sua língua com o gosto doce do meu sexo. Nossas mãos passeavam frenéticas, quando um grito ganhou minha atenção, seguido de vários rosnados.

—ALICE! — Meu nome na voz atordoada de Jasper fez todos os meus músculos travarem.

—O que significa isso, Alice? — A cara de nojo que Rosalie fez me deixou com raiva. — Quem está com Bella? Era para você está cuidando do bebê e não se agarrando com esse... cachorro.

Bella? Pisquei, confusa. Minhas pernas ainda estavam cruzadas na cintura de Jacob, suas mãos na minha bunda. Demoramos até registrar que toda minha família estava ali na nossa frente, meu marido surpreso no meio deles. Com os reflexos mais rápidos que os meus, Jake se colocou na minha frente, protegendo minha nudez. Ele estufou o peito e ajeitou a postura, ganhando ares do alpha que era.

—Cuidado com suas palavras, Rosalie — sibilei. Jacob me estendeu minhas roupas, mas não dei atenção. Roupas não remediariam a situação depois do flagra. O estrago já estava feito.

A loira nos olhava como quem via uma coisa abominável, suas narinas inflaram e o ódio em seus olhos de um marrom falso crisparam. Rosnei em resposta, sibilando antes que ela dissesse mais alguma coisa. Jacob também rosnou baixo, num tom ameaçador.

—Ora! Já está defendendo seu amante, sua vadia?

O choque das palavras de Rosalie me calou. A forma como toda minha família me encarava como se eu fosse uma aberração fez meu estômago revirar mesmo que estivesse vazio. O olhar de Jasper sobre mim era de pura decepção e me fazia querer sair correndo. A gritaria ao meu redor ainda acontecia, mas era como se estivesse longe, como embaixo d’água. Aos meus ouvidos era tudo um zunido muito alto; como mariposas que quisessem se infiltrar em minha mente e devorar meu cérebro. Só então a lembrança da minha visão tomou conta de mim. A clareza era torturante: Jacob e eu.

—Cale a boca, Rosalie!

—Quer dizer então, que você trocou sua obsessão de Bella por Alice? — Não registrei de quem foi aquela pergunta infame, mas a resposta do lobo foi o que me surpreendeu.

—Eu estou apaixonado!

E só então todos ficaram em silêncio, chocados, inclusive eu. Apaixonado? Aquilo era demais. Eu podia sentir a espada em nossas cabeças cada vez mais baixa. Não demoraria muito e as cortaria fora.

—Alice... — Esme suplicou sabendo que se o sentimento fosse recíproco, nós estaríamos perdidos.

O medo fazia meu coração morto martelar pesado em meu peito, tinha certeza que minha família conseguia ouvir de longe. Com a rapidez vampírica, minhas roupas voltaram ao meu corpo, mas a vergonha não. Apesar de toda aquela confusão, eu não me arrependia do que tinha acontecido. Nada estaria ao nosso favor, não havia dúvidas, mas nada me faria mudar de ideia. Se ele também quisesse. Como se pudesse ler meus pensamentos, Jacob apertou meus dedos sem se preocupar com a força. Ao nosso redor, o falatório recomeçou, embora toda minha atenção estivesse no meu marido.

—Já chega! Isso é entre mim e Alice.

Minha família se entreolhou e com certa dificuldade, deixaram a cozinha. Jacob não deixou o cômodo, permaneceu na mesma posição defensora. Jasper torceu o rosto numa careta que não consegui identificar, mas não pediu que o lobo saísse. Já intuía o que aconteceria a seguir, de qualquer jeito. Puxei o cabelo para trás numa falha tentativa de tirar aquela sensação do meu corpo. Uma onda confusa se propagava dentro de mim — sentimentos tão contraditórios quanto a situação que estávamos vivendo. Olhei para Jacob, mas ele encarava meu marido, dois homens disputando a mesma mulher.

—Jazz, eu... Não sei o que dizer.

Ele me olhava com... compaixão, talvez? As lágrimas inexistentes estavam presas em minha garganta e meus soluços eram audíveis. Jacob esticou um braço até me alcançar, uma medida protetiva, apoio; conforto. E em seguida um rosnado se fez ouvir, meu marido — ou seria ex? — desaprovando aquele tipo de contato.

—Alice, eu mudei por você. Passei mais de cinquenta anos esperando por alguém que nem sabia se viria. Nós construímos uma vida juntos, somos felizes juntos. O que esse... lobo pode te oferecer?

O rosnado baixo e ameaçador de Jacob não fez com que Jasper desviasse o olhar ou retirasse suas palavras. O que ele poderia me oferecer? Nenhum de nós poderia responder aquela pergunta, nenhuma previsão poderia escrever o que nos aconteceria. Aquele tipo de sentimento — o que pode matar — não acontecia o tempo todo, inimigos não se tornavam amantes. Nosso futuro não era certo.

—Eu não sei, Jazz.

—Eles vão te matar, Alice.

Eu sei, quis responder. É claro que eles iam querer nos matar. Qualquer um que soubesse da nossa traição iria nos caçar e matar para dar o exemplo, para impedir que aquilo acontecesse novamente. A decepção estava lá no fundo de seus olhos amarelos — olhos antes tão sangrentos, mas que forcei a se tornar caramelos e ele assim permitiu. Por mim. Todos os anos que dedicamos ao nosso amor pareciam ter sido jogados no lixo. Não era assim, mas... Não havia um jeito diferente: aquela era a hora. Eu teria que fazer uma escolha. Era mais que simplesmente escolher um parceiro, era uma escolha estendida também à minha família que eu nunca mais veria, à matilha e tribo dele que ficariam para trás. Muito mais do que apenas nós, mais do que, talvez, tivéssemos pesado na hora do tesão.

Encarei os olhos castanhos de Jake — um marrom quente e cremoso, humano acima de tudo — procurando um indicio, uma gota que fosse de dúvida ou arrependimento. Não havia nem um e nem outro. Apesar de todo meu medo de ser perseguida pelos Volturi, o medo de que um dia Jacob encontrasse alguém melhor do que eu; naquela noite fugi só com a roupa do corpo. Eu sabia de tudo que estava abrindo mão: uma eternidade segura, minha família, o crescimento de meu sobrinho... Nada poderia mudar o que eu sentia. Aquela sensação de poder tocar o céu com ele. Fugimos sem saber o que o futuro poderia nos oferecer, de qualquer jeito não precisávamos saber. Tínhamos a certeza do que sentíamos um pelo outro e aquilo era o suficiente. Pelo menos para nos amarmos até quando a eternidade nos quisesse.

FIM


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Notas finais do capítulo

Capítulo editado 16/07/2018



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