Eu não compreendi, ou por algum motivo eu não quis entender a resposta de Haruhi...

"Eu...aceito"

Depois disso, minha única lembrança é dela andando até o carro com aquele sujeito...

Nós voltamos pra casa. Todos pareciam agir normalmente. Quanto a mim? Não sei. Não vi graça nos jogos, comida ou qualquer coisa. Tudo estava perdendo a cor. Eu estava preocupado. Repentinamente, a varanda da frente da casa se tornou meu lugar favorito. Mas nem a visão magnífica proporcionada pelo céu estrelado do campo me acalmou...No que eu estava pensando? Apesar do sentindo duplo dessa frase, a verdade era única: Haruhi...

Toda meu orgulho idiota começou a desmoronar. Eu não acreditava que Haruhi tinha aceitado. Toda aquela história dela chutar uns mil caras fazia sentido agora. Ela nunca recusou ninguém...

Só de pensar em Haruhi com aquele imbecil eu já começava a passar mal. O que eles estariam fazendo? Droga, droga...E essa decepção que me acometia...

Conclusão? Eu tinha que chegar a uma. Mas a essa altura já era óbvio. Uma bomba caiu na minha cabeça. Não faço ideia de quando isso começou exatamente, mas eu estava ou era... apaixonado por Suzumiya Haruhi?. Toda essa vontade de procurar ela, de querer estar com ela, de matar aquele cara...Não podia ser outra coisa...Minha confiança desmotivada sobre algo assim nunca acontecer apenas reforçava o quanto eu fui um idiota...Uma fria chuva de melancolia cairia bem nesse momento...

Enquanto eu estava na minha seção de auto-tortura, Kojiro apareceu da forma inoportuna de sempre...

"Deixar a garota de quem se gosta ser levada por outro...uma estratégia arriscada, eu nunca teria tentando essa..." - Não respondi. Eu já tinha problemas suficientes no momento. "Eu vou rezar por você, pois aquele cara era bem boa pinta..." Kojiro se aproveitou para esfregar na minha cara um pouco do azedume daquele instante... "Eu vou subir pra bancar o anfitrião com o resto do pessoal, não precisa se preocupar em voltar logo, pode curtir sua desilusão tranquilamente..."

Eu não faço ideia de por quanto tempo eu esperei, mas cada mínimo movimento que era alcançado por minha visão, mexia com minhas esperanças. Após um intervalo, eu a vi...Haruhi voltou a pé. Meu cérebro quis me enganar com teorias sobre o fim daquele passeio, mas eu fui tomado por uma espécie de senso de responsabilidade hipócrita...

"Onde você estava?" Perguntei de maneira extremamente séria.

"Pra que você quer saber?" Ela parecia surpresa com minha pergunta, mas irritada ao mesmo tempo. Tentando me ignorar, ela começou a andar em direção a casa...Eu a segurei pelo braço...

"Você está sob a minha responsabilidade nessa viagem, você não pode sair por aí sem avisar nada..." Alguém acredita nesse amontoado de besteiras?

"Que chatice! Você é o que meu pra me ter sob sua responsabilidade?" Fiz o correto, me calei diante do peso da verdade...Ela então me analisou e pareceu desistir após suspirar... "Se eu preciso te contar isso pra poder entrar e descansar, então ouça...Eu saí com aquele cara..." Meu sangue começou a ferver só de ouvir aquelas palavras... "Mas ele era um idiota como todos os outros...depois de uma hora, eu chutei ele...mas como estava na cidade decidi explorar um pouco e comprar algumas coisas..." A sacola na mão dela provava isso. "Posso ir agora?"

"P-pode, mas nunca mais faça isso..." Nonsense. Eu a soltei...Por dentro, eu estava radiante com a notícia...Mas claro que não podia demonstrar isso agora...

Ela foi pra dentro da casa. E eu fiquei um tempo a mais lá fora, refletindo sobre tudo. Qual era o próximo passo? Eu já reconheci que gosto de Haruhi, talvez até mais que isso...Meus pensamentos foram interrompidos pelo ranger do teto da residência. Kojiro, apareceu no parapeito do telhado...

"Fantástico primo...você se salvou hein! Esse ataque de ciúmes inesperado com certeza deve ter amolecido até Haruhi-chan...E agora vai para de bancar o inocente?" Questionou o bisbilhoteiro.

"Como posso saber se você está certo sobre Haruhi gostar de mim?" Perguntei um pouco constrangido...

"Essa é fácil, amanhã dê a devida atenção pra ela e você vai enxergar o que até um cego pode ver. De qualquer forma, você a conhece melhor que eu e vai saber qual a melhor maneira de aborda-la."

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No dia seguinte, acordei como se tivesse ressuscitado. Não se enganem, ser ousado não era a melhor definição para minha pessoa, mas eu não era um tímido que ia se entregar as fraquezas e ficar sem testar Haruhi...

Kojiro parecia estar bastante enérgico também...

"Tudo bem cambada! Hoje iremos ter um dia completo de passeios! Primeiro vamos ao zoológico da cidade. Depois visitaremos o museu. Em terceiro lugar almoçaremos no melhor restaurante desse lugarejo, por minha conta claro! Em seguida, praia, praia, praia e mais praia! De noite, vamos à feira do verão que fica no centro da cidade."

Provavelmente esse era o modo Kojiro de me ajudar, por isso, resolvi aproveitar a oportunidade.

Após o café da manhã, nos saímos no carro grande que minha tia possuía e logo chegamos ao zoológico. Eu não estava tão interessado em ver os bichos. Apenas um certo alguém chamava minha atenção...

Aproximei-me dela lentamente, enquanto ela observava alguns macacos sozinha...

"Então Haruhi, alguma coisa interessante com esses macacos?"

"Acho que não..." Ela parecia estar um pouco chateada. Talvez por causa de ontem...

"Você quer algodão doce?" Quanta ousadia da minha parte não? Pergunto-me por que estou agindo como um idiota nesse momento...

"Onde está ele?"

"Eu vou comprar é claro..." Ela me olhou com um pouco de desconfiança...

"T-tudo bem" Por que só percebi isso agora? Toda vez que Haruhi falava algo com esse tipo de irritação, ficava óbvia a frustração dela com seu embaraço...

Depois disso, fomos para o museu. Lá eu fiquei colado em Haruhi durante todo o tempo, enquanto o restante fingia estar sempre interessado em coisas diferentes...Mas não fiz muito progresso nesse tempo. Em determinado momento, após ver uma obra do período, ela começou a me dar uma lição de história sobre a era Taisho...

"O sistema politico bipartidário que havia sendo desenvolvido no Japão desde a virada do século finalmente amadureceu depois da Primeira Guerra Mundial, originando o apelido ao período, "Democracia Taisho". Em 1918, Hara Takashi, um protegido de Saionji e uma pessoa de muita influência nos gabinetes Seiyukai do pré-guerra, tornou-se o primeiro cidadão comum a servir como Primeiro Ministro. Ele aproveitou-se de seus relacionamentos de longo prazo no governo, ganhou o apoio do genro sobrevivente e da Câmara dos Iguais e trouxe ao seu gabinete como Ministro do Exército Tanaka Giichi, que tinha mais apreço às relações civil-militares amistosas do que seus antecessores... - Eu parecia estar prestando atenção, mas na verdade, meu desinteresse foi notável... "Por que você está me olhando desse jeito? Eu falei alguma coisa errada?"

"N-não" Não sei, mas o que veio a seguir pareceu uma boa ideia naquele momento... "Você está bonita..." Isso sim era ousadia, mas tentei soar natural. Haruhi ficou muda. Ela começou a sorrir nervosamente sem saber o que falar ainda. Essa era mais uma peça do quebra-cabeças que eu queria montar...

"Idiota" Resposta típica, mas se alguém prestasse bastante atenção, saberia que ela estava contente com o que tinha ouvido...

Após isso, fomos almoçar no famigerado restaurante indicado por Kojiro. Era um lugar bem agradável e que possuía vista para o mar. Apesar da simplicidade da arrumação, a comida era realmente muito boa. Durante o almoço, senti Haruhi me fitando vez ou outra. Resolvi participar também, porém, eu joguei de outra maneira. Quando eu percebi que ela me observou novamente, eu a encarei diretamente sorrindo. O resultado? Ela virou o rosto e pareceu estar incomodada. Aproveitei pra levar aquele joguinho mais longe. Eu tomei a iniciativa de ficar olhando pra ela vez ou outra. Haruhi ficava nervosa com algo assim? Pra falar a verdade, eu achei que ela estava bem bonitinha daquele jeito. Mas ficou nisso...

Depois de descansarmos um pouco, fomos à praia. Ficamos na parte calma. Eu já tinha algumas pistas sobre Haruhi gostar de mim, mas eu estava ficando um pouco frustrado com a falta de progresso...

"Haruhi-chan é páreo duro...Você precisa ser mais agressivo...Eu tive uma ideia depois de conversar com o Izumi-chan..." Por favor, os planos de Koizumi são os piores... "Parece que Haruhi-chan gosta de histórias misteriosas né? Use essa desculpa, invente qualquer coisa, diga que eu contei pra você, por exemplo, e saia com ela uma hora dessas, só vocês dois..."

Por mais contrariado que eu estivesse por ter que aceitar uma sugestão dessa dupla, não era uma má ideia afinal. Haruhi era realmente difícil. Eu tinha que tentar algo assim...

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Naquela noite, após a feira, todos foram dormir. Eu não consegui, pois tinha um plano. Na verdade, um princípio de plano. O resto teria que sair no improviso...

Depois de me certificar de que todos haviam dormido, eu invadi o quarto de Haruhi. Por favor, não venham com ideias errôneas, eu não ia fazer algo acima do ousado. De qualquer forma, eu acordei Haruhi, que claro se assustou, mas não teve nenhuma reação exagerada:

"O que você está fazendo aqui?"

"Eu estava conversando com Kojiro e ele me falou sobre pessoas terem avistado objetos estranhos no céu, próximo à praia, mas apenas a essa hora da noite. Pensei que você poderia se interessar..."

"É claro que sim, eu vou acordar os outros e podemos procurar..." Ela falou com grande entusiasmo.

"N-não, vamos só nos dois...acho que muita gente iria chamar atenção" Menti...

"Ah é claro, bem pensado" Haruhi, você não pode ser tão inocente...

Independente das razões, ela se vestiu enquanto eu ficava virado para a janela e assim saímos para nossa busca sabidamente infrutífera...

Eu comecei a ficar nervoso enquanto caminhávamos na direção da praia. Eu sei que não era tudo ou nada, mas eu não queria ficar decepcionado...Por isso, com um movimento brusco eu segurei uma das mãos de Haruhi. Ela me olhou com alguma preocupação...

"É por aqui..." Falei sem encara-la.

Qual das mãos suavam naquele instante? Eu não sei responder, mas nós chegamos a uma clareira que dava pra praia e ficava no topo de uma pequena subida. Podíamos ver o mar e suas ondas lá embaixo. Em cima das nossas cabeças o manto estrelado se estendia de maneira poética. No fim das contas foi uma boa escolha de lugar. Nós ficamos um tempo observando a paisagem. Eu ainda segurava a mão dela firmemente...

"O que deu em você hoje? Você anda tão estranho..." Ela perguntou suspeitosamente.

"Nada demais..."

"Qual é Kyon? Eu sei que você não é a pessoa mais animada que conheço quando se trata de buscar mistérios..."

"Talvez eu não seja, mas eu estava com humor pra isso hoje..."

Nesse momento eu me soltei dela e sentei na beirada do morro. Eu me afastei um pouco convidando ela para me acompanhar...

Ela se assentou e ficou fitando o céu. Eu não me concentrava em mais nada, ela estava tão perto...Em outro movimento arriscado eu coloquei um dos braços em volta dela...

"K-Kyon?" Ela perguntou um pouco surpresa...

Eu precisava falar mais alguma coisa? Não, com Haruhi era melhor ser proativo...

Eu a encarei profundamente...era como se eu tentasse transmitir minha mensagem oculta...Com minha outra mão eu segurei a dela...Antes que ela tentasse protestar eu me aproximei com alguma convicção...

A essa altura Haruhi, já sabia muito bem qual era minha intenção, por isso, se ela não quisesse fazer aquilo, era hora de dizer...Para minha admiração, ela fechou os olhos com força e se posicionou esperando o que eu faria. Ah o rosto irritado de sempre...dessa vez ele estava um tanto mais suave...Eu sorri um pouco e avancei...Dessa forma, eu pressionei meus lábios contra o dela...

Descrição? Primeiro uma espécie de estranheza, mas assim que ela começou a compartilhar das minhas ações, notei o quanto seus lábios eram macios. Se fosse para comparar com algo, acho que casca de pêssego seria algo próximo. Depois, nós avançamos mais um pouco e, eu não faço ideia do que era aquele gosto, pois eu não tinha tanta experiência com algo assim, mas em resumo, era o sabor de algo que aguçava os sentidos. Estranha felicidade e calor se espalhavam dentro de mim. A parte disso, nossas mãos começaram a procurar outros lugares pra explorar...e aquele lugar que estava quente, foi ficando mais quente, mais quente, mais quente...Eu preciso mesmo continuar a partir daqui? Eu estou brincando, nós não íamos tão longe assim, não é?...

Quando o nosso momento acabou...

"Qual o significado disso?" Haruhi demandou e, embora ela parecesse estar brava, seu sorriso escondido demonstrava o contrário.

Eu realmente não sou um fã da seriedade estúpida, muito menos das brincadeiras imbecis, mas optei um pouco mais pela segunda via...

"Eu acho que estou doente e..." Ela arregalou os olhos em descrença... "Acho que é uma doença mental, mas provavelmente temporária..." Ela então apresentou o melhor dos seus sorrisos...

"Kyon idiota, espero que não seja temporária demais, pois eu estou...c-contagiada também" Haruhi sendo Haruhi. O que mais eu podia esperar?

Assim, nós ficamos mais um pouco naquele lugar, apenas apreciando a presença um do outro...

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No dia seguinte, eu acordei um pouco mais cedo. Kojiro estava na cozinha e eu fui cumprimenta-lo...

"Yo Kojiro" Eu falei enquanto ele ainda estava de costas.

Quando ele se virou, pude perceber que ele estava...com lágrimas nos olhos?

"Ah nosso pequeno Kyon está crescendo tanto..." Ele falou encenando.

"Você estava nos espionando?" Falei com raiva e um pouco de constrangimento...

"Claro que sim! Vocês estão sob minha responsabilidade. Quem sabe o que vocês fariam sozinhos àquela hora da noite" Pra que eu fui me engajar nessa conversa? "Aliás, que tipo de declaração de amor moderna é aquela? Eu não entendo vocês, mas parece que deu certo, por isso tudo bem..." Quando pensei que havia acabado, ele colocou uma expressão divertida no rosto "Toma primo" Ele me deu uma caixa quadrada embrulhada em papel de presente. Quando eu abri haviam algumas embalagens quadradas "Você sabe...eu não quero ser responsabilizado por algum primo de segundo grau que venha a surgir durante o restante do verão..."

...