O anjo e o Condenado escrita por Sissy Strit


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Hey galera! um tempão desaparecida né?
Mas voltei com um capítulo um pouco diferente... Que tal um pouco mais da visão de um outro personagem? Espero que gostem!



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Sozinho

Frio. Medo. O som das rodas batendo nos buracos da estrada. A escuridão lá fora. Silêncio.

Eu ainda estava confuso com tudo que tinha acontecido. Não sabia ao certo se estava sonhando ou se era verdade. Só sabia com certeza que minha angústia era bem real.

Esperei por algum ruído lá fora. Tudo estava tão escuro que não fazia a mínima ideia de onde estava. Finalmente uma luz tremeluzente foi se aproximando da porta e alguém a abriu.

— Já chegamos senhor. Pode sair agora. – um dos homens que tinha me recebido no castelo estava parado junto à portinhola aberta da carruagem. Eu me lembrava dele, mas não recordava seu nome.

Meus olhos foram se acostumando lentamente e percebi que estava em casa. A varanda erguia-se bem à minha frente. Saí meio cambaleante da carruagem e permaneci por alguns instantes parado.

Não era um sonho. Nem um pesadelo. Era tudo real.

— Eu sinto muito por tudo que aconteceu. – o criado ao meu lado parecia realmente desconfortável com aquela situação. Ele falava baixo e suas mãos remexiam uma na outra. – Não era para ter sido dessa forma. Espero que o senhor possa nos perdoar por isso.

Apenas balancei a cabeça sendo incapaz de pronunciar uma palavra e caminhei hesitante até a varanda. Ele continuou ao meu lado como se esperasse o momento em que eu iria desabar.

A porta da frente estava aberta.

“Pobre Lizzie. Provavelmente tinha saído às pressas e deixou a casa como estava.”

Com isso, me dei conta que não fazia ideia de como ela tinha ido parar no castelo. Como tinha descoberto que eu estava lá?

— Como... como minha filha chegou até mim? Quero dizer, como ela descobriu onde eu estava?

— Não sei, senhor. – disse com um ar meio triste sem olhar diretamente para mim. – Apenas sei que ela chegou junto com um cachorro e um cavalo, encontramos eles junto ao portão e imaginamos que fossem dela.

Sim, só podia ser isso. Marfy e Brum a levaram até lá. Sempre soube que os dois eram muito espertos, mas por causa dessa esperteza Lizzie estava presa.

Atrás de mim o criado falou em uma voz mais baixa:

— Preciso ir agora. Mais uma vez eu peço que nos perdoe por tudo isso, principalmente meu patrão.

Fiquei ali parado, meio perdido sem saber o que fazer. Não ouvi a carruagem ir embora, apenas percebi que estava prestes a desabar.

Entrei e me deixei cair no primeiro sofá que apareceu na minha frente.

—-----

Acordei com o sol batendo na cara. Meu corpo todo doía, sentia minha garganta realmente inflamada e minha testa pegando fogo.

“Que ótimo! Agora estou doente e sem nenhuma chance de ir salvar minha filha!”

Eu precisava tirá-la daquele lugar horrível, das mãos daquele monstro! Mas como? Não podia nem ao menos levantar direito. Estava fraco e me sentindo derrotado. Lizzie era tudo o que eu tinha.

A morte de Ann, minha esposa, foi como se tivessem arrancado metade de mim, ainda sentia muita falta. Nunca mais as coisas foram as mesmas depois que ela se foi. Mas eu ainda tinha minha pequena princesa comigo e era nela em quem eu encontrava forças.

Lizzie sempre foi uma companheira inseparável. Sempre me fazia sorrir quando estava triste e nunca me deixava desanimar. Queria tanto ganhar aquele prêmio da feira para que ela tivesse orgulho do seu velho pai e agora parecia tudo tão distante.

Eu não podia deixar que tirassem minha filha de mim desse jeito!

— Com licença, Sr. Peter. Posso entrar?

Emma Wallten, a filha do padeiro, estava parada na porta olhando meio preocupada para mim. Duas vezes por semana ela vinha vender pão e alguns bolos.

— Olá Emma. Como vai? Entre! – endireitei-me no sofá tentando parecer bem.

— Estou bem, obrigada. – ela disse entrando. – Vim um pouco mais cedo hoje. Como o sr. Carter foi para Mambfing eu não precisei passar na biblioteca antes. E o senhor, como vai? Não me parece muito bem hoje. Onde está Lizzie?

— Hum... Eu estou bem. Lizzie foi junto com o Sr. Carter. – menti e para meu azar, no mesmo instante, tive um acesso de tosse.

Emma largou o tabuleiro de bolos na mesa junto à escada e correu para a cozinha. Voltou com um copo de água.

— Aqui, Sr. Peter. Beba um pouco. O senhor não parece nada bem mesmo. – e colocou a mão em minha testa. – Minha nossa! Está ardendo em febre!

— Eu estou bem. Não é nada. – garanti a ela.

— Não discuta, sr. Peter! Vou agora mesmo chamar o Sr. Dimitry. Ele saberá o que fazer com o senhor.

Não tive tempo para discutir. A moça saiu correndo para a aldeia com a promessa de que traria o boticário junto com ela.

Quando voltou trazendo o velho Dimitry, ambos constataram que eu precisaria ficar um bom tempo de cama. Como estava sozinho, Emma se ofereceu para ficar cuidando de mim. Relutei um pouco com a ideia. Não queria incomodar ninguém, mas acabei aceitando. Precisava melhorar logo para ir atrás de Lizzie.

Passei o dia todo na cama. Emma fez canja de galinha e ficou comigo durante toda a tarde. Era uma boa moça apesar de ser meio impertinente às vezes. Ela e Lizzie não conversavam muito. Sempre desconfiei que Emma gostasse de Jasper e por isso tinha ciúmes de minha filha. Se ela soubesse ao menos o quanto Lizzie detestava ele.

O dia se arrastou lentamente. À noite, Emma voltou para casa e fiquei sozinho de volta. Não conseguia parar de pensar na minha filha. O que estaria acontecendo com ela? Coisas terríveis passavam em minha mente. Era torturante não poder fazer nada. Ter que ficar de cama quando o certo a fazer seria ir atrás dela.

Pouco depois que Emma tinha ido embora, escutei batidas levas na porta da frente. Quem poderia ser numa hora dessas?

Levantei-me meio cambaleante, desci as escadas e fui até a porta. A abri e não havia mais ninguém do lado de fora. “Que estranho.” Dei mais uma olhada para fora e não vi ninguém.

Quando voltei para dentro, reparei que havia uma carta no chão perto da entrada. Alguém a havia enfiado por debaixo da porta e foi embora.

Ajuntei a carta do chão e imediatamente reconheci aquela caligrafia:

"Para Sr. Schmied"

Era uma carta de Lizzie! Eu nem podia acreditar!

Abri o selo com as mãos tremendo. A carta não era longa, nela Lizzie dizia que estava tudo bem e que não estava mais nas celas da torre. Comentou alguma coisa também sobre jardins e de como lá tudo era muito bonito. Não mencionou nenhuma vez o monstro.

Por mais que eu quisesse acreditar, não conseguia imaginar que estivesse tudo realmente bem. Era muito estranho. Talvez o monstro a tivesse obrigado a me escrever para me manter longe de lá por algum tempo.

Para a sorte dele eu ficaria mesmo ainda um tempo longe.

No final da carta, Lizzie dizia que eu poderia escrever e deixar a carta na porta de casa. Segundo ela, algum dos criados iria pegar e lhe entregaria.

Ainda meio desconfiado fui até o quarto, peguei uma folha de papel e me sentei na escrivaninha. Não sabia direito o que escrever então fui direto e sem rodeios.

"Querida filha,

Recebi a sua carta, como já deve imaginar. Está realmente tudo bem? Eu não consigo imaginar que esteja tudo bem mesmo.

E aquele monstro? Você não disse nada dele em sua carta. Tem visto ele?

Estou muito preocupado com você, filha. Espero que esteja realmente bem. Logo irei buscá-la. Não se preocupe. Só não vou agora mesmo, pois estou um pouco fraco e a srta. Emma não me deixaria sair de jeito nenhum. Ela acha que você está viajando com o Sr. Carter e está cuidando de mim em sua ausência. Não é nada para se preocupar. Só um pequeno resfriado.

Logo irei te tirar daí.

De seu pai que muito te ama,

Peter"

Selei a carta e a levei até a porta. Novamente olhei para todos os lados, procurando ver se havia alguém por ali. Não vi ninguém.

Deixei a carta no chão. Puxei a ponta do capacho para que ela não voasse com o vento e rezei para que chegasse às mãos de minha filha.


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Notas finais do capítulo

Para compensar a demora, segue mais um capítulo fresquinho!



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