Pov. Lilith

Um fato sobre mim: eu ODEIO os seres humanos! Sua fragilidade, seus sentimentos, suas limitações e tudo que fui obrigada a conhecer enquanto vivo no corpo de Liliam Stark. Só que uma coisa eu precisava reconhecer que Liliam Stark não era fraca, o que era um terrível problema pra mim. O único momento em que eu era capaz de domina-la era em seu momento de restauração de energia, para uma língua humana, isso se resume em dormir, o momento em que seu corpo restaura a energia gasta e você acaba descansando. O meu problema era esse! Aquela humana inútil se recusa a dormir mais do que duas horas, isso quando não passa a noite em claro pensando no seu grande amor, Steve Rogers. Só de pensar nele meu estomago – quer dizer, o estomago dela, ainda – se revirou, claro que era pelo meu nojo, e não importava o quanto tentava evitar qualquer meio de acorda-la, mas não dava pra impedir, o ódio falava mais alto. Mesmo longe, aquele herói infeliz destruía meus planos, entrando na cabeça dela e a deixando idiota, tudo porque ela sente ama-lo. Revirei os olhos sentindo irritação de novo, eu tentava impedir essas reações, porque cada movimento que fizesse ela iria poderia sair do sonho dela e assistir e minha conexão com Berr iria pelos “ares” (uma expressão ridícula que acabei adaptando a dizer).

Por que será que ele estava demorando tanto? Ainda me fazendo esperar em Jotunheim; a terra dos Gigantes de Gelo, o lugar mais misterioso e frio que já conheci. Cheguei a visitar alguém aqui uma vez, num tempo bem distante, e tenho certeza que era bem mais “movimentado” do que antes. E o ódio aos seres - humanos voltou, era tão difícil criar um portal para os outros mundos? Por que não paravam de brigar entre si e resolvessem descobrir as ameaças que poderiam sofrer? Eles realmente acham que estão sozinhos e que nada e ninguém poderão destruí-los. Grandes idiotas. Era por isso que eles sempre seriam menosprezados pelo resto do universo, porque eles nunca passariam de hipócritas preguiçosos.

–Devo dizer que essa humana tem uma aparência agradável. – Comentou uma voz grossa a minhas costas. Deparei-me com um gigante de gelo ao me virar, só que não importava sua aparecia, Berr seria meu informante em qualquer corpo que estivesse.

–Eu já estava achando que iria me esperar a noite toda. – Tirei a toca que protegia minha identidade e arrumei os cachos por cima do capuz.

–Jamais poderia fazer isso com a senhora, vossa majestade. - Ainda era estranho ver um Gigante de Gelo se curvando a mim, só que dessa vez consegui ficar com a mesma expressão vazia.

–Devo reconhecer que estou impressionada com seu novo corpo, um Gigante de Gelo nunca é fácil de dominar.

–Encontrei esse aqui quase morto, não deu muito tempo de seu dono pensar em resistir.

–Aqui está mais sombrio do que antes. O que aconteceu? - Olhei ao redor me certificando que ninguém estivesse escutando nossa conversar.

–Você não soube? – Ele se sentou em uma pedra de gelo que seria preciso eu escalar para alcançar.

–Eu estou no corpo de uma humana patética, se eu soubesse de alguma coisa não estaria perguntado. – Falei entre dentes demonstrando minha raiva; os humanos gostam muito de demonstrar seus sentimentos com caretas e olhares, mesmo odiando, esse corpo já estava programado para ter esses tipos de reações.

–­ O deus Loki destruiu quase toda sua raça com a Bifrost. – Ele levantou as mãos com insegurança – Foi pelo isso que eu escutei.

–Achei que teria mais tempo. – Não demonstrei minha preocupação como meu rosto forçava a mostrar, antes de tudo eu sou uma rainha, e até mesmo nas piores crises você nunca pode mostrar desespero. - Onde ele está?

Berr estreitou os olhos para o lado e reprimiu a boca em vez de falar.

–Eu perguntei aonde ele esta? – Ao contrário dos humanos, não sentia que gritar ajudava muita coisa, eu só iria deixa-lo assustado e isso atrapalharia nossa comunicação. Aproximei-me dele, nossa diferença de altura chegava a ser ofensiva, e o olhei exigindo que me respondesse.

–Pelo que descobrimos, ele se aliou aos chitauris e... – De novo vinha aquela hesitação na voz dele. Só que eu não o forcei a responder, eu já sabia a resposta. Virei-me para que não mostrasse meu desespero ao meu servo, essa era mais uma razão da lista interminável sobre meu ódio pelos humanos, eles tinham sentimentos demais para diferenciar. Primeiro veio o medo, o desespero, a fúria, a decepção, e por ultimo o terror. Consegui os controlar em segundos.

–Vossa majestade? Será o nosso fim? – Berr colocou suas grandes mãos em meu ombro, tive que reprimir o nojo que senti e substitui por um sorriso confiante.

–Eu nunca deixaria nada acontecer com vocês. – Me virei e ele se ajoelhou aos meus pés.

–Mas ainda pode acontecer algo com a senhora. Se a profecia se cumprir...

–Não se preocupe comigo, Berr, eu ainda sei me defender. – Coloquei a mão em seu rosto e fingi o olhar mais meigo que pude. – Liliam Stark tem protetores na Terra, pessoas que a querem viva tanto quanto eu, se eu estou segura é no corpo dela.

–A profecia não dizia que Loki iria matá-la? – Perguntou Berr confuso.

–Bem, talvez ele tente, porém duvido que ele consiga. A profecia não dizia que essa humana era tão forte, e nem que ela seria o ponto fraco dos heróis da Terra. Ao que me parece tudo mudou por causa de uma alteração no mundo humano, talvez ela também se altere pela profecia.

–Que alteração?

–A profecia disse que Liliam e Loki teriam um romance épico, mais fatalista e que ela não iria sobreviver disso. Só que um humano viveu mais do que deveria, e atravessou a linha do tempo e de sua própria profecia. Acabou que Liliam Stark se apaixonou perdidamente por esse humano, que alem de tudo é um protetor da Terra, e não consegue esquecê-lo. – Falei orgulhosa.

–Então ela não poderá se apaixonar por Loki já que conheceu seu amor verdadeiro. – Berr se levantou e sorriu confiante.

–Não se anime tanto. Liliam Stark pode não se apaixonar por Loki agora, mais a profecia não dizia sobre limitações. Eu tive que separar ela do seu amor verdadeiro porque ela estava ficando fraca, boa, e inconsequentemente me matando.

–Como um ser humana pode ser tão forte a ponto de não só não morrer, mais ainda sim controla-la uma força tão sobrenatural? – A pergunta que Berr fez era a pergunta que eu mesma fazia a cada minuto que passava presa naquele corpo. Liliam Stark não era um ser humano comum. Quando um corpo de qualquer ser vivo e possuído por alguém da minha espécie o dono do corpo morre interiormente e acabamos o tomando para nós. Na linguagem humana podem nós chamar de “sugadores de alma” ou “ladrão de corpos” porque tudo que fazemos é sobreviver a custas dos outros. A questão era Liliam Stark foi a primeira que sobreviveu a uma possessão, e a única capaz de aguentar toda minha força sem que o corpo exploda ou acaba morrendo. A minha única chance de sobreviver era engolindo todos os sentimentos ruins que ela produzia um modo de não me expulsar do seu corpo de vez, era a única chance que eu tinha para sobreviver a sua estranha força de vontade.

–Eu não sei. Gostaria de encontrar uma explicação, mas, Liliam Stark não é uma humana comum.

As dores começaram no meu coração e ficava difícil não gritar.

–Avise a todos que Lilith não ira morrer porque uma Vanir previu isso! – Disse respirando fundo e tentando manter a calma.

–Quem é Lilith? – Berr se aproximou confuso conforme eu me afastava dele.

–É o meu nome agora. – Eu gostava do jeito que Liliam, e todos aqueles que sabiam sobre minha existência, temia só de falar nele, e assim seria no resto do universo.

–Esse nome é bem forte. – Comentou com veneração. – Lilith!

Confirmei rapidamente enquanto a dor começava a me enlouquecer. Era sempre assim, quando conseguia dominar o corpo totalmente ela sempre me expulsava do controle, e acabou me transformando em um simples sangue suga de sua vida, totalmente dependente dela. Berr se aproximou tentando me ajudar e eu recusei sua ajuda, não gosto de Gigantes de Gelo e isso nunca vai mudar. A respiração voltou a oscilar, isso era sinal de que estava acordado.

–Rainha? – Perguntou melancólico.

Abri a boca para responder, mas nada saiu dela. A visão começou a turvar e já não tinha mais jeito, ela estava acordando. Tentei falar de novo e tudo que saiu dos meus lábios foi um grito, não meu obviamente, mais dela. Da vadia Liliam Stark.