Kuroko estava em seu quarto pensando na sua atual situação. Bem, se olhar por um lado, não era tão ruim. Só achava que estava apaixonado pelo seu amigo. Só isso.

Ah, quem ele queria enganar? Fazia algum tempo em que estava suspeitando desse sentimento, mas depois do ocorrido em seu aniversário a algum tempo atrás, tudo parecia mais forte. Se lembrava perfeitamente do passeio pelo parque enquanto tomavam sorvete e andavam de mãos dadas. Por Deus! Eles andaram de mãos dadas! Corava só de se lembrar do fato.

Agora, dois meses depois, se encontrava nessa situação. Apaixonado pela sua luz.

Se sentando na cama onde estava deitado todo esse tempo, olhou para o teto de seu quarto. Precisava fazer alguma coisa sobre isso. Talvez devesse falar com Kagami... Não! Se falasse com Kagami esse certamente iria rir da sua cara e pedir para que parasse de imaginar essas coisas. Com certeza estava perdido.

Se assustou quando seu celular começou a tocar em cima de seu criado mudo. Olhou para a tela. Era ele. Respirou fundo antes de atender.

–- Kuroko! – Sentiu seu coração disparar assim que ouviu a voz do outro lado da linha. - Tudo bem?

–-Tudo bem Kagami-kun, e com você? – Sua voz saiu levemente tremula e rezou para que o outro não tivesse percebido.

–- Aah, estou bem também. Bom, eu liguei para perguntar se você podia me emprestar aquele jogo que tinha te pedido esses dias.

–- Claro, você quer que eu o leve para você na escola amanhã? – Fazendo certo esforço se lembrou do jogo, tinham conversado sobre isso a algumas semanas atrás.

–-Bem, eu tinha pensado em ir pegar aí na sua casa, - Sua respiração falhou um momento. Só de imaginar Kagami entrando na sua casa lhe dava uma certa ansiedade estranha. – tudo bem para você se eu passar aí daqui a pouco?

–- Tudo bem. – Respondeu rápido demais. Droga, tinha que controlar a si mesmo.

–-Aah, então, hm, te vejo mais tarde.

–- Até Kagami-kun.

Desligando o aparelho olhou para a tela do mesmo. Ele tinha entendido bem? Em poucos minutos Kagami entraria na sua casa? Pensando com calma agora, mesmo sendo amigos a um certo tempo, Kagami nunca tinha vindo à sua casa antes, essa seria a primeira vez.

Ficou nervoso de repente. A poucos minutos o homem por quem estava apaixonado estaria na sua casa. Sua casa. E se ele não gostasse do tapete de boas vindas na entrada? Ou então das cortinas da sala? Se viu pensando nas mais variadas coisas que se fosse qualquer outra pessoa não pensaria. Riu sozinho de si mesmo, ora, deveria ficar mais preocupado em o que faria sobre aquele assunto do que a aparência da sua casa.

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Andando em direção ao banheiro, Kuroko acendeu a luz e se despiu. Ligou o chuveiro e deixou a água quente relaxar todos os seus músculos que estavam tensos até agora. Suspirou pesadamente. Ainda sentindo a água bater em suas costas, se viu pensando em Kagami, precisava urgentemente resolver o que faria com ele. Não podia fingir que estava tudo bem e não havia mudado nada entre eles. Bem, pelo menos de sua parte havia mudado alguma coisa, havia mudado e muito.

Seria melhor se confessar? Só de imaginar Kagami lhe dando um fora já ficava tenso novamente. Com toda certeza não aguentaria, demorou bastante para finalmente aceitar estar apaixonado por alguém, que além de ser um homem era seu amigo. Se isso abalasse a amizade entre eles não saberia o que fazer, não aguentaria ficar longe dele. Não dele.

Mas, também não conseguiria ficar sem fazer nada. Tinha que tentar! De repente, uma onda de coragem se apossou dele. Mesmo temendo acabar com a preciosa amizade deles, tendo em mente que os jogos e treinos também seriam afetados, teria que se confessar, e isso seria hoje.

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Já havia acabado o banho e se trocado, resolveu esperar pelo ruivo na sala. Estava meio inquieto com sua decisão, mas não voltaria atrás, iria até o fim com isso. Se levantou num pulo assustado com o som da campainha. Andou até parar em frente a porta e ajeitou sua roupa e seu cabelo. Com o pensamento bobo de que parecia uma menina apaixonada do colegial, finalmente abriu a porta.

Parado encostado no batente de sua porta estava Kagami. Usava uma roupa simples que mesmo assim lhe favorecia, mostrando todos os seus músculos provavelmente de anos de treinos de basquete. Com o coração batendo rápido se afastou um pouco da porta em um convite mudo para que o outro entrasse.

–- Então essa é a sua casa Kuroko? Ela é legal. – Não pode deixar de achar graça disso. Kagami definitivamente não era a pessoa mais sociável do mundo. Tinha percebido que ele se forçou a falar alguma coisa assim que entrou em sua casa, pelo menos não viu mentira em sua expressão. Ele estava sendo educado.

–-Obrigado. Enquanto eu pego o jogo você quer beber alguma coisa? – Perguntou enquanto ia na direção da cozinha.

–- Na verdade estou bem assim. Não precisa se preocupar.

Meio surpreso por Kagami não ter aceitado a bebida -mesmo não sendo algo de comer geralmente ele não recusava- mudou o rumo para seu quarto, acenou para o sofá com a cabeça indicando que Kagami poderia esperar por lá enquanto isso.

Subiu as escadas e entrou no seu quarto. Caminhou na direção da estante com seus jogos e alguns livros. Pegando o tal jogo se sentou na sua cama. Ok, seria agora. Precisa falar com ele antes que sua coragem fosse embora e ele perdesse essa chance. Estavam sozinhos e mesmo se houvesse alguma coisa errada, resolveriam tudo ali. Respirou fundo. Olhou para suas mãos que estavam segurando a capa do jogo e viu que a ponta de seus dedos estavam brancas de tanta força que estava colocando ao segurar.

Estava prestes a levantar mas levou um susto quando sentiu uma mão segurar seu ombro. Se virou assustado e avistou Kagami olhando para si de forma preocupada.

–- Kuroko, está tudo bem? Você demorou um pouco para quem só queria buscar um jogo, então pensei que tinha perdido e vim para te ajudar a procurar. Aí encontrei você parado olhando pro nada.

–-É que, bem, eu estava distraindo pensando... – Nesse momento ficou sem saber o que responder. Estava tão concentrado em ter coragem para descer naquela sala e falar tudo o que sentia que não percebeu que não estava mais sozinho no quarto.

–-Pensando no que? – Kagami tinha lhe perguntado enquanto se sentava ao seu lado na sua cama. Estavam tão perto que podia sentir o calor que o corpo ao lado do seu emanava. Aconchegante. Não foi assim que tinha planejado ser, mas já que acabou assim, deveria ir em frente com isso!

Olhando para o lado para encontrar os olhos da cor vinho o observando, as sobrancelhas de formato diferente e a franja lhe cobrindo parcialmente os olhos, respirou fundo novamente e começou:

–-Ka-Kagami-kun, eu tenho que te falar um coisa importante.. – Não pode terminar de falar. Foi pego de surpresa quando sentiu as mãos grandes, as mesmas que pegaram a sua naquele dia cor-de-rosa que não saia da sua cabeça, em sua nuca o puxando para então sentir os lábios do maior sendo pressionados pelos seus.

Arregalando os olhos pela surpresa, ficou sem reação. O que exatamente estava acontecendo ali? Kagami estava o beijando? Era isso mesmo que estava sentindo? Bem, seus lábios estavam sendo esmagados pelo os do maior, isso não tinha erro. Mas, por que? Por que estavam se beijando?

Assim como o encostar de lábios veio, ele sumiu. Olhando para a direção daquele que o surpreendeu, Kuroko procurou uma resposta com o olhar.

–-Eu-Eu... Aaaaaah! Me desculpe Kurokoo, mas eu não aguentava mais! Eu tinha que fazer isso, eu queria fazer isso! – Podia se notar que ele estava nervoso só pelo fato deste já ter se levantado da cama onde até então estava sentado e começar a andar de um lado para o outro. –Desde o dia do seu aniversário, do parque e tudo o mais eu.. Eu não sei o que está acontecendo comigo! Eu só fiz o que meus instintos falaram para eu fazer, me desculpe, esqueça isso e..

–-Não! – Entendendo rapidamente o que estava acontecendo, se levantou e ficou de frente para Kagami. – Kagami-kun, eu também estou me sentindo assim. Não consigo para de pensar em você. Eu também...quero fazer isso com você..

–-Kuroko? Você está falando sério? – Seus olhos se arregalaram.- Você não está bravo por eu ter te atacado daquele jeito? Quero dizer, não é normal um cara chegar no outro e o atacar assim porque além de-

Dessa vez ele foi surpreendido pela ação de Kuroko. Chegando perto o suficiente do ruivo, Kuroko colocou suas mãos uma de cada lado de seu rosto.

–-Kagami-kun. Eu gosto de você.- O azulado voltando a sentir aquela mesma coragem de antes, afagou o rosto do outro. – Eu realmente gosto de você.- Suas mãos ainda tremiam um pouco por conta da confissão. De fato se sentia mais seguro só de saber que Kagami também se sentia assim. Podia ver a expressão do outro mudar rapidamente de surpresa, entendimento, surpresa novamente e, por fim, aceitação.

–-Mesmo isso não sendo normal, somos dois caras e, além de sermos amigos e colegas de time, é estranhamente confortável. Acho que, bem, nós podemos fazer isso funcionar. Não é?

–-Sei que podemos. É estranho sim mas, eu não quero ser só seu amigo Kagami-kun. – Dava para perceber que tanto ele quanto Taiga estavam nervosos e de certo modo apreensivos com a situação. Mesmo assim não podia desistir. Tinha acabado de descobrir que não era o único confuso e com certos sentimentos entre eles. Ele sabia, sim, que estava apaixonado pelo ruivo. Desde que andaram de mãos dadas e passaram o dia juntos. Mas também sabia que um relacionamento era arriscado, novo demais.

Ainda incerto do que fazer, andou mais alguns passos em direção ao mais velho. A distância entre eles tinha diminuído consideravelmente agora, e a diferença de altura era bem evidente já que tinha que olhar para cima para continuar com o contato visual. Suas mãos que até então estavam na nuca deslizaram para os ombros. Kagami o olhou mais profundamente ainda. Dentro desse olhar ele podia sentir tudo o que se passava na cabeça do outro. Se sentia seguro agora que estava ali. Se antes ainda tinha dúvidas do seu sentimento, agora todas foram respondidas. Estava perdidamente apaixonado.

Nada nunca lhe pareceu tão certo quanto agora. E podia ler isso nos olhos avermelhados a sua frente também. Sentiu as mãos fortes pousarem delicadamente sobre sua cintura e fazerem um leve carinho ali. Juntou toda a coragem e certeza que tinha e juntou novamente seus lábios com os dele. Dessa vez ele podia sentir melhor a maciez destes, o jeito como se encaixavam perfeitamente. Foi um verdadeiro beijo, onde os pensamentos sumiram de sua cabeça e só conseguiu se concentrar nele. Só conseguia pensar naquele momento, se perdeu com vontade quando foi surpreendido com a língua de Kagami pedindo passagem e indo de encontro a sua. Indescritivelmente prazeroso.

Se separam depois de um tempo em busca de ar e Kuroko encostou a sua testa com a de Kagami.

–- Isso foi..incrível.

–-Sim. – Sorriu com o que ouviu. Apaixonado era pouco para o que estava sentindo.

–-Sabe, eu não queria nenhum jogo. Foi só uma desculpa para te ver. – Olhou para ele e viu que estava corado depois de confessar isso. Não pode deixar de rir. Achava uma graça quando ele ficava corado, o que raramente acontecia.

–- E eu planejava conversar sobre isso –apontou para eles- com você hoje também.

Riram juntos e se sentaram na cama um do lado do outro. Se arrepiou quando Kagami entrelaçou suas mãos. Soltou uma risada gostosa atraindo a atenção do outro. Olhou para ele e balançou a cabeça.

–- Não é nada, é que desde que andamos de mãos dadas no meu aniversário eu não consigo para de pensar nisso. – Apertou com mais força a sua mão e levou em direção aos lábios dando um beijo rápido nelas.

–-Kuroko, eu ainda não sei o que vamos fazer, mas, eu quero ficar com você.

–- Vamos dar um jeito, nós sempre damos.

–-Eu ainda estou surpreso de você me mostrar essa expressão Kuroko. –Corou com esse comentário. Quer dizer que estava tão na cara assim que estava feliz? Ou podia dizer vergonha? Aaah, por que ele tinha que reparar justo nesses detalhes? – Mas posso dizer que você fica fofo assim. Queria que me mostrasse mais de suas expressões..

–-Bakagami! Não fique reparando nessas coisas, é embaraçoso.

Kagami riu da atitude infantil do azulado e deu lhe um beijo na bochecha.

Definitivamente estava sem graça. Mas no fundo estava satisfeito. Acordou hoje de manhã com incertezas e sentimentos não correspondidos. Perdeu a conta de quantas vezes se xingou por sentir isso e pensou que não tinha respostas para ter ficado em uma situação dessas.

Nunca poderia imaginar que seu dia acabaria assim. Descobriu que Kagami também tinha sentimentos por si e ainda se beijaram! Se não estivesse de mãos dadas com ele agora poderia afirmar que tudo não passara de um sonho. Mas a mão forte e acolhedora junto a sua lembrava que tudo foi real e estava acontecendo.

Estava muito feliz com a sua situação. De agora em diante lutaria para conseguir fazer um relacionamento dar certo entre eles e aproveitaria cada minuto ao seu lado. No final tudo deu certo. Claro que ainda tinham muita coisas para resolver, mas no momento só queria aproveitar a presença ao lado de si e curtir o momento.

Afinal, amava Taiga Kagami.