É uma multidão. Todos passam por mim, porém ninguém me vê. Avisto uma luz, forte como a do sol, que queima meus olhos e me impede de olhar além. Sinto a luz me sugando para fora deste mundo estranho, onde mesmo cercado por muitos, ainda me sinto sozinho.

Abro os olhos lentamente e vejo um par de íris azuis claro me observando atentamente. A linda garota sorri ao me olhar e eu lembro perfeitamente dela. Cada detalhe daquele rosto delicado me traz tamanho amor e admiração. Essa é a pessoa pela qual eu morreria: Kate.

- Finalmente! Você acordou! – Kate beijou meu rosto com os olhos marejados – Você não faz ideia do quanto eu senti sua falta, Blake.

Sorri observando seus cabelos escuros e seu rosto pálido, levemente corado por culpa do choro.

- Eu te amo, Kate. – Minha voz não passava de um sussurro.

- Eu também te amo, Blake.

Nesse momento, minha mãe e minha irmã mais velha, Gwen, passam pela porta correndo em minha direção.

- Oh,meu bebê! Você acordou! Depois de 6 meses, você finalmente acordou! – Minha mãe gritou, e eu me impressionei. Fazia tanto tempo assim desde o acidente?

- Blake, que bom que você está bem! – Gwen bagunçou os meus cabelos e sorriu, com os olhos vermelhos e inchados. Deve ter chorado.

Sorri para as duas, porém notei que as duas não cumprimentaram Kate. Ela me olhou pesarosa e saiu, sem dizer uma palavra sequer.

- Mamãe, o que houve com a Kate? – minha mãe pareceu se assustar e adquiriu uma expressão cautelosa – Mamãe?

Ela e Gwen trocaram um olhar que eu não entendi e Gwen voltou-se para mim.

- Olha maninho. Por que você não descansa um pouco? Depois de 6 meses em coma, eu acho que já foram muitas emoções por um dia. O médico daqui a pouco virá examinar você.

Observei as duas saírem da sala e fiquei pensando o porquê de elas não terem falado sobre a Kate. Algo aconteceu durante esse tempo, e eu tenho que descobrir o que.

Um homem grisalho, de jaleco branco entrou no quarto. Ele tinha uma expressão cansada. Provavelmente ficou de plantão esta noite e está louco para ir pra casa ver os filhos e a mulher. Ele pega a prancheta presa á cama e a lê atentamente. Após poucos minutos que para mim pareceram horas, ele olha pra mim e sorri de forma serena.

- Bom, Sr. Halley. Você já está aqui a bastante tempo, não é? – Ele larga a prancheta no colchão e se aproxima de mim, prendendo um medidor de pressão ao meu braço – Acidente de carro, coma profundo durante 6 meses e um caso de hemorragia interna que quase te matou. – ele fala de maneira cautelosa, parece que ele não quer me assustar – Você tem sorte, garoto. A pressão está boa. Vamos fazer uma bateria de exames mais tarde. Se estiver tudo certo, dentro de uma semana poderá ir pra casa.

Ele sorriu e se despediu, avisando que alguém iria me buscar para os exames.

Assim passou meu dia. Mamãe e Gwen entrando sempre que podiam, exames e mais exames, comida horrível... Deveriam demitir a cozinheira desse lugar. A comida dela parece de cera.

Mas uma coisa me incomodou. Kate não voltou mais.