Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 45
Samba Lusitano - parte 3


Notas iniciais do capítulo

Uma bela história... Um segredo revelado... Um destino... Mas, qual destino?!



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Após tomarmos o café da manhã, o carneirinho disse que levaria os meninos para a escola, como fazia todas as segundas. Nada de estranho até aí, mas...

– Depois que eu deixá-los lá eu vou a outro lugar, viu, Félix!

– A outro lugar? Como assim, que outro lugar?

– É que... Eu vou ao mercado comprar umas coisinhas que estão faltando pra aqui e pra o restaurante...

– Hum... E não quer que eu vá com você?

– Não! – Não gostei nada de ele ter respondido com tanta certeza que não queria que eu fosse. – É... Não precisa, meu amor! Eu não demoro, tá?!

– Se quer ir sozinho... Vá!

...

Suspirei... O Félix havia ficado claramente chateado! Ah, mas valeria tão a pena ver a alegria dele depois... Principalmente, à noite...

Enfim, vou levar nossos filhos na escola e de lá dar uma passadinha no shopping... Tenho um encontro marcado!

...

Ele saiu. Ah, Niko, você está muito estranho pra o meu gosto! Fui caminhar pelo jardim, mas não conseguia pensar em outra coisa a não ser onde o carneirinho estaria, o que estaria fazendo...

Ah, não! Não me aguento mais de curiosidade... Eu tenho que saber! Vou segui-lo!

Ele que diga o que quiser, vou segui-lo sim! Somos casados, estou no meu direito!

Cheguei à escola dos meninos e vi que ele já os havia deixado lá, estava dobrando a esquina! Segui seu carro!

...

Cheguei ao shopping na hora marcada. Fui direto para a lanchonete...

Ah, que bom, já está aqui! Sentei à mesa onde alguém já me esperava. Muito simpático, o homem me cumprimentou e começamos a conversar.

Eu estava realmente ansioso por isso...

...

Entrei no shopping, seguindo-o... Tomei cuidado para ele não me ver...

Mas... O que significa isso?!

Senti um aperto no peito, uma vontade de chorar e de socar alguma coisa quando vi o que o carneirinho foi realmente fazer no shopping! Comprinhas... Sei! Ele... Ele tinha mesmo marcado um encontro com alguém!

Me senti mal... Me senti... Castigado... Talvez... Talvez fosse um castigo do destino por... Por que eu já fiz igual quando era casado com a Edith... E agora, o Niko tá fazendo isso comigo?! Não, não... Não pode ser...

Nem que eu tivesse trançado a coroa de espinhos para merecer uma coisa dessas! Não pode ser... Fiquei tão atordoado que nem vi que eles já acabaram a conversa... Como foi rápido! Já estão se despedindo... Preciso fazer alguma coisa... Não posso perder meu carneirinho... Eu não vivo sem ele...

Não podia titubear! Respirei todo o ar que meus pulmões podiam aguentar e fui pisando firme até lá! Embora, estivesse quase desmaiando...

– Niko!

...

– Félix?!

Virei num susto! O que ele está fazendo aqui? Ah... Não acredito... Ele me seguiu!

Quando percebi a cara que ele estava... Que podia fazer a não ser sorrir!

Sorrir... Pois, com certeza, pela cara que ele estava ele tinha visto tudo e interpretado tudo errado! Ah Félix, meu amor, porque você é assim?

– Félix, meu amor, o que está fazendo aqui? Por que veio atrás de mim?

Ele me olhava sério, mas como quem vai chorar a qualquer instante... E está pálido!

– Nem sei por que eu vim! Por que eu deveria confiar em você... Mas... Agora já não sei! Bom, vamos deixar de papo furado? Porque você não me apresenta logo seu amiguinho?

...

Eu não estava realmente entendendo aquele sorrisinho na cara dele! Estava achando engraçado marcar um encontro assim pelas minhas costas?! Se tinha perdido o interesse em mim, que me dissesse logo! Ontem não quis fazer amor comigo... Por quê?! Por acaso não está mais apaixonado por mim?! Fala logo, Niko! Joga na minha cara de vez...

– Ok, Félix! Eu queria que fosse uma surpresa, mas, já vi como você está e... Não quero que você fique chateado comigo, amor!

– Como quer que eu fique se o senhor marca encontros clandestinos pela internet? – Falei calmo, mas meus dentes estavam trincando. Eu não estava nem com tanto ciúme, acho que... Era decepção!

– Félix... – Aquele sorrisinho de novo... E essa carinha de sonso... Ai, Niko, me tira do sério... – Não é nada disso, seu bobo! Olha... – Ele pegou em meu braço e me puxou para me apresentar àquele cara com quem ele estava conversando. – Esse aqui é o Márcio, ele é agente de viagens, e eu marquei um encontro aqui, através do site dele, para saber sobre as condições para programar uma viagem para nós dois!

O quê?! Eu não consegui falar, mas acho que minha cara já era uma grande interrogação e exclamação.

...

Achei muito lindinha aquela expressão confusa do Félix. Coitado, já estava cheio de coisas nada a ver nessa cabecinha! Bobo! Como poderia traí-lo se ele é o homem da minha vida?! Que bobo esse meu maridinho! Mas, até gostei de ele ter vindo atrás de mim... Prova de que se preocupa comigo!

– Fala alguma coisa Félix!

– Hã?! Uma... Uma viagem, carneirinho?

Acho que agora está caindo a ficha dele...

– É, Félix, uma viagem! Para comemorar nossos quatro anos de casados! Eu já fiz reservas, mas falta escolher o destino! Eu ia te falar hoje à noite para escolhermos juntos! O que você acha?

...

Caiu a ficha! Quando ele me contou tudo e eu ouvi tudo falado por aquela voz serena, voz que me acalma, que me alimenta, que me enlouquece... Eu olhei para aquele rostinho lindo que eu adoro e para aqueles olhos sinceros, verdes da esperança que me dava... O que poderia fazer mais? Nada mais que o abraçar e pedir desculpas... Desculpa, carneirinho, por ser tão desconfiado!

Quando o abracei tinha que sussurrar em seu ouvido o que estava sentindo...

– Desculpa... Eu sou um bobo, não sou?!

...

Achei graça naquela pergunta-afirmação.

– É mesmo... Bobo! – Respondi sorrindo enquanto ele me abraça. Ele me soltou e eu pude olhar para aqueles olhos castanhos que me derretem por dentro.

É mesmo um bobo! Mas, o bobo que eu amo!

...

Já que eu havia estragado mesmo a surpresa do carneirinho, nós ficamos falando mais algumas coisas com o agente de viagens e vendo os destinos mais turísticos, mais românticos... Tantas possibilidades, tantos lugares que podíamos ir, tantos locais legais para visitar tanto no Brasil quanto fora... Era um verdadeiro dilema!

Depois, acabamos os dois andando de mãos dadas no shopping, ainda indecisos.

Conversávamos sobre a nossa já certa, porém ainda sem destino, viagem de bodas, quando acabamos encontrando conhecidos do carneirinho...

– Temos que decidir bem, Félix, a viagem será só para nós dessa vez, mas, a próxima será com os meninos! Podemos até fazer o plano com essa mesma agência de viagem, me parece muito boa!

– É, parece que sim, carneirinho! Eu gostei, eles são organizados, tem bons preços... A única questão agora é para onde ir!

– Pois é! Oh, olha quem vem ali...

– Quem?

– Aqueles dois... São o Túlio e o Samuel, não lembra? Meus amigos... Nós fomos na boate deles aqui em Angra...

– Ah sim... – Como poderia esquecer aquela boate?! – Lembro muito bem do que a gente fez naquela boate!

...

Rimos. Como esquecer aquela ótima noite na boate em que o Félix me levou para uma sala-vip?!

Enfim...

Mas, o Túlio e o Samuel estão com um carrinho de bebê?! Será que eles conseguiram finalmente realizar o sonho de serem pais?! Ah, eu tenho que ir lá saber!

Puxei o Félix pela mão...

– Samuel, Túlio... Oi! Há quanto tempo!

– Niko! Oi! Tudo bom? – Respondeu Samuel. Túlio também o cumprimentou: – Oi, Niko! Como vai?!

– Ah, vou muito bem, gente! Lembram-se do Félix, né?!

– Claro! – Respondeu Túlio. – Eu lembro quando viemos inaugurar a boate do Samuel aqui em Angra e eu levei convites pra vocês, lá no seu restaurante, não foi?!

– Pois é... Esse dia a gente também não esqueceu, pode ter certeza! E essa menininha linda? – Perguntei ao ver a bebê linda que eles levavam no carrinho. Não era tão novinha... Eles deviam ter realizado esse sonho há algum tempo.

– É nossa filha, Niko! Chama-se Maria Vitória! – Disse Samuel.

– Ah, que nome lindo!

– É! Também é muito significativo! Tanto para ela quanto para nós!

– Ah gente... Que bom... Vocês realizaram então o sonho de vocês?!

– Sim... Na verdade, depois daquilo que aconteceu com você sabe quem... Nós desistimos de procurar uma barriga solidária!

– Do que vocês estão falando? Me sinto meio perdido aqui... Disse Félix.

O Félix já passou por tanta coisa que até esqueceu que eu lhe contei...

– Amor, não lembra que eu te disse que a fura-olho da Amarylis estava tentando dar o golpe no Samuel e no Túlio e eu a desmascarei?! Foi até na festa de renovação de votos matrimoniais da Paloma...

– Ah, claro... Lembrei!

– É, graças a você, Niko! – Respondeu Túlio. – Eu não sei o que teria feito se tivéssemos caído no golpe daquela cascavel! Podemos dizer até que devemos um pouco a você o fato de termos hoje a Maria Vitória!

– A mim, gente? Ah... Por quê?

Túlio lhe contou: – É que depois daquilo, nós ficamos com muito receio de procurarmos outra barriga solidária, além de que não tínhamos mais ninguém de confiança! Lembra, até que depois nós ainda nos encontramos e você falou sobre adoção, que você tinha adotado um garotinho já maior...

– Sim, sim, eu lembro... Eu falei pra vocês sobre o Jayme...

– Então, Niko, nós acabamos visitando alguns orfanatos e abrigos e estávamos dispostos a adotar uma criança, fosse um bebê ou uma mais velha! Demorou um pouco porque ficamos uns tempos focados só no trabalho... Foi então que, um dia, a Maria Vitória apareceu em nossas vidas!

Samuel continuou a história: – A mãe da Vitória era uma mulher humilde e com muitos problemas! A Vitória nasceu prematura e a mãe morreu no parto! O pai biológico só Deus sabe onde está! Enfim... Só restou a avó materna que é muito idosa e não tinha condições também de cuidar dela, até porque a Vitória nasceu com uma deficiência nos pezinhos e precisa fazer algumas cirurgias para poder caminhar um dia!

Eu já estava emocionado com a história dos dois.

Túlio completou: – Nossa! O Samuel e eu tínhamos retomado as visitas aos abrigos quando soubemos da história da Vitória! Coitadinha... Ela foi direto para o abrigo depois que saiu da incubadora no hospital onde nasceu! Se ela permanecesse lá não teria como fazer as cirurgias e o tratamento... Além disso, nos apaixonamos por ela! Sabíamos que era uma grande responsabilidade, mas, não demoramos muito pra decidir... A Vitória tinha que ser nossa filha! Hoje ela já passou por algumas cirurgias e a próxima deve ser a última! Também já a colocamos na AACD para o tratamento e temos a esperança de ver nossa bebê andando, correndo e pulando por aí!

– Ah, gente, que história mais linda! Que gesto grandioso que vocês tiveram! Seria muito difícil alguém adotar a Vitória...

– Pois é! – Finalizou Samuel. – Quando a vimos entendemos o que você disse naquela vez que nos explicou sobre a adoção do seu filho, Niko! Que pai de verdade não é ditado pelos genes e sim pelo amor! Sabe, deram a nossa pequenininha o nome de Vitória ainda no hospital, por ela ter sobrevivido após as complicações que a mãe teve no parto! Quando ela foi fazer a primeira cirurgia, também teve uma complicação, mas nós rezamos muito para a Virgem Maria e ela se recuperou! E nós só custeamos a cirurgia, mas ainda nem éramos os pais oficiais dela! Aí, quando a adotamos e íamos registrá-la com nosso sobrenome, decidimos mudar o nome dela para Maria Vitória!

A essa altura eu já estava com os olhos cheios de lágrimas e, claro, Félix olhando para mim esperando a hora que eu ia cair em prantos! Ah, não tinha como eu não me emocionar, logo eu, ouvindo essa história linda!

– Túlio, Samuel... Nossa! Eu nem sei o que dizer, tô sem palavras, de verdade! Que coisa linda que vocês fizeram! Olha, parabéns! Parabéns mesmo! A Maria Vitória será uma benção na vida de vocês e eu tenho fé que logo vocês vão vê-la correndo e pulando por aí, bagunçando igualzinho ao meu Fabrício! Olha... Quando vierem a Angra vão lá em casa com ela, quem sabe ela e o Fabrício não ficam amiguinhos!

– Ah, a gente ia adorar, né Samu?! Bom, agora a gente tem que ir, Niko! Nós vamos voltar hoje pra São Paulo!

– Tá bom! Façam boa viagem! E toda a felicidade do mundo com a filhinha de vocês!

– Boa viagem! Tchau! – Félix também se despediu e eles foram embora.

...

– Nossa, carneirinho! Você ficou com as bochechas rosas, pensei que fosse se acabar de chorar...

– Ai, Félix, eu também não sou assim tão manteiga derretida né?!

– Ah, você é sim!

Claro que é carneirinho! Quer enganar quem?! Mas, se bem que, eu também me emocionei... Só um pouquinho... Ah, achei bonitinha a história, oras! Além de que estou ficando um pouco mais emotivo depois dos quarenta...

– Sabe Félix... Eu achei muito bonito quando o Samuel disse que eles rezaram muito para a Virgem Maria pela recuperação da Maria Vitória! Eu também rezei muita pra minha santinha quando estava passando por todo aquele sofrimento por causa da história do Fabrício ser ou não meu filho! Naquela época, Félix, eu rezei de joelhos e eu sei que foi Nossa Senhora que atendeu minhas preces e fez com que aquele médico iluminado não utilizasse os óvulos da Amarylis na fertilização! Foi um verdadeiro milagre! Já imaginou, se o Fabrício fosse filho meu e dela? Ai, não...

Fiquei ouvindo o carneirinho e me dei conta de uma coisa... Algo que faltava... De repente, uma coisa veio a minha mente. Senti um frio na espinha que me paralisou por um segundo... Foi como se um fantasma passasse por mim...

Sim... Era um fantasma... Um fantasma do passado... Lembrei-me de que deixei algo pendente... Algo que não contei para o Niko...

– Félix... O que foi? Por que parou?

O olhei... Acho que eu fiquei mais pálido do que antes... Como eu vou contar para ele que fui eu que dei a ideia pra Amarylis usar os próprios óvulos na fertilização?!

– Eh... Não... Não, nada, carneirinho... Vamos? Vamos que daqui a pouco dá a hora de buscar o Fabrício na escola!

– Tá... Vamos, mas, depois você pode me deixar aqui de novo? É que eu ainda vou comprar umas coisas aqui...

– Tá, tá bom!

...

Fomos. Mas, eu estava achando o Félix estranhamente triste! Por que será que ele ficou assim? Não foi emoção pela história da filhinha do Samuel e do Túlio, com certeza não! O Félix não é assim tão sentimental! O que será que ele tem?

Pegamos o Fabrício na escola e ele ficou todo contente de nós dois irmos buscá-lo. Como Jayme já vem sozinho e só sai mais tarde, voltamos com o Fabrício pra casa.

Eu ainda estava estranhando o comportamento de Félix que ficou calado quase o tempo todo dentro do carro.

No que ele estaria pensando?

...

– Félix, a Adriana já levou o Fabrício pra tomar um banho... Agora, você me leva de novo lá pra o shopping? Eu volto no meu carro que ficou lá no estacionamento... Eu prometo que não demoro!

Eu mal estava ouvindo o que o carneirinho dizia. Só estava pensando em como falar pra ele que eu, simplesmente, me esqueci de contar esse detalhe. Será que ele daria tanta importância pra isso depois de todo esse tempo? Será que eu deveria dar tanta importância pra isso depois de tudo? Afinal, eu ajudei o Niko a ter o Fabrício de volta... Mas, se não tivesse acontecido um milagre como ele mesmo diz, e o médico tivesse fertilizado a Amarylis com os óvulos dela própria, talvez, o Fabrício não estivesse aqui com a gente hoje... Ela faria de tudo para arrancá-lo do Niko... E... E eu não seria hoje o pai dele também... Talvez nada do que aconteceu nesses últimos quatro anos tivesse acontecido...

– Félix... Tá me ouvindo?! O que você tem?

Niko me tirou de meus pensamentos... Mas, meus pensamentos não saíam de mim! Acho que ele não daria tanta importância assim depois de tudo que houve... Mas... Eu tinha que lhe contar... Senão ficaria com essa dúvida eternamente... E isso seria um fantasma me assombrando cada vez que eu olhasse para o Fabrício...

Pensar que tudo podia ter dado errado e que o carneirinho podia ser infeliz hoje... Pode ser besteira na minha mente, mas a dúvida estava me sufocando...

– Niko... – Mergulhei profundamente no oceano verde de seus olhos. – Eu... Eu te amo! – Ele sorriu. Que lindo! Tomara que não dê muita importância ao que vou falar... Não quero perder esse sorriso! – Você não sabe quantas vezes eu pensei em você antes de... Antes de ficarmos juntos! Antes de eu pedir pra dormir lá na sua casa... Sabe, quando eu penso que agora já vai fazer quatro anos que estamos juntos, eu... Eu... Nossa! Vou repetir o que te disse naquele dia... Eu sinto uma coisa que nem sei explicar...

– Hum... E eu preciso te repetir o que te disse?

– Não, não carneirinho, eu já aprendi que sentimento não tem explicação, só existe... E, é um sentimento que tem dentro de mim agora que me faz... Ah, carneirinho, eu tenho que te contar uma coisa que... Que eu, sinceramente, esqueci de te contar!

– Ai Félix, tá me deixando nervoso!

Fiz um carinho em seu rosto e soltei logo tudo de uma vez. Uma injeção é menos dolorosa quando é dada rapidamente do que se entrar aos poucos.

– Niko... Eu... Eu lembrei que... Fui eu que dei a ideia para a Amarylis usar os próprios óvulos na fertilização!

Aquela cara de susto... Era tudo o que eu não queria ver...

– Eu... Vocês sabe que eu dei muitos golpes, eu era especialista em dar golpes, e, eu dei uma dica pra ela uma vez... Eu sei que se isso tivesse acontecido você sofreria demais, carneirinho, mas, eu nem te conhecia na época... Eu... Eu não conhecia nem a mim mesmo... Niko... Eu não sabia o mal que podia fazer... Se eu te conhecesse...

Por que ele não fala nada? Por que essa expressão? Será que está acontecendo o que eu mais temia? Será que ele está dando tanta importância pra isso? Será que ele vai me perdoar? Eu vou ficar louco se ele não disser nada... Eu preciso saber o que ele está sentindo agora! Tudo que quero é tocá-lo e sentir que ele não se importa mais com isso... Já somos casados há quatro anos... Eu o amo... Ele sabe disso!

Eu te amo tanto, meu carneirinho... Nunca te faria mal... E se tivesse feito... Jamais me perdoaria!

– C-carneirinho... – Toquei em seu rosto, mas ele desviou. Como doeu!

Porque carneirinho? Por que dar tanta importância pra isso agora?

Levantei... Saí...

Ele ficou lá... Parado... Sem olhar para mim...

Meu passado realmente me condena... Me mata...

Se o Niko não me perdoar... Morrerei, mesmo vivo!

...

Ele foi para o quarto e eu fiquei na sala... Sozinho... Pensando... Ou tentando pensar... Depois do que ele me disse... Tinha que digerir aquela revelação...

Ele estava triste... Saiu chorando... Chorou quando desviei do seu carinho... Do seu toque...

Por que eu desviei do seu toque?! Por que, se... Eu adoro seu toque! Como adoro!

Eu não fiquei tão abalado nem quando soube que ele jogou a sobrinha numa caçamba...

Espera... Eu não fiquei abalado naquela época... Por quê? Porque eu já confiava no Félix... Da confiança, nasceu a amizade... Dela floresceu a paixão... Da paixão, surgiu o amor...

Eu te amo, Félix... Te amei sempre!

Eu já soube de tantas coisas que ele fez, mas, depois que eu o conheci eu só o vi fazendo coisas boas...

Espera...

Agora compreendo...

Meu Deus!

Eu tenho que falar com ele...

...

Eu estava decepcionado... Comigo mesmo! Se não tivesse acontecido um milagre, eu teria feito mal a quem mais amo! Eu dei a ideia que poderia ter feito mal ao meu carneirinho...

Estava lá no quarto sem saber o que ele faria... Quando, de repente, ele surgiu na porta...

– Félix...

Ele veio correndo! Por que ele veio correndo falar comigo? Sim... Será? Todo meu ser se encheu de esperança quando ele se aproximou de mim, sentou ao meu lado na cama e pegou em minha mão...

Eu não conseguia falar nada... Ou não sabia o que dizer... Então, o deixei falar...

...

– Félix... – Cheguei a uma conclusão e tinha que lhe falar o que era mais importante que tudo. – Acho que você conhece aquela música que diz... Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...

– C-claro que conheço, carneirinho...

Sua voz embargada me mostrava o quanto ele estava preocupado com minha reação.

– Então... Como diz a música, Félix, nada do que foi será igual ao que já foi! Entende?! Você não é mais igual ao que já foi, eu não sou igual ao que já fui... Nem o minuto que se passou, não volta mais igual ao que foi...

– O que você tá querendo dizer?

– Que... Tudo muda o tempo todo... Assim como também diz a música... Por isso, até o que sentimos, muda... A amizade, a confiança que eu senti por você quando te conheci, mudou! Virou paixão, e depois amor! E agora... Esse amor, também vai mudar... Por que tudo muda... Só que, nosso amor, só vai mudar pra melhor, pra se tornar maior...

...

Agora eu já não estava mais entendendo nada do que ele estava falando... Mas, ele continuou e acho que eu comecei a compreender... E meu coração se enchia de felicidade!

– Félix... Isso que você me contou, é mais uma daquelas burradas que o Félix do passado fez! Tudo muda, o tempo todo... E esse Félix que fez coisas horrendas, mudou! E essas coisas, sinceramente, não me importam nem um pouco!

Ah como eu gostei de ouvir isso! Foi um bálsamo pra minha alma! Ele continuou...

– Sem querer ser prepotente, Félix, eu acho que existem dois Félix na história! Um deve se chamar Félix antes de Niko... E o outro, Félix depois de Niko!

Engraçado... Eu também acho! Tive que sorrir...

– Como assim, carneirinho?

– Simples! Ou melhor... Nem tanto! Por que também deve existir o Niko antes do Félix... E o Niko depois do Félix... Sabe por quê?! Presta atenção! Antes de nos conhecermos, você era infeliz... Eu não sabia o que era felicidade de verdade! Antes de nos conhecermos, você não tinha amor à vida... Eu pensava que tinha amor na vida! Antes de nos conhecermos, você não podia realizar seus sonhos... Eu tentava realizar os meus!

Incrível como ele tem o dom de me devolver à paz. Continua falando meu amado...

– Mas, olha agora! Olha tudo que temos! Você depois de mim... E eu depois de você! O que importa o que o Félix antes de mim fez? Eu quero o Félix depois de mim! O MEU Félix! Depois de nos conhecermos... Você me deu felicidade! Você me deu amor! Você me deu meus maiores sonhos! E em troca, Félix, eu te dou tudo isso também! Por isso que a gente, depois de um ter o outro, não pode mais viver sem o outro! Você entende?! Eu só tenho a agradecer por você ter entrado na minha vida, por que minha vida é outra depois de você! Eu juro Félix, que se um dia eu puder eu vou lá ao santuário de Fátima ou ao de Aparecida agradecer a minha santinha por ter feito tantos milagres em minha vida! Meus filhos... Você... Ah, Félix, você mudou minha vida... Tanto quanto você diz que eu mudei a sua! E eu sei que mudei! Por que... Eu não seria sem você... Você não seria sem mim...

– N-não seria o quê, Niko? – Mal consegui pronunciar essas palavras.

– Não seria... Nada! Por que você me devolveu meus filhos, me proporcionou realizar o sonho do segundo restaurante, e se entregou ao amor que eu te dava! Félix... Eu não seria nem a sombra do que sou sem você! Fomos feitos um para o outro! Um sem o outro não seria nada!

Incrível como ele estava coberto de razão! Falei sem segurar as lágrimas que inundaram meus olhos...

– Tem toda razão, carneirinho... Meu amado carneirinho... Eu não seria nada sem você... Eu te amo muito...

Eu não conseguia falar mais nada. Acho que nem precisava... Niko disse tudo! E tudo que eu podia fazer era demonstrar...

...

Ele me beijou... Nós nos beijamos... Foi um beijo mútuo de amor...

Ah, Félix... Eu te amo demais pra me importar com uma bobagem dessas... Antes não seria bobagem, mas agora... Agora pouco me importa! O Fabrício é nosso filho! Você é o pai que eu sempre quis para os meus filhos... O marido que eu sempre quis... Tudo que eu sempre quis... Você me deixa nas nuvens, me enlouquece, me fascina...

Nem percebi que fomos nos deitando na cama aos poucos, sem parar de nos beijarmos. A cada segundo que o beijo se estendia, se tornava mais intenso, e mais intensa era a nossa certeza de que fomos feitos um para o outro! Mas, se bem que, já sabemos disso há muito tempo... Toda essa química entre nós, essa energia que nos cerca, é a mesma desde que nos casamos, desde que dormimos juntos pela primeira vez, acho que até desde aquele dia em que limpei o bigodinho de café com leite nele...

Estávamos quase nos entregando um ao outro, ao nosso amor, à paixão... Mas, ouvimos a porta abrir e nos levantamos num pulo... Meio desalinhados, sorrimos quando vimos quem nos interrompeu...

– Fabrício... Meu amor, o que está fazendo aqui? Vem cá...

...

Estava tão bom, tão sublime o nosso beijo... Ah, como é bom beijar esse carneirinho! Beija tão bem, que boca gostosa! Mas, tudo bem, quem nos interrompeu foi nosso bebê... Nosso bebê de quatro aninhos... Nossa... Já faz mais de quatro anos que eu dei a ideia para o carneirinho fazer aquele teste de DNA... Eu diria que foi a primeira ideia verdadeiramente boa que eu tive! Eu nunca tive vontade de ajudar ninguém, mas, eu sempre quis ajudar o carneirinho. Fiquei apegado a ele desde que o conheci...

Entendi...

Ele tem toda razão... Existe um Félix que eu deixei pra trás, que existia antes dele... O Félix que eu sou é o Félix depois do Niko... E é esse quem que quero ser até o último dia da minha vida!

Como esse ser surgiu tão por acaso na minha vida e a transformou dessa maneira? Será que eu também fui digno de um milagre? Acho que... Assim como o Niko disse, nós dois temos muito, muito a agradecer...

Espera... Uma ideia me veio de repente...

Acho que já sei o destino de nossa viagem de bodas!

...


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Notas finais do capítulo

CONTINUA



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