Broken Girl escrita por Iris


Capítulo 8
Capítulo oito: Deixe-me Entrar


Notas iniciais do capítulo

Oláa. Como estão?? Acho que nunca fiz isso antes aqui, mas quero agradecer aos comentários de vocês que me fazem sorrir feito idiota na frente do computador hahaha, e também a quem tá acompanhando a fic e gostando.

Para quem achou que tudo o que escrevia era uma porcaria, isso aqui é mais do que eu esperava. Então, obrigada pessoal.

Agora chega desse discurso alá oscar e vamos ao que interessa hehehe

Mais uma vez espero que gostem!!

Enjoy^^



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Tentei me mover para as escadas, meu caminho foi interceptado pelo homem, me choquei contra ele caindo no chão molhado. Ele se recostou contra a bancada da cozinha com a expressão tediosa. Paralisei de novo, dessa vez no chão tentando traçar algum plano, tentando encontrar as respostas para o que poderia acontecer agora. Tudo o que consegui foi gritar.

_Dean! – gritei para o pé da escada.

_Não se dê ao trabalho, ele não pode te ouvir. – disse ele me oferecendo à mão para me erguer. Afastei-me dele e levantei meio trôpega.

_O que fez com ele? – conseguir perguntar. Lúcifer parecia preste a bocejar.

_Ele está dormindo e você também, esse é o único jeito de nos comunicarmos.

_Então isso é só um sonho.

_Não significa que não seja real. – balancei a cabeça com força numa tentativa de acordar e ver que era só um pesadelo. _Devo dizer, achei que seria mais fácil encontrá-la, mas você está se mostrando uma tarefa mais difícil do que imaginei. É admirável na verdade.

_Mas eu estava sonhando, como...

_Não se preocupe com isso. – ele cortou.

_Aquele sonho. Era você, não era?

_Não eram sonhos. – respondeu ele tranquilamente.

_Então o que eram?

_Eram memórias. – memórias? se aquilo eram memórias eu deveria lembrar. Coisas assim não desaparecem, mesmo nas mentes mais perturbadas.

_O que você fez comigo? – minhas palavras saíram num sussurro.

Tinha certeza que estava aparentando meu atual estado: Assustada. Apavorada. Preste a entrar em pânico. Lúcifer continuou me fitando, seu rosto tinha várias crateras, poros abertos em forma de ferimentos grotescos e nojentos, como se estivesse preste a explodir. Dava náuseas só de olhar. Ele percebeu a repulsa em minha expressão, pois sorriu levemente.

_Isso é temporário. – disse com um abano de mão sinalizando descaso e despreocupação.

_O quer de mim? – não me preocupei em esconder o medo. Ele é claro percebeu. Tenho a mesma impressão de quando o vi, em outro corpo, pela primeira vez. Seu olhar penetrante que sugou qualquer sentimento bom existente em mim e que me fez pensar que ele possa ler meus pensamentos e minhas vontades.

_Oh, querida, não tenha medo, não vou machuca-la, só quero conversar. – a voz de Lúcifer ressoou no meu ouvido. Uma voz normal, humana, nada como aquela voz grave e modificada que usam nos filmes. Estava sonhando. Isso é só um sonho, um sonho, nada mais, só um sonho...

_Não tenho nada para conversar com você, a não ser que queira me dizer o que fez comigo.– soei surpreendentemente ríspida.

_Estou um pouco preocupado com você. – continuou ignorando minha birra. _Acho notável e um tanto confuso o que se passa ai dentro. – ele fez um sinal com o indicador apontando para minha cabeça, senti uma pontada no peito.

_O quê?

_Toda essa raiva, essa angustia. Você se culpa pelo que aconteceu com seu pai. Mas lá no fundo você está bem com isso. Bem lá no fundo você desejava se livrar do bêbado do seu pai. – o que ele disse foi como uma faca perfurando minha traqueia, me tirando o ar. Dei alguns passos para trás e minhas costas bateu na porta da geladeira. _Sei o que se passa ai dentro, não pode esconder isso de mim, mesmo que tenha escondido de si mesma.

_Do que está falando? – fiz uma pergunta idiota, minha voz saiu chorosa.

_Tudo bem, está tudo bem, é isso que a torna especial. Seu pai foi um presente meu para você. Só assim conseguiria está onde eu quero que esteja, conseguiria encontrar a força que existe dentro de você.

_Não, você... você não sabe o que está dizendo, eu nunca quis que ele... – o desespero de me defender daquela acusação era tão urgente que mal conseguia pronunciar as palavras. Estava tremendo de frio e de medo.

_Não minta para si mesma. Você está livre agora. Deixe o que tem ai dentro florescer. Não se esforce para sentir remorso pelo o que aconteceu. Não tem problema. Ele nunca amou você e você o odeia, não tem nada de errado nisso. Acha que eu não sei quantas vezes você desejou que fosse ele que tivesse morrido naquele carro. Sabe, seu pai sabia que você era diferente. – eu estava exposta para ele. Ele estava desencravando coisas que eu nem sabia que estavam enterradas em mim. _Ele sabia que tinha algo grande dentro de você, sabia que você era destinada a algo além da sua compreensão. Só que era um tolo, não poderia entender o que você tem guardado ai dentro. Acha que a faca que pegou foi para tentar suicídio? Está enganada, aquilo foi por puro reflexo do ódio que sentia. Passou pela sua cabeça enterrar a lâmina no coração dele, vê-lo sofrer pelo que tinha dito e o que tinha feito. Ia se sentir melhor se ele estivesse agonizando, se afogando no próprio sangue enquanto implorava pela sua ajuda. Eu sei que se sentiu horrível por pensar assim, por isso...

_Cala a boca! – gritei tapando os ouvidos com as mãos, uma atitude impensada e infantil, mas tudo era melhor do que escutar aquele verme. _Não, não. Você é um mentiroso, eu estava tentando salvá-lo, não mata-lo. Está errado. Não sabe nada sobre mim, nem humano você é. Você é um monstro mentiroso e desprovido de qualquer emoção. – a cada palavra parecei que estava tentando manter uma mentira baseadas em argumentos tolos e infundados. Ele não podia estar certo. Simplesmente não podia. Não poderia ser.

Mas e se essa fosse à verdade que tento encobrir por vergonha e aversão a mim mesma?

O que ele está fazendo comigo?

_Eu não minto, não preciso disso, eu só digo o que as pessoas têm medo de admitir a si mesma. Não obrigo nem mando os fazerem alguma coisa, só desperto o que á dentro de cada um. Os humanos me culpam por cada coisa de ruim que acontece no mundo, eles não percebem que eu não preciso fazer nada. São vocês, e sempre foi vocês. – ele se aproximou e esticou a mão para tocar meu rosto, estava tão petrificada que deixei que me tocasse.

Seu toque foi como uma carga elétrica. Sentia uma força tão bruta que quase desabei no chão. Uma sensação de energia fluindo, poder crescendo e tomando conta do meu corpo me dando uma força que achei que não seria capaz de possuir. Era apavorante como eu me sentia bem, por alguns segundos eu me senti mais viva.

_Pode sentir isso? Eu sinto e é... Lindo. – ele afastou algumas mechas do meu cabelo do rosto e depois afastou seu toque de minha pele. Não queria exatamente que ele tivesse feito isso.

_O que fez comigo? – perguntei novamente tentando encontrar a entonação certa para que a pergunta não lhe escapasse. Ele pareceu pensar e tentar organizar os pensamentos, ao final disse:

_Nós nos encontramos antes, bem antes. Nosso primeiro encontro foi há seis anos, se não estou enganado. Eu vi em você o potencial, eu fiz questão que viesse para meu lar. – ele fez uma pausa, quando não viu qualquer reação minha continuou. _Você morreu naquele acidente, Isabel. Eu salvei sua vida, e fiz mais, criei a criatura perfeita. Você é feita da minha essência e moldada a minha obra. – ainda estava presa na parte em que morri naquele acidente.

_O quê? – deixei escapar fraca demais para criar uma pergunta mais elaborada.

_Isso que você sente, essa energia, pertence a mim. É parte da minha essência pulsando ai dentro. E o sangue correndo em suas veias, é o sangue da minha primeira criação. – ele deixou suas mãos em meus ombros. Estava chocada demais para afasta-las. _Quero que entenda uma coisa: Denios são malvados, perversos por natureza. Não tem pureza no que fazem. Os anjos têm essa certeza de que o justo deve ser cumprido. Essa obediência ao seu superior. A fé. É da natureza de um anjo agir com a razão. Então por que não ter o melhor dos dois mundos? Eu vi em você esse equilíbrio bem ajustado. Você sente raiva e também compaixão. É capaz de agir com clareza em conflitos não deixando que sua emoção atropele seu raciocínio. É perfeito.

Como um pião minha cabeça girava. Todo esse tempo tinha ignorado a pista mais importante: Eu.

_Eu morri e você me trouxe de volta, mexeu com minha cabeça enquanto eu estava num hospital psiquiátrico me fazendo acreditar que era louca. Você era homem que era gentil comigo. E eu fui idiota ao ponto de beber daquela água e daquele sangue. Naquela noite, no jardim, fiz tudo o que você queria que eu fizesse. A doutora Williams ela...Eu... eu deveria estar morta. ­– tirei seus mãos de cima de mim, quebrando nossa conexão.

De todas as respostas do mundo aquelas eram as que eu não esperava ouvir. Saber que eu tinha parte Dele dentro de mim, e saber que eu tinha sangue de denio fluindo em minha veias. Queria me cortar, sangrar até estar limpa. Queria cutucar no fundo da minha alma e tirar a força a energia que mantinha viva.

Eu era uma abominação. Um hibrido de tudo que repudiava.

Tudo se encaixava. Primeiro o denio no corpo do meu pai, ele tinha sentido a energia demoníaca e depois o poder da essência de um anjo se sobrepondo. E Meg...

_Eu preciso de você Isabel. Você precisa de mim. Posso acabar com essa dor. Quando eu vencer, eu posso lhe dar tudo o que quiser. Tenho planos para você, só preciso que confie em mim.

_Está pedindo que eu confie no diabo? Eu não quero nada que venha de você. É um doente, um sádico, nunca serei o que quer que eu seja. Vou achar um jeito de te matar. – toda a minha coragem e ódio foi despejada naquelas palavras. Lúcifer parecia achar graça.

_Era disso que eu estava falando, todo esse ódio está a alimentando, tornando-a mais forte. Estou lidando uma chance de escolher o lado certo. Você e Sam foram feitos sobe medida para mim, só quero pegar o que é meu por direito. Esse corpo não vai aguentar por muito tempo. – ele abriu os braços e se examinou. _E quando eu conseguir pegá-lo, e eu vou, você vai ser minha última cartada. Com você eu posso vencer essa guerra em tão pouco tempo.

Ele sorriu. Gargalhei, tirando o som de algum lugar em mim que lutava em tornar aquilo uma piada de mal gosto.

_Então é isso que eu sou, uma bucha de canhão que você quer disparar para atingir pessoas inocentes. O inferno na terra, que belo plano você tem, é claro, não poderia deixar de fazer parte disso.

_Não seja sarcástica. O sarcasmo é uma arma para os frascos. – eu sentia tanta raiva, mais do que poderia aguentar. Mas segurei para não deixar que aquilo me controla-se, não deixar que ele achasse que estava certo sobre mim.

_Não me importo se tenho sangue de demônio em mim ou se tenho sua essência, nunca vou lutar a seu lado. Vou achar um jeito de arrancar seu coração, se é que tem um, e quer saber, eu não me importo se morrer no processo. Você vera como é ter seu brinquedinho contra você. – ele sorriu ainda mais.

_É mais complexo que isso, querida. – respondeu as minhas ameaças. _Não adianta fugir. Eu vou encontrá-los, leva esse recado ao Sam. Eu gosto de você Isabel, tenho a esperado pacientemente. As coisas não estão saindo do jeito que eu previ. Os Winchesters estão no meu caminho. – ele se aproximou com um sorriso no rosto, continuou: _Não lute contra si mesma. Vem tempestade por ai. Quero que esteja preparada. – fez uma pausa e olhou em volta como se tivesse sentindo alguma coisa se aproximar, ele me tocou mais uma vez, estava ficando cansada e me sentindo mais forte ao mesmo tempo. _Vá para o porão.

_O quê? – perguntei confusa. O aperto no meu braço ficou mais forte.

_Vá para o porão.


Acordei mais uma vez. Fui despertada como se alguém tivesse jogado meu corpo no rio Tâmisia enquanto dormia. Um despertar tão brusco que fez minha coluna se convulsionar me forçando a erguer o corpo.

Busquei o ar com força, estava arfando, meu coração ainda disparava no peito, eu ainda tremia. Olhei pra o lado e nada. Nada de Dean, ele não estava na cama.

_Dean! – chamei. Nenhuma resposta.

O desespero começou a subir pela garganta, estava arfando de novo. Calma ele deve está no andar de baixo. Olhei para os lados esperando que magicamente ele fosse surgir dos cantos escuros. Saí da cama, comecei a vesti as roupas que tinha preparado. No último par da bota que coloquei senti o chão tremer. Parei ainda agachada com o zíper no meio do caminho.

Fiquei atenta a qualquer movimentação ou barulho. Estava rodeada pelo silêncio, foi quando sentir de novo a vibração sob meus pés. Fechei o zíper e levantei, a vibração foi ficando mais forte. Fios de poeira caiam do teto, a casa toda rangia. Um animal de madeira tinha acabado de acordar depois de muito tempo hibernando. Isso não era nem um pouco seguro, aquela casa velha estava enfim cedendo ao tempo. Mas... Tinha algo errado, muito errado.

Antes o silêncio agora um barulho agudo, como uma microfonia, só que dez vezes mais irritante e continua.

A janela do quarto irrompeu em cacos de vidro, assim como o espelho na parede. Pressionei as palmas das mãos nos ouvidos e corri para a porta. No corredor tudo tremia, estava difícil manter o equilíbrio.

Via-se a escada a poucos metros de onde estava, dei alguns passos apressados em direção a ela. Não tinha chegado nem perto e o chão começou a ceder, caí de joelhos não conseguindo me manter de pé. Uma luz branca vazava das frestas no chão. A microfonia amentou acompanhada agora por uma intensa luz branca que escapava de todos os lugares e cantos, fechei os olhos e pressionei ainda mais as mãos nos ouvidos.

Estava ficando zonza e começando a achar que poderia estar surda aquela altura. Seja lá que droga estivesse acontecendo sabia que não era nada bom. Levantei de onde estava agachada e dei mais alguns passos aos tropeço.

Houve uma explosão, as paredes a minha volta cederam a luz e jogaram seus destroços em cima de mim, um deles atingiu minha cabeça me fazendo cair novamente no chão ondulante. Lutei contra mim mesma para permanecer acordada.

Tentei me erguer o mais ereta possível, a tontura não permitia tais movimentos. Fiquei deitada com as mãos no ouvido e olhos fechados. E mesmo assim podia sentir tudo se partindo a minha volta, a madeira se quebrando no terremoto que invadiu a casa. Perguntei-me se lá fora estava assim. Me perguntei onde estaria Dean, será que estava bem? Vivo?

Não me prendi muito tempo a esses pensamentos por que o chão onde estava deitada tinha se rompido a uma cratera. Metade do meu corpo ficou preso no meio do corredor a outra metade balançava no ar. Não tinha muito onde me segurar, escorregava rápido demais. No desespero de encontrar alguma coisa para não cair, arranhei com as unhas a madeira, sentir algumas se quebrarem no processo, e farpas entraram nas postas do dedo já sangrando. Finalmente encontrei uma fenda para me amparar. O som agudo tinha parado e a casa não tremia mais.

Crack. Foi o som da madeira rachando com meu peso

Crack. Ia cair, tinha certeza disso.

Crack. E a madeira cedeu.

Antes mesmo de deixar escapar um grito fui engolida pelo buraco no corredor.

Não sei se perdi a consciência ou se foi o choque da queda, mas quando voltei a abrir os olhos poderia jurar que via a silhueta de uma mulher em meio aos destroços. Ela tinha o cabelo vermelho e uma aparência jovem, me fitava. O modo como olhava para mim era como um pedido de desculpas.

Estava debilitada demais para pensar em alguma coisa que fizesse sentido naquilo. Acreditava se tratar de uma alucinação devido a pancada na cabeça e consecutivamente a queda, só isso. Porém ela não sumia, continuava a me olhar, desviei o olhar na esperança que ela não fosse uma ameaça.

Tentei encontrar estabilidade em cima do entulho, foi difícil. Uma nuvem de poeira cobria o local e insistia em descer pela minha garganta, dificultando minha respiração e visão. A microfonia tinha parado, mas ainda podia ouvir seus resquícios invadir meus tímpanos.

Consegui ficar de joelhos numa junção de dor. A mulher foi caminhando em minha direção, me afastei do jeito que dava. Quando consegui ficar de pé senti uma tontura e quase voltei para baixo. Coloquei a mão na lateral da cabeça e os meus dedos voltaram sujos com o liquido pegajoso do sangue.

A mulher continuou a caminhar sem se abalar com a destruição a sua volta, ia chegar rápido e eu continuei paralisada tentando prever o que iria fazer ou o que era aquela criatura em forma de mulher. O medo começou a crescer dentro de mim. Aquilo não era um demônio era algo mais forte, um anjo, é claro. Um anjo do qual não fazia ideia de como me defender.

Vá para o porão. A lembrança foi como um estalo, a voz de Lúcifer na minha mente me dizendo o que fazer. Cambaleei para trás, o movimento foi rápido demais, mal calculado, acabei caindo. Soltei um grito quando uma ponta afiada perfurou minhas costas.

Demorei para superar a dor e continuar. Mesmo assim levantei depressa tentando localizar o corredor para o porão em meio à desordem dos cômodos da casa semi destruída. Corri o mais rápido que pude, a mulher continuou no mesmo compasso.

Meu corpo era como engrenagens enferrujadas, a cada passo tinha que aplicar uma força extra para poder me mover. Olhei em volta sentindo o ferimento nas costas arder e machucar. Tinha alguma coisa cravada ali, podia senti o sangue escorrendo ensopando minha camisa. E como se não bastasse tossia quase cuspindo um pulmão por conta da poeira. Juntando tudo isso ao sofrendo de me manter acordada e alerta apesar da tontura, e da mente trabalhando com baixo nível de energia, o resultado era: Oh Deus, estou muito ferrada.

Quando tinha perdido as esperanças consegui encontrar a porta no fim do corredor, a luz no fim do túnel. Corri para lá e parei quando vi que a mulher tinha sumido em meio à poeira, ignorei a desconfiança e continuei, estava perto. Finalmente senti a maçaneta fria e intacta da porta pesada de ferro. Por alguma razão tinha certeza que aquele era o lugar que me manteria salva e...

Foi como em câmera lenta. A ruiva apareceu atrás de mim. Á fenda na porta não era o suficiente para passar. Virei-me para ela com o olhar suplicante. Ela hesitou por um segundo. Tinha um segundo apenas para conseguir passar pela fenda. Um segundo para me salvar.

Então tudo explodiu.


... - ...


Minutos antes da explosão.

Uma sensação muito humana perturbava Castiel: Indecisão. Estava indeciso com o que fazer, como quando decidiu defender o lado dos humanos na guerra iminente entre o céu e o inferno. De novo tinha de tomar uma decisão, fazer o certo e deixar que seu amigo o odiasse ou deixar por conta do destino o que aconteceria dali para frente e por em risco toda a raça humana e celestial.

O que teria feito se Dean não aparecesse? Teria mesmo a matado?

Sua busca a Deus não tinha dado resultado. Aquele ex-soldado do céu se agarrava a uma coisa. Fé. Tinha que ter fé e continuar a se guiar pela sua intuição e vontade.

O que fizera foi um ato de coragem, poucos deles não teriam arriscado ficar sem lar ou pensar com a própria cabeça apenas por se permitir a emoções e ao direito de escolha. Castiel nunca se questionara se tinha feito à decisão certa, não precisou, tinha encontrado nos humanos o que precisava para se manter no caminho certo. Muitos de seus irmãos se voltaram contra ele, cegos aos olhos de Castiel, tolos por pensarem que era errado seguir sua própria fé, seja ela qual for.

Agora ele pedia para os céus que o guiasse mais uma vez. Matar a garota era mesmo o certo a se fazer? Seguir uma ordem dos céus agora era mesmo tão errado? E principalmente pedia por forças para vencer a batalha.

O anjo observava do lado de fora há algumas horas a quietude da casa onde Dean e Isabel estavam instalados. De onde estava agora via Dean mexendo no porta malas do Impala e decidiu se tornar visível, tentando entra em um consenso consigo mesmo. Na verdade esperava que Dean lhe desse uma solução ou apresentasse qualquer outra alternativa. Aprendeu a confiar no método dos Winchesters, mesmo de um jeito torto eles encontravam uma saída. Esperava, pelo bem de todos, que isso permanecesse nesses tempos difíceis.

_O que é? Resolveu virar minha babá? – saudou Dean quando notou a presença de Castiel.

_Onde está a garota? – perguntou Cass ganhando tempo para pensar num modo mais apropriado de dizer o que pretendia fazer.

_Lá dentro. – respondeu Dean estranhando a postura de Castiel. _Cass, o que houve?

_A garota, ela... – um rompimento hesitante. _Ela tem que morrer. – Cass se voltou para casa de modo que não pudesse ver a reação de Dean, este tentava conferir se ouviu direito.

_Como é que é? – perguntou ele incapaz de pensar em coisa melhor para dizer. Sua mão parou no ar, no meio de um movimento, segurava a mochila de Isabel.

_Ela tem...

_É, eu ouvir isso! O que não ouvir foi sua explicação. – interrompeu Dean jogando a mochila e fechando com força o porta malas. O anjo se virou para ele.

_É muito perigoso mantê-la viva. Se Lúcifer chegar até ela Sam será o próximo e aí seremos aniquilados.

_Não pode está falando sério, e todo aquele seu papo de que eu tenho que protege-la...

_Eu posso explicar. – interrompeu Castiel.

_Então explica! – disse Dean, sua voz dura impossível de não ser ouvida.

_Ela é como uma bomba nuclear, mais precisamente o que tem dentro dela. Se Lúcifer a pegar não haverá luta. Ele ganha e nós morremos um a um. Todo nosso esforço não vai ter adiantado em absolutamente nada.

_Não, tem que ter um jeito. – Dean se recusava a acreditar que terminaria assim, ele prometeu que não ia deixa-la, não depois de tudo, não agora.

_Deve ter notado que mais demônios estão aparecendo, eles estão vindo por causa dela, como abelhas atraídas pelo mel. A energia, eles podem sentir. Agora eu sinto também. Está mais fácil encontrar vocês, ela está se fortalecendo.

_Ela nem sabe o que é. – tentou Dean numa voz desanimada e desolada.

_Os anjos sabem. A ordem de mata-la foi dada e isso seria o de menos. Podem leva-la, abri-la, cutucar e ver o que há dentro. Se eu fizer vai ser menos doloroso. – o peso de suas palavras era demais até para Castiel, não deixava de ser a verdade, mesmo assim ele poderia dizer que viu o medo atravessar os olhos do amigo.

_Se tocar nela eu mato você. – mesmo sabendo que seria quase impossível tal feito Castiel sentiu a fúria de Dean como uma apunhalada.

_Você não entende...

_Eu entendo! O que eu entendo é que você está agindo como um martelo de novo, seguindo as ordens daqueles desgraçados sem nem ser dada a você. Foi para isso que se rebelou? Para fazer o que é conveniente ao céu outra vez? – cada palavra de Dean soou com uma nota de medo, desespero e raiva.

_Só estou tentando fazer o certo, você me pediu para entrar nessa luta com vocês, estou tentando atrasar o lado oponente. Não podemos arriscar. – Castiel se rendeu ao seu erro e ao seu conhecimento escasso sobre Isabel, que teoricamente poderia definir o lado vencedor da guerra. Sentia isso como ninguém. E cada vez mais aquele anjo se via cansado, não vendo saída a não ser se agarrar na esperança de um Deus aparentemente inexistente.

_Não Castiel, não é assim que funciona, não matamos pessoas inocente...

_Ela não é inocente! – disse Castiel de modo firme silenciando Dean.

Com essa confirmação Castiel poderia fazer algo a respeito. Mesmo sacrificar Isabel por um bem maior.

_O que quer dizer com isso? – perguntou Dean com a voz baixa.

_Aquilo é ruim. Energia pura. Mesmo se vencermos o que tem dentro dela ira destruí-la ou então transforma-la em alguma coisa. Não saberia nem por onde começar se isso acontecesse. – a voz de Meg soou como um fantasma brincando com a mente de Dean “você não vai poder fazer nada, você Dean, não vai querer fazer nada quando descobrir que sua princesinha é mais parecida comigo do que imagina. Assim como seu irmãozinho ela já está condenada ao nosso lado”. Não, ele não ia deixar isso acontecer, porém e se Castiel tivesse certo, se odiou por pensar assim, mas tinha que saber toda a verdade para poder tirar suas próprias conclusões.

_Me conta tudo o que sabe. – pediu a Cass.

_Ela tem sangue demônio circulando em seu sistema. E uma energia tão pura que juntas podem mata-la ou nos matar. Sabendo usar ela se torna uma arma letal. Eu nunca vi algo assim antes. Era impossível tal criatura. – foi o suficiente para Dean compreender o tamanho do problema. Ouviu atentamente cada palavra, pensando numa saída ou um modo de passar por aquilo sem feri-la. Os resultados foram desanimadores.

_Então é isso, é isso o que ele tanto quer?

Era como reviver um pesadelo. Dean via toda aquela época conturbada com Sam novamente. Talvez, não talvez, foi à época mais difícil para ele. Os gritos sofridos ressoando nas paredes finas demais da casa do Bobby. Sua personalidade mudando, endurecendo e cada vez mais sucumbido a sua parte sombria.

A luta que foi para poder protegê-lo, alerta-lo e o mais frustrante, Dean não conseguiu. Foi demais para ele.

Monstro. A palavra que foi como veneno em sua boca. A palavra que foi difícil de pronunciar e que foi difícil para Sam ouvir.

Mas, entretanto, Isabel era diferente, não era a mesma coisa do vício ao que corre nas veias de um demônio. Ainda tinha tempo, se não tivesse arrumaria. Ela não escolhera pertencer ao lado negro. Não tinha sido culpa sua ter que abrigar “aquilo” dentro de si. Assim como não foi culpa do Sam. Ele tinha deixado que seu irmão fizesse as escolhas erradas, não cometeria o mesmo erro de novo.

Por que ele? Sempre tendo que lidar com o lado macabro das pessoas que ele amava.

Estava sendo testado mais uma vez, coagido a fracassar e passar pelo inferno novamente se falhasse. Mas dessa vez tinha decidido que seria diferente, mudaria o curso e cuidaria de Isabel. Seria capaz de oferecer sua alma como moeda de troca para a Morte só para poder salva-la.

E ali em meios àqueles pensamentos conturbados Dean nem mesmo tinha tido consciência do tamanho que era sua dedicação e empenho com a quem denominava de “sua garota”. Seria uma pancada muito forte contra ele se a perdesse ou se o único jeito seria se desfazer de sua presença.

Daria sua vida por ela, daria por algo com mais significância do que o cansaço de uma vida inteira cercada de horror, luto e culpa que era a sua.

Dean se encheu de coragem e esperança se recusando a ouvir o lado racional que lhe dizia que não tinha a menor chance. E ignorou momentaneamente as perguntas que ainda persistiam em sua mente. Podia fazer aquilo só precisava da ajuda de seu amigo celestial.

_Posso protegê-la. Tranco ela no topo do Evereste se for preciso, mas eu consigo. E depois damos um jeito, só, por favor, Cass, preciso de você comigo – pediu.

_Como pretende lutar contra anjos e demônios ao mesmo tempo? Eles já sabem, enviaram Anna e não vão descansar até que Isabel esteja morta ou que seja capturada.

_Anna? – perguntou Dean. E agora mais essa, um anjo que julgava ser de confiança se tornou uma ameaça.

_Ela estava presa a mandaram para fazer o serviço sujo e tentar me convencer a cooperar.

_E pelo visto deu certo. Cass você não pode fazer isso. – disse Dean em tom de quase suplica.

_E se ela estiver certa. Isso é o apocalipse não podemos arriscar em nada, não temos essa opção. Eu realmente sinto muito, mas vai ter que ser feito mais cedo ou mais tarde.

_Não! Vamos dar um jeito. – Dean ainda nem tinha digerido o que Castiel acabara de lhe contar e já sofria com um possível fracasso. Tinha feito uma promessa iria cumpri-la mesmo que o céu e o inferno caíssem em sua cabeça. Ia tentar até o fim, passaria por cima de Castiel se fosse preciso. Não deixaria Isabel na mão.

_Dean, seu apresso por essa garota o está impedindo de encarar a real situação...

_Vamos dar um jeito! – repetiu Dean com firmeza, sua voz como um trovão. Castiel refletiu por um longo instante. Dean esperava.

Castiel olhou para Dean, o encarou nos olhos, viu ali uma determinação notável, que mesmo num momento como aquele ela não se abala-ra. O invejou, ou pelo menos foi o mais próximo sentimento, por isso. Ele como um ser superior não tinha aquilo, não tinha nada em que se agarrar para continuar a sua busca. Nada para que valesse a pena abdicar de sua vida a não ser deixar que seu lado humano falasse mais alto e ele escolhesse Dean, escolhesse os humanos, que mesmo nas suas imperfeições tinha tanto a lhe ensinar do que jamais pensará antes.

Se decidiu, ia confiar em Dean apesar de saber que aquilo não ia acabar bem, mas o que podia fazer? Arriscara tanto para está ali então ia até o fim.

_Tem mais uma coisa sobre ela que você deve saber. – começou a segunda parte da história.

_O quê é?

_Ela... – Castiel se interrompeu tinha alguma coisa errada na casa. _Dean. – este virou para seguir seu olhar. A casa estava rangendo tinha alguma coisa acontecendo lá dentro. Ele se aproximou, sentiu o chão tremer a seus pés, virou para Castiel, que não lhe ofereceu nenhuma pista do que possa estar acontecendo.

_Ela está aqui. – foi o que ele disse. Dean já corria para a porta. Seus pés acompanhavam as batidas do seu coração, forte e aceleradas. Chegou à porta, mexeu freneticamente na maçaneta que não se abriu, se afastou para arrombar quando olhou para trás e viu Cass sendo sugado por alguma coisa, houve um flash de luz e depois o anjo havia sumido.

_Cass! – gritou, e nada veio além do ranger mais alto da casa se partindo e desabando. Dean esmurrou a porta, não abriu de primeira, tentou uma segunda o desespero lhe subindo a garganta. A porta abriu e o que o recepcionou foi uma baforada de uma luz forte que fez seu corpo ser lançado a metros de distância. Ele voou para longe sem nem saber o que tinha acontecido. Foi amparado bruscamente por uma árvore.

Havia calor e tudo ficou branco, a dor lancinante atravessou seu corpo concentrada no ombro. Seu corpo inerte e sua mente entrando em estado de semiconsciência. As árvores a sua volta girava, a dor o obrigando a se render e admitir a derrota. E ele não resistiu.

Seu primeiro pensamento foi Isabel assim como seu último.


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Notas finais do capítulo

Eai, gostaram??? Deixem reviews!!!

Até a próxima :)


XOXO



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