Broken Girl escrita por Iris


Capítulo 28
Capítulo vinte e oito: Fênix


Notas iniciais do capítulo

Como eu sou uma autora muito desnaturada... Gente, desculpe meu sumiço, esse último mês estive atolada em trabalhos e avaliações. Não tinha tempo para escrever algo legal para você e para mim também...

O que posso dizer sobre esse capítulo...? Não esclarece muito do capítulo anterior por motivos de tamanho, ia ficar gigante e iria demorar muito para escrever e postar o que tinha planejado para esse cáp. Mas no próximo compenso e tudo ficará mais claro ;)

Não quero entregar muito mas esse capítulo é todo...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/476289/chapter/28




_Por favor, fique quieto. – quando puxei a ponta do cinto ele gritou. _Shhh, fique quieto, e não se mexa, por favor. – fazia de tudo, mas o ferimento não parava de minar sangue. Apesar do frio, soava. Tinha sangue nas mãos, na manga do suéter, na calça e até no meu cabelo.

O que aconteceu foi uma reação automática, era eu ou ele, não tive escolha a não ser atirar. O que poderia ter feito? Ela estava com a arma, tinha me rendido no chão, se não tomasse o revólver e atirasse ele faria aquilo comigo. E agora eu só conseguia pensar em fazer um torniquete descente para que ele não sangrasse até a morte antes da ajuda chegar.

O homem também soava, sua testa brilhava e seus olhos estavam ficando sem foco assim como sua respiração ia sendo perdida em grandes goles de ar que ele tentava inalar de volta com esforço. Coloquei o cabelo para trás da orelha e tentei de novo. O graveto quase se partiu na sua barriga com a força que apliquei e sabia que ele estava preste a desmaiar de dor.

Ouvi passos e som de motores sendo ligados. Estávamos num galpão no meio do nada. Foi onde Martin marcara o encontro. Ele não viera sozinho, tinha trazido três amigos. E como já se podia imaginar, as coisas não ocorreram nada bem. Quando descobriu que eu não era uma mulher rica disposta a pagar pelas adagas, ele sacou sua arma, os demônios saíram da vã e foi um caos. Não era preciso dizer quem tinha levado a melhor.

Mas eram só homens, três mortos e um que eu tentava salvar.

_Por favor, aguenta mais um pouco, por favor, não morra. – sussurrei começando a me desesperar. Não queria sentir a sensação de tirar uma vida humana, não queria sentir aquilo de novo.

Uma mão pesada pousou no meu ombro, me virei num sobressalto. Era Steve.

_O que está fazendo? Vamos, temos que ir... – atrás deles os demônios já entravam na vã e davam partida.

_Mas... – olhei para o homem, ele estava vivo, mal, fraco, talvez se eu... Steve pegou meu braço e me ergueu do chão. _Espera...

_Não temos tempo, ele está morto, vamos antes que a polícia chegue ou outros caçadores. – puxei meu braço e olhei para o corpo no chão. Ele talvez pudesse sobreviver, talvez. _Isabel!

_Eu ouvi! – respondi impaciente. Tentei me controlar, não era o lugar e nem hora para demostrar fraqueza. _Vamos.

Mesmo me afastando do galpão e entrando na fantasia otimista de que talvez ele ficasse bem, ainda tinha sangue nas mãos.

... - ...


O silêncio no Impala era tão significativo que pareciam afirmar o que havia de errado ali. Sam queria dizer alguma coisa, mas não sabia exatamente o quê. Lá fora a paisagem tinha um rastro dourado do sol da manhã.

_Dean, eu queria...

_Não precisa. – cortou Dean, não de forma brusca ou raivosa. _É sério. Eu entendi. E... Sammy... – Sam esperou, e depois mais um pouco, Dean não disse nada. Seus olhos estavam vidrados na estrada.

_Hã, Dean...

_Eu sei, não sou bom com essas coisas. Sam, tem sido um ano estranho, de todos os sentidos possíveis. Sei que as coisas entre nós estão...

_Estranhas? – Sam ofereceu a palavra. Dean concordou.

_É, mas... – ele deu uma olhada na estrada e depois Sam. _Mas... Você é meu irmão.

_Dean, foi apenas uma noite. Nós nunca...

_Okay, pode ir parando por aí, não quero saber e não quero falar mais sobre isso. – Sam concordou se calando. Não queria forçar a barra e também não queria omitir qualquer coisa de Dean. E o irmão se apressou a completar com: _Não fique tão animadinho, eu ainda acho que você merece uma surra. Mas, você é tudo que tenho agora, Sammy.

Foi só, mas Sam se sentiu grato por aquilo, por mais que as coisas estivessem... estranhas, eles ainda poderiam ser os mesmos de antes. Os irmãos Sam e Dean Winchester.

O celular de Sam apitou, uma mensagem de texto.

Estou viva.

Encontro vocês no local combinado.

Era Isabel. Sam mostrou a mensagem para Dean, este assentiu e se voltou para a estrada novamente, em silêncio. Mas não podia disfarçar de Sam quando parte da tensão deixou seu corpo e os dedos em volta do volante se suavizarem.

Isabel estava viva, aquela informação já tranquilizava o coração de Sam, pelo menos um pouco. Mas ele não deixaria de sentir o frio no estômago até que a visse. Até que todos estivessem bem e a salvo. Eles estavam preocupados com Castiel, isso era uma constante desde que pegaram estrada. Dean disfarçava bem, mas não podia esconder todo o nervosismo por conta disso. Seja lá o que tivesse de acontecer pelo menos ele tinha Dean e Dean o tinha.

Dean esticou a mão e ligou o rádio, qualquer coisa melhor que o silêncio pesado e cheio de constrangimento. Passou algumas estações pops e parou em uma. No fim de uma música, uma outra começava. Seu irmão fez menção a mudar novamente, mas parou quando ouviu os primeiros versos da música. Sam sabia qual era, Rick Springfield, Jessie's Girl. Foi tão clara a alfinetada acidental - ou não - que Sam quase riu.


"...Jessie arrumou uma garota

E eu quero torná-la minha

E ela está olhando para ele com aqueles olhos

E ela está amando ele com aquele corpo, só sei disso

E ele está segurando-a nos braços tarde, tarde da noite

Sabe, eu gostaria de ter a garota do Jessie

Eu gostaria de ter a garota do Jessie

Por que não consigo encontrar uma mulher assim?"


_É sério? – reclamou Sam. Dean deu de ombros com a sombra de um sorriso no rosto.

_O que é? Eu gosto dessa música. – Sam balançou a cabeça e ficou calado. O que podia fazer além de ouvir Rick Springfield cantar sobre o quanto queria a garota do amigo?

... - ...


Na tela do celular tinha uma digital de sangue, limpei na calça jeans para só lembrar que está também estava suja. Precisava de um banho. Mas me contentava por enquanto em me limpar o lenço de Dean, ainda que estivesse sujo com sangue seco do corte na mão.

_Estou viva e nada de emoticons, as coisas estão realmente ruins entre vocês. – o ignorei me mexendo no banco do carona para colocar o celular no bolso. Steve deixou um gemido de reclamação escapar. _Qual é? Ainda vai continuar me dando um gelo? Nós íamos tão bem. Não pode negar que formamos uma boa dupla. E no fundo, talvez bem no fundo, você gosta de me ter por perto.

Olhei irritada para Steve. O sol deixava seu cabelo platinado e seus olhos tão claros que eram da cor de grãos de arroz. Eu poderia fotografá-lo, queria, era automático, ver as coisas em perspectivas diferentes. Não importava se ele era um demônio, eu queria tirar uma foto por que daria uma bela foto. Parei de encarar antes que ele percebesse.

Não era de toda verdade. Eu conseguia sim odiá-lo, e sabia que poderia matá-lo se fosse realmente preciso, mas a presença de Steve me trazia algo de familiar. Sua leveza descontraída era algo que costumava ter com Adam. Esquisito pensar assim, mas ainda tinha uma ferida aberta por aquela perda, e essa ferida simplesmente agarrava qualquer coisa que parecesse familiar do que um dia fora inteiro no meu coração.

Então continuava a mantê-lo por perto, a ir sem medo onde ele me dizia para eu ir. Uma estupidez, mas o segui naquela floresta, o segui para dentro de uma balada cheia de monstros e estava naquele momento num carro com somente ele. Ainda tentava desvendá-lo, talvez por querer me sentir mais segura, por querer confirmar que poderíamos fazer dar certo, um demônio e a garota híbrida.

Ou simplesmente estava a tanto tempo sem nenhum amigo que aceitava o que me era dado.

_Tudo bem, continue com o tratamento de silêncio.

No caminho de ida fizemos duas paradas, um drive tour e uma farmácia. Segui o conselho de Dean de tomar um remédio para dor no rosto. Não queria ter de aparecer com um olho roxo na frente dos demônios, mas não teve jeito, estava marcado e um pouco inchado.

No geral os demônios não chegaram muito perto ou falaram muita coisa para mim, conversavam entre si e agiam com os seus. Não era bom, eles podiam está tramando alguma coisa contra mim. E eu era a responsável por aquele grupo, tinha de tomar a liderança e falar com eles de cara. Planejava fazer isso assim que saíssemos da estrada. Tinha um plano de organização que esperava que eles cumprisse, mas para isso precisava saber o que nos esperava.

Abri o espelho do carro para verificar o hematoma, mas não fiz isso, um papelzinho caiu no meu colo. Não era uma papel na verdade, era uma foto, amarelada de tão velha e em uma resolução muito antiga. Olhei para ela encontrando os detalhes além da deterioração do tempo.

Nela tinha três pessoas, três rapazes, roupas antigas, uma paisagem de montanhas atrás e sorrisos no rosto. Todos com cabelos negros e mais ou mesmo da mesma altura, estavam com os braços em volta dos ombros um do outro.

_Eu era bonitão, não era? – olhei para Steve surpresa e depois de volta para a foto, sem notar que inutilmente procurava algo de Steve nos garotos. Mas é claro que não encontrei, era uma foto preta e branca, a cor dos olhos era indistinta, mas conseguia traçar certo padrão de idade entre eles. O da esquerda parecia mais velho, tinha traços marcantes, uma covinha no queixo e uma barba curta, o do meio parecia ser o mais jovem, um sorriso muito aberto de menino e cabelos que iam ao ombro em curtas ondas negras. O último era mais magro e um pouco mais alto que a maioria, o cabelo era curto e o sorriso era contido e não mostrava os dentes.

_Como conseguiu isso? – perguntei olhando para o garoto da foto, o rosto meigo aparentava inocência e o sorriso era cativante.

_Olha só, a princesa fala. – olhei para ele esperando a explicação. Steve continuou com os olhos na estrada. _Tem ideia do por que escolhi essa casca vazia e oca por dentro? – fiz que não, mas ele não olhava para mim.

_Não. – respondi tentando não parecer interessada demais na resposta.

_Por que é uma casa vazia, só eu e mais ninguém. Quando se possui um corpo vivo e saudável é como dividir o quarto com alguém, você pode ignorar, colocar uma linha de território no cômodo e nem olhar para cara da outra pessoa, mas você sabe que ela está lá. Você sente as emoções, as memórias, o medo, os gritos silenciosos, é estressante... – ele fez uma pausa. Mudou a marcha e depois voltou a falar. _Olhe atrás.

Virei à foto. Atrás, escrito numa lera cursiva, três nomes;

Joseff, William ac Adrian.

Mae'r brodyr Galwr.

_Os irmãos Caller. – traduziu Steve. _Me chamo William, por sinal, ou pelo menos me chamava.

_Isso é... Como conseguiu a foto? Imagino que não era permitido suvenir na sua estadia no inferno. – Steve sorriu torto com se estivesse a compartilhar algum segredo comigo.

_A primeira coisa que fiz quando saí da frigideira foi voltar a Galês. Espera encontrar pelo um dos meus descendentes, queria possuir um corpo que pertencia a minha linhagem. Encontrei um rapaz, Christian, não me pergunte oque eu ele seria meu, mas ele tinha o sangue dos Galwr. Seria fácil possuí-lo, foi o que fiz. Ele tem uma mulher e um bebê para nascer e um emprego legal num museu, foi como descobrir a foto em um doas arquivos sobre os membros importantes na década de 20 em Galês. – com um sorriso torto ele olhou para mim. _Fizemos história.

_O que aconteceu com Christian? – perguntei tentando imaginar como era William, se ainda restava em sua alma distorcida algum traço do que ele fora décadas antes. Se Steve ainda de alguma forma era William.

_Provavelmente trocando fraudas nesse momento. Como disse antes, muitos pensamentos, muitas emoções e... Ele era um dos meus. A mulher dele era linda e eu podia senti-lo radiante pela chegada do filho, então deixei para lá. Ele lembrava tanto William...

Uma expressão divagadora e um sorriso distante, um conjunto novo e cada vez mais intrigante que via em Steve/William.

_Simplesmente deixou que ele fosse?

_Basicamente isso. – respondeu Steve acordando e focando somente na estrada a frente.

_Ainda resta humanidade em você. – falei sem pensar. Steve não disse nada, não sorriu ou se alterou, apenas continuou dirigindo.

Na verdade não sabia bem o que pensar, Steve poderia está mentindo? Mas parecia sincero. Poderia ser uma manipulação, mas qual era o ponto se ele já mostrou sua faceta demoníaca para mim?

Mas eu podia vê-lo e senti-lo em forma de energia. Não era uma energia boa, mas não era forte e sombria quanto a de Sebastian ou até mesmo Crowley. Era como se escuridão não o tivesse coberto completamente. Sentia-me assim em relação á vários demônios, inclusivo os que viajavam junto a mim. Como se de alguma forma eles tivessem sido soltos antes do prazo.

Manipuláveis e mais suscetíveis a emoções. A resposta soou na minha mente. Balancei a cabeça afirmando para mim mesma que não existia demônio bom.

... - ...


Foi mais fácil adormecer do que Dean pensou que seria. Ele estava cansado, um cansaço físico e mental. Tinha muito no que pensar e no que não queria pensar. Um punho parecia se fechar no seu coração.

Ele insistia para si mesmo que o que fez teve uma razão, brigava consigo que não deveria se sentir culpado, ele era a vítima, o traído. Mas as lembranças das horas anteriores vinham dançando até ele o atormentando. Recordava da mulher no bar, não o nome, só o rosto. Ela era o oposto de Isabel, o que ajudou, uma loira alta, linda, mas não exageradamente, Dean sabia que era uma mulher de classe e não dormiria com qualquer um que lhe pagasse uma bebida. E não foi ele quem tomou a iniciativa, procurava álcool, não uma transa. A mulher só sentou ao seu lado e se apresentou.

O resto ele só lembrava de estar com ela na cama, depois de tentar fechar os olhos para apagar o rosto de Isabel. Evitava olhar para o rosto dela com quem estava, as poucas sardas o fez lembrar das sardas da sua garota. Depois de alguns minutos de hesitação ele se entregou fácil ao desejo, não se permitiu pensar com a cabeça de cima.

Não foi nada emocional ou coisa do tipo, foi puro desejo e tesão pelo o corpo. Uma coreografia estranha no começo. Demoraram a entender um ao outro, ele tinha um ritmo e ela outro, e ele estava com raiva. Talvez tenha apertado demais, ido forte demais ou rápido demais. Mas quando tudo terminou a garota era uma bagunça jogada na cama, cabelos loiros num rosto suado e corado, o corpo nu entre lençóis ainda em êxtase, ela sorria dizendo que tinha sido ótimo, não ótimo, maravilhoso. Ele não agradeceu ou fez algum comentário provocador, ficou calado. Depois da euforia de seu corpo acalmou ele não sentiu nada. Só vazio.

O corpo que estava enroscado a ele não era o que ele queria. O encaixe não era o mesmo, o cheiro do cabelo não era a mesma coisa. Ele havia sido domesticado e acostumado. Gostava de dormir com... Não queria pensar nela! Não ia pensar nela! Estava indo tão bem.

Na primeira oportunidade ele foi embora. Fez o mínimo de barulho ao se vestir parcialmente, o resto podia fazer no corredor e saiu e fugiu enquanto ela dormia, como sempre fazia. Foi uma madrugada sem arrependimento, sem culpa, ele estava sendo... Dean.

Depois houve um barulho no corredor da cabana, e logo em seguida a imagem de Isabel, e foi como ser acertado por um soco no estômago. O segundo, o primeiro foi quando viu Sam, quando tentou tirar do irmão alguma explicação, quando se permitiu sentir raiva mais uma vez. Quando tentou expor do jeito que sabia seu coração ferido e sua mágoa. Era o que mais doía, a traição de um irmão.

Naquele momento houve uma necessidade grande de saber. Desde quando, quantas vezes, e queria saber até se Isabel sentia o mesmo com Sam quando o que sentia quando estava com ele. Só para ser torturar depois e poder lembrar sempre do seu papel de idiota e nunca mais o repetir. Não ia acontecer de novo.

Dean não fazia ideia, ou não queria saber, do quanto aquilo era único e não doentio. O caçador nunca se apaixonara antes dela, nunca amou uma mulher tanto assim e nunca imaginou que passaria por tantas provações por conta disso. Era como se o universo desse a ele e cobrasse por isso, o colocasse para lutar e merecer a única oportunidade de amar alguém e ser amado.

Sua mente brincava com essas memórias e sentimentos até que ele dormiu...

Seu nado era gracioso e tranquilo. Seu cabelo negro acompanhava o movimento da água cristalina do lago agora que o sangue começava a se dissipar na água dissolvendo a nuvem avermelhada em volta do seu corpo nu.

Ela nadou de volta a beira do lado e sorrindo para ele. Dean estava congelando e ela nadava num lago quase congelado como se fosse o dia mais quente de verão. Dean não prestava a atenção nas suas curvas e sim em seus olhos que lhe tiravam o ar, tão gélidos e tão bonitos. Ele não fazia ideia de onde estava e o que fazia ali.

Um bosque os cercava, os galhos cobertos de branco da neve e pingentes de gelo enfeitava suas pontas como cristais. Ele estava parado na beira do lago a observando. Ela se aproximou mais, seu corpo completamente nu se erguendo da água. O sol invernal fazia sua pele brilha como se tivesse sido polvilhada com açúcar.

Dean sentiu um aperto no peito quando ela parou bem diante dele, o cabelo cumprido e encharcado grudado na lateral do rosto e cobrindo-lhe os seios. O seu sorriso o estava deixando nervoso e ao mesmo tempo caloroso.

_Por que ainda estou vivo? – não se lembrava de onde viera a pergunta, só a disse por que era o que queria perguntar. Aquele Dean, preso e amedrontado.

_Ora, por que amo você. – ela pegou sua mão e ele se sentiu tremer dos pés a cabeça. As mão não era fria como ele pensou que estaria, estava quente, ela parecia emanar calosidade. _Vem, nade comigo. – ela o puxou e ele continuou plantado no lugar. Ela então riu, até seu riso parecia diferente.

_Como pode me amar, você não é você. – o sorriso de Isabel se apagou. Ela se aproximou de novo, dessa vez acariciou seu rosto com seus dedos finos e brancos.

_É claro que sou eu. Ainda sou sua garota. – ela então sorriu de novo, com doçura agora. _Não seja tolo.

Então ela fez o que ele não esperava, ficou nas pontas dos pés, segurou sua nuca e o beijou. Ele sentiu seu corpo se eletrizar. Sua boca quente não era nada comparado com o incêndio que se iniciou em seu coração. Por um instante ele se esqueceu de tudo. Do frio, a dor, dos corpos, do sangue, de inocentes sangues na água.

Era ela, sua garota. Ela o beijava e como antes conseguia despertar a vontade de sempre mais nele. Ele se rendeu e a segurou para si e a beijou. Apaixonado e desesperado pela dor que o ruía ele deixou que ela lhe tirasse a jaqueta e camisa, deixou que ela o instruísse a tirar os sapatos e deixou que ela o conduzisse para a água.

Ele a beijou cada vez mais voraz. O lago surpreendentemente não estava frio, ela estava quente e ele também. As água vibrando em volta deles eram como carícias. Dean tirou o cabelo dela do rosto, as pontas flutuavam em volta deles, ela mantinha seus olhos fechados enquanto ele lhe beijava a bochecha indo para o pescoço gostando das reações dos dedos dela agarra seus cabelos curtos um gemido escapar de sua garganta.

Ele sentia sua pele macia dentro d'água. Eles se tocavam e suas bocas ansiavam cada vez uma pela outra. Ele a mantinha firme pela cintura e ela beijava seu pescoço deixando um rastro de fogo onde seus dedos contornavam seus músculos.

_Meu... – sussurrou ela em seu ouvido. Dean olhou em seus olhos acesos. As duas chamas azuis que inflavam tudo a volta e o fazia ser absorvido pelas chamas. Mas ele sentia ali o gelo também.

Ele deu alguma brecha entre seus corpos. Se afastar esse mínimo o fez sentir a temperatura cair drasticamente. O rosto dela mudou, ficou triste. E como se um grande horror rasgou seu coração. Ela não sabia o que era, mas era muito errado.

Então seus olhos foram para a margem do lago. Ele congelou como se tivesse engolido água gelada do rio. Ele estava como Dean havia visto da primeira vez. De branco da cabeça aos pés, vestindo o corpo de seu irmão. Dean sentiu ódio, pavor e angústia. Ele não olhou para Dean, olhava diretamente para Isabel.

Dean sentiu a necessidade de protegê-la, de cobrir seu corpo mesmo estando de baixo d'água, mas de certa forma se lembrou de como tudo havia ocorrido. Isabel não era mais sua, era dele. Dean esperou pela a adaga atravessando-lhe o peito, esperou a morte, e...

_Por favor, você prometeu... – disse ela á Ele. Dean se assustou com a tamanha comoção em sua voz. Lúcifer levou seus olhos para ele. Seu rosto era uma máscara impassível. Tão horrível por ser seu irmão, e suportável por que ele sabia que não era Sam ali. Isabel fez algo que Dean também não esperava, se colocou na frente de dele, as costas em seu peito.

Isabel virou e olhou novamente em seus olhos. Ele viu conflito e medo, muito medo. Quis abraça-la.

_Acho que é assim que termina. Eu escolhi você e... – ela pegou seu rosto com as mãos, sorriu triste e depois sussurrou: _Eu quebrei o mundo.

E tudo mudou. Suas mãos escorregaram de seu rosto, sugadas para baixo. Dean ouviu um grito afogado pela água e seu corpo todo sentiu dor, era quase insuportável e paralisante. Olhou para a margem do lago e se deparou com o vazio. Ele se fora. Não pensou duas vezes antes de mergulhar.

A viu no sendo engolida pelo turbilhão de água em volta. As bolhas de ar deixando seu rastro para ele seguir. Um rosto fantasmagórico e turvo, o pavor em seus olhos. Seus braços se agitavam e sabia que ela chamava por ele.

Seu cabelo balançava em volta do seu rosto como sombras naquele mundo surdo. Ele mergulhou com mais rapidez. Foi o mais rápido que pôde ir. Afundou atrás dela, deixou o ar por ela. Esticou as mãos para pegar as delas.

Seus olhos se encontraram, grandes olhos azuis como só os seus eram, agora turvos como uma tempestade. As chamas então se apagaram...


... - ...

Sam sacudiu o irmão mais uma vez, o chamando alto agora. Ele sentia o corpo de Dean ferver mesmo estando no seu lugar no carro.

_Dean! Acorda! – Chamou começando a ficar desesperado. Sam notou que tinha algo errado quando Dean começara se agitar violentamente no banco. Então encostou o Impala no acostamento com o coração martelando. _Dean!

Dean acordou e se encolheu no banco quando notou Sam. Sua respiração estava irregular e ele começara a tossir. Sam lhe deu espaço. Dean tateou a porta e a abriu quase se jogando lá fora. Sam saiu do carro e foi até seu irmão.

Seus rosto estava branco e brilhando de suor. Sam se ajoelhou no chão e levantou o rosto do irmão.

_Dean, fala comigo, o que está sentindo? – Sam tentava soar calmo para encorajar Dean, mas não conseguia. Dean apoiou a mão no ombro do irmão e respirou com força, piscou algumas vezes e olhou para Sam. Dean não precisou falar para Sam saber que tinha algo muito errado, o jeito que ele olhava Sam, um misto de medo e carinho fraternal. Não era certo, era Sam que deveria estar preocupado com o irmão, não o contrário. _Dean! O que aconteceu?

Sam sabia que era um pesadelo, ou seja lá oque o for, tinha visto aquilo antes, na oportunidade a noite o levou a coisas diferente e ele deixou passar as perguntas para Dean. Mas agora exigiria saber oque se passava com o irmão.

Dean tirou a mão do ombro de Sam e o afastou para que pudesse sair do carro. Sam deu passagem, mas não foi muito longe. Dean respirava melhor agora, mas Sam ainda estava lá perto para o caso de precisar ampará-lo. Estava pálido demais, febril demais. E Sam não conseguia se acalmar, tentava pensar no que fazer. Hospital? Bobby?

_Relaxa, estou bem. – resmungou Dean mal humorado encarando a estrada. Estavam perto do centro de uma cidadezinha próxima as coordenadas, era lá o ponto de encontro com Isabel. Há aquela hora só se viam alguns carros passarem ocasionalmente.

_É claro, você parece muito bem e provavelmente estava sonhando com cachorrinhos. – replicou Sam impaciente.

_Oh, olhe você, todo engraçadinho. – Dean tentou dar um sorriso, mais foi tão forçado que Sam estava decidindo seriamente levá-lo ao um hospital. Dean caminhou de volta para o carro, e praticamente caiu no banco de passageiro. Sam deu a volta correndo e se sentou no banco do motorista.

_Vou dar a volta, acho que passamos por um hospital...

_Sammy, não seja idiota, vamos seguir o plano. Vou ficar bem. – disse Dean determinado. Sam olhou para ele, pele brilhando de suor, a cara abatida e a respiração um pouco irregular, mas Dean mantinha a fachada de "Bem".

Sam ligou o motor e seguiu com o plano. Dean teria de aguentar mais um pouco.

... - ...

Do alto eu podia ver a pequena cidade. Podia ver a grande lona vermelha com listras brancas brilhar com os últimos raios de sol, podia ver o baloeiro enchendo seus balões, os carrinhos de pipocas e doces serpenteando entre crianças e pais que estavam levando seus filhos para ver o espetáculo no grande circo.

Havia uma roda gigante, uma montanha russa, cavalinho e pula-pula, e outros brinquedos cuja as luzinhas e brilhando lá do alto dava a impressão que tudo ali foi salpicado de confetes coloridos. Era um grande festa.

Naquela pequena vila colorida e animada haviam anjos, e estes estavam com sede de sangue. Logo atrás da tenda do circo via-se uma estação de trem abandonada, os trilhos perder de vista e algumas locomotivas desgarradas aqui e ali, e bem lá no fundo uma estrutura, como uma casa abandonada ou um celeiro.

Logo o para-choque entrou no meu campo de visão e o Impala para á poucos metros da encosta. Esperei com certo nervosismo no peito. Encontraria Dean novamente. Mas era pior que isso, era como se algo estivesse muito errado, mas do que já estava. O sol batia na lataria impedindo que visse o interior do carro daquela distância.

A porta se abriu a silhueta de Sam saiu no sol dourado e ele vinha até mim. A satisfação em vê-lo não foi completa quando vi que faltava alguém do seu lado. Olhei para dentro do Impala e apertei os olhos, mas minha linha de visão foi bloqueada por Sam, assim como meus pensamentos que tropeçaram quando o vi.

Paramos um de frente para outro e logo estávamos entregues a um abraço forte. Aquilo significava tantas coisas. Era alívio por estamos bem e de volta um para outro, era um pedido de desculpa por tudo o que foi dito e feito. E simplesmente um momento eu tiramos para encobrir as rachaduras daquela amizade. Faria tudo por ele e ele por mim independente de qualquer coisa.

No separamos e reparamos um no outro. Sam estava bem, só um pouco abatido, como se não tivesse dormido muito bem. Ele passou o polegar na minha bochecha, que voltou manchado com sangue seco. Abaixei os olhos querendo prolongar aquilo. Não queria explicar o que tinha acontecido. Ele levantou meu queixo e me olhou nos olhos. Olhos com cor de madeira, poeira de gelo e flashes verdes. Não era preciso palavras e foi então que senti uma pontada no peito, um nervosismo que só podia significar uma coisa...

_Onde está Dean? – perguntei nos separamos um pouco. Pela expressão de Sam soube que realmente tinha alguma coisa errada. _O que aconteceu? – tentava manter a calma.

_Eu... não sei bem, ele está bem, ele com muita febre...

_Onde ele está? – ouvi minha voz tremer.

_No hotel. – fiz que sim passando a mão pelo cabelo tentando não me entregar a dor no peito. Se alguma coisa acontece com ele...

_Tudo bem, vamos. – já caminhava para o Impala com o coração martelando.

...

Quase me joguei para fora do carro quando chegamos no hotel. A cidade em festa atrás de nós parecia uma piada a angústia que sentia no coração. O hotel estava mais para pensão era uma casa grande com aspecto familiar e acolhedor. Quando fui dirigindo para a porta, Sam me fez parar pegando meu pulso.

_O que foi?

Sam não disse nada por um tempo, só ficou parado olhando para seus dedos envolta do meu pulso. Me solta, gentilmente para retornar sua atenção a minha pergunta. Cruzei os braços e me forcei a ser forte.

_O que é Sam? – ele não disse nada, apenas me levou para o a área atrás do hotel, um pequeno jardim de roseiras e bancos pintados de branco em ambos os lados.

_Deveria dizer a ele. – disse numa voz baixa.

_Dizer o quê? Do que está falando? – alguma coisa ali começava a me deixar agitada, descruzei os braços para em seguida colocar as mãos nos bolsos da calça e depois tirá-las para colocar o cabelo atrás da orelha. _Sam!

_Tudo. Diz a ele como você sente, como... – ele colocou as mãos nos meus ombros. _Ele ama você, e você o ama. Quando chegar lá diga a ele o quanto, como, não importa, só faça ele ter certeza.

O encarei sem saber oque dizer. Sem ter certeza do que ele estava me dizendo. Nos olhos de Sam tinha um oceano de emoções, mas ele estava confiante no seu desapego. Um desapego de mim. Me afastei dele tirando suas mãos dos meus ombros.

_Sam, do que está falando...

_Isabel, por favor. – pediu devagar. _Não precisa tomar nenhuma decisão, você já sabe, só precisa contar para ele...

_Não! Eu não entendo... – mordi o lábio quando senti que estava tremendo. Estava perdendo os dois. Eu sabia que essa hora chegaria, mas não queria que fosse assim, na verdade não via aquilo como uma escolha ou decisão, via como a perda de um deles. Não estava preparada para deixar Sam ir, não depois de Dean. _Não faz isso, eu preciso de você. Não sente mais nada por mim?

Sam sorriu entristecido, ele me olhava como se eu fosse uma bonequinha que uma criança abandonará. Não queria sentir aquela dor de novo.

_Eu sinto tudo por você. – balancei a cabeça não acreditando e tentando ao máximo reprimir as lágrimas. Encarei as rosas, brancas e perfeitas. _Ei, olha para mim.

Com um esforço oque eu ele me pediu. O que era um erro, pois já estava chorando. E sabia que parecia uma criança de birra com os braços fortemente cruzados no peito e tentando ao máximo me manter forte e não entregar as lágrimas. Ele chegou mais perto e pegou meu rosto com as mãos.

_Eu te amo. E você não vai me perder. Eu vou ficar quando me pedir para ficar, eu vou está lá se você me pedir ajuda. E eu até largaria tudo isso para ficar com você e daria tudo de mim para fazer você ficar bem e feliz, se fosse isso que quisesse. Mas, Isabel, seu coração não é meu, e eu sei disso e você também. Eu só... peço desculpa por ter atrapalhado tudo.

Não conseguia pensar no que dizer. Como acontecia toda vez que dizia coisas do tipo para mim. Quando percebia o quanto ele me amava minha mente silenciava.. Eu perdia todas as palavras. Talvez eu só não quisesse ouvi-las. Seu coração não é meu. O que ele dizia agora? Para onde ele apontava?

Se me puxou num abraço e eu chorei silenciosamente contra seu peito, respirando seu cheiro e guardando-o para mim. De alguma forma, dentro de mim eu sabia que algo grande estava por vim. Não me despedia de Sam, mas manteria ele no peito para sempre. O amava, tanto, e queria dizer isso. Mas continuei me firmando no silenciar que abrangia minha cabeça e meu peito.

_Sam, estou com medo.

_Eu sei, mas você é a menina mais corajosa que conheci. Vai dar tudo certo. – ele beijou o topo da minha cabeça. E nos afastou para poder olhar para mim e pegar meu rosto com as mãos e deixar um beijo terno em meus lábios.

Quando menos esperei tudo terminou e Sam se afastou me deixando sozinha com um sentimento ferido e uma missão a cumprir.

...

Meu coração era como uma marreta contra uma rocha. Martelava em golpes fortes que eu achava que iria passar mal. Era curioso o modo como a alteração do sistema nervoso variava com coisa totalmente distintas uma das outras, estava mais tranquila quando decidi roubar armas de uma caçador, mas naquele momento senti que ia enfartar só pela expectativa de dizer a Dean que o amava.

Ia subir e abri aquela porta pronta para dizer "eu te amo". O pensamento me pareceu tão absurdamente cômico que minha garganta coçava em uma gargalhada nervosa. Mas se começasse não iria parar, e não queria parecer mais louca.

Respirei fundo e girei a maçaneta trêmula e com o estômago revirando. Mas tinha que fazer aquilo.

Estava escuro lá dentro. Meus olhos fora logo para cama. Vazia. Lençóis revirados. O cômodo não era tão grande, então facilmente o encontrei. Dean estava na sacada, as cortinas tremeluziam como fantasmas agourentos ás suas costas. O próprio estava sentado no degrau. Costas arqueadas e uma silhueta contornada pela luz dos postes lá fora.

Fechei a porta atrás de mim fazendo pouco barulho para não assustá-lo. Adentrei devagar e coloquei minha mochila no chão no meio do caminho. Meus pés estava pesados e caminhada curta até a sacada se tornou uma pista longa. E só então me ocorreu que minha aparência deveria está péssima. Não tinha tomado banho, e mesmo limpando o sangue na pele com um lenço e água, ainda cheirava a ferrugem e ainda usava as roupas sujas. E meu cabelo...

Me sentei ao seu lado no chão e olhei para frente, para o que ele via. A vista entre as colunas do parapeito dava para rua silenciosa e a descida até a cidade. Lá fora caia a noite e com ela o tempo mais fresco. Céu limpo com nuvens arrastada e rosadas, como se um pintor tivesse limpado um pincel ali.

Minha respiração ficava falha com a ciência da proximidade de Dean. Tudo que viera dizer a ele começava a incitar uma faísca de pânico. Então durante segundos inteiros, ou minutos, poderiam ser até a eternidade, não importava, mas durante um tempo ficamos em silêncio. Apenas o som surdo da noite lá fora e nossas respirações. Mas o parti me sentido pressionada por palavras;

_Dean... – e parei. Soava estranha. Formal demais. _Você está bem? – ousei levar os olhos ao seu perfil. Suas linhas desenhadas contra luz com a delicadeza de uma estátua grega. E ele olhou para mim, nos meus olhos e eu me senti faltar o ar.

Naquele momento, naqueles olhos, eu tive a certeza. A certeza que Sam me explicou. Não podia mais me enganar. Podia parecer clichê e adolescente demais, mas eu não podia mais negar ao meu coração a vontade que tinha de se permitir amar o homem bem à minha frente. Amar de verdade, completo e apaixonadamente. De ainda poder corar na presença dele, de sentir o estômago se agitar com um beijo e sonhar que seríamos nós, entre milhares de casais, contra o mundo.

E que se ferrassem Sebastian, Steve e qualquer outro que ousava dizer que era uma estupidez e uma fraqueza amar assim. Era fraca sozinha, era estúpida se permanecesse sozinha, mas o elo entre mim, Dean e Sam era uma corrente inquebrável não importasse o que acontecesse.

_...contou para você , não foi? – demorei um pouco para entender oque ele queria dizer, até que tentando disfarçar meu momento à deriva, eu disse:

_Certo, ele disse. – imaginava que ele se referia a sua saúde. _Você está bem? Parece pálido. Está com febre? O que aconteceu? Sam disse que você estava muito mal, que queria levá-lo a um hospital, mas você não quis. Dean, temos que procurar ajuda, eu não quero que...

_Isabel! – ele disse meu nome firme para que eu calasse a boca, já que o estava atropelando com minhas palavras soltas. Tonta. _Estou bem. Sério, foi só... eu não sei, a essência de Miguel me deixou com febre. Só não fui encontrá-la por que Sam roubou o meu carro enquanto eu dormia. – disse tentando soar casual, casual demais. Assenti desconfiada. Ele estava de fato um pouco pálido, mas não parecia febril.

Aquilo tudo foi culpa minha. Miguel, a adaga em seu peito, e agora isso. Culpa minha. Um bichinho que corroía aos pouco a esperança que construí enquanto subia as escadas do hotel. Não fora uma simples traição ser superada. Era a manipulação, as mentiras e a morte.

O amava, mas não podia fazê-lo me amar novamente. Talvez tivesse assassinado esse sentimento ao cravar uma adaga em seu peito. Desviei o rosto tentando esconder a vergonha e desesperança.

_Ei. – ele chamou. Não o olhei. _Tudo bem?

_Acho que sim... – respondi numa voz débil.

_E os outros? – ele falava dos caçadores, ou até os demônios. Lancei um olhar para ele esperando que aquilo entregasse o relatório que ele queria. Não gostaria de entrar naquele assunto, não agora.

Dean entendeu. Estava chateado, podia dizer.

_Eu sinto muito. – minha voz era quase um sussurro. _Eu não...

_Fica. – foi tão repentino que levei um susto.

_O quê?

_Se eu pedisse para você ficar aqui e não sair desse hotel, ficaria? – seu tom era quase urgente, o que me assustou um pouco.

_Dean, eu não posso. – respondi com cautela. Não entendia o que ele tentava fazer, e por que agora?

_Por que não? – sua pergunta próxima pergunta também me surpreendeu.

_Porque isso é para mim. Porque o Cass está lá e precisa de mim. Porque eu tenho demônios espalhados por essa cidade. Porque essa luta é minha. – tentei dizer gentilmente, mas soava resignada.

_Não é só sua. É meu trabalho, nosso trabalho, meu e do Sam. – disse ele com certeza nas palavras.

Dean queria que eu ficasse. A preocupação e o medo estavam estampados em seus olhos. Aquilo me matava.

_Se eu fizer uma outra pergunta posso confiar que será sincera? – fiz que sim com a cabeça. Meu sangue gelava. _Você alguma vez, ou momento já me amou de verdade?

Levei outro susto com a pergunta. Uma pontada de mágoa. Então ele ainda duvidava, e sempre duvidou.

_Por que está me perguntando isso?

_Lembra oque conversamos sobre usar uma pergunta como resposta? – disse leve, um meio sorriso aparecendo. Como poderia esquecer. O Impala rodando e nós, completos estranhos, se reconhecendo e encontrando traços um no outro. Foi um bom dia.

_Sim. Eu amo.

_Então fique. Por mim.

_Achei que não se importasse mais. – Dean estava me confundindo. Era um pedido em nome do meu amor por ele, mas não o amor dele por mim.

Eu via carinho, um instinto de proteção, um amor fraternal. Mas eu era sua, e ele, era meu?

_Acho que te ver... se ferindo mudou um pouco as coisas. – falou enigmático.

_Do que está falando? – não sabia ao certo em que territórios estávamos. Mas algo naquela frase despertou algo em mim. A verbalização do que vinha pensando. Precisava saber.

_E você?

_O que tem eu?

_Você me ama?

Um sorriso fraco e breve se formou nos lábios de Dean. Seus olhos como soldas verdes me fitavam. Meu rosto esquentava. Ele me olhava. E eu corava, boba que era.

_Não é obvio?

Acontecia uma série de eventos em mim naquele momento. Um seguido do outro no intervalo de cada palavra sua. Minha cabeça girava, meu coração acelerava elétrico e no meu estômago morava uma rebelião de borboletas.

Estava com medo de ter interpretado algo errado. Mas eu sentia nossas cinzas se remexendo e outra fênix surgindo, linda e gloriosa, e seu fogo nos banhavam em faíscas. Ainda estava lá, acendendo novamente minha esperança chamuscada.

Não soube ao certo quem começou, mas o beijo era faminto, acelerado e até desengonçado. Minhas mãos na sua nuca e as dele infiltradas em meus cachos. Poderíamos até nos nutrir naquele beijo.

Meu Deus, como o amava. Meu corpo chegava a queimar clamando por mais, por satisfação do meu desejo. Num movimento rápido demais para conseguir registar me encontrava em baixo de Dean. Houve um momento em que interrompemos o beijo, uma troca de olhares, uma hesitação, uma organização das coisas. Era aquilo mesmo? A resposta era sim. E ela foi respondida simultaneamente quando nos aproximamos e unimos nossas bocas novamente.

Era um beijo de reconciliação, de paixão e mandava o recado que nossos corpos queriam que entendêssemos: Queríamos um ao outro. Devorar um ao outro. Queimar um ao outro. Sua língua quente em contato com a minha numa batalha lenta por espaço. Uma mão sua apertava minha cintura, a outra aberta no chão para que ele não comprimisse com seu peso.

Abri um pouco mais as pernas para que ele se ajeitasse entre elas. Dean se ergueu sentando nos calcanhares, rápido tirou a camisa, a única que usava. Logo ele agarrou minhas coxas e me puxou para si fazendo-as envolverem seus quadris e assim nossos corpos ficarem mais próximos. Ele não precisou fazer nada, já tirava a camiseta por cima da cabeça. Dean me olhou luxuria e o jeito que umas das mãos agarraram meu cabelo e outra o meu quadril me passou uma sensação de posse.

Era sua.

_O que você fez comigo? – sussurrou com a boca no meu pescoço. A resposta veio em forma de um gemido alto quando sua boca fez uma pressão mais forte na curva do meu pescoço.

Naquele momento gemia para as nuvens e as estrelas, não me importava se alguém lá em baixo tinha nos ouvido. Não tinha noção de espaço ou lugar, só me concentrava nas sensações inebriantes e no prazer capcioso que foi o sentir arquejar quando minhas unhas arranharam suas costas. Em resposta ele colocou mais pressão nos dedos, agora na parte de baixo da minha coxa e no beijo devastador. Perdia o ar.

Tudo foi avassalador e ao mesmo tempo calmo, terno. Um desejo regado a amor. Quando olhamos nos olhos um do outro, sentimos um ao outro.

Meu coração perdeu seu compasso normal. Esqueci como respirar regularmente. Ele pegou minha mão e colocou no lado esquerdo do seu peito. Senti seu coração pulsar contra a palma.

_Você está acabando comigo. – disse baixinho. E sem aviso, me agarrou e se levantou adentrando o quarto comigo ainda enrolada em seu corpo. Com cuidado desci de seu colo. Paramos no meio do quarto com direções e opções novas a ser exploradas.

Concentrava-me apenas naquele momento. Minha memoria registrava tudo para o caso de está sonhando poder lembrar quando acordasse. Dean se inclinou e beijou minha bochecha. Meu queixo. Dorso do nariz, onde mordeu de leve a ponta me fazendo rir e a ele também. Depois testa descendo a curvatura do meu pescoço, subindo até a boca. Seus braços enlaçaram minha cintura e eu podia me deixar ser completamente sua.

Milhões de borboletas dançaram e comemoram no meu estômago. Sua testa junta a minha, o ar de sua respiração quente se encontrando com o meu. Seus braços em volta do meu corpo deixavam minhas pernas fracas. Então me entreguei ao que eu tinha no momento.

O Deixei me levar até a cama. Me deitei nela agradecida pelo apoio, se continuasse em pé cairia. Deixei que mapeasse meu corpo com as mãos. Deixei que me despisse. Deixei meu corpo regado a emoções guiar meus movimentos, minhas mãos correspondendo a suas caricias o puxando para mais perto.

Ele desceu, escapando dos meus braços para que seus lábios marcassem com beijos minha pele exposta, minha barriga nua, minhas pernas desprovidas de nenhum tecido para impedi-lo. Seu dedo indicador baixou um pouco o tecido da minha calcinha o suficiente para deixar um beijo na minha virilha e no meu quadril.

Prendi a respiração.

Tudo congelou e girou ao mesmo tempo. Era tudo sobre Dean, não existia mais nada no universo que desviasse minha atenção daquele momento.

Estava arfando.

Ele subiu devagar, sua boca deixou um rastro de fogo pelo meu corpo. Abra os olhos. Ordenei á minha mente extasiada.

Passei as pontas dos dedos contornando seu rosto. Decorei o desenho da sua boca, os lábios que tanto gostava. Ele estava me olhando, não um olhar malicioso que costumava não esconder quando meu corpo só com roupas de baixo era lhe oferecido para apreciar.

Com as minhas mãos nos seus ombros subi o pescoço o puxando para mim, inspirei na sua nuca. Ele se apoiou sobre os cotovelos ao lado das nossas cabeças, mas eu queria todo ele, todo seu peso se difundindo ao meu.

Seu cheiro era o único que queria sentir, o aroma da sua pele misturado ao de sabonete barato e a couro. Dean deixou um beijo na cavidade entre meus seios produzida pelo sutiã. Esqueci como respirar suavemente.

Suas mãos fortes agarraram minha cintura e eu envolvi a sua com as coxas fazendo nossos sexos de tocarem causando em mim um gemido e em Dean um movimento suave de quadril que me fez quase ronronar como um gato manhoso.

_Dean... – a palavra escapou num sussurro sufocado.

_Adoro o jeito como diz meu nome. – ele sussurrou de volta. Queria dizer que o amo, me declarar ali e agora, mas sinto que não seria o momento. Ele me beija com mais força e urgência. Então se afasta.

Estava tão incandescente que mal senti os polegares de Dean se prender nas laterais da minha calcinha. Literalmente parei de respirar por segundos. Ele também parou, repensou seu próximo ato. Então num gesto suave deslizou a peça para baixo...

... - ...


Acorde. Chegou a hora.

Sua voz me atravessou como uma bala feita de pingentes de gelo. Aquilo me fez acordar num ímpeto. Com a respiração ofegante olhei para o outro lado da cama. Vazio. Dean não estava lá. E a voz de Lúcifer era nítida na minha mente. Tinha chegado a hora.

Enrolei meu corpo completamente nu com o lençol e sair da cama, me sentindo de repente observada. Com os olhos esquadrinhei cada canto do quarto a procura de Dean. O banheiro estava com a porta entre aberta e nenhuma luz vazava dele.

Mesmo assim fui até lá. Estava vazio. O desespero começou a me subir a garganta e me sentia tonta. Peguei qualquer roupa na mochila e me vesti rapidamente. Fui até a porta ainda descalça para descobrir que esta estava trancada. Forcei-a mais algumas vezes e nada.

Acorde. Chegou a hora. Do que ele estava falando? Que hora? E onde estava Dean e Sam?

Minha cabeça fervilhava de pergunta, tantas que momentaneamente abafaram os sons que vinham da janela. Atravessando o quarto empurrei as cortinas e saí na sacada. A noite continuava fria, a lua se escondia no céu e lá em baixo uma névoa densa cobria a cidade. Mas não era névoa, era fumaça.

Os pontos brilhantes, não eram as luzes e sim fogo. E os sons abafados pela distância eram gritos. E as pessoas não corriam para perder o espetáculo, elas corriam para sobreviver. A cidade estava em chamas. Fogo em puro branco.

Antes que eu pensasse em como sairia do quarto a porta começou a tremer com batidas fortes. Corri de volta ao quarto e peguei adaga dos anjos em cima da cômoda e me coloquei ao lado da porta. Meu coração batia descontrolado, mas meus dedos eram firmes no metal frio.

_Isabel? Isabel? Abra, sou eu! – era Steve.

_Steve, eu não posso, está trancada! – gritei de volta.

_Chegue para trás. – dei alguns metros de distância. A porta sofreu uma pancada forte e rápida, e foi escancarada de uma vez só, as dobradiças frouxas soltaram lascas de madeiras e Steve foi cuspido para dentro do quarto.

Ele ajeitou e olhou para mim com a boca aberta e o cabelo bagunçado. Tinha pequenos cortes em seu rosto, a camisa estava rasgada na frente e suja com sangue, ele carregava uma adaga, também manchada de sangue. Mas oque me chamou mais a atenção foi seus olhos, totalmente negros como corvos. Engoli o nervosismo em seco e foquei no que realmente era minha preocupação.

_Onde eles estão? – perguntei. Steve continuou a me olhar. Uma olhar indecifrável através daqueles véus negros.

_Eu não sei. – respondeu com a voz fraca.

_Vou achá-los. – disse como uma verdade absoluta. Não ia perdê-los. Não naquele dia, não quando tinha acabado de ter Dean de volta para mim. Peguei os coturnos e os vesti apressadamente. Agora tremia.

_Qual o plano? – perguntou Steve.

Eles viram até você. Morda a isca, deixe que a levem. Resista e não se preocupe, irá ficar bem.

Parei no meio do laço do cadarço. Era aquilo. Desde o começo. A isca estava ali, a armadilha pronta para mim. O que Lúcifer queria de mim era rendição.

Mas a questão era o por quê?

Mas se houvesse qualquer chance de salvar...

_Eu vou me entregar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, mereço reviews??? Vai, não custa muito me contarem o que acharam do capítulo, ficaria muito feliz ;)

Até mais Anjos.


Xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Broken Girl" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.