Acordei assustado, meu coração estava acelerado, e para piorar, o relógio que estava na cabeceira da minha cama marcava 19h00min. Alguém me explica como eu sobrevivi todo esse tempo com só um pedaço de pizza no estomago? Eu levantei, com meu corpo ligeiramente dolorido pela posição que eu tinha dormido. Enquanto me dava ao trabalho de pedir comida chinesa pelo telefone, fiquei pensando no sonho que tive. Uma coisa eu tinha certeza, nunca conhecera nenhuma loira dos olhos cinza, muito menos alguma garota que usasse um vestido medieval como aquele. Claro que já havia visto algumas cosplayers por ai em alguns eventos, mas posso afirmar que não era o caso daquela loira.

Andava em círculos pela sala, quando reparei em algo que estava em cima de uma escrivaninha. Era um velho caderno com capa de couro escura, provavelmente um diário. A grande pergunta era: como aquilo fora parar ali. Nunca fui muito de escrever, na verdade não sei como me formei no ensino médio ou como consegui entrar para alguma faculdade. Não conseguia me lembrar de ter ganhado isso de alguém, e não tenho motivos para comprar um. O fato estava ali, havia um diário velho em cima da minha escrivaninha. Eu me aproximei cautelosamente, afinal, se aquilo apareceu do nada, podia ser algo muito ruim. Eu peguei o diário, ele era grosso e ligeiramente pesado, parecia ter sido costurado a mão, as folhas amareladas confirmavam o fato de ele ser velho.

Assim que o abri o diário comecei a desconfiar. Era claro que sendo um diário velho, mas porque justo as primeiras paginas tinham que estar rasgadas? Não tinha como saber quem era o dono daquele diário. Tentei folheá-lo com cuidado para ver do que se tratava e em poucos segundos estava quase morrendo de tédio. Definitivamente era o diário de algum homem, dava para saber pelo garrancho que era a letra, até parecia a minha. E esse cara só ficava falando da namorada, ou como estava escrito noiva, falando o que fez com ela, do que ela gosta como a ama e bla, bla, bla. Perdi as contas de quantas vezes ele escreveu Annabeth em apenas cinco páginas. E eu também acho que o cara não batia muito bem da cabeça, ou no mínimo estava um tanto inspirado, porque não conseguia achar um motivo para um homem ficar descrevendo em seu diário como seria o castelo em que ele moraria com sua princesa, o que ele conversava com seu amigo sátiro, batalhas que envolviam magia e o quanto sua noiva era mais bela que todas as ninfas que ele já vira.

Enquanto folheava suas páginas, o diário deixou cair um pedaço de papel dobrado, eu me abaixei para pegar e comecei a desdobrá-lo. Era um pouco maior que uma folha A4 de sulfite, e estava tão amarelado quanto o diário. Era um pequeno desenho, mas não conseguia ver direito, a folha parecia empoeirada. Eu comecei a falar comigo mesmo. “Como a folha pode estar empoeirada se ela estava dentro do diário? Não seja idiota Percy.” Mas a folha realmente estava empoeirada, tanto que passei o dedo sobre ela e uma camada de poeira, que eu estranhei estar amarela e não branca, saiu, revelando um dos rostos da pintura. Era a garota loira, a mesma dos meus sonhos, era realmente ela, com seu cabelo loiro cacheado e os olhos cinza. Comecei a tirar um pouco mais daquela poeira para ver mais do desenho. Ela estava num vestido salmão, e rosa, daqueles bem antigos que você via quando alguém ilustrava um conto de fadas, e ela estava linda. Enquanto me impressionava com o detalhe do desenho, me dei conta que havia outra pessoa no desenho e comecei a tentar revelar quem era, quando comecei a tirar a poeira daquele lado do desenho, logo percebi que, pelas roupas estilo príncipe encantado da Disney, era um homem. Os trajes eram azuis e brancos e ele estava de braços dados com ela, então comecei a revelar o rosto e levei um dos maiores sustos da minha vida. Quando vi aqueles cabelos escuros, me lembrei dos meus cabelos escuros, e definitivamente aqueles era meus olhos verdes e até mesmo aquele sorriso que alguns descreviam como idiota estava lá.

Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, um vento forte começou a soprar no meu rosto. Vento? Não me lembrava de nem de ter aberto a janela. O vento era tão forte que escapou da minha mão e eu fui obrigado a fechar os olhos e proteger meu rosto. Tentei ficar de costas para o vento, mas não estava dando certo, parecia que ele me seguia para que acertasse meu rosto. Tentava abrir os olhos, mas o vento não deixava.

– O que você quer? Eu perguntei o mais alto que conseguia.

Como respostas eu senti uma pancada na nuca, que doeu muito. Senti-me tonto e meu corpo foi ao chão. Eu estranhei, não senti o chão frio do meu loft, senti algo mais macio, como se fosse grama. Não conseguia organizar meus pensamentos, eu apenas desmaiei.

Quando acordei, minha cabeça ainda doía, e podia sentir a luz do Sol banhando todo meu corpo. Luz do Sol? Vento misterioso? Precisava me lembrar de quando abria as janelas. Tentei me sentar enquanto abria os olhos, e me assustei de novo. Não estava em Nova York, a menos que ela tenha se transformado em uma campina verdejante com belas arvores e... Espera. Aquilo eram veados? E quanto mais eu tentava parar para pensar mais coisas me distraíam, ou era a música parecia ter sido trazida com o vento, ou os passarinhos, que começavam a pousar do meu lado e piar para mim. O que era aquilo? Eu estava preso dentro do conto da Branca de Neve ou da Cinderela?

– Perseu?- Pude ouvir alguém me chamando, ou chamando alguém que tinha o mesmo nome que eu. – Percy é você?

Virei-me para ver de onde vinha a voz, e algo me dizia que aquele encontro mudaria tudo que eu sabia sobre mim até aquele momento.