Fate/Legends - Ashe escrita por Lanko


Capítulo 9
Ashe - Reminiscências IV: Inocência


Notas iniciais do capítulo

Ashe precisa se recuperar da batalha contra Jarvan e Riven. Enquanto isso, John será levado ao passado da Arqueira de Gelo, descobrindo mais sobre sua vida passada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/476235/chapter/9

John dirigia de volta ao seu apartamento depois que deixaram Riven algumas ruas atrás. Ashe dormia no banco do passageiro.

Ele ainda não podia acreditar em tudo que vira alguns minutos atrás. O terremoto do cavaleiro dourado, o tornado da garota Riven e a flecha gigante de gelo de Ashe. O combate foi violento e feriu gravemente os três envolvidos.Carros e lojas foram destruídos, sem falar da própria rua. Não queria nem imaginar o que as pessoas e a mídia iriam pensar de toda aquela destruição.

Por fim, chegou em seu prédio e estacionou. Ainda eram 21h e alguém poderia chegar, por isso John verificou se alguém estava por perto. Ashe dormia, ainda em seus trajes de combate, o arco no banco traseiro.

Aproximou-se de Ashe e a observou. Ela se feriu diversas vezes durante a batalha e não era nem de longe resiliente como os dois oponentes que enfrentara. Normal que estivesse esgotada. John precisava levá-la até a base, mas relutava se deveria carregá-la ou acordá-la.

A expressão séria e firme, até mesmo fria que ela tinha, era tranquila e delicada enquanto dormia. Ela é linda, pensou John. Ele vira Ashe nos sonhos que tivera e observara que ela era bonita, mas a observando de tão perto, o sentimento agora era de admiração por suas feições.

O que diabos estou pensando? John balançou a cabeça e colocou a mão no ombro da arqueira para despertá-la, levando um susto. Ela está fria, pensou John. O carro estava com os vidros fechados e não poderia estar tão frio. Se não fosse a calma respiração de Ashe, ele teria pensado que estava relacionado a um ferimento.

– Ashe. Ei, Ashe. – Disse John, sacudindo o ombro da arqueira.

– Hm? – Lentamente ela abriu os olhos e olhou em sua direção.

– Chegamos. Consegue andar?

Ashe respirou profundamente e se inclinou no banco. – Sim. Vamos. – John estendeu sua mão e a ajudou a se levantar. As mãos dela também estavam frias. Ele teria perguntado se estava tudo bem, não fosse o ridículo que isso causaria depois daquela batalha.

Partes do vestido de Ashe estavam rasgados, suas costas com rasgos de cacos de vidro e roxas pelos impactos sofridos, seu braço esquerdo com um corte profundo e diversos hematomas, sem falar num ferimento na bacia, que embora curado pelo feitiço de invocador, ainda deixara manchas de sangue sob a pele.

Usaram o elevador de serviço e entraram no apartamento, sentindo a energia da base os regenerarem. John não tinha sido ferido, mas ainda assim era uma sensação agradável.

– John, amanhã às 3h da tarde encontraremos Riven no Parque de Springfield. Esteja pronto. – Disse Ashe, se dirigindo ao quarto de visitas.

John não sabia muito bem o que pensar da espadachim chamada Riven, mas aparentemente ela e Ashe poderiam chegar a um entedimento, o que era um progresso. Bebeu um copo d’água e foi dormir.

–---------------=/=---------------

Novamente a paisagem de neve se estendia diante de John. Dessa vez não haviam ventos ou nevascas, tudo estava tranquilo. O corpo etéreo de John foi levado até uma vila, cercada de altas estacas de madeira que protegiam diversas casas pequenas, feitas de madeira, peles de animais, algumas poucas de pedra.

– Vamos, Ashe, mais rápido! – Gritava um garoto.

– Espera! – Respondeu a menina, vindo atrás.

John viu as crianças, com roupas de peles e lã, reconhecendo Ashe imediatamente. Era novamente uma criança, os mesmos olhos azul-turquesa e ainda tinha cabelos loiros. Tinha crescido desde que a vira na clareira com a mãe abatendo um veado. Agora que a conhecia pessoalmente, estava mais curioso sobre sua vida. Sabendo que conseguia acompanhar os pensamentos e sentimentos dela no sonho, decidiu simplesmente se deixar levar pela menina.

– Cheguei primeiro! – Disse o garoto.

– Não valeu, Alvin! – Respondeu Ashe.

Os dois começaram a falar ao mesmo tempo, interrompidos por uma garota de longos cabelos negros.

– Haha, vocês dois hein! – Se aproximou a garota.

– Sejka! – Exclamou Ashe.

A garota alta abraçou as duas crianças e começaram a conversar.

– Parabéns, Ashe, soube que comemorou seu décimo inverno anteontem! Infelizmente não conseguimos chegar a tempo por causa das nevascas. – Disse Sejka.

– Ah, tudo bem! O que importa é que você está aqui! Vamos brincar! – Disse Ashe.

– Ela acabou de perder na corrida pra mim! – Disse Alvin, o garoto de cabelos castanhos claros.

– Você trapaceou! Começou a correr antes do sinal! – Replicou Ashe.

– Calma, calma! – Disse Sejka. – Que tal o Urso e a Bela Donzela¹?

– Sim! – Exclamaram Ashe e Alvin.

Os três foram a um lugar mais amplo, perto de árvores e um pouco mais afastado das casas.

– A bela donzela caminhava, tranquila e desatenta! Então havia um urso, um urso, um URSO! Preto e castanho e coberto de pelos! – Cantou Sejka.

– RAWR! – Gritou Alvin, correndo em direção à Sejka, com as mãos imitando garras.

– Mais rápido que minhas flechas? Acho que não! – Disse Ashe, mirando uma flecha de papel em direção a Alvin.

Alvin foi atingido por duas flechas de papel e foi em direção à Ashe. O garoto era mais rápido e foi diminuindo a distância entre os dois. Ashe corria, parava e atirava uma flecha antes de correr de novo. Alvin desviou de duas e foi atingido por outra. Então pulou e derrubou Ashe na neve.

– Você foi devorada! – Disse o garoto.

– Não fui não, você morreu faz tempo! – Rebateu a garota.

– Você tinha que acertar cinco flechas, acertou três!

Sejka gargalhava ao fundo enquanto os dois se empurravam e jogavam neve um no outro.

– Muito bem, chega! É verdade, três flechas não o suficiente para um urso! Agora Ashe é o urso e Alvin o cavaleiro!

Sejka cantou novamente e Ashe correu em direção à ela, mas ficou chocada ao ver que Alvin não estava usando um arco e flechas de papel, mas corria em sua direção com a flecha empunhada como uma espada.

Novamente ele pulou em direção à Ashe, derrubando-a na neve, amassando a flecha de papel em seu peito.

– Urso abatido! – Gritou Alvin.

– Não abateu coisa nenhuma! – Ashe juntou neve nas duas mãos e jogou no rosto de Alvin.

Outra guerra de neve começou e Sejka novamente os separou, rindo.

– Um urso não morre em um golpe! Você foi comido, Alvin!

– Viu só! – Disse Ashe triunfante.

– Era uma ursa filhote, então um golpe bastou! – Zombou o garoto.

– Não era nada! – E a guerra de neve recomeçou, até Sejka sendo atingida e revidando contra os dois.

Depois de alguns minutos todos os três estavam sentados, ofegando de cansaço.

– Ah, vocês dois, sempre me divirto muito! Temos que fazer isso mais algumas vezes, logo não poderei mais. – Disse Sejka.

Ashe e Alvin olharam sérios para a garota alta.

– Por quê? – Perguntou Ashe.

– Vou casar com Grankjar daqui a seis meses, quando terei passado por catorze invernos. Terei certas responsabilidades e deveres, e não vai sobrar tempo pra brincar com vocês. Além de ser impróprio pra uma mulher adulta! – Disse Sejka sorrindo.

Um longo silêncio pairou entre os três, até Ashe o quebrar.

– Quantos invernos tem o Grankjar mesmo?

– Dezenove. Estamos nos falando há algum tempo. – Sorriu Sejka. – Ele é esperto, forte e divertido! Vamos nos dar muito bem!

– Ew…bem, eu vou indo, essas conversinhas melosas não são pra mim. – Alvin se levantou e suspirou de surpresa. As duas garotas também se viraram e arregalaram os olhos.

– Senhora Francesca… - Disse Sejka.

– Mãe… - Disse Ashe.

– Olá, crianças! – Disse a mulher.

Alvin e Sejka assentiram e se retiraram, despedindo-se de Ashe, que foi ao encontro da mãe.

– Está ficando tarde e vim te procurar. – Disse Francesca.

– Estávamos brincando de o Urso e a Bela Donzela! Eu ganhei tudo! – Disse Ashe.

– Hm, que bom! Mas não foi o que eu vi, “ursinha”!

Ashe ficou vermelha de vergonha. – Você viu tudo?

– Sim.

– É…eu perdi como ursa e cavaleira...

– Mas é nos erros e derrotas que aprendemos as mais importantes lições, Ashe. Por exemplo, você foi alcançada pelo Alvin porque parava para atirar flechas. Precisa aprender a disparar enquanto corre.

– Isso é possível?

– É bem difícil. – Confessou Francesca. – Pouquíssimos conseguem acertar disparos enquanto se movimentam. Mas é algo indispensável pra um arqueiro. Imobilidade é fatal. Movimentação é vida.

– Vou começar a treinar isso.

– Quanto a segunda derrota…o que você faria caso não tivesse seu arco? Como lutaria?

Ashe pensou nisso por alguns segundos. – Não sei. – Admitiu. – Com uma espada talvez.

– O oponente teria vantagem, pois estaria de armadura. Como arqueira você estaria com proteções de couro no máximo. Afinal, precisamos de velocidade pra nos reposicionar. Se você usar armadura, poderá ser alcançada enquanto estiver com o arco. E armaduras são coisas traiçoeiras na neve, na montanha e em lagos e lugares congelados. Muito peso.

– Então o que eu faço?

– Precisa treinar sua mente, seu raciocínio. Se está desarmada e não sabe lutar corpo a corpo, seria suicídio tentar. Então pergunte-se: Você poderia levar esse oponente para um lugar desfavorável? Onde ele poderia afundar na neve ou partir o gelo do chão? Existem obstáculos que dificultariam ele a usar a espada, como árvores e lugares muito fechados? Você tem aliados próximos? Ninguém mataria um inimigo pra logo em seguida ser morto pelos aliados dele. Ele recuaria. Você pode tentar irritá-lo ou distraí-lo. Você correria mais rápido que ele, então poderia simplesmente fugir. Enfim, existem várias maneiras de combater. Não apenas fisicamente, mas também mentalmente e psicologicamente.

Ashe estava espantada. Francesca percebeu.

– Calma, você tem apenas dez invernos! Vou te ensinar e você também vai aprender por si mesma! Mas é bom conversarmos assim, Ashe. Freljord é um lugar perigoso e não muito amistoso. Desde cedo devemos nos preparar.

– Amanhã vou atirar enquanto corro! Você me mostra?

– Claro! – Francesca alisou os cabelos de Ashe.

As duas chegaram em casa, que não era muito grande, mas era feita de pedra e madeira, quase sem nenhuma pele de animal. Afinal, era a casa da líder da tribo.

– Francesca! Ashe! – Gritou alguém.

– Tio Bjorn! – Exclamou Ashe.

John viu um homem com uma enorme barba castanha se aproximando, acompanhado da mulher e de Alvin. Ele vira esse homem na clareira também, na memória de cinco anos atrás.

– Eu os convidei para jantarem aqui hoje. – Disse Francesca. As duas mulheres entraram para começarem os preparativos.

– Ei, Ashe! Aqui está o maior guerreiro e o urso mais perigoso de Freljord! – Zombou Alvin.

– Da próxima vez vai ser diferente! Não vai me alcançar! – Devolveu Ashe.

– Hah! Sou muito mais rápido!

– Veremos!

– Alvin, comporte-se. – Disse Bjorn. – Bem, crianças, que tal uma história enquanto esperamos a comida?

– A Lenda de Avarosa! – Disse Ashe imediatamente.

– Ashe, você só pede essa história. E Avarosa contra a Bruxa de Gelo. – Disse Alvin, revirando os olhos.

– É a minha favorita, oras!

– Haha, e eu não canso de contá-la. Você também devia se interessar mais pela nossa cultura, filho – Disse Bjorn a Alvin.

– Espera. – Disse Ashe, como se lembrasse de algo. – Preciso falar com minha mãe rapidinho.

Ashe entrou na casa e chamou sua mãe Francesca: - Mãe, posso chamar a Sejka pra se juntar a nós?

As duas mulheres se entreolharam. – Claro, filha! Pode chamá-la. – Respondeu Francesca.

– Mas, senhora Francesca, as provisões… - Indagou a outra mulher.

– Tudo bem, Marla. Recebi relatórios que o lago Arëndal ficará com nós por mais um bom tempo e amanhã já está planejada outra excursão. Vamos deixar as crianças relaxarem. – Respondeu Francesca.

– Que ótima notícia! Somos abençoados por termos você, senhora Francesca! – Exclamou Marla, sorrindo.

Ashe não entendeu muito bem o que estava acontecendo. – Posso chamá-la?

– Sim, Ashe, pode ir!

Depois de alguns minutos Ashe retornou com a garota de cabelos pretos. Sejka veio sozinha. Seus pais morreram três anos atrás, e desde então ela se sustentava com a distribuição de comida, ajudando com as plantas da região e realizando serviços de rotina para a tribo, como costura de redes de pesca, roupas, limpeza, entre outros.

– Sejka chegou! – Disse Ashe. As duas sentaram ao lado da outra perto da fogueira.

Alvin estendeu os braços em saudação e Bjorn decidiu então começar a história, se aproximando do fogo.

– Há muito tempo atrás, antes de Higrenffar congelar e desmoronar, antes da ponte do Abismo Uivante cair, antes da magia rúnica estilhaçar montanhas, antes do deserto engolir Shurima, antes do Vazio gerar sua primeira criatura, antes de tudo isso, era a época das Três Irmãs: Avarosa, Serylda e Lissandra.

– Avarosa, a mais velha das três, era a rainha que governava Freljord, sábia e justa. Serylda, a melhor guerreira, comandava nossos exércitos e mantinha vivas nossas tradições e culturas. Lissandra, a mais nova, era a única com talentos mágicos. Isso a tornou a visionária e a guia espiritual de Freljord, orientando a todos. Juntas, as três formaram a nação mais poderosa de Runeterra na época.

– Mais do que Demacia ou Noxus? – Perguntou Alvin.

– Essas nações ainda não existiam, mas a lenda diz que nosso poderio era tanto que Demacia e Noxus tremeriam e se esconderiam de medo ante o poder das Três Irmãs caso a antiga Freljord ainda existisse.

Ashe, Alvin e Sejka estavam boquiabertos.

– Éramos tão fortes assim? – Perguntou Ashe. Ela já ouvira a história, mas essa afirmação era inédita.

– A lenda diz que sim. Éramos uma tribo só, uma única nação. Mas claro, as coisas não são tão perfeitas assim. Aqui a história diverge em diversos pontos, sendo contada de maneiras diferentes através das eras conforme o folclore, a cultura e a região de Freljord.

– O que aconteceu? – Perguntou Sejka.

– Disputas de poder. Como eu disse, o poder era dividido entre as Três Irmãs. Muitas histórias dizem que uma tentou eliminar as próprias irmãs para ganhar controle sobre tudo.

– Elas matariam a própria família por poder? – Perguntou Alvin, chocado.

– Não temos como saber isso. Ou quem o faria. Alguns dizem que o levante foi organizado por Avarosa, que também queria controlar os exércitos, e pra isso tentou eliminar Serylda, falhando e começando uma guerra civil. Outros dizem que foi Serylda, que ansiava pelo trono e como já comandava nossos guerreiros, tentou destronar Avarosa. Outros dizem que Avarosa assassinou Lissandra e Serylda a vingou, ou vice-versa.

– E a Lissandra? – Perguntou Ashe.

– As histórias sempre a retratam como imparcial e a única com sensatez em todo o conflito, dizendo que ela tentou conter as duas irmãs mais velhas, sem sucesso. A maior parte do povo teria ficado ao lado dela, e uma das irmãs, ou ambas, a assassinaram para removê-la do caminho.

– Mas…a nossa tribo não é baseada na lenda de Avarosa? Ela era ruim? – Perguntou Alvin.

– Claro que não! Fica quieto e escuta o resto da história. – Esbravejou Ashe.

– Como eu disse, as histórias variam muito. Diversas visionárias, videntes, magas e outras mulheres sábias passaram por Freljord, aconselhando diversos líderes e recontando as lendas para as pessoas. A única coisa que quase todas tem em comum era que Lissandra era a única sensata das três. Mas por aqui, no sul de Freljord e nos arredores próximos, algumas poucas vozes, de pouca influência sobre reis, rainhas e generais, contavam frequentemente uma história muito diferente, e quase sempre sumiam, cedo ou tarde, sem deixar vestígios.

– O que elas contavam? – Perguntou Alvin.

– Que na verdade Freljord era escravizada por seres antigos e poderosos, que habitavam as profundezas desconhecidas e inexploradas de Freljord, talvez até mesmo vindo de outro mundo. Essas místicas chamavam esses seres de “Observadores”. Eles teriam oferecido grande poder e imortalidade para as Três Irmãs, contanto que elas realizassem as vontades deles. Desde sacrifícios até guerras.

– Seres de outro mundo? – Desdenhou Alvin.

– Escute! – Ashe empurrou o ombro do garoto.

– Avarosa, a rainha e nossa ascendente, teria sido convencida a obter o poder dos Observadores pelas necessidades do povo de Freljord, que ainda não estava unido e frequentemente guerreava entre si por comida, espaços habitáveis e conforto. Quase como hoje. Ela no começo relutou, mas foi convencida pelas duas irmãs, Serylda e Lissandra.

– Ela teria ganho imortalidade, imunidade a doenças, armas de Gelo Verdadeiro e outros poderes, sendo assim batizada como uma Iceborn – Nascida do Gelo – e com isso unificou Freljord. As guerras e fome acabaram e a paz reinou por um longo período.

– Mas para Avarosa, os freljordianos estavam presos, submissos aos Observadores. De acordo com a lenda, as demandas das criaturas cresciam cada vez mais, até a rainha decidir dar um basta. O imenso poder dos Observadores não valia a submissão e escravidão de Freljord. Ela se rebelou. Não por poder, como diziam, mas para nos libertar.

– Porém, Serylda e Lissandra estavam completamente seduzidas pelo poder dos Observadores. Avarosa não conseguiu convencê-las, e os Observadores a condenaram à morte pela traição. As três irmãs então guerrearam entre si.

– Avarosa reuniu seguidores que pensavam da mesma maneira, embora muitos desertarem para o outro lado. Avarosa não era uma guerreira exímia como Serylda e nem possuía os imensos poderes mágicos de Lissandra, mas sua habilidade com o arco e flecha era sem igual, assim como sua inteligência.

Bjorn bebeu um copo d’água antes de continuar.

– Diversas vezes Avarosa ficaria acuada, enfrentaria emboscadas, exércitos muito maiores, legiões de magos, monstros e até mesmo os próprios Observadores. Mesmo sem dispor dos recursos de seus inimigos, ela resistia e vencia, escapando pra lutar outro dia quando não podia vencer.

– E isso não é tudo. Avarosa poupava aqueles que se rendiam, tratava os inimigos feridos, conversava com eles, os transformando em aliados. Ela também espalhava sua mensagem, que ficava cada vez mais forte conforme ela continuava a vencer. Muitos começaram a questionar a liderança dos Observadores e passaram para o lado dela. Aqueles que seriam inimigos viraram aliados, fortalecendo sua causa, desmoralizando e gerando medo nas tropas de Serylda e Lissandra. Os próprios Observadores entraram em pânico ao sofrerem derrota após derrota para Avarosa. Esse foi o maior trunfo dela.

Existem diversas maneiras de combater, não apenas fisicamente, mas mentalmente e psicologicamente, lembrou-se Ashe.

– Uau! – Exclamou Alvin. Mesmo Ashe ainda se admirava com a história.

– A guerra continuou por anos. Avarosa e Serylda por fim se encontraram no campo de batalha, face a face. O que aconteceu e o que disseram se perdeu na História, mas Avarosa finalmente convenceu a irmã a unir forças. Quando isso aconteceu, a causa dos Observadores estava perdida. Eles dependiam dos exércitos de Serylda. Lissandra, mesmo sendo a mais poderosa maga da época, não tinha exércitos, apenas alguns alcólitos.

– Avarosa e Serylda tentaram convencer Lissandra, que recusou todas as aproximações, jurando eliminar as irmãs pela traição aos Observadores. As criaturas então lhe deram ainda mais poder, assim como aos seus mais leais seguidores. Algumas lendas dizem que eles deixaram de ser humanos, mas eu mesmo acho isso fantasioso demais.

– Por fim, a batalha se estendeu até a base dos Observadores. O combate final foi numa ponte. Lissandra foi derrotada e os Observadores, uivando de ódio, foram atirados ao abismo mais profundo de Freljord. Daí nasceu o mito de Howling Abyss – O Abismo Uivante.

– Nossa! Eu não sabia disso! – Alvin estava espantado, assim como Sejka.

– Essa é a parte menos conhecida da história. Todas místicas e visionárias dizem que os Observadores são mitos, monstros para assustar crianças. Algo tão poderoso e fantasioso não pode existir, obviamente. – Bjorn respondeu.

– O que aconteceu então? – Perguntou Sejka.

– Dizem que houve somente uma guerra por poder, e as três guerrearam. Cada região se dividiu em três, e conforme as irmãs foram morrendo, as tribos foram se dividindo mais e mais, até chegarmos a hoje, com um gigantesco número de pequenas tribos.

– Então era tudo mentira? – Bufou Alvin.

– Bem, é a versão menos conhecida. As místicas e visionárias que a contavam costumavam sumir sem vestígios. O sumiço delas começou a chamar a atenção em alguma época, parando em seguida. Elas eram dadas como loucas e viraram motivo de chacota, fazendo essa lenda cair quase no esquecimento total devido ao escárnio.

– Mas então como essa história sobreviveu até hoje? – Perguntou Ashe.

– Boa pergunta. Eu a ouvi de uma anciã muito velha em uma tribo muito tradicional décadas atrás. Não se sabe a origem dessa história. Parece mais um conto pra crianças. – Respondeu Bjorn.

– É, imagina criaturas de outro mundo e armas de Gelo Verdadeiro…alguém já viu alguma coisa assim? – Perguntou Alvin.

Ashe lançou um olhar reprovador pra ele. – Eu acho que essa é a história verdadeira.

– E como você sabe? - Devolveu ele.

– Não sei. Mas sinto como se fosse.

– Pff…e eu sinto como se fosse mentira.

– Não era!

– Calma crianças! – Interrompeu Sejka. – E então, por que somos os avarosianos?

Isso acalmou Ashe e Alvin. – Boa pergunta. – Disse Bjorn. – Qualquer que tenha sido o motivo que levaram as Três Irmãs a guerrearem, o fato é que Avarosa foi assassinada depois da guerra, não se sabe por quem.

– O quê? – Disse Alvin. – Mas então como ela fundou…

–Seus seguidores mais próximos e leais, querendo que os restos mortais de Avarosa não fossem profanados por seus inimigos, migraram para o Sul de Freljord, levando seu corpo.– Continuou Bjorn. – Então eles a enterraram em um túmulo discreto, junto com seu arco de Gelo Verdadeiro. Ninguém jamais descobriu onde ficava. O segredo morreu com eles. Vários tribos se formaram, mas a nossa manteve o nome de Avarosa.

– E o que aconteceu… - Ia perguntar Ashe, quando foi interrompida.

– Crianças, a comida está pronta! – Disse Marla, a mãe de Alvin.

– Bem, vamos todos comer agora! – Disse Bjorn, se levantando. – Depois continuamos.

Todos comeram e conversaram sobre diversos assuntos, até a noite cair e se despedirem. Ashe se despediu de Bjorn, Marla e Alvin, e depois de Sejka.

– Até mais, Ashe!

– Até! O próximo Urso e Bela Donzela será diferente!

As duas riram e a garota de cabelos negros se afastou. Ashe ficou com pena de Sejka, que iria agora dormir sozinha em casa. As duas se conheceram três anos atrás por puro acaso, assim como Alvin, mas acabaram virando grandes amigos, só separados quando as famílias tinham que fazer excursões para prover a tribo de alimentos e recursos.

– Você realmente gostou dessa reunião. Estava bem contente. – Disse Francesca.

– Alvin e Sejka já vieram jantar aqui algumas vezes, mas nunca juntos. – Explicou Ashe.

– Ah, nunca percebi isso. Foi bom então você tê-la chamado, Ashe.

– Algumas vezes outras pessoas também vem aqui. Por quê?

– Sou a líder da tribo, lembra? – Riu Francesca. – Devo conhecer todos, e jantares assim me aproximam das pessoas. Posso conversar, entender seus problemas e fazer com que se sintam protegidos e importantes. Laços profundos se desenvolvem entre nós, gerando confiança mútua.

Ashe lembrou-se de como Avarosa conseguira aliados contra os Observadores. Isso é, caso a história fosse realmente verdadeira, o que ela queria acreditar que era, por mais que as evidências mostrassem que os Observadores, armas de Gelo Verdadeiro e outras coisas eram apenas mitos e folclore.

– Não é sempre que podemos fazer isso. As provisões em Freljord sempre são escassas. Mas precisamos desses momentos de descontração, de tranqüilidade. Se não podemos gastar tempo com as pessoas que gostamos e amamos, todas nossas lutas teriam sido em vão.

– Você disse algo sobre o lago Arëndal, mãe.

– Sim, vamos conseguir bastante provisões dele e dos arredores por um bom tempo. Então nós, e outros também, podem se reunir com um pouco mais de frequência. Ainda assim temos que ser cuidadosos e manter estoques.

Ashe e Francesca arrumaram a casa, limparam os pratos e utensílios e se prepararam para dormir. Estava muito frio e iriam dormir juntas, abraçadas. Ela adorava quando isso acontecia. Nunca conhecera seu pai, que morrera quando ela tinha passado por apenas dois invernos, e o assunto provocava grande tristeza em sua mãe, por isso nunca falavam sobre isso.

– Amanhã vamos disparar flechas enquanto corremos, né! - Disse Ashe, aconchegando-se na cama.

– Sim, claro!

– Ah, Sejka disse hoje cedo que vai se casar com Grankjar! – Disse Ashe.

– Eu sei. – Respondeu Francesca.

– Então…ela sabe atirar enquanto corre? Ela é mais velha que eu, afinal…

– Não, não consegue. - Riu Francesca, depois adotando um tom sério. – Na verdade ela não possui nenhuma habilidade de combate.

Ashe esbugalhou os olhos. – Mas você disse que Freljord é um lugar perigoso. Ela vai ficar em perigo?

Francesca diria à outra pessoa que em Freljord todos estão SEMPRE em perigo, mas uma criança jamais entenderia.

– Claro que não. Grankjar é um ótimo guerreiro, sabe usar lanças e espadas. Irá protegê-la. Sejka sabe muito bem identificar e colher plantas comestíveis ou que podem ser usadas como remédios, portanto ela é importante pra nós e nunca entrará em combate. Vez ou outra irá acompanhada em algumas florestas, depois cuidará da casa e ajudará no cotidiano da tribo, ficando bem longe de qualquer perigo.

Isso tranquilizou Ashe. – Alvin sabe lutar com espadas e eu vou atirar flechas enquanto corro! Sempre poderemos proteger um ao outro se precisar! Seremos um trio, como a lenda. Os Três Irmãos!

Francesca sorriu timidamente antes de apagar as velas.

As coisas não eram assim tão simples em Freljord.

–------------=/=----------------


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso aí! A história de Ashe continuará no próximo capítulo.

¹ - Será que alguém descobre a referência? Rs...