Sonhos Quebrados escrita por Mary


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, espero que gostem :3
~mariaa



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Ouvi o barulho de Med latindo e parei abruptamente. Esperei um pouco, até ouvir o barulho de carros próximos cessar, então dei um passo à frente. Mas, antes que eu pudesse andar, uma mão forte segurou meu braço e pude ouvir o barulho da sua respiração acelerada.

- Por favor – era uma mulher, provavelmente. Sua voz era doce, mas estava agitada – ainda não está na hora. Deixe que eu a acompanhe.

- Obrigada – falei, abrindo um sorriso. Sinto falta de ver como são os meus sorrisos.

Ela me segurou com força e eu permaneci parada, até então ela me puxar para frente. Senti a cauda de Med bater na minha panturrilha rapidamente e percebi que ela estava ansiosa. Pelo quê, me pergunto.

- Pronto – disse a mulher – Você vai atravessar mais alguma rua?

- Ah, não, obrigada – respondi.

- Ótimo, tudo bem. Me chamo Rosalie, está bem? E você?

- Juli. E essa é a Med – apontei para a cachorrinha do meu lado.

- Olá, Med.

A cachorra balançou a cauda mais forte e então parou.

- Tchau – disse Rosalie.

- Tchau – falei.

Voltei a caminhar, sentindo o ar bater na minha face e segui Med. Ela já estava acostumada com esse caminho, já que eu o uso todos os dias. Minha bengala bateu em alguma coisa dura e tentei tocá-la. Era a grade da praça. A contornei, até achar um vão, ouvindo o barulho das pessoas passando, e entrei. Caminhei até o banco de cimento que ficava próximo ao balanço (ouço o barulho do vai e vem o tempo todo) e me sentei. Senti a pata de Med na minha perna e relaxei.

Não importava o que acontecesse, eu amava ir para a praça. Aos sábados e domingos era muito movimentada e eu me sentia mais segura. As crianças gritavam e corriam e eu ouvia de vez em quando uma mãe gritando. Quando sentia o cheiro de cachorro, Med começava a latir e eu sorria.

Mas ir à praça também me fazia mal, porque aumentava a minha curiosidade de ver todo mundo alegre e sorrindo e correndo e se divertindo, coisa que eu não podia. E queria ver o céu pintado de azul sendo mais um motivo de alegria. Mas tudo o que eu via era escuro.

Não me lembro de muitas coisas, como as fotos de quando eu era menor ou o rosto do meu pai, mas ainda sei como são as cores e como as pessoas são. Me pergunto como é nascer cego, nunca ter visto o mundo em momento algum, apenas com curiosidade o tempo inteiro, querendo saber como são os seres humanos, o que é bonito e o que é feio, ver os fogos de artifício (que é um dos espetáculos mais bonitos que já vi antes do acidente). Tenho pena dessas pessoas, mesmo sabendo que muita gente tem pena de mim.

Ouvi alguém se aproximar de mim. E depois veio mais alguém. Virei o rosto para o lado, abrindo um pequeno sorriso e ajustei os óculos escuros. Acariciei Med e senti a mão de alguém bater na minha.

- Oi – falei.

- Oi – era a voz de uma criança. Doce, inocente e cansada de tanto correr.

- Qual é o seu nome?

- Miranda.

- Sou Juli.

- Por que você tá com esses óculos se nem tá sol?

Ri baixinho, cheguei bem perto dela e falei:

- Eu não consigo ver nada.

- Ele melhora?

- Só disfarça.

Ela saiu correndo e respirei fundo. Mas ainda tinha mais alguém, ouvi se aproximar.

Quem era? O que queria?

Agitei a minha mão no ar, procurando alguma massa, mas não encontrei. Apenas ouvi uma respiração próxima de mim e começamos a respirar em sintonia, como um pequeno canto. Permaneci imóvel e, provavelmente, a pessoa também.

- Oi? - chamei.

Esperei alguma resposta, mas apenas ouvi sua respiração.

- Você consegue me ouvir? - era um garoto, com uma voz grave, mas não o suficiente para ser adulto.

- Sim. Você consegue me ver?

- Acho que sim.

Fiz cara de indignação e falei:

- Como assim acho que sim?

- Me desculpe. Sim, eu consigo vê-la. E sorria de novo, seu sorriso é lindo. Por favor.

Acho que seria impossível não rir com essa. Não consigo encontrar garotos que falem assim comigo. Mas, provavelmente, ele fale assim por causa da minha situação. Muitas pessoas tentam melhorar meu auto-estima falando coisas legais, mas eu sei que é falso.

- Onde você está? - perguntei.

- Aqui.

Ouvi barulho de rodas se aproximando e não entendi porque. Ele tocou a minha mão e sorri ainda mais. Sua pele era macia e quente. Tentei tocar seu rosto, mas ele estava muito distante. Senti dormência no meu pé. Algo passou por cima dele.

- Desculpe-me – ele falou.

- Tudo bem. O que foi isso?

- Você quer mesmo saber?

- Claro, afinal, passou por cima do meu pé.

Ouvi um suspiro e aguardei ele me responder. Não ouvi nada, exceto o barulho da sua respiração, o que significava que ele ainda estava lá.

- O que foi? - perguntei.

- Você é muito curiosa.

- Me desculpe. É que eu não consigo ver as coisas direito.

- Quer dar um passeio?

Pensei um pouco e me levantei.

- Pode ser.

Senti Med do meu lado e o barulho de rodas se aproximando. Foi ai que eu percebi o que estava acontecendo.

- Qual o seu nome? - ele perguntou.

- Juli. E o seu?

- Matt.

- Legal.

Comecei a andar lentamente e ele puxou meu braço.

- Você está indo em direção a um brinquedo. Vamos, por aqui.

Ele me guiou um pouco e eu ouvi Med latindo. Parei, mas ele continuou a me puxar.

- Tudo bem – falou – É só um cachorro.

- Ah, obrigada.

Continuamos a caminhar e eu ouvia o barulho da cidade ao meu redor. Carros, pássaros, cachorros, buzinas, pessoas. Eu não sabia para onde íamos, mas não me importei. Med sentia quando algo de errado iria acontecer e ela ainda não havia latido.

- Então, Matt, você é como?

- Consegue me imaginar?

- Ah, eu não nasci cega. Foi um acidente há dois anos.

- Também tive um acidente.

Parei repentinamente e ele me puxou.

- Acidente? - disse eu.

- Sim. Eu, bem... você não ia gostar muito.

- Ah, por favor, me conta!

- Está bem, está bem.

Ele suspirou novamente e andou mais um pouco.

- Eu sou cadeirante. Não consigo andar. Fui atropelado há 3 anos.


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Notas finais do capítulo

Comentem, queremos saber se esse capítulo ficou bom, por favor :3



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