Do lado de fora o barulho das espadas se chocando não acaba nunca, e a cada vez que ouvia, meu coração recebia uma pontada. Por que não largam as espadas? Eles não parecem ouvir meus gritos, ou talvez os ignoram.

Sinto-me inútil aqui dentro da torre, e só de lembrar o nome da construção sinto a ironia que cai agora. Torre da Alegria, que no momento se transforma em raiva, medo, morte, menos alegria. Apesar de que já vivi momentos alegres aqui.

Uma pontada mais forte se abateu sobre mim, e não foi em meu coração. A dor vinha de baixo e me fez engasgar. Isso significava que o meu temor estava se tornando real.

— Ned! – Gritei novamente. Foi em vão, eles continuavam a lutar.

Cai pesadamente na cama com as mãos segurando a enorme barriga de modo protetor. Então outra pontada se fez presente. Apoiando-me cuidadosamente nos travesseiros, tentei me lembrar de todas as conversas sobre partos que tive com a septã.

— Vai ficar tudo bem. Eles vão parar e vão ajudar nós dois. – Sussurrei para o pequeno ser que carregava dentro de mim, e que parecia ansioso a sair dali.

As contrações iam ficando com os intervalos cada vez mais curtos. Já estava ensopada de suor a essa altura. Ele estava chegando, o meu bebê estava chegando, mas não veria o pai. O pai não havia cumprido sua promessa feita a mim, ele não voltara para te ver nascer.

A dor então ficou mais forte, e eu sabia o que fazer. O empurrei com toda força que possuía no momento. Lágrimas começaram a se misturar com o suor conforme eu forçava. Enquanto fazia força me lembrei dos olhos violetas dele, e de como estariam me olhando no momento. Com aquilo em mente continuei. Quando pensava em desistir, a face de Rhaegar vinha a minha frente. Não desistiria do nosso filho, não deixaria que ele morresse.

Antes gritava palavras, para que eles parassem. Agora os sons altos e agudos que saem da minha garganta eram de dor e raiva. Continuei gritando e empurrando o bebê para fora de mim. A cama antes branca, virou um leito de sangue.

Então um choro inocente preencheu o quarto, me avisando que eu havia conseguido. Com uma alegria imensa que transbordava meu peito, tentei mover meu tronco para pegá-lo, mas meu corpo não me obedeceu.

A visão começou falhar, alguns pontos negros dançavam por onde quer que olhasse. Mal registrei a porta ser aberta de maneira brusca, só percebi que tinham pessoas pelo aposento quando senti mãos fortes segurarem-me.

Um pequeno sorriso brotou em meus lábios. Ele voltou. Tinha cumprido sua promessa de não me abandonar, voltar vivo e pegar nosso filho nos braços. Tombando a cabeça para o lado me deparei com cabelos castanhos em vez de platinados.

— Ned.

— Lyanna... – A voz de meu irmão morreu, ele não tirava os olhos do sangue que manchava a cama.

Era Eddard Stark que estava aqui, e não Rhaegar. Isso só podia significar que ele tinha morrido, que sua promessa morreu com ele e seu sangue. O pouco sangue que ainda me restava nas veias, gelou. Meu filho corria perigo.

Robert não deixaria que uma criança Targaryen vivesse, ainda mais se ela fosse fruto de Rhaegar. Ele a condenaria a morte sem pensar duas vezes, mesmo que ela tivesse meu sangue também. Seu ódio pelo Príncipe superaria seu amor por mim nesse caso.

— Ned... Preciso que me prometa algo. – Pedi.

— O que quiser. – Respondeu-o.

— Não deixe que Robert faça mal a essa criança. Proteja-a com seu sangue. Ele vai matá-la, eu sei. Prometa-me que vai protegê-la.

Seus olhos cinzentos, iguais aos meus, demonstravam receio. Medo me enchia mais e mais a cada segundo que passava, eu podia sentir minha vida ir escorrendo por meus dedos, mas não morreria sem antes ter a certeza de que a criança ficaria segura.

— Prometa-me, Ned. – Supliquei.

— Eu prometo.

Era a segunda vez que ouvia essa frase, e olhando para meu irmão neste momento, conseguia sentir que ele cumpriria com sua palavra. Eddard Stark era um homem de honra. E olhando para o pequeno ser enrolado em uma enorme capa, deixei de segurar minha vida e a senti escorrer para longe.

“Encontrarei seu pai, meu bebê. Um dia você se unirá a nós, e então seremos a família que sempre sonhamos. Mas até que esse dia não chegue, irei de vigiar e cuidar de teus passos. Essa é a minha promessa a você.”