Latíbulo escrita por Penny Garcia


Capítulo 1
Latíbulo


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fic no universo de divergente e confesso que gostei de escrever sobre eles, dependendo do retorno desta posso escrever mais, então comentem o que acharam.
Contém alguns spoilers, nada de mais mas é bom avisar :)
Espero que gostem, ela é curtinha mas significativa.
Bjs, Penny Garcia.



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LATÍBULO (s.m.): Esconderijo, retiro. lugar de segurança e de conforto. Céu, morada dos deuses.

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Tris sentiu o toque gélido das barras de metal em suas mãos. Respirou uma vez antes de apoiar um pé na escada e impulsionar-se para cima. Nunca havia feito aquilo sozinha e um arrepio engraçado atravessou seu corpo com a possível adrenalina. Pé ante pé. Mão ante mão. Seus movimentos eram cuidadosos enquanto subia na imensa roda gigante da qual lhe ajudara a ganhar o jogo da bandeira. O acontecimento parecia ter ocorrido há anos e a garota não reprimiu o suspiro nostálgico que ameaçou sair por seus lábios.

Sentia a diferença da primeira vez para agora. Neste instante ela não tinha a presença protetora de Tobias zelando por cada movimento seu. Se bem, pensou ela, que seria de maior ajuda que ela zelasse por ele, sabendo da aversão que o namorado tinha à grandes alturas.

Já estava na metade do caminho quando sentiu a leve brisa do fim da tarde acariciar seu rosto e os cabelos loiros agora curtos, completamente desapegada da aparência da abnegação. A garota parou seu percurso por alguns instantes apenas apreciando o toque gentil do vento tocando sua pele e do cabelo roçando em sua nuca. Com um sorriso involuntário continuou a escalada até um ponto que presumiu ser seguro o suficiente para que as vigas não cedessem e um acidente maior do que o da última vez se alastrasse.

Com as pernas pendendo ao abismo, apoiou as mãos firmemente nas barras de metal e inclinou a cabeça levemente para trás observando a silhueta dos pássaros irem de encontro ao pôr do sol. Não conseguia imaginar uma figura tão bonita quanto aquela, lembrava claramente de sua infância em momentos como aquele. Ajudava a mãe a varrer a entrada da casa enquanto seu pai e Caleb arrumavam a mesa do jantar. A matriarca se abaixava a sua altura e com uma mão sobre os ombros pequeninos apontava para o horizonte, onde podia ver a exata cena que enxergava neste momento. Recordava das palavras ditas pela voz doce da mãe.

_Veja Beatrice, olhe bem para onde o sol se deita. Está além dos limites que nos cerca, veja os pássaros para onde vão, em direção à liberdade. - Tris lembrava de prestar máxima atenção a cada palavra contada como um segredo e do fato de não compreender o que a mãe queria dizer com liberdade. Pelo menos não naquela época. - Quero que me prometa uma coisa querida, não se apegue aos limites impostos à você. Algum dia irá entender que existem muito mais segredos do que pode imaginar. E, quando conseguir descobrir quais são, não hesite em desafia-los.

As palavras de sua mãe faziam muito mais sentido naquele instante e Tris gostaria de ter percebido isso mais cedo, ter agradecido por cada momento em que a mãe esteve ao seu lado lhe enviando força, mesmo que inconscientemente.

Ao longe, a loira podia ver uma silhueta se aproximando e lhe tirando de seus devaneios. Ao notar os cabelos escuros e a postura ereta, sorriu involuntariamente. Tobias se aproximava com seu andar característico e notou que ele hesitou antes de se aproximar da roda gigante. Não conseguiu deixar de pensar na cara que fez algumas horas antes quando ela aproximou-se dele na saída do refeitório, sorrateiramente, e sussurrou o quanto estava com saudades em seu ouvido. Lembrava-se com perfeição das mãos fortes lhe segurando a cintura e dos lábios frio depositando um beijo molhado em seu pescoço. Quando disse que gostaria de se encontrar com o rapaz na hora em que o sol se punha viu a expressão de satisfação dar lugar ao desespero ao mencionar o lugar. A voz grave falando algo como “Não precisamos subir na roda gigante, certo?” e em seguida tossindo para disfarçar o embaraço fazia Tris rir.

_Isso não é engraçado. - Disse um Tobias pálido que se acomodava cuidadoso ao seu lado. - Rir da fraqueza das pessoas pode deixa-las ofendidas.

_Que bom então que eu rio apenas da sua, certo?

O sorriso que ele deu em resposta fez Tris querer beija-lo. Tentou focar sua atenção em alguma coisa que não fosse a boca do moreno e, com êxito, desviou os olhos para as rugas de preocupação que preenchiam a testa do namorado. Franziu o cenho e não se conteu em afirmar:

_Tem algo te preocupando.

Acompanhou a boca de Tobias desenhar um sorriso cansado.

_Eu não diria preocupando. - Explicou enquanto traçava círculos com o dedo na mão de Tris, entrelaçada à sua. - Apenas temeroso em relação aos próximos dias, sabe? Expectativas e dúvidas se conseguiremos seguir com o plano sem falhas.

_É óbvio que terão falhas, Tobias - Disse Tris com um sorriso suave. - Não somos perfeitos em relação a isso, mas aposto que conseguiremos fazer com que ocorra da melhor maneira possível.

Eles trocaram um olhar que para ambos garantiu tudo o que precisavam. Assim que atravessassem a fronteira nos limites das terras da amizade, zelariam um pelo outro, fariam o possível para que ambos saíssem da melhor forma possível dessa missão que não tinha prazo de validade.

Em um instante os medos inundaram a mente de Tris e o olhar que trocavam a segundos atrás ficara muito pesado para ser sustentado. Conseguia sentir as orbes do namorado sobre si e desejou ter coragem suficiente para voltar a encara-lo. A verdade é que ela não sabia se conseguiria ter força suficiente para cuidar de si mesma, quanto mais do homem ao seu lado. Não fazia ideia do que a esperava além da faixa onde seus olhos alcançavam e, por um instante, desejou nunca saber. Quando tomou fôlego suficiente para externalizar seus sentimentos, ouviu a gargalhada grave de Tobias preencher o ambiente à sua volta. Notando o olhar da namorada, o garoto resolveu se expressar melhor, antes que provasse da força da chave de direita de Tris.

_Em primeiro lugar, Beatrice, eu tenho certeza que você está tão ansiosa quanto qualquer um dos convergentes para saber o que tem além da fronteira. Eu te conheço o suficiente para saber disso. - Beijou-lhe levemente os lábios. - Segundo: Você não irá zelar por mim, eu irei por você. - Outro beijo. - E por último: eu sei que esse medo não é real. Você é a pessoa mais forte que eu conheço e não tenho dúvidas que vamos nos sair bem contra seja lá o que encontrarmos. Traremos a verdade e tudo estará bem.

O último beijo confundiu os sentido de Tris. Ela sentia a leveza dos lábio de Tobias sobre os seus e, no instante em que a língua dele tocou a sua, desejou paralisar aquele momento pelo máximo de tempo possível. Ela conseguia sentir a mão de Tobias se perder em seu cabelo, enquanto a outra permanecia firma em sua cintura. Ela elevou as suas para tocar seu rosto e sentiu os resquícios de uma barba por fazer.

A medida que respirar se tornava difícil, a loira percebeu que seus medos eram tolos e que, apesar de discordar de Tobias em algumas partes, ela sabia que ele estava ceto. Ela estava ansiosa por finalmente derrubar os mistérios de uma vida e faria aquilo ao lado da pessoa que amava.

Seus lábios separaram-se lentamente e Tris percebeu o sorriso nos lábios do namorado, ela poderia ter dito tudo o que pensava no momento, ou até mesmo que o amava, mas, por hora, contentou-se com um:

_Nunca mais me chame de Beatrice.


E naquela noite enquanto pegava o trem de volta para a sede da erudição, sentindo o cheiro do corpo do namorado protetoramente junto ao seu, não conseguia pensar no destino incerto que a cercava pois, seja lá onde estivesse, Tobias sempre seria seu Latíbulo.


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