Era o dia de seu aniversário. Rose dormiu na Tardis naquele dia e ela não ligava para o dia especial. Ainda de pijama, ela foi até a cozinha fazer o café da manhã dela e nenhum sinal do Doctor, tudo estava calmo demais. Rose estava fazendo um sanduíche até que escutou um barulho. Um pouco preocupada, ela largou o que estava fazendo e se aproximou devagar até a entrada da cozinha.

—FELIZ ANIVERSÁRIO ROSE!- gritou o Doctor que surgiu "magicamente" na entrada,com um grande sorriso estampado no rosto.

—MEU DEUS!- Rose se apavorou com o grande homem a sua frente.

Ele ignorou o susto dela e a deu um enorme abraço.Durante o abraço,ela deu um sorriso pois ela adorava os abraços dele.

—E então Rose, já pensou no que quer de aniversário?- perguntou,soltando-a.

—Ah eu não sei, eu acho que não preciso de presentes.- e fez um sorriso fraco.

—Ora vamos,pense em qualquer coisa!- e ao mesmo tempo a puxou até a sala de controle ignorando completamente o fato de ela ainda estar de pijama.

Rose pensou durante esse caminho e quando ele a soltou,disse:

—Então eu quero conhecer seu rosto anterior.

—O quê?- disse soltando as mãos dos botões.

—Você disse que já se regenerou outras vezes não é?

—Sim,mas tem tantos lugares para conhecer...por que quer conhecer justo a regeneração anterior?

—Porque você disse para escolher meu presente! E é isso que eu quero de aniversário.

"Rose tem razão." -pensou o Doctor.

—Ah,tudo bem! Vamos conhecer meu passado então!- e começou a mexer nos botões e alavancas.

Nesse momento, Rose esqueceu de retornar a cozinha porque não parou de admirar e refletir sobre o homem alto ao seu lado, de orelhas grandes e uma jaqueta preta que se encaixava perfeitamente no seu estilo, e até mesmo na personalidade: sóbrio e enigmático. Apesar de saber tão pouco do seu passado, parecia que Rose o conhecia o suficiente para saber que no fundo, ele tinha um coração bom.

—Eu estava pensando...há várias pessoas no mundo que são iguais a Tardis.- disse Rose com um sorriso bobo no rosto.

—Como assim? - perguntou o Doctor ainda concentrado nos botões.

—Porque existem pessoas bem maiores por dentro.- no mesmo momento, ele olhou para ela entendendo o que havia dito e ambos fizeram um sorriso simples.

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Não demorou muito até chegarem ao destino. Assim que abriram a porta da Tardis, entraram em um local pouco iluminado. Era um depósito  com vários brinquedos embalados por muitos anos, e não tinha ninguém ali.Quase ninguém.

Os dois olharam ao redor para entender aquele local, quando aparece um homem com roupas do período vitoriano correndo na direção deles e assim que se aproxima, o tal homem para bruscamente:

—Quem são vocês? E o que a minha Tardis está fazendo aqui?

—Rose, esta é a minha regeneração anterior ou melhor, a minha oitava regeneração.

Rose fez um sorriso tímido para o outro Doctor a sua frente e ele retribuiu o mesmo sorriso. O 8º Doctor olhou a garota de cima a baixo, não só pelo fato dela estar de pijama mas também porque ela era muito atraente e tinha um sorriso lindo.

O 9º Doctor percebeu que eles estavam se olhando demais e fez um pigarro para desconcentrar os dois.

—Ah desculpe.- disse o oitavo para o nono.- Mas é que as roupas da sua amiga são bem...exóticas.- e fez uma risadinha leve para descontrair.

—Minhas roupas?!- Rose olhou para baixo e se lembrou que ainda estava de pijama.- Preciso me trocar!- e entrou rapidamente na Tardis morrendo de vergonha.

— Então...o que está fazendo aqui sozinho?- perguntou o nono, mudando de assunto.

—Eu estou procurando pelo Circle.

—Circle? Me lembro dele. Mas por que estava fugindo?

—Não estava fugindo, eu estava seguindo os ruídos dele que pelo visto pararam aqui.

—Então a Rose pode estar correndo perigo aqui, ele não pode pegá-la.

—Ele quem? - perguntou Rose saindo da Tardis e ajeitando sua camisa de forte tonalidade rosa e um pouco justa no seu corpo, com sua tradicional calça jeans e all star preto .O 8º olhou rapidamente para ela, admirado pelo charme da moça com roupas despojadas a sua frente.

— Circle é muito perigoso Rose. - Nono interrompeu  aquela conexão de olhares entre os dois com o melhor da sua voz grave. - ...ele suga a energia vital de pessoas jovens como você para se manter bem.

—Como assim se manter bem?

—Para ele não entrar em depressão. O que eu descobri é que ele foi exilado do seu planeta natal por ter cometido uma série de assassinatos. Depois de um tempo ele se "arrependeu" dos crimes que fez mas ele carrega uma enorme dor por isso. O problema é que para essa dor não o dominar por inteiro ele suga as energias vitais de pessoas felizes,geralmente jovens ou até mesmo crianças para se manter bem.- explicou o oitavo.

No meio da conversa,eles escutam um grande barulho e rapidamente os três olharam para cima.

—Ele está nos vigiando.- disse o oitavo.

—Com certeza esperando um de nós abaixar a guarda.-completou o nono.

Procuraram por algum sinal do Circle no alto e não obtendo nenhum resultado, o nono Doctor olhou aos arredores e viu mais adiante uma sala. Pela porta não ser de madeira e sim de ferro,o 9º conseguiu entrar com a sua chave de fenda sônica.

Era uma sala de segurança que só estava iluminada por uma única lâmpada de teto que piscava com uma certa frequência. Havia um painel com alguns monitores grandes e antigos, mas apenas um deles ainda estava funcionando.

—Eu vim para cá porque escutei gritos de uma criança aqui nesse depósito mas eu não a encontrei. Talvez as câmeras tenham filmado algo.- disse o oitavo se dirigindo para a cadeira, a fim de buscar as gravações.

Clicando em várias pastas que pudessem armazenar o que ele procurava, acabou encontrando cenas que não queria encontrar: o vídeo iniciou com Circle puxando pelo braço a criança que estava com um lenço na boca. Era uma menina, tinha 9 anos, cabelos morenos e vestindo roupas  empoeiradas.  Ele tirou o lenço que estava um pouco úmido por causa dos longos choros da menina. Em seguida, Circle começou a andar em círculos em volta da criança enquanto e ela se esforçava para parar de tremer devido ao seu pavor por estar diante daquilo que representava a morte. 

—Por que ele está andando em volta dela? -interrompeu Rose sem tirar os olhos do monitor e se aproximando cada vez mais do nono.

—É um ritual que ele sempre faz. Ele gosta de pensar antes de matar alguém.- explicou o nono também concentrado no que assistia, mas notando que Rose estava perto demais dele.

—Ele pensa em quê? - sua pergunta manifestava a feição incrédula e angustiada sobre o próximo passo de Circle no vídeo.

— Não faço a mínima ideia. E eu o odiaria ainda mais se soubesse. - seu tom de voz baixo soou como uma ameaça para Rose.

—Se ele se arrependeu dos seus assassinatos, por que ele continua fazendo isso aqui na Terra?

—Porque para ele os humanos não são nada. Na verdade, só são uma forma de fugir dele mesmo.

—XIIIUUU- disse o oitavo querendo prestar atenção no vídeo.

Os dois se calaram e no vídeo o Circle para em frente da menina. Ele chega perto da criança e começa a sugar a energia vital dela. Durante o processo, as dores da menina eram intensas e não parava de gritar enquanto que o monstro segurava os dois braços da menina. Circle era enorme, tinha um pouco mais de 2 metros e a aparência parecida com um Franksteim mas com traços menos robustos; a pele exageradamente pálida e olhos vermelhos aumentavam o pavor da menina. A câmera estava posicionada em uma posição que dificultava ver o estado da vítima, mas só de ouvir os gritos agonizantes, o impacto daquele momento era tão terrível quanto. 

A cor da pele da garotinha foi ficando pálida e os olhos perdendo o brilho. Os gritos foram diminuindo até que a solta e ela cai morta no chão. No mesmo momento o nono Doctor dá pausa no vídeo e se vira borbulhando de raiva até a porta.

—O que você vai fazer?- disse Rose preocupada.

—Matá-lo.

—Não Doctor! Por favor não faça isso!- insistiu puxando-o pelo braço levemente.

—Ele matou uma criança friamente, Rose! Esse monstro não é do tipo que se resolve pela conversa e se eu não fizer nada, ele vai matar você! - ele começou a ficar alterado.

—Não se resolve pela conversa e por isso vai cometer um assassinato?! Então quer dizer que estou longe da minha família agora pra viajar com um assassino?! Que mande ele de volta pro seu planeta natal pra ir preso mas não faça isso! Eu sei que você não vai fazer isso Doctor...eu sei que você é maior por dentro também...

O oitavo estava de pé assistindo a discussão, estático com tudo o que vira e por educação, não ousou dizer nada sobre a discussão.

O nono pensou sobre o que ela disse mas depois se virou saindo da sala. Rose desesperada vai ao encontro dos braços do oitavo, buscando nele um afago .E mesmo naquele momento de tensão, ele gostou de abraçá-la.

—Vamos atrás dele.- disse o oitavo em tom baixo para ela.

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O nono procurava pelo Circle extremamente irritado e o andar com passos firmes. O questionamento de Rose insistia em aparecer em sua mente, e fez com que aumentasse sua raiva por saber que a solução dela era a menos dolorosa. "Quem sou eu pra decidir quem deve morrer?" "Mas aquele verme também não tinha permissão pra tirar vidas inocentes...", e a sua briga interior não parava.

—DOCTOR!- a voz de Rose o despertou do seu conflito interno. 

—Vamos nos separar, você e o Doctor procurem por ele! Eu procuro sozinho.- e o nono virou de costas rapidamente, evitando mais comentários.

Os dois obedeceram e assim foram para o outro corredor.Tudo estava em pleno silêncio e Rose andava um pouco atrás do oitavo.

O Doctor prestando muita atenção caso alguém aparecesse em sua frente, porém o problema surgiu logo atrás. O máximo que viu ao se virar foi um vulto e ouviu grito abafado de Rose que desapareceu diante dos seus olhos.

—Rose! Rose!- gritou desesperado por permitir que isso acontecesse tão perto dele. 

Um pouco distante dali, o nono escutou a voz do outro Doctor gritando por ela e ecoando nos longos corredores de caixas de papelão. 

—Droga.- e o nono correu de volta para a Tardis pegar sua arma a laser que mantinha escondida.

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—Você é o Circle não é? - disse Rose tentando identificar em que parte do depósito estava.

O grande homem continuava parado em pé, calado enquanto Rose estava algemada, sentada no chão. O mais curioso é que Rose estava um pouco assustada mas não estava gritando ou chorando e sim olhando fixamente para ele. E isso o deixava inquieto.

A loira olhava diretamente nos olhos pois percebeu o quanto o olhar daquele monstro era triste e vazio.

Da inquietação ele passou a ficar admirado com a beleza dela e de como seus olhos eram brilhantes. Era um misto de desconfiança e apreço por aquela jovem que se comportava de um jeito inédito para ele. 

Para conquistar a confiança dele, ela sorriu e abaixou levemente a  cabeça, fazendo uma pequena saudação. Como um sinal de permissão, ele assim se aproxima dela e faz um leve carinho em seus cabelos loiros. Rose ficou preocupada com a atitude dele mas mesmo assim o deixou continuar.

O nono voltou com a arma e viu os dois próximos. Ele percebeu que Circle não estava atacando ela e ao invés de ficar irritado,ele ficou satisfeito em ver que a Rose estava tentando torná-lo em alguém bom, sem precisar de violência, sem guerras.

Então ele ficou parado ali, assistindo a bonita cena, mas atento ao mínimo movimento que colocasse Rose em risco. Mas a  cena foi bruscamente interrompida pela reação impulsiva do oitavo: sob uma outra perspectiva, o oitavo enxergou aquela aproximação dos dois uma ameaça, então viu que o transformador mais próximo havia cabos soltos e saindo muitas faíscas, e correu em direção a Circle, eletrocutando-o por trás. 

—NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOO!!- Rose não estava acreditando que a chance de redenção daquele monstro estava se desmanchando na sua frente.

—NÃO DOCTOR!- gritou o nono ao mesmo tempo.

Mas já era tarde demais. Circle caiu nos braços de Rose e o nono correu em direção a eles. Rose o pegou e colocou no chão e ela acariciou os cabelos dele. 

—Por que você fez isso? Ela estava tentando melhorá-lo!-brigou o Doctor para o outro.

—Eu...não...- e as palavras não saiam mais.

Rose correu chorando para fora do depósito e o oitavo pensou um pouco e foi atrás dela. O nono ficou lá dentro para tirar aquele corpo dali. 

Lá fora, oitavo a encontra em pé, olhando para o céu escuro e cheio de estrelas, mas visivelmente frustrada com o que aconteceu. Ele vai para o lado dela olhando para o céu também.

—Você estava tentando me salvar não é? - e olhou para ele.

—Sim e me perdoe por isso. Eu estou me sentindo a pior pessoa do universo.- se lamentou. 

Rose se colocou no lugar dele e entendeu suas ações. Em seguida deu um abraço nele para perdoá-lo.

—Não, você não é. Eu sei que você só tentou fazer o que era certo. Mas me promete que não vai fazer isso novamente?- perguntou a ele, ainda abraçados.

—Sim, prometo.-e ele fez um sorriso, mesmo que ela não estivesse olhando.

—Por que eu não te conheci antes?- soltando-a, ele fez uma risada fraca e ela também.- Mas também eu tenho muita sorte em saber que no futuro eu conheci uma garota fantástica como você.

— Eu também tenho sorte em conhecer um Doctor absolutamente fantástico como você!- e tentou secar as lágrimas enquanto sorria.

—Rose!- chamou o nono um pouco distante deles após retornar com a Tardis. Ele havia devolvido o corpo de Circle para enterrá-lo na sua terra natal. Ainda que nono não tenha conseguido levá-lo para responder por seus crimes vivo, sentiu que o seu dever foi cumprido por seguir de uma certa forma a recomendação de Rose. 

—Chegou a nossa hora, não é? É sempre assim...- e Rose lançou uma expressão de tristeza com um quê de alívio pelo pior que passou. Deu um beijo demorado no rosto do oitavo e imediatamente seguiu para a cabine azul.

O oitavo não se deu conta, mas estava sorrindo abobalhado. Estava contente por receber um presente em pessoa no seu próprio futuro. Um presente que talvez fosse demais para alguém como ele, que trilhou uma longa jornada de caminhos difíceis e de decisões que atualmente não se orgulha mais. Rose entrou na Tardis, e o nono se despediu na porta antes de fechá-la. Aquele breve momento de carinho que há tempos não via, estava indo embora.  

Naquele momento, o oitavo não sabia, mas logo descumpriria a promessa de Rose.