Time for a New Seed escrita por Débora C Leão
Novas Sementes quase sempre significam novas Colheitas.
Quando foi a vez de Sabrak, minha mãe o admirou, com os olhos brilhando. Ela parecia não compreender o que isso significava, mas assim o era. Eu já era conhecida como Flor do Deserto, à época, mas nenhum garanhão podia colher-me. Agora descubro o porquê.
Minha Flor era colheita de Leões.
Pensando agora, anos após esse episódio, enquanto a força de tal nova Tormenta ainda se faz presente, não vejo o porque de ambas as posições, sustentadas por mim e por Sabrak. Parece-me que éramos jovens, despreparados para os perigos que tal futura devastação arrastaria em nossas vidas.
E isto não me traz nada além de amargor.
Hoje, parece-me que de todos os pecados, o menos infame é a traição. Não pelo restante de meus sentimentos que nutrem-se por e em Sabrak, pois muitos se foram, perdidos e corrompidos na vastidão de horrores por mim vivenciados - e cumpridos - durante as noites daquela minha primeira Tormenta. Assim lhe falo, forasteiro, pois a traição é, em sua natureza, o único ato intrínseco invariavelmente desesperado de um homem. O próprio axioma da traição é pedra basilar e constante do puro desespero humano, e como tal, apresenta-se como menor infâmia a qual possamos ser acometidos.
Digo acometidos porque, apesar das noites turvas e tumultuosas as quais vivencei, resta-me talvez um resquício de espiritualidade - não totalmente livre do desengano, certamente. Minha percepção do destino, hoje, remenda-se enquanto cicatriza, baseado igualitariamente em fé e nas feridas que possui minha consciência.
Embora eu não tivesse nada a esconder por conta de minha anterior personalidade, nem Sabrak nem muitos Yudeanos sabiam de minha procedência. Eu preservei o nome pelo qual era conhecida em minha terra, contudo; pois mesmo entendendo melhor, nestes dias, todo o leque de sacrilégios e depredações humanas, restituo-me ao pensamento que eu carregava anterioremente à chegada nesta Terra com frequência.
O que eu possa, arriscadamente, afirmar sobre Sabrak não possuir conhecimento algum sobre mim atualmente, é inversamente proporcional ao que sei sobre ele em todos esses anos e em ambas as Tormentas. Que seja, talvez, reconhecível ou não, estes horrores não eram esperados nunca mais.
Ou melhor, não por ninguém que não possuísse o que eu possuo.
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