O Auto do Busão do Inferno escrita por Goldfield


Capítulo 8
O traficante




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Cena VII

Entra o traficante, de boné, camiseta, chinelo e escopeta.

DIABO – Meu amigo traficante, experiente meliante.

TRAFICANTE – Fica quieto e não se mete, ou te passo o canivete!

DIABO – Que agressividade! Vê-se que não tem mesmo bondade. Mas me diga, morreu de dor de barriga?

TRAFICANTE – Mas que mano sem malícia! Morri em tiroteio com a polícia!

DIABO – Eu sou malicioso sim, e sei bem como será seu fim!

TRAFICANTE – Boca fechada ou leva um murro, seu fedido, burro! Para onde vai esse transporte, que se pega após a morte?

DIABO – Vai para a favela do inferno, onde se sentirás da FEBEM um interno!

TRAFICANTE – Já fui para a FEBEM, e lá não fiquei nada bem! Agora a chamam de Casa, de Fundação, para esquecer que ninguém ela ajudou não. Não vou para inferno coisa nenhuma, se continuar com isso te acerto uma! Ou então boto fogo nesse ônibus de bosta! E aí, quer fazer aposta?

DIABO – Vai ter que entrar, era capanga do Beira-Mar! Sempre foi imbecil e pamonha, fumava e vendia maconha!

TRAFICANTE – Eu fazia isso mesmo, e se zoar vai virar torresmo!

DIABO – Nós também no inferno pessoas queimamos, mas elas sofrem anos e anos! Vais tostar no grande forno, traficante corno!

TRAFICANTE, na frente do Busão do Céu – E aí, gente boa? O motor desse ônibus bonito soa!

ANJO – Traficante vil, seu lugar é no covil. Sem saúde e educação tua comunidade ficou, mas com isso o caminho do mal tu trilhou, e assim pecou. Homens indefesos matou, moças frágeis estuprou. Tornou-se filho do cão, não entra neste busão. Mas, se serve de consolação, o político que sua favela deixou nessa situação, encontrarás naquele transporte de segunda mão. Talvez consiga ao purgatório no futuro promoção, já que não foi inteiramente sua de levar essa vida a decisão.

TRAFICANTE, voltando para o Diabo – Não posso mais escolher, no fogo vou arder! Posso ao menos meu pandeiro levar, para no busão um pagode tocar?

DIABO – Leve sim, sua frutinha! No busão faremos uma rodinha! Agora entre imediatamente, seu bandido indigente! (O traficante entra no ônibus).


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