Ela sempre foi a coisa mais importante na minha vida. Desde quando viramos amigos no fundamental, eu sempre a escutei. Por mais que ela não se arrumasse, eu sempre a enchi de elogios sem que ela pedisse - todos sinceros, vindos do meu coração. Não importava a hora que ela me procurasse, eu sempre estive lá para o que ela quisesse. E só de senti-la próxima de mim já era o suficiente para que eu fosse às alturas.

Nunca me importei se ela deixava o cabelo crescer, cortava ou o enrolava. Não me interessava se o cabelo dela estava preto, loiro, vermelho ou azul. Muito menos ligava para as lentes que ela vivia trocando; ela era perfeita de qualquer maneira. Ela sabia ser linda sem precisar se arrumar muito. Eu sempre demonstrei meu amor por ela. E esse era o problema.

Eu não sabia ser o garoto que ela queria. Eu não passava de um baixinho que usava uma camisa bizarra, tinha um cabelo totalmente brega, usava óculos estranhos e todos me chamavam de panaca, besta e cego - seja pelo óculos ou pela minha paixão. Ah, e claro, era o bobalhão que andava com uma calculadora pendurada na calça e ainda um grande viciado em biscoitos de chocolate.

Eu não me importava com isso. Somente ela era meu foco. Eu a amava perdidamente. Eu queria tê-la nos braços. Queria poder olhar nos olhos dela e vê-la retribuindo meu sentimento. Desejava poder fazê-la sorrir após beijar seus lindos e delicados lábios e abraçá-la fortemente, dizendo trezentas vezes que a amava. Aspirava massagear seus ombros cansados enquanto inspirava o perfume de seu cabelo.

Ela entrava pela porta da classe e eu instantaneamente absorvia toda a felicidade do mundo para mim. Sentava ao meu lado e eu ia a loucura. Me cumprimentava e eu percebia que ainda a amava. Então fazia de tudo para fazê-la se sentir uma princesa, mesmo que estudantil. Trabalhos em grupo se transformavam apenas em dupla, e não importava o que o professor dissesse, eu não iria arriscar perdê-la para qualquer outro. Eu não iria perder para outro.

Ela não retribuía, mas eu era feliz. Sabia que a veria logo no outro dia. Mesmo tendo que esperar angustiosas horas para que esse novo encontro acontecesse, eu esperava. Tentava me distrair com qualquer coisa, porém em vão. Me trancava no quarto, abraçava o ursinho de pelúcia que comprei para ela e nunca consegui entregar e esperava.

Isso foi até eu descobrir que ela iria mudar de escola.

Meu mundo simplesmente se despedaçou. Estava passando pelo momento que eu nunca quis passar na vida. Estava correndo o risco de perdê-la. Perder a garota que eu amava profundamente. Minha razão de sorrir. Meu tudo. E tudo isso de uma hora para outra, como uma tempestade de chuva que simplesmente lhe leva o guarda-chuva embora por tamanha força e velocidade que chega.

"P-para onde você vai?", a pergunta que fiz antes que a ficha realmente tivesse caído e me derrubado junto.

"Sweet Amoris, Ken".

Sweet Amoris.

Não sabia onde era nem que tipo de escola era.

Apenas que eu precisava ir para lá.

Precisava continuar protegendo-a.

Amando-a.

E foi o que eu fiz. Eu fui atrás dela. Não iria deixar que o tempo arrancasse-a de mim. Não tão facilmente. Pois se havia algo que eu havia prometido a mim mesmo era de que eu lutaria por ela contra qualquer que fosse o obstáculo. Eu iria salvá-la de todos aqueles que quisessem machucá-la, que fossem feri-la. Tudo para vê-la sorrindo, para ver o sorriso mais bonito de todos.

Pelo menos era o que eu queria fazer.

Eu tentei. Tentei protegê-la. Tentei mostrar para ela que aqueles caras não a amavam como eu. Tentei salvá-la dos problemas que estavam por vir. Tentei livrá-la das lágrimas que iriam alcançá-la se eu não agisse. Eu tentei. Mas não consegui. Eu era fraco. Eu não estava apto para cuidar dela. E só eu não havia percebido isso ainda.

Mesmo encolhido, sofrendo por não conseguir fazer o que eu sempre planejei, ela ainda se abaixou e me ajudou a levantar. Ela ainda sorriu para mim. Me fez sorrir de novo. Eu sabia que minha tentativa não fora em vão. Ela sabia dos meus objetivos. Mas sentia pena de mim. E hoje eu sei porque.

Não restou-me alternativas se não sair desse lugar. Eu estava propenso a me ferir ainda mais, e, ainda, podia feri-la também. E eu percebi que não importa o que eu fizesse, ela não iria olhar para mim como eu queria. Não enquanto eu fosse inferior a todos os outros dali. Pelo contrário, só seria um peso em suas costas.

Eu fiz de tudo. Fiz coisas inimagináveis. Coisas que até mesmo meus pais duvidavam. Tudo para vê-la me olhando com outros olhos. Para, quem sabe, perceber que eu não era um simples bobo apaixonado. Eu finalmente amadureci. Ganhei músculos. Mudei o penteado. Aprendi a usar lentes. Cresci fisica e psicologicamente.

Tudo isso por ela. E só por ela.

Assim que vi que finalmente tinha condições de salvá-la daqueles tiranas mentirosos, eu voltei. Voltei para aquele lugar que só me trouxera desgraça. Voltei para ela. Podia parecer que eu não a amava tanto quanto antes. E era verdade. Eu estava ainda mais apaixonado. Apenas aprendi a controlar meus sentimentos enquanto mudava o meu eu por completo. E, ao mesmo tempo, queria esquecer todos os fracassos do passado. E queria que ela me ajudasse nisso.

Hoje, continuo sem respostas. Mas isso ainda não me importa. Eu continuo amando-a. Continuo desejando cada fio de cabelo dela. Continuo decidido a protegê-la, abraçá-la, secar suas lágrimas. Mesmo parecendo igual, tudo está diferente. Eu mudei. Ela também. Ambos para melhor. Eu cresci. E ela desenvolveu-se ainda mais.

Quando me perguntam porque eu ainda continuo apaixonado por ela, respondo simples e sinceramente, "porque ela detém de meu coração." Pode parecer exagero, mas é verdade. E eu concretizei isso quando entreguei o meu ursinho de pelúcia, repleto de meu amor e desejos, para ela, antes de partir e mudar.

E sei que não foi em vão.