Eu e a Alice combinamos de nos encontrar as 13h00 pra um almoço. Ela quase teve um infarto quando eu liguei:

– Só me fala seu nome, por favor? Aí eu peço pra recepcionista quando eu chegar.

– Andrew Davis. - Ela ficou muda. - Alice?

– Isso é algum tipo de zoação?

– Lógico que não! Eu preciso de você. Quer dizer, meu pai tá afundando a empresa dele e precisa de um advogado.

– Tá. - Ela não falou nada e eu também não. - Que horas você quer marcar o almoço?

Meu pai me deu todos os papéis e todos os documentos. E, claro, como sempre ela estava atrasada.

– Desculpa o atraso. - Ouvi atrás de mim. Minhas mãos começaram a tremer. Quer dizer, mais ainda. Porque eu estava tremendo mais que coqueiro em vendaval.

– Como sempre, atrasada. - Falei e ela sorriu de canto. Alice estava morena. - Faz quanto tempo que pintou o cabelo? - Ela sentou-se na minha frente.

– Alguns anos. E você? Como tá?

– Bem… - Fiquei olhando pra ela. Alice mudou tanto. De longe dá pra perceber que ela não é mais a garota que se escondia atrás das roupas pretas e maquiagens.

– Bom… E você trouxe todos os papéis? - Entreguei tudo pra ela. - Seu pai tá devendo oitocentos mil dólares?! Como é que ele conseguiu essa proeza?!

– Não pergunta pra mim. Eu não faço a mínima ideia. - Continuamos conversando somente sobre a empresa do meu pai. Toda vez que eu tentava falar sobre a vida pessoal dela, ela se esquivava.

Já estávamos ali fazia mais de meia hora e nem fazia ideia de onde ela estava morando.

– Senti sua falta, sabia? - Falei e ela parou de ler um dos papéis e me olhou.

– Andrew, eu…

– A gente podia marcar de sair. Sei lá… Sem ser assim só trabalho. - Ela mordeu o lábio.

– Eu… Eu to noiva. - Como assim ela tá noiva de alguém que não sou eu?! Senti como se tivessem jogado um baldo de água gelada em mim em pleno inverno canadense. - Olha, desculpa…

– Pelo o que? E qual o nome dele? - Ela não falou nada. - Você me ouviu?

– Isaac. O nome dele é Isaac. - Ela se ajeitou na cadeira. - Apesar de o seu pai estar devendo pra Deus e o mundo, não vai ser tão difícil pra ele ganhar o processo.

– Faz quanto tempo que vocês estão juntos?

– Andy, eu prefiro não falar sobre isso. Sério.

– Faltam quantos meses pro casamento?

– Você pode me dar o telefone da empresa do seu pai? Preciso falar com ele. - Respirei fundo e peguei o celular. Passei o telefone pra ela. - Eu preciso ir agora, Andrew. Vou analisar melhor os papéis depois. - Não falei nada. - Tchau. - Ela me deu um beijo na bochecha.

(…)

– Ela tá noiva! - Juro por Deus que eu ainda to em estado de surto com isso. Peter se engasgou com a cerveja. Seria cômico se a situação não fosse tão trágica.

– Como assim noiva?

– Noiva! Eu falei pra gente se encontrar. E ela me disse que vai casar! Eu to me arrependendo de ter ligado pra ela.

– Cala a boca. Daqui há quanto tempo vai ser o pior dia da sua vida?

– Ela não me respondeu que dia ia ser.

– Pergunta pra April. Aquela vadia desse saber. Ela poderia ter te avisado.

– Não chama ela assim… Mas até que você tem razão. - Peguei o telefone e comecei a digitar os números.

– Olha pra mim. Eu sempre tenho razão. - Ignorei isso.

– April! - Falei quando ela atendeu. - Por qual motivo você não me falou que a Alice ia casar?!

– Ah… Não achei que fosse importante.

– Tá de brincadeira comigo? Foi o pior fora que eu já levei na vida!

– Eu achei que você tava em outra, Andrew. Desculpa.

– Pra quando tá marcado o casamento?

– Daqui há um mês. Um mês certinho. - Sentei no sofá com a mão no rosto.

– Eu não to acreditando nisso.

– Olha, se te serve de consolo, ela me pergunta sobre você.

– E como você nunca me disse nada?!

– Como eu disse, eu achava que você tava em outra faz muito tempo.

– Eu vou é entrar em depressão!

– Não exagera. E se ela pergunta sobre você, é porque ela nunca te esqueceu. Para de ser burro e vai atrás dela.

– Ela vai casar, April!

– E daí? Ela ainda não disse sim. Agora deixa eu desligar porque amanhã tenho prova. Tchau, Andy.

– Tchau. - Desliguei e bufei.

– O que você vai fazer? - Peter perguntou.

– Eu não sei. Mas tem que ser dentro de um mês. - Fazem oito anos que não vejo a Alice. Oito anos! Nunca pensei que isso ia acontecer, mas tenho que fazer a Alice se apaixonar por mim de novo.

(...)

Estava no escritório resolvendo algumas coisas sobre a nova matriz quando batem na minha porta. Pedi pra entrar. Era minha secretária.

– Chegaram essas coisas pro senhor. - Um era chocolate e o outro era um buquê. Quem em sã consciência me daria um buquê?!

– Obrigada, Claire. - Ela deixou em cima da minha mesa e se retirou. Sentei, peguei o buquê e fiz careta. Abri o cartão.

"Espero que esteja ansioso pro jantar de hoje a noite, assim como eu.

Xx, Brianna"

Joguei meu tronco sobre mesa. Eu não acredito nisso. Deixa eu explicar melhor. Brianna é a mulher que meu pai quer que eu case. Ela sabe muito bem que eu to odiando essa ideia de casamento. Não sei o que pretendia com esse cartão. E que bosta de jantar era esse? Joguei o cartão no lixo e abri a caixa de bombons. Comecei a comer e ler o outro cartão.

"Desculpe por ontem. Eu não sabia como reagir, o que fazer... Você me conhece. Sabe que eu sou péssima em situações assim. E eu nunca fui uma pessoa meiga ou até mesmo compreensiva. Mas sei que fui rude. Desculpe mesmo, Andy.

Alice"

Peguei o telefone.

– Escritório de Alice Mendler. Boa tarde.

– Boa tarde. Tem como você me passar o endereço daí, por favor?

– Claro. - A secretária me passou o endereço. Depois de desligar o telefone, peguei meu celular, pedi pra Claire cancelar quaisquer compromissos que eu tivesse durante a tarde e fui até lá.

– Boa tarde. - Falei pra secretária. - A Alice tá aí?

– Qual seu nome?

– Andrew.

– Só um momento. - Ela ligou pra sala e depois falou que eu poderia entrar. Assim fiz. Alice estava um pouco corada e parecia não saber o que fazer.

– Oi. - Falei e ela sorriu, se levantando.

– Oi. - Alice falou e me abraçou. Eu tinha crescido desde o primeiro ano na faculdade. Então, o topo da cabeça dela agora batia no meu ombro, e não mais no meu queixo. O perfume dela continuava o mesmo. Obviamente eu sabia que sentia saudades dela, mas não imaginava que fosse tanta. Meu coração parecia uma escola de samba. Eu a abraçava como se minha vida dependesse disso. E talvez realmente dependesse. E abri um sorriso quando percebi que ela fazia o mesmo. - Eu também senti sua falta. - Ela sussurrou. - To falando de ontem.

– Eu sabia. - Ela riu baixo. - Obrigada pelos chocolates. São muito bons.

– Sabia que você iria gostar. - Nos soltamos e sentamos. - Mas... Desculpa mesmo por ontem.

– Tudo bem. E como você tá? - Perguntei.

– Bem... E você?

– To bem também.

– E a Bia?

– Tá bem. Tá querendo namorar agora. - Revirei os olhos fazendo careta e ela riu. - Ela pergunta sobre você.

– Sério que ela ainda lembra de mim? - Fiz que sim com a cabeça.

– Ela pergunta porque eu desisti de você. - Alice ficou olhando pra mim. Ela ficou mais vermelha do que já estava. - E seus pais?

– Meu pai tá bem. Minha mãe morreu faz três anos. - Mais uma vez eu cometendo uma gafe.

– Desculpa. Eu não sabia...

– Tudo bem, Andrew. Mesmo. Sua empresa tá crescendo muito pelo o que eu vi.

– É... Que bom. Porque se eu fosse depender do meu pai, estaria fodido. - Ela riu.

– Acho melhor a gente ir no café que tem aqui perto. Eu to com fome. Você também?

– Um pouco. Não almocei hoje.

– Eu também não. - Alice disse sorrindo. Nos levantamos. Quando ela passou por mim, a abracei de novo. Fechei os olhos e enterrei meu rosto nos cabelos dela. Ela me abraçou de volta, ficando na ponta dos pés.

A porta foi aberta bruscamente e nos separamos. Um homem com a sobrancelha arqueada olhava de mim pra ela.

LEIAM AS NOTAS FINAIS OU EU APAREÇO TIPO QUANDO EU ACABO DE ACORDAR NO QUARTO DE VCS DE NOITE E, ACREDITEM, VCS NÃO VÃO QUERER VER ISSO