Um Cupido Diferente. escrita por Soquinho


Capítulo 4
Terceiro Capítulo.


Notas iniciais do capítulo

ér, bem, comentários? *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/475859/chapter/4

Quem estivesse no mar naquela hora poderia ser a testemunha de um nascer do sol esplêndido. Apolo estava inspirado naquela manhã de terça-feira. Nico di Ângelo brincava com os seus cadarços do tênis e de vez em quando, se pegava suspirando enquanto permitia que a sua mente viajasse o quanto ela quisesse. Odiava sim acordar cedo, e muito, e olhe que as conchas ainda não haviam soado para avisar que todos os campistas deveriam levantar-se. Ele só não conseguiu ter uma boa noite de sono, o que já era habitual e o principal acusado de suas olheiras.

Só conseguira dormir duas horas, entre às três da manhã até as cinco. Não era o suficiente para fazer com que o seu corpo se recuperasse e a sua mente tivesse o apropriado descanso, mas não podia livrar-se daquela maldição chamada insônia. Não largava dele fazia um bom tempo, precisamente quando começara a notar a sua queda por certo herdeiro do deus dos mares, que evoluiu para um abismo e agora ele já não sabe mais controlar. Na noite passada, quando fora encurralado nos braços de seus amigos, Nico prestara mais atenção em Percy Jackson bagunçando os seus cabelos e as suas bochechas corando mais e mais. Em sua face, brilhava a frieza e um olhar de compreensão. Internamente, o menino de olhos escuros queria puxar o príncipe dos mares para dentro de uma sombra e fazer uma viagem sem volta, somente eles dois. Nico sabia que aquilo era impossível, impensável. Em circunstância alguma aquilo seria viável, eles não nasceram um para o outro e o filho de Hades tinha a ciência daquilo.

Sentia-se asqueroso com aqueles pensamentos em relação ao primo, até porque, Percy tinha alguém. Alguém que amava muito e essa pessoa era Annabeth e ninguém mais. Não iria trocá-la por um garoto estranho e insensível como Nico. Afundou ainda mais o queixo nos joelhos, entretendo-se com os seus cadarços.

Estava ali, fora de seu chalé desde as cinco e trinta e duas, sentado no chão desamarrando e dando um novo laço nos cordões de seu tênis. Absorto e intangível do frio da madrugada. Os raios rosados de sol começavam a lhe importunar e Di Ângelo já sabia que faltava poucos minutos para a concha soar e acordar todo o acampamento. Ele queria ir embora novamente, fazer a mala e mergulhar em uma sombra. Talvez fosse até a Itália e passasse um ano por lá, depois voltaria por alguns dias e já procuraria um novo rumo. Sempre assim, como um andarilho. Entretanto, Nico estava sentindo alguma força o mantendo naquele lugar que ele não conseguia se adaptar de nenhuma maneira. Era um pessimismo tão grande que chegava a beirar o ridículo. Como podia dizer que ninguém ali gostava dele, depois do recebimento que tivera na noite anterior? Mas Nico era daquele jeito, cético até não poder mais e insistente em uma ideia que poderia lhe arrancar boas noites de sono. Pelo menos, não guardava mais rancor de Percy Jackson pela... Morte de sua irmã, Bianca di Ângelo.

Pensar nela provocou-lhe um tremor e ganhar lembranças de seus momentos antes mesmo de se descobrirem semideuses. Rememorou-se de Bianca jogando mitomagia com ele e depois largando as cartas, irritada, pois ele lhe acusara de estar trapaceando. A boca de Nico alargou-se em um sorriso pequeno, poderia ser muito doloroso pensar em sua irmã, mas eram reconfortantes as lembranças divertidas que tinha dela. Às vezes, Bianca parecia estar tão perto.

Estremeceu mais uma vez, não foi de frio e nem de nenhuma lembrança relativa à sua irmã, mas sim o som retumbante da concha anunciando mais um início de atividades no Acampamento Meio-Sangue. O filho de Hades já havia tomado seu banho, então não se levantou do chão em nenhum momento. Amarrava o cadarço do tênis esquerdo, agora mais limpo depois do episódio da noite anterior, enquanto salvava aquela campista louca chamada Kaede. Revirou os olhos pela primeira vez naquela manhã ainda nascendo.

– O que faz aí, Di Ângelo? – Nico poderia ter sobressaltado com o susto, porém limitou-se a erguer a cabeça de olhos arregalados. Viu um sorriso cordial de seu segredeiro e os olhos azuis brilhantes lembravam-lhe Thalia, filha de Zeus e uma das caçadoras de Ártemis.

– O que ainda faz aqui, Grace? – devolveu o rei dos fantasmas, terminando o seu laço em seu tênis e abraçando os joelhos contra si. A franja caia em seus olhos, mas Nico não demonstrou incomodo com aquilo.

– Ué, tanto posso estar no Acampamento Júpiter quanto no Meio-Sangue, caro primo.

– Super interessante. – Di Ângelo disse por fim. É claro que não estenderia a conversa, só faria aquilo se alguém o impulsionasse. Jamais puxava uma conversa, era calado e poderia permanecer daquela maneira por um dia inteiro, sem se opor. Para o de olhos escuros, a sua vida baseava-se em um silêncio infindável. Alguns ecos algumas vezes vinham lhe inquietar, fora isso, o silêncio era um tipo de som.

– Essa história de queda ainda não me convence, sabe? Parece ser algo bem mais profundo. – os campistas já começavam a sair de seus chalés. Jason olhava para frente, tendo em seu centro o chalé de pedras salpicadas e rústicas, o chalé três de Poseidon, onde residia à fonte de insônia de Nico di Ângelo, Percy Jackson.

Nico corou e praguejou contra o filho de Júpiter e podia senti-lo com um sorriso vitorioso no rosto. Havia provocado o efeito que queria no de olhos escuros.

– É uma história encerrada, enterrada com a nossa luta contra Eros. Por favor, esqueça isso e jamais conte a alguém sobre isso! – as bochechas do Di Ângelo ganhavam uma coloração ainda mais vermelha. Por favor, Nico, não continue fugindo.

– Tem absoluta certeza? – Jason ainda mantinha o olhar firme no chalé de Poseidon, como se previsse que o filho do deus dos mares sairia por aquela porta a qualquer segundo.

Nico tentou não explodir externamente, porque a sua cabeça estava perturbada com aquele questionamento de Jason. Não, eu já não tenho certeza de mais nada! Quis gritar, mas chamar a atenção de todos os campistas aquela altura da manhã estava fora de cogitação, e não era uma boa maneira de revelar a sua suposta queda pela prole de Poseidon.

– Por favor, Jason, eu realmente quero que você esqueça isso. Foi uma queda, coisa do passado!

Di Ângelo levantou-se alterado, limpou os jeans da areia do chão e fuzilou o de olhos claros. Jason estava se divertindo com a negação do filho de Hades. Estava tão explícito que aquilo não fora passageiro, tampouco que era uma ingênua queda. Nico não podia fingir para o filho de Júpiter, ele sabia das coisas e estivera ao lado dele na hora da confissão. Pra que desmentir algo que estava tão claro agora? E Jason era o único com quem o de olhos escuros poderia conversar abertamente sobre isso, por mais que lhe doesse proferir cada palavra que tivesse ligação com aquele rapaz de belos olhos verdes.

Jason deu-lhe um meio sorriso e Nico se refreou para não meter a sua espada no pescoço do primo. O de olhos claros olhou para frente e enxergou o filho de Poseidon saindo de seu chalé, limpando algo da sua blusa gasta e os cabelos negros bagunçados.

– A sua princesa não gosta de pentear os cabelos pela manhã. – disse o romano, zombando da aparência de Percy Jackson.

Di Ângelo franziu a testa, confuso com o comentário feito pelo amigo. Girou a cabeça para olhar o mesmo canto que Jason tanto observava e paralisou ao ver Jackson aproximando-se deles, as madeixas todas bagunçadas e lhe dando um ar charmoso, os olhos verdes brilhando como nunca e uma mancha azulada na sua camiseta do Acampamento Meio-Sangue. A marca não estava ali antes, tivera sido adquirida naquele dia.

Nico prendeu a respiração por alguns segundos e abaixou a cabeça. Estava pronto para evitar o garoto e mascarar-se com a sua frieza inerente. Falaria pouco, depois sairia e não tornaria a conversar com o garoto dos mares pelo resto do dia, a não ser que algo importante ocorresse.

– Se acalme e nada demais irá acontecer. Agora ajudaria muito se você falasse sobre isso com ele, iria aliviar essa tensão. – aconselhou Jason.

– Nem em mil éons, e eu não tenho nada para confessar. – rebateu furioso. Jason pensou e analisou a situação, tendo a ideia de não tocar mais naquele assunto por algum tempo. Deixaria o herdeiro do deus dos mortos pôr em ordem todos os seus pensamentos a respeito de Perseu, e ele haveria de tomar uma decisão que seria o desfecho daquela história, ou a largaria e viveria com aquela dúvida de que como a sua vida teria sido se tivesse contado-lhe como se sentia.

Percy parou em frente a Di Ângelo e lhes deu um sorriso sossegado. Imbecil, se esse besta soubesse o quanto ele me deixa bobo com esse sorriso. O filho de Hades ouviu aquela voz indiscreta em sua cabeça. Suas bochechas enrubesceram, mas ele procurou outro ponto para focar-se e achou o chalé de Afrodite bem interessante naquele momento.

– Souberam do Senhor D? Há boatos de que ele está se esbaldando em boates. – comentou o de olhos verdes, rindo divertido. O de olhos azuis sorriu sacana enquanto dirigia o seu olhar para o chalé de Dionísio.

Nico manteve-se calado, mas ouviu-se um riso discreto partindo dele.

– Está louco para aumentar o número de crianças no chalé dele. – gracejou Jason, sendo seguido por uma gargalhada do filho do deus dos mares. Di Ângelo podia escutar os seus batidos cardíacos e assombrava-se com a possibilidade de seu amado também ouvir. Era algo constrangedor, seu estômago retorcia-se, mas ele sabia que não era de nojo. Toda vez que via aquele garoto, era atingido por uma ânsia extrema e era obrigado a controlar os seus impulsos, por mais fortes que fossem.

– O que foi isso na blusa, Jackson? Algum corante azul espirrou na sua camisa? – interrogou o de olhos escuros, logo depois se odiando por ter feito aquela pergunta estúpida. Não era muito bom em conversar, porém tinha de achar algo para que o seu coração parasse de galopar e a sua barriga não parecesse que fosse o fazer desmaiar.

Percy levou as mãos até a mancha novamente, limpando-a. Ele sabia que era inútil, pois a nódoa já estava cravada em sua camisa. Observando de perto, os dois semideuses puderam concluir que se tratava de pasta de dente.

– Eu sem querer deixei que a pasta melasse a blusa, mas hoje à noite eu a lavo. Vamos para o café.

Os três começaram a andar. Jason ia mais a frente, como se de propósito quisesse deixar a prole de Hades mais perto do garoto dos mares. Nico quis o trucidar com toda a sua fúria, mas resolveu deixar para lá. Ele o pagaria por isso.

O silêncio importunava a ambos, era algo muito desconfortável. Percy lembrou-se de quando estava com o primo no labirinto de Dédalo, caminhando com ele e que a sua boca calada o deixava bastante desaconchegado. Tudo bem, ele entendia que Nico não era de puxar uma conversa se ninguém o estimulasse, entretanto, às vezes se pegava pensando na falta da personalidade alegre que o de olhos escuros, possuía antes do acidente com a sua irmã.

O filho de Poseidon determinava-se a puxar uma conversa com o garoto, e também queria procurar entender uma questão que estava rodeando a sua cabeça desde que retornara da disputa contra Gaia.

– Nico – pausou. Olhou para o chalé de Atena enquanto seguiam para o pavilhão. A coruja entalhada na frente, com os olhos de ônix parecia segui-lo, não importasse para onde se movesse. Di Ângelo murmurou um “hum”, a fim de que o outro prosseguisse. - Após o treino de esgrima, eu gostaria de conversar com você em particular.

Aquela frase causou diversos efeitos no rei dos fantasmas. Uma sombra serviria muito naquele instante e, talvez a Inglaterra fosse um bom lugar para passar alguns anos. Nico repreendia-se fervorosamente por estar com a face avermelhada e os lábios tremendo em indecisão. Aceitar ou rejeitar aquele pedido? O de olhos escuros não sabia mais como agir, qual resposta seria decente e se o seu coração queria pular para fora do peito. Ele não permitiu que as suas pernas bambeassem, seria exagero demais. Limitou-se a tossir para ver se o nervosismo agravado diminuiria. Não, aquilo não estava ajudando e ele quis gritar com Percy por fazê-lo ficar daquele jeito, completamente sem ação.

– Posso saber do que se trata? – a voz exibia um tom indiferente, porém as suas reações fisiológicas não correspondiam com aquela frieza. Toda vez que o assunto era Percy Jackson, algum muro inquebrável que ele construíra demolia-se. Quanto poder aquele filho de Poseidon tinha. Di Ângelo sabia o quanto era difícil para alguém tentar uma mera amizade com ele, já que não facilitava, e ele tentava complicar ainda mais para o de olhos verdes. Entretanto, de alguma maneira ele sempre descobria uma brecha.

– Vamos deixar isso para depois. Agora, estou com muita fome e estou a fim de uma pizza. – alisou a sua barriga.

– Uma pizza a essa hora da manhã?

– Você tem em mente alguma outra comida? Tipo, cereal? – disse Percy, virando-se para encarar o primo com um sorriso de chacota.

– Deméter me forçava a comer aquilo, não tenho culpa. – emburrou-se e cruzou os braços. Entraram no pavilhão. Cada um seguiria para suas mesas, ambos ficariam solitários.

Antes que o Di Ângelo pudesse dirigir-se à mesa de seu pai, Perseu tocou o seu ombro. Quis se derreter ou virar um pó, seu corpo recebia um choque esquisito. Para evitar o toque do príncipe dos mares, Nico afastou-se e o olhou torto. Percy pareceu-lhe envergonhado no mesmo instante. Ele odeia quem o toca, relembrou-se o de olhos verdes.

– Desculpe. Eu realmente quero que venha para nós conversarmos, me encontre aqui e iremos para a praia. – o olhar do filho de Poseidon estava penetrante demais. Di Ângelo sentia-se desconcertado com o verde deslumbrante da íris de Percy, como se ele visse o próprio mar e o cheiro que o garoto emanava era de maresia. Inebriante, até.

Ele decidiu cortar a ligação de seus olhos, mas foi impedido de dar uma resposta concreta. Percy lhe deu as costas e seguiu para a mesa de seu pai, não querendo obter um revide do primo. Caso ele o pressionasse, o menino buscaria pretextos para escapar e preferiu não discutir.

Nico também rumou até a sua mesa e sentou-se. Fez um pedido de um sanduíche com presunto e um copo de água, não estava com tanto apetite. Abocanhou o primeiro pedaço, mas algo o incomodava, como se alguém estivesse o assistindo enquanto comia. Levantou com cuidado a cabeça, rodeando a sua vista por todas as mesas dos deuses e paralisou em um, que lhe deu um sorriso amistoso e um par de olhos verdes viciadores mirando-lhe.

Di Ângelo engasgou-se e tomou em um só gole toda a sua água. Você não é filho de Afrodite, Perseu. Pare de me desorientar!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Cupido Diferente." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.