Bubble Wrap escrita por Mirchoff


Capítulo 1
Capítulo I - I had to find a way to get her next to me




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/475819/chapter/1

I'm falling in love

But it's falling apart

I need to find my way back to the start

Não era como se Leo Valdez fosse um completo idiota.

Talvez ele só tenha sido meio idiota. Ou 75% idiota. Ele nunca admitiria que aquela fora a pior decisão da vida dele.

Pois, veja bem, Leo acreditava que só havia duas versões de si mesmo. Aquela em que ele morde os lábios e abraça os joelhos enquanto assiste Titanic, sentindo pequenas lágrimas se formarem nos cantos dos olhos mas nunca, repito, nunca as deixando rolar e, a sua versão preferida, onde ele era o cara que sempre quis ser. Jaquetas de couro, coturnos e ele amava o jeito como as pessoas se afastavam quando ele passava.

Como se elas o respeitassem.

Acontece que ele descobrira uma terceira versão duas semanas depois daquele dia. Ele se viu perdendo o sono e sendo grosseiro com as pessoas. Porque, por mais punk rock que ele parecesse ser, continuava pedindo desculpas por pisar em patas de cachorros e pedia licença antes de passar por alguém. E sempre dava bom dia para a maioria das pessoas.

E aquela nova versão o aterrorizava. Além da insônia e do mal humor constante, ficava deprimido facilmente e até perdia a vontade de sair com seu melhor amigo, Nico Di Angelo. Ele assistia filmes românticos e gastava seu tempo com algum jogo estúpido no celular, só para não abrir a caixa de mensagens e reler coisas antigas. Deixou sua aversão a livros de lado, venceu a dislexia e conseguiu até ler alguns capítulos de um livro qualquer antes que o atirasse contra a parede, alegando estar entediado. Leo não tinha mais vontade de beber, ou ir à alguma festa para animar as coisas. As festas sempre pareciam melhores depois que ele chegava.

Mas a verdade era que o rei das festas estava sozinho. De novo.

Não que ele tivesse levado um pé na bunda. Sempre foi o tipo de cara que não costumava gostar de relacionamentos sérios. Ele poderia facilmente ser rotulado de gay por raramente aparecer com alguma garota.

Foi aí que Reyna Arellano aconteceu.

Resumindo, ela era incrível. Mas Leo nunca gostou de resumos. E Reyna era assim, ela não era pela metade. Não era pouca coisa. Não era resumida.

Ela gostava de filmes de guerra, mas também gostava dos românticos e entendia o que Leo sentia assistindo Titantic. Gostava de cachorros, assim como ele, e era a única pessoa que o fazia urrar por clemência ao jogar Injustice.

O garoto gostava de todos os momentos que passou com ela, até mesmo da temporada para matança. Ele só não gostava de alguns socos, puxões de cabelo e xingamentos que levava nesses dias. Uma de suas lembranças preferidas era a viagem de carro até a cidade vizinha. Foram duas horas e meia ouvindo playlists do celular, cantando e rindo um do outro. Ou as tardes que passaram deitados no telhado da casa de Reyna, ou quando tomavam sorvete de pistache na sorveteria preferida de ambos.

Reyna era a única pessoa que o deixava completamente vulnerável. Ela sabia todos os seus pontos fracos, medos, inseguranças. Ela o mantinha no chão.

Ela também era a garota mais bonita que ele já havia visto. Era uma beleza diferente, simples, natural. Não usava muita maquiagem, tinha um sorriso bonito e bochechas coradas. Reyna era tão difícil de lidar quanto Leo.

Eles se encontravam aos sábados e comiam cheeseburger com batata frita em cima do capô do carro de Leo, e ela nem se importava quando ele desperdiçava ketchup ao escrever o nome dos dois na lataria.

Era o único momento em que Leo não se importava de sujar o carro. Ele amava como ela sorria ao ver a curva de seu "y", ou como ele podia fazer um coração de ketchup de forma bonitinha sem borrar.

Mas duas coisas não saem com sabão: a imagem das lágrimas rolando pelas bochechas da garota e o vazio que Leo sentiu em seu peito nas semanas seguintes.

Na hora, ele não havia se tocado que terminara com ela assim, tão de repente. Era como se ele não tivesse total controle de seus atos. Ou talvez tivesse, mas essa era outra coisa que nunca admitiria.

Leo sempre se sentira extremamente sortudo por tê-la. Mas, naquele momento, ele se sentia extremamente irritado e talvez tenha acabado por descontar sua raiva na pessoa errada. Ele simplesmente tirou suas mãos da cintura de Reyna e respirou fundo.

— Acho melhor a gente terminar.

A garota tinha olhos de obsidiana, e Leo fixou sua atenção na mesinha de centro para não vê-la chorar.

Até aí, tudo bem. Ele continuava o mesmo Leo de sempre, só que sem a única namorada que tivera até então. Conciliava as duas versões de si mesmo tão facilmente quanto conseguia se equilibrar na gangorra do parquinho abandonado com duas garrafas de cerveja nas mãos.

Mas, depois de Reyna, a terceira versão de Leo começou a dar as caras.

Ele se sentia péssimo. Era claro e cristalino que precisava de alguém que fizesse carinho no cabelo cacheado dele até pegar no sono, que apertasse seu corpo contra o dele quando Leo decidisse pegar a moto de Nico emprestada e alguém com quem pudesse simplesmente ser ele mesmo.

Leo Valdez precisava dela assim como seus pulmões precisavam de oxigênio.

Passou rapidamente as mãos pelo cabelo, respirou fundo e bateu na porta com os nós dos dedos.

—x–

Reyna Arellano ainda podia sentir as pontas calejadas dos dedos dele em seu rosto.

E o perfume.

O perfume estava em toda parte. Estava em seu travesseiro, lençol, roupas… E estava, também, na estúpida jaqueta de couro.

Ela fazia o possível para não carregar aquilo onde quer que fosse. Foram inúteis as tentativas de socá-la no fundo do armário e esquecer sobre sua existência. A jaqueta continuava ali, pendurada numa cadeira no canto do quarto. O couro estava desgastado, um pouco chamuscado, e o cheiro dele continuava ali. Estava sempre ali.

Se lembrava direitinho de como chegou em casa com a jaqueta nos ombros e um sorriso bobo no rosto. Tinham ido ao Maggiano's, o melhor restaurante italiano das redondezas. Ela pedira fettuccini alfredo e riu ao vê-lo se atrapalhar para enrolar o spaghetti com o garfo.

Prefiro comida mexicana.— dissera. – mas se você gosta, eu gosto também, dulzura.

E, no fim da noite, ele a trouxe para casa naquele carro com bancos de couro preto que Reyna passara a amar. Ele sorriu para ela, colocando a jaqueta em seus ombros assim que abrira a porta do passageiro.

Leo Valdez nunca pedira a jaqueta de volta.

A partir de então, foi como se houvesse uma grande escadaria à sua frente. Cada mensagem de texto era um degrau, cada beijo no canto da boca após a aula era outro, e então as ligações, os passeios pelo parque, as músicas que ouviam durante as viagens de carro até a cidade vizinha só para ter um tempo a sós, as promessas escondidas por trás de cada carícia.

De repente, as paredes se mostravam repletas de fotos suas. No celular, playlists das bandas que ambos adoravam. Chamadas no skype que duravam horas. Leo a levava para escola todos os dias, sorrindo atrás do volante com aqueles óculos escuros de sempre. Ele tinha aquele ar um pouco arrogante, mas a garota sabia o que se escondia por trás daquela máscara de bad boy.

Ela o amava. Ele a amava. Reyna chegara ao topo.

E caíra. Degrau por degrau. Podia vê-lo, no topo da tal escadaria, sorrindo para ela de modo maldoso. O sorriso que tanto amava. E que agora, era um dos motivos pelos quais mudava de calçada ao vê-lo na rua.

Leo quebrara seu coração em um milhão de pedacinhos.

A verdade é que ele era um vício. A voz rouca, aquele sotaque irresistível, o cabelo bagunçado, as roupas que vestia. Leo sabia chamar a atenção de qualquer um.

Na época, Reyna se achara uma garota sortuda. Ela tinha um namorado legal, notas boas e um emprego bacana no café da cidade. Não tinha problemas com a irmã mais velha, possuía um bom gosto musical e fazia Leo sorrir de um jeito que somente ela conseguia.

Ela se sentira horrível depois de ouvi-lo dizer aquilo. Sentiu as lágrimas se formando, o lábio inferior tremeu. Ele nem se deu o trabalho de olhar em seus olhos. Reyna pegou o casaco. Saiu. Chorou.

E era algo que realmente a fazia pensar. Leo era um enigma, e ela estava enganada ao pensar que o havia desvendado. Poderia fazer uma lista das coisas que ele gostava e não gostava, dos lugares que ia e que deixava de ir. Poderia fazer uma lista de todas as suas qualidades.

E defeitos.

Porque ele era aquele tipo de pessoa que sabe o que dizer e quando dizer. O tipo de pessoa que diz o que você precisa ouvir. Ele a fazia se sentir completa. Era tão doce e gentil, e sedutor e sarcástico... E também sabia como magoar alguém.

Reyna tinha acabado de se enfiar dentro de um casaco quando ouviu batidas familiares na porta. Ela reconhecia aquele ritmo.

Código morse.

Sua boca ficou seca. Não podia ser. Se recordava direitinho de quando Leo lhe disse algo sobre o código. Ele aprendera quando era pequeno, com sua mãe. E até a ensinara um pouquinho.

Ela desceu as escadas rapidamente, pulando num pé só para conseguir calçar a meia esquerda. Tudo parecia ter ficado mais frio naquele momento.

As batidas continuaram, mas Reyna não descartou a hipótese de ter ficado completamente louca. Era completamente impossível que aquilo significasse eu amo você. Assim como era impossível que porcos voassem, ou que ela conseguisse uma nota realmente boa em álgebra. Reyna odiava álgebra.

Mas, lá estava. Em carne e osso, 20 anos, jaqueta de couro e cachos descontrolados.

Leo Valdez sorriu, zombeteiro.

— Saudades, dulzura?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu decidi escrever essa fic há algum tempo. Foi uma forma de me distrair, porque eu morro de medo de vício de escrita. É algo bem diferente da minha outra leyna (Pouring Rain), então acho que vai ser divertido.Anyway, espero que tenham gostado! Vejo vocês por aí. x
@kennycurse