A Rainha de Espadas escrita por ForLoversOnly


Capítulo 1
Aniversário da Morte




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Inglaterra, 1493

O silêncio caminhava pelas ruas de WindCastle como se fosse o senhor de todas as almas, acariciando-as com a sua penetrante tortura à medida que o dia da morte ia se aproximando. As janelas permaneciam fechadas, as portas trancadas, e nada saía de dentro dos humildes casebres de seu povo, nem mesmo um suspiro. Era como uma cidade fantasma. O único som que quebrava a macabra calmaria vinha das folhas que balançavam até cair de suas árvores, trazendo para cada vez mais perto o duro inverno que os amedrontava a cada ano.
No topo da grande muralha se encontravam os soldados petrificados, com seus olhos fixos no horizonte e seus ouvidos abertos na expectativa de novas ordens. Todo o exército aguardava pacientemente pelo aviso que daria inicio à vingança que lhes foram prometida.

O castelo, coberto por uma densa névoa, abrigava apenas a sua rainha e suas duas damas. Nada se conseguia enxergar do lado de fora, exceto pela clara luz que iluminava os aposentos da majestade. Todo o Conselho e seus servos foram solicitados a permanecerem isolados na torre sul da cidade, com apenas a angústia de um momento interminável. Se aproximar dos portões imperiais era algo impensável e visto como um gesto desrespeitoso pela sua soberana, que havia expressado claramente o seu forte desejo por um dia de solidão absoluta. A tímida luz do sol, em meio a tantas nuvens, era apenas suficiente para marcar a primeira metade de um longo dia, e o início de algo que todos temiam. A hora da morte estava se aproximando. Não havia mais tempo.

O som do tambor ecoou por toda a cidade doze vezes, convidando, a cada batida, seus habitantes para se juntarem diante dos portões do castelo. A multidão seguiu as ordens como já antes haviam sido instruídos, permanecendo de pé e com a cabeça baixa sob a janela de onde ouviriam a sua sentença. As mulheres e suas crianças se aglomeraram do lado direito, enquanto seus esposos, irmãos e pais se organizavam do lado esquerdo, perfeitamente alinhados. Nenhum gemido se ouvia, embora os corações batessem acelerados e as crianças se esforçassem para engolir o choro. Enquanto o Clã dos Bardos, defesa pessoal da rainha, se posicionava em volta do castelo, olhares de terror e desespero se cruzavam entre a plebe; o destino estava prestes a se cumprir.

— Povo de WindCastle. — disse a rainha dando seus breves passos em direção à varanda de seus aposentos. O clã imediatamente arqueou suas flechas em direção aos camponeses, aguardando qualquer brusco movimento.
— Hoje é o aniversário da morte de meu pai, vosso eterno Rei e soberano, James I da Inglaterra, assassinado brutalmente pelo povo que ele mais amou. — fez uma pausa em um longo suspiro, mantendo os olhos de desprezo fixos nas centenas de pessoas imóveis abaixo de sua sacada. — Como estabelecido a treze anos atrás, hoje lhes concedo mais uma vez a oportunidade de me entregar o real culpado por essa tragédia, ou um de vocês não passará pela muralha do meu reino com vida de novo.
Tudo o que se ouvia naquele momento era o barulho do vento que atacava violentamente as ruas da cidade, levando consigo tudo o que podia pelo seu caminho. Algumas das crianças se agarraram em suas mães, e elas, sem esperança, começaram a sussurrar suas orações. Nenhum dos homens presentes, camponeses, guerreiros ou nobres, se moveram de se quer um milímetro, exceto por um forasteiro que se encontrava no centro de todas aquelas pessoas.
—Serei eu o seu culpado, Alteza. — disse com toda a voz que seus pulmões lhe forneceram, saindo a ligeiros passos de dentro daquele grupo de almas condenadas. O povo, agora agitado, ainda não entendia o que estava acontecendo e tampouco quem era aquele desconhecido, mas agradeciam aos céus pela salvação que lhes havia enviado. Dois arqueiros do clã se aproximaram e o seguraram pelos braços, embora a intenção do homem fosse bem outra do que a de escapar.
A rainha segurou o concreto frio da sua sacada, debruçando-se para que seus olhos alcançassem o estranho sujeito que lhe estava prestes a confessar sua traição. —Tudo o que eu mais desejo é ter o assassino em minhas mãos, mas temo que um mártir não seja apto para assumir tamanha traição. — o tom forçadamente divertido de suas palavras tentava ocultar a sua curiosidade.
—Não sou nenhum mártir, Majestade, mas sim um covarde por ter me calado durante tanto tempo sobre a morte de vosso pai. Peço humildemente que condene apenas a mim e a mais ninguém pela minha crueldade. —replicou com um tom grave e tranqüilo, permanecendo com sua cabeça direcionada ao chão de terra sob os seus pés.
— Tragam-no até mim. — hesitou ela antes de dar seus comandos. —Se não for condenado pela morte de meu amado pai, morrerá pela estupidez de tentar salvar seus iguais. — e a porta da sacada se fechou novamente.


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