Signatum II - A Gladius de Fogo Renasce escrita por MilaBravomila


Capítulo 4
Capítulo 3 - O Toque de um Anjo


Notas iniciais do capítulo

Meu desejo é tentar postar 3 vezes por semana, galeris... vou tentar!
Bjo e obrigada mesmo pelo carinho :)



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As unhas de Ingrid arranhavam minhas costas levemente enquanto eu ouvia seu gemido feminino em meu ouvido e sentia seu corpo tremer em fortes espasmos de prazer abaixo de mim. Ela estava exausta e satisfeita, exatamente como todas as mulheres que passaram por minhas mãos tinham que ficar. Não era porque eu era um Arcanjo que transava com mortais que eu tinha que ser um filho da puta completo. Até porque, eu gostava disso.

Eu gostava do poder que tinha sobre elas, sobre a forma que elas não conseguiam evitar se aproximar de mim. Não era só pelo meu magnetismo natural de um ser celestial, era simplesmente o fato de a minha aparência lhes chamar atenção. Era entediante às vezes, mas era um fato que eu não podia evitar, e se isso me ajudava a ter as mais belas mortais sob os lençóis era algo do qual eu jamais reclamaria.

Deixando uma Ingrid de ossos moles sobre sua cama, levantei-me e caminhei até o banheiro. Sua suíte era enorme, com uma jacuzzi de tamanho considerável branca ao fundo, perto das enormes janelas de vidro que permitiam uma limpa visão da cidade do alto do vigésimo andar. Havia velas aromáticas e toalhas bancas em rolos ao redor da banheira e o resto do quarto de banho seguia em tons claros com mármore e madeira clara. Claramente sua vida de dançarina de luxo lhe trazia um belo retorno financeiro. Ou isso ou ela era só uma filha mimada que tinha um trabalho extra longe dos olhos do pai.

Segui direto para a ducha, que ficava do lado direito da jacuzzi. Enquanto sentia a água escorrer pelo rosto eu esfregava a barra de sabonete fino sobre a pele e sentia o cheiro do perfume de Ingrid deixar meus poros pouco a pouco. Eu nunca levava o cheiro delas comigo quando voltava pra casa, sempre foi assim.

Enrolando uma toalha ao redor da cintura, encarei meu reflexo no espelho. Estava ficando cada vez pior. A cada dia que passava, eu sentia aquela sensação me dominar mais e mais. Aquele vazio no peito era como um buraco cada vez mais profundo em mim. Exatamente por isso eu estava vindo com cada vez maior frequência até os mortais, mas nem isso adiantava mais. E eu sabia exatamente o momento onde havia começado.

Você não consegue sentir nada quando olha pra isso, Gabriel? – Miguel perguntou-me enquanto me encarava – Você não se sensibiliza com nenhuma dessas coisas?

Nós estávamos no meio do deserto, passando a noite com os beduínos enquanto enfrentávamos a caminhada que nos levou até a porta do inferno em Dudael.

Eu não podia dizer simplesmente que não a Miguel, então eu suspirei e disse em meu tom habitual:

– Se eu não o fizesse, não estaria aqui, não é?

Mas Miguel era um filho da puta perspicaz. Não tanto quanto Rafael, mas ainda assim inteligente.

– Mas você não veio por eles... veio porque sentiu que era obrigação. – ele disse.

– E não dá no mesmo? – perguntei sorrindo.

– Não. A obrigação da batalha não é a melhor arma, Gabriel. Você precisa proteger aquilo que você ama e acredita, essa é a razão pela qual luto.

As palavras de Miguel naquela época não fizeram sentido pra mim, mas depois de tudo o que aconteceu depois... eu soube que aquele era o meu dilema.

Lúcifer, após ter sua alma refeita junto ao Espírito Santo, decidiu abdicar de sua imortalidade para devolver as asas que Melanie, de bom grado, havia perdido. Ele também devolveu à Lilith, sua rainha, a mortalidade. Uriel, da mesma forma, havia decidido desistir de seu poder e glória celestiais para viver junto à sua amada e seus queridos humanos. Miguel havia despedaçado sua alma e trilhado o caminho dos sete pecados para tentar salvar Melanie de seu destino cruel ao lado de Lucius e Rafael, eu sabia, era o mais abnegado de nós.

Todos, absolutamente todos os meus irmão possuíam um brilho nos olhos que eu jamais compreendi. Nunca enxerguei nos mortais ou nos anjos nada que pudesse valer a pena tanto sacrifício. Mas aquela conversa... aquelas palavras me fizeram perceber isso como nunca antes em minha existência. E o buraco vazio em meu peito, de repente, começou a ficar grande demais para que eu o ignorasse.

Bom, havia uma razão para eu ser um arcanjo, não? Ou será que talvez eu realmente fosse a prova de que o Criador também podia cometer erros?

– Gabriel?

A voz de Ingrid veio do quarto, já refeita das horas que passamos naquela cama grande dela.

– Estou aqui. – respondi deixando de encarar o azul de meu reflexo no espelho.

– Você não está com fome? – ela perguntou enquanto enroscava o corpo nu e esbelto no portal da suíte.

Seus olhos percorreram a extensão do meu corpo e se detiveram em meus olhos por um longo tempo. Talvez eu pudesse mudar um pouco minha rotina na noite de hoje. Talvez... passar o resto da noite com ela até o amanhecer pudesse não ser uma idéia tão ruim.

Meia hora depois, no entanto, eu estava no topo do mais alto prédio da cidade. Minhas asas invisíveis aos mortais estavam completamente estendidas e eu sentia o vento frio do final da madrugada passar por mim com urgência. Um bando de gaivotas em sua formação de voo passou ao longe e mesmo assim pude ouvir o farfalhar de suas asas ritmadas. Em minha pele ainda estava o cheiro do sabonete caro e em meu peito ainda aquele eco da conversa que tive com Miguel há muitas semanas atrás.

Foi de repente que senti o tranco forte que sacudiu todo meu ser. Era como de houvesse um grande ímã invisível que me puxava para longe dali. Eu tentei lutar, mas a onda de energia me dominou completamente e eu senti imediatamente a essência de Melanie dentro dessa onda avassaladora. Era poderosa. O tipo de energia antiga que vinha com seu sangue sagrado. Mas havia algo a mais ali, algo estranho, algo maligno. Era como se aquela onda de pureza estivesse contaminada em algum ponto e chegava a ser angustiante saber que tal energia pura pudesse estar de alguma forma, infectada por algo ruim.

Havia algo de errado e eu precisava voltar para casa. Cada molécula do meu corpo soube disso como se fosse a maior verdade do universo. Senti minha Gladius na mão no mesmo instante que soube que eu estava sendo transportado por Melanie através do espaço.

...

Não senti o cheiro do Paraíso como de costume. O ar estava denso, venenoso, como a atmosfera infernal. Havia um toque metálico que eu conhecia bem e que era proveniente do sangue dos imortais. A minha frente, a cena mais inimaginável que eu poderia ver.

Como se numa pintura, uma imagem congelada no tempo e no espaço, estava Melanie. Seu corpo ferido com as belas asas em uma posição incorreta jazia meio sentado, meio deitado no chão da sala de recordações humanas de Uriel. Seu corpo coberto de sangue estava perfurado pela espada negra que cortava a alma de todos os seres em quem tocava. Com a mão que parecia menos danificada, ela tocava no símbolo do portal atrás de si e eu sabia que seu sangue e seu toque haviam me trazido até ali.

Segurando a espada negra estava Semjaza, o pior de todos os Príncipes Infernais. Ele estava diferente, mudado em sua essência. Não estava só. Eu senti com ele toda a podridão de Bohr, Aziel, Belzebul e Mammon. Era como se todos eles estivessem dentro de Semjaza. Seu rosto deformado em uma expressão de dor e fúria. Seu sangue negro cobrindo boa parte de seu enorme corpo se misturava ao sangue de Melanie no mármore branco que compunha o chão.

De cada lado do enorme e poderoso corpo de Semjaza estavam meus irmãos.

Rafael, com sua força espiritual, explodia em uma luz branca e mantinha sua gladius translúcida de cerne dourado enterrada lateralmente no demônio, de forma que sua arma entrou pelo abdômen e saiu em algum lugar no tórax de Semjaza. Miguel, do outro lado, apresentava as marcas de uma batalha sangrenta. Mesmo assim, ele estava envolto em sua aura dourada e poderosa e mantinha sua fiel espada dourada e sólida enterrada profundamente no demônio, de modo que transpassava seu inimigo letalmente.

Mas nenhum desses golpes, ou a combinação deles, era capaz de deter o demônio, que estava mais poderoso do que Lúcifer jamais foi. Eu sabia o que precisava fazer. Naquele milésimo de segundo eu apertei minha gladius ainda mais firmemente e voei numa explosão de energia na direção da cena grotesca. Minha espada, feita de todos os elementos do Universo, era o metal mais especial de todos e, naquele instante, havia alcançado a temperatura mais negativa que os átomos podiam suportar. Era o zero absoluto, tão frio que pulverizaria o coração de Semjaza no instante em que fizesse o contato.

Senti minha lâmina tocar seu corpo deformado; senti quando atingiu bem em cheio seu coração. E foi nesse instante, naquele ínfimo e indivisível espaço de tempo, que os olhos da criatura encontraram os meus e eu senti aquele buraco em meu peito crescer tanto que parecia preencher meu ser por completo. Naquele momento eu soube que, por mais poderoso fosse o meu golpe, eu não poderia eliminar Semjaza, e ele também sabia disso.

Não era porque eu não era um sensitivo alfa como a Melanie... não, isso era por outro motivo. E a criatura me mandou, através de seus pensamentos, uma única frase naquele instante crucial:

“Você não tem o que é preciso.”

Eu sabia que tudo estava perdido. Que nem mesmo com minha força aliada a dos meus irmãos nós conseguiríamos derrotar Semjaza, não no nível de energia que ele conseguiu chegar, não com Melanie derrotada aos pés da criatura.

Foi então que eu senti um toque. Um suave e quente toque em minha alma. E no momento derradeiro, onde todos nós e nossas energias elevadas ao máximo estávamos conectados, eu senti a força de Melanie canalizada a mim e todo seu esforço em me salvar. No último instante eu ouvi sua doce e suave voz cantarolar no mais íntimo do meu ser:

“Salve-nos.” – sua alma disse a minha.

E depois disso, houve apenas escuridão.


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Notas finais do capítulo

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