Era dia 13 de fevereiro, o dia em que a maioria das garotas saía de casa para comprar ingredientes especiais para fazer chocolates, ou então, para as que não tinham habilidade na cozinha, comprar chocolates prontos.

Matsuoka Gou, ou como gostava de ser chamada, Kou, estava nas ruas. Ela não tinha ninguém em especial no seu coração, mas tinha quatro garotos que simplesmente não a deixariam em paz se não ganhassem os famosos chocolates, ou melhor, um garoto em especial, Nagisa.

Ela tinha certeza de que se não aparecesse com pelo menos um pacote de chocolate, ele iria perturbar ela para o resto da semana, para não dizer, do mês. Ela sabia que a professora não iria se dar o trabalho de cozinhar, então sobrou tudo para ela.

Ela sabia que ele gostava de torta de morango então pensou em fazer algo como trufas de chocolate com pedaços de morango dentro, ele provavelmente gostaria. Mas afinal, porque estava tão preocupada com se ele iria gostar ou não? Era só para calar a boca dele, afinal.

Não era como se ela o odiasse, mas era irritante. As vezes que ela o tinha dito para parar de chama-la de “Gou” eram tantas que ela não conseguia se lembrar dos números. Lembrou-se da vez em que ele disse “mas a Gou-chan é a Gou-chan?”.

Ele a tinha olhado de um jeito que deixou até ela mesma confusa, e então ela deixou pra lá. Gou notou que tinha parado na frente de uma sorveteria, e decidiu que uma pausa não faria mal, além disso, poderia fazer a lista do que faltava enquanto estava lá.

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Pela lista faltavam apenas os morangos e o pó de cacau, ou seja, as coisas principais. Enquanto fazia uma expressão de desgosto imaginando um bom lugar onde pudesse comprar o pó de cacau viu um garoto loiro entrar. Demorou pelo menos quinze segundos para ela perceber que o garoto era Nagisa.

“Ah, Gou-chan!”, assim que a avistou correu para o seu encontro. Foi quando ela percebeu que ele estava acompanhado de um garoto e uma garota. “Esses são a Hika-chan e o Nova-kun, eles eram da minha antiga escola”.

“Já disse pra me chamar de Kou!”, brigou. Gou olhou melhor para os dois que estavam com Nagisa. A garota tinha cabelos curtos e com um leve tom de rosa, ela era um pouco mais baixa que Nagisa, por algum motivo achou que os dois eram um pouco parecidos, talvez fosse porque ambos tinham uma aura radiante. O garoto tinha cabelos castanhos escuros, era alto e parecia totalmente o oposto dos outros dois que o acompanhavam.

“Eu encontrei eles enquanto vinha para o centro comprar algumas coisas, Gou-chan podemos sentar com você?”, a ruiva acenou com a cabeça sem pensar muito no que estava fazendo.

Os três sentaram na mesma mesa que ela sem cerimonia. Eles começaram a conversar enquanto Gou tentava acompanhar. Não demorou muito pros dois amigos de Nagisa irem embora, afinal, o encontro deles foi apenas uma coincidência.

Assim que eles foram embora, o assunto acabou, e Nagisa ficou encarando Gou. “Ne, Gou-chan, você vai dar chocolate pra alguém que você gosta amanhã?”, perguntou curioso.

A ruiva ficou confusa, mas então respondeu sem pensar. “Eu não tenho ninguém que eu goste, então não”. Abriu a boca para corrigir-se, e dizer que daria para ele e os outros três, mas Nagisa interrompeu inconscientemente sua tentativa.

“Entendo... Será que eu vou receber alguma coisa amanhã? Mal posso esperar, eu realmente queria uma namorada...”, o loiro resmungou enquanto esticava os braços sobre a mesa e deitava seu tronco e sua cabeça nela.

“Eu achei que você gostasse de garotos...”, comentou Gou sem sequer perceber. Logo depois se arrependeu e quase pôs as mãos sobre a boca, mas pensou melhor e isso só deixaria o ato mais estranho. No entanto a reação de Nagisa não foi o esperado, na verdade não foi nada esperada, ele começou a gargalhar tanto que assustou os outros clientes.

Ele limpou as lágrimas que se formaram pela intensidade da gargalhada. “Eu gosto de garotas, as pessoas pensam que eu gosto de garotos porque eu tenho três irmãs mais velhas e tristemente sofri influência delas”, dramatizou.

“Desculpe”, disse ela sem saber o que falar.

Ele soltou uma risada fraca, “Não precisa se desculpar Gou-chan, isso é normal”. Sorriu pra ela. Ela acabou soltando uma leve risada também e sem saber por que, se sentiu bem por escutar isso.

“E você Nagisa-kun?”, perguntou Gou, ele a olhou confuso. “Você não gosta de ninguém?”. Ele parecia surpreso pela pergunta e ficou corado.

“Não gosto de ninguém”, respondeu desviando o olhar. “Eu já estou indo Gou-chan, tenho algumas coisas pra comprar, bye, bye”. Ela acenou em resposta enquanto pegava suas coisas e o dinheiro para pagar o sorvete.

Gou terminou as compras e voltou pra casa, tentou ligar para a Chigusa para saber se ela gostaria de ir fazer chocolates na casa dela, mas a amiga não atendeu, devia estar dormindo.

A ruiva não era uma expert na cozinha então teve que se esforçar. Quando se sentiu satisfeita com o sabor, guardou os chocolates na geladeira e foi deitar-se. De manhã antes da escola arrumaria os chocolates em embalagens para levar.

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A Matsuoka arrumou seus materiais e pegou os chocolates. No caminho para a escola se encontrou com Nagisa e Rei, os três começaram a discutir coisas banais e a rir descontraidamente. Quando Gou chegou aos armários, resolveu entregar os chocolates para os dois logo.

“Rei-kun, Nagisa-kun, eu fiz chocolates para vocês”, Rei ficou vermelho por um momento e se recuperou, Nagisa estava com os olhos brilhando de animação, então ela os entregou.

Rei ficou olhando os chocolates por um momento e então os comeu lentamente, Nagisa por sua vez devorou todos tão rápido que Gou mal os viu em suas mãos.

“Obrigada Gou-chan!”, e a abraçou como uma criança que acabara de ganhar algo que vinha pedindo. Gou riu e o mandou soltá-la.

Os dois garotos foram conversando sobre os chocolates até a sala de aula. Gou foi surpreendida quando ia guardar os sapatos no armário por uma garota, que, pelo que se lembrava, estava no mesmo ano que ela.

“Desculpe o incomodo Matsuoka-san, mas... você gosta do Hazuki-kun ou do Ryugazaki-kun?”, era uma garota de cabelos loiros longos, os quais estavam presos em uma trança e ela tinha a altura de Gou.

“Não”, respondeu com firmeza, notando o desconforto da garota ao fazer a pergunta.

“Entendo, obrigada, desculpe pelo incomodo”, deu às costas a ela. A ruiva podia ter jurado escutar um “Ainda bem”.

Gou deixou de lado e foi para a sala de aula, talvez desse os chocolates aos senpais no intervalo, não, chamaria atenção demais, seria melhor depois da aula mesmo, ou na hora do treino. É a hora do treino seria a mais apropriada.

Assim que a aula acabou, continuou a sua rotina de pegar seus materiais e ir para a piscina. Como era inverno eles só iriam pegar suas coisas para ir para a piscina coberta do Samezuka. Quando Gou chegou, Haruka e Makoto já estavam lá. Então ela entregou os chocolates para eles, mesmo que eles já tivessem recebido vários.

“Obrigada Gou-chan”, agradeceu Makoto por ambos. Gou fez que sim com a cabeça e sentou para esperar os outros dois.

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Já fazia mais ou menos vinte minutos que estava sentada quando Rei apareceu sozinho. “Onde está o Nagisa-kun?” perguntou Gou.

“Ele disse que tinha um compromisso e saiu correndo”, a ruiva o encarou mortalmente.

“Tem pelo menos ideia de onde ele está?”, perguntou lentamente e Rei podia sentir a morte se aproximando.

“P-parece que ele foi à direção do parque, ele definitivamente não foi para a estação.”, Gou relaxou um pouco.

“Vamos nos separar e procurar ele, eu vou ao parque, cuidem das outras direções”, é óbvio que ela ia pegar o mais fácil.

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“Nagisa-kun!”, gritou Gou enquanto procurava o loiro no parque. Tinha que ser justo hoje? Não, espera... Hoje, será que o Nagisa está...? Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz feminina.

“Eu gosto de você Hazuki-kun! Por favor, saia comigo!”, Gou olhou pra trás e achou a fonte da voz. A garota loira que viera falar com ela mais cedo. Gou se culpou por ter gritado e rezou pra que não a tivessem escutado.

A ruiva se abaixou atrás de um arbusto enquanto tentava escutar o resto da conversa. Viu a garota entregar o chocolate a ele e ele pegar lentamente. Nagisa não estava com a expressão de sempre, estava sério, parecia outra pessoa.

Ele parecia estar esperando a garota se acalmar, qual era mesmo o nome dela? Ta... Takiyama? Provavelmente era isso. “Takeiama-san...”, chamou Nagisa, Droga, errei. “Takeiama-san, me desculpe, eu, já gosto de outra pessoa”.

O que? O que ele está fazendo? Será que ele só está querendo se livrar dela? Mas ele disse que queria uma namorada! Então ele realmente gosta de alguém? Mas então porque ele mentiria? Talvez ele só não quisesse contar pra mim, isso é normal. Ah! Eu não entendo mais nada.

“Eu realmente peço desculpas, mas não há nada que eu possa fazer sobre isso, eu gosto dela há muito tempo.” Mas quem raios poderia ser?!

“E-está tudo bem, obrigada por vir aqui e-e me ouvir... E-eu poderia saber quem é?”, Nagisa sorriu.

“Se você prometer não ataca-la nem nada do tipo...”, riu e a garota o acompanhou.

“Eu não faria isso”, sorriu enquanto limpava algumas lágrimas. O loiro se aproximou dela e sussurrou em seu ouvido o nome da garota. “Eu já suspeitava” sorriu tristemente. “Bem, eu já vou indo, e se ela te rejeitar, eu lutarei para te conquistar Hazuki-kun!”.

Nagisa sorriu e continuou parado. Gou disfarçou e fez de conta que o estava procurando ainda. Nagisa olhou pra ela e sorriu, mas não escandaloso como sempre, ele estava... calmo.

Ele começou a andar em sua direção, quando estava a mais ou menos um metro de distância dela ele parou e a observou sorrindo. “Gou-chan, eu gosto de você”. Ventou naquele momento forte o bastante para limpar a mente da ruiva, fraco o bastante para se ouvir as folhas das árvores balançando.

Gou estava paralisada pela surpresa, Nagisa se aproximou e depositou um leve beijo em sua bochecha. Depois que se afastou sorriu novamente, como sempre fazia. “Desculpe-me por isso, mas eu estou guardando isso já faz um tempo”.

“Quanto tempo?”, perguntou sem pensar.

“Muito tempo”.

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“Eu sei que é vergonhoso, mas não precisa ficar me ignorando só por causa disso”, comentou emburrado, eles estavam chegando à escola, Rei iria faltar por motivos de saúde.

“Como assim?!”, ela parou para gritar como ele. “C-como você acha que eu tenho que agir depois daquilo?!”, perguntou mais calma, porém, ainda indignada.

“Como sempre agiu...”, respondeu simplesmente. “Eu sempre te amei, e você sempre agiu daquele jeito comigo, não vejo porque você parar de fazer isso e começar a me ignorar só porque eu me confessei...”.

Gou se sentiu culpada. “Desculpe... Eu... Vou tentar”.

“Não precisa se culpar Gou-chan, estar apaixonado por você não é ruim”, sorriu e então voltaram a caminhar em direção à escola