Xadrez escrita por Mar


Capítulo 5
Empate


Notas iniciais do capítulo

Então é isso. O fim :(
Foi o máximo escrever Mystrade, e só tenho que agradecer a vocês que leram e comentaram. Obrigada a minha consulting shipper, por me incentiver e inclusive me fazer escrever uma slash sobre um casal que nem shippava. E obrigada por acreditarem em mim ♥.



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Lestrade estava com a cabeça baixa, concentrado lendo o arquivo de um caso ainda sem resolução. Se recusava a chamar Sherlock Holmes, sentia que a resposta estava bem embaixo do seu nariz.

Ouviu passos se aproximando, mas preferiu ignorar. Viu o copo de café que subtamente apareceu na sua mesa, murmurou um agradecimento e bebeu. Café preto, com creme e uma colher de açúcar. Perfeito! Espere... O café da Scotland Yard não era assim. Levantou os olhos, e arregalou-os.

– Mycroft! - Se levantou, derrubando alguns papéis - O que você está fazendo aqui?

– Preferia que eu te... - Fez sinal de aspas com as mãos - "Sequestrasse", como fiz com Watson?

O grisalho riu.

– Caso você tenha se esquecido, sou um Detetive Inspetor.

Mycroft sorriu com o canto da boca, mantendo as mãos dadas a frente do corpo. Deu um passo para trás antes de dizer:

– Vamos.

E saiu da sala. Lestrade não entendeu, mas o seguiu, segurando o braço do castanho quando se aproximou.

– Ei! Como assim "vamos"? Tenho trabalho a fazer.

– Não, não tem. Venha logo, Greg.

Notaram os olhares que atraíam. Sally mantinha-se encostada em sua mesa, logo ali. As sobrancelhas estavam erguidas e mordia a ponta de uma caneta.

– Tem um encontro, Lestrade? - A morena cantarolou.

– Ele tem sim, sargento Donovan. Algo contra? - Mycroft empinou o nariz.

Sally, pega de surpresa, deu a volta e se sentou, mais vermelha que seu batom. Greg continuava surpreso, mas não hesitou em pegar a mão do homem ao seu lado e sair do prédio. "Que se fodam", pensou.

Entraram no carro preto de sempre, Anthea no banco do carona. Acenou com aqueles olhos provocativos, que diziam "eu sempre soube". Greg se perguntava se a morena já havia dito aquilo ao seu chefe. O carro seguiu até o centro de Londres, e parou em frente a um restaurante com a fachada simples, que não chamava atenção.

Por dentro era iluminado suavemente, e as mesas eram separadas por painéis de madeira, tornando tudo acolhedor e romântico. O recepcionista nem se deu ao trabalho de perguntar o nome das reservas, simplesmente os levou a uma mesa ao lado da janela. A luz dos carros lá fora tingia o forro lilás acinzentado e a porcelana branca. Sentaram-se.

– Por que estamos fazendo isso?

Holmes levantou as sobrancelhas. Sua expressão dizia claramente "você não sabe?". Tão claramente que Lestrade até se sentiu culpado.

– Hoje completam dois anos que nos conhecemos.

– Oh. - Sorriu - Mas... Eu não sei se posso pagar a conta aqui...

– Oh, por favor, Greg. Por mim você já estaria morando no meu apartamento.

Gregory sorriu, mesmo contrariado. Não gostava de ser sustentado assim, mas seu peito aquecia-se ouvindo Mycroft admitir que o queria por perto. Que queria algo concreto com ele. Fora difícil penetrar a fortaleza que é o coração do Holmes, mas agora que já estava lá, via todo o sentimento que ele se esforçava para esconder. Mas - tendo em vista dar um passo desse tamanho - o grisalho era teimoso demais, e já fora machucado demais... Precisava ter uma garantia, um porto seguro caso as coisas não dessem certo. Já havia dito isso a Mycroft, e ele entendia.

– Mas não vamos falar sobre isso.

E não falaram. Comeram e beberam com calma, jogando conversa fora de um jeito que o Holmes mais velho sempre pensara ser tedioso, mas descobrira ser deliciosamente simples, com um gosto doce de amor.

Saíram do restaurante, caminhando com as mãos entrelaçadas. Desde o beijo de Lestrade, depois de ganhar um tabuleiro de xadrez, os dois estavam juntos. Naquela noite, simplesmente se deixaram levar, conhecendo mais a fundo um ao outro, e com o tempo a relação foi se moldando. Se encontravam no apartamento de Mycroft, iam ao teatro, ao cinema e às vezes ao circo. Ouviam música e é claro, jogavam xadrez. Com o tempo os beijos e carinhos se tornaram rotina - mas aquele arrepio na nuca nunca deixou de acontecer.

Sherlock deduzira tudo o que estava acontecendo e contara a John. Greg queria ter contado ao amigo, mas teve que se contentar com poder dizer que "estava surpreso por ser o primeiro ao assumir o namoro com um Holmes". É claro que depois de tal comentário, John socou o seu braço amigavelmente-forte-demais.

O castanho acendeu um cigarro.

– Oh, Mike. - Lestrade suspirou. - Isso ainda vai te matar!

– Só hoje. - E deu outro ao homem ao seu lado.

Gregory acendeu o cigarro e deu uma longa tragada. Fechou os olhos. Tudo estava bem.

Uma chuva fina começou a cair, e Mycroft abriu o guarda-chuvas que sempre carregava. O grisalho se surpreendeu ao ver que nenhuma espada caiu dali.

– Quer que chame o motorista?

– Não. Vamos andar um pouco - Sorriu torto, segurando novamente na mão do castanho.

Andaram por alguns quarteirões, admirando as luzes borradas pela água e as árvores, que pareciam cobertas de estrelas. O movimento não diminuíra, mas tudo adquiria um quê mágico conforme as gotas tocavam a cidade. Chegando perto de uma praça, Lestrade de soltou de Mycroft e saiu correndo, decidindo de repente que a água que descia pelo seu rosto não importava.

O castanho foi atrás dele, e encontrou-o se equilibrando sobre a mureta de uma fonte, uma perfeita criança. Moedas brilhavam timidamente dentro d'água.

– Greg...!

– Sempre quis beijar na chuva, sabe? - Coçou a nuca. - Devo parecer um adolescente.

– Greg! - Mycroft corou. - Saia da chuva.

– Venha para a chuva, meu amor. - E o puxou.

Era a primeira vez que Lestrade o chamava de "meu amor", o que fez com que Holmes largasse o guarda-chuvas, deixando-o cair no chão. Com o baque, notaram algo prateado brilhando entre o plástico preto.

Greg riu alto. Era uma espada!

Mycroft riu junto, afinal. Se abraçaram, ainda rindo, e por um momento pareciam dançar. O grisalho segurou o rosto do amante com uma mão, delineando o maxiliar, enquanto com a outra mão pegava uma moeda no seu bolso.
Pegou uma das mãos de Mycroft da sua cintura, e entregou a moeda.

– Faça um pedido. - Acenou para a fonte.

O castanho olhou dos olhos negros a sua frente, à moeda, e de volta aos olhos. Alguns segundos se passaram enquanto ele se afogava naquele olhar. Aproximou seu rosto lentamente, sentindo o hálito quente de Gregory se misturar ao seu. Estava quase fechando os olhos, se rendendo ao beijo iminente, quando sussurrou:

– Eu não preciso.


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Notas finais do capítulo

Aguardo comentários u.u