Thalia deslizou os dedos pela cama que outrora foi de Luke. Travis e Connor remexiam um pequeno baú que pertencera a ele. A garota ainda estava de pijamas, usando uma jaqueta enorme para cobrir-se. Os irmãos Stoll riam enquanto jogavam pacotes de bala quase vencidos no chão e riam das tralhas que Luke havia roubado.

- Aqui está! – Exclamaram os dois conselheiros do chalé 11. Travis erguia vitoriosamente um diário de capa de couro no ar. Tinha o caduceu de Hermes com um x na frente. Thalia não achou que aquilo fosse um bom sinal.

- Não acho isso uma boa ideia – Thalia relaxou os ombros e tentou não franzir o lábio de preocupação. – Por que estamos fazendo isso mesmo?

- Por que você está se sentindo solitária – Connor sorriu – nosso irmão ia nos matar se soubesse que não estamos tomando conta de você, cunhadinha. Certo Travis?

- Certo. Luke ia nos trucidar.

Thalia os fuzilou com o olhar.

- Eu não sou cunhada de vocês. Luke e eu somos amigos.

- você quer dizer que eram amigos – Resmungou um filho de Hermes mal encarado que dormia em um beliche, que parecia estar metade acordado, metade no sonho.

Thalia ignorou o comentário e deu as costas para os filhos de Hermes. Não foi capaz de andar mais que isso; Ficou ali. As palavras ainda ecoavam em sua mente.

{- Eu amo você, Thalia. |}.

{- Vamos sair vivos dessa. Você não confia em mim? |}.

{- Somos uma família. Tipo, eu sou o pai, você a mãe e Annie a filha. Que tal? |}.

{- Você não vai fazer isso Thalia |}.

{-Quem disse que você vai me impedir Luke? |}.

{- THALIA! |}

Thalia suspirou. O pesos das palavras estavam em seus ombros. Durante alguns meses ela havia suportado. Mais a lembrança daquele diário pesava mais que qualquer barra de ferro que alguém poderia fabricar. Você não confia em mim?

- Passa isso pra cá – Ela arrancou o diário dos dedos dos Stoll e fuzilou os mais uma vez com os olhos.

Colocou o livro dentro do caso. O contato do couro exalava uma aura poderosa de Luke. Seus dedos estavam trêmulos, mas o sentimento ainda estava aceso em seu peito. Teria coragem para ler aquele diário? Não sabia. Mais ela teria que fazer isso.

***

20 de fevereiro.

Oi, folha de papel. Peço imensas desculpas (ou não) pelo incidente de ontem. Juro que não foi minha intenção deixar Annabeth usar sua capa como escudo contra aquele dragão. Sério.

Hoje de manhã, Thalia e eu ficamos quase o dia inteiro juntos. Não sei o quê você pensa quando digo juntos, mas com certeza eu e Lia quase nunca passamos tanto tempo juntos depois que conhecemos Annabeth e Grover.

Eu tinha acabado de arranjar umas frutas e era fim de tarde. Estávamos acampados de frente para um pequeno lago, de modo que tínhamos agua quando quiséssemos. Thalia estava ali, usando uma camiseta própria para praia e uma calça jeans surrada. Enrolava seus cabelos negros nos dedos e tinha um olhar distante. Seus pés estavam dentro da água e ela parecia ter chorado. Seu bracelete, Aegis, estava ao seu lado junto com seu spray-lança. Sorrateiramente, descalcei meus sapatos e delicadamente me aproximei por trás dela. Senti um delicioso tremor vindo de Thalia, que eu reconheci por um suspiro ou arrepio.

- Luke, o quê você quer?

- Educada que nem um jumento.

- Idem.

Joguei-me do lado dela e trocamos uma rápida troca de olhares. Foi a minha vez de suspirar. Já até sabia o quê aconteceria depois: Annie ia sair da tenda e me dizer que estava com fome ou algo assim.

- Eu sei que você não gostou da conversa com seu pai.

Mordi o lábio tentando não ficar com raiva. Thalia e eu éramos amigos, mais ambos sabiam que esse era um assunto delicado. Há alguns meses tínhamos feito um acordo de só tocar no assunto Mães e pais quando necessário.

- Ele não liga pra minha mãe de verdade. Só finge que se importa. – Dei de ombros e fixei o olhar na água.

- Luke, olha pra mim – Olhei pra ela - Não importa o quê seu pai tenha feito, o meu fez pior.

Procurei algum vestígio de desafio mais na voz dela, mais não encontrei. Os olhos cor de tempestade de Thalia brilhavam de diversão e ela estava com as pernas cruzadas.

- Então a senhorita Thalita quer brincar, não é?

- Veremos Castelo. – Thalia pulou dentro da água, vestida como estava.

Tirei as meias e pulei também. Por sorte ou azar, eu sou um bom nadador. Thalia estava confortável nadando no fundo do lago. Aproximei-me por baixo dela e segurei-a por uma das coxas de Thalia. Senti o meu corpo se arrepiando com o toque. Thalia parecia também ter sentido isso, pois estava imóvel. Bem delicadamente, soltei as coxas dela e submergi. Ela me acompanhou.

- Fixou louco? – Disse me esmurrando no ombro, enquanto dava pulinhos para manter-se submersa.

Dei um sorriso malicioso e a abracei. Por alguns segundos, ela pareceu confusa. Porém, cedeu o abraço com imensa velocidade.

- Por que você fez isso? – Ela me empurrou.

- Eu amo você, Lia. – Sussurrei, dando uma piscadela para ela com rapidez.

Thalia revirou os olhos.

O quê ela disse: Você é um idiota. O quê quis dizer: Eu também te amo idiota.

Depois disso voltamos para o acampamento e jantamos com Annabeth e Grover.

Bom querida, ou nem tanto, folha de papel esse foi o meu dia. Amanhã estarei de volta.

{...}

Thalia limpou uma pequena lágrima que se formava no canto de seus olhos. O impacto que aquela página havia lhe causado era grande, mais ela aguentou.

- Thalia, vem jantar! – A voz era claramente de Annabeth.

- Já vou! – Ela gritou.

Guardou o livro no bolso do casaco e suspirou. Deu um pequeno pontapé na porta do chalé 01, esbarrando em todos que passavam perto dela.