Não poderia passar daquela noite escrita por Ruviana Chagas


Capítulo 1
Naquela noite




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Ele estava sentado à poltrona. Encostado, afundado, olhando para frente com o olhar absorto, segurando a bebida cheia de frustrações sobre a mesinha de lado. A sala escura era iluminada apenas por um abajur na mesa maior atrás dele, de luz amarela e dava uma sensação dourada e sombria. Livros de capas bordô enfileirados e intactos nas estantes ao redor da sala, papéis empilhados e caneta e lápis soltos sobre a mesa maior de madeira escura e frente a uma grande janela entre-coberta por uma espessa cortina azul-marinho. A janela abria-se para um céu nublado e uma floresta serrana fria e nevoada.

Ele se surpreendeu ao perceber a presença da moça de vestido branco na porta. Ela estica seus braços tensos ao lado do corpo apertando os punhos. Usa um vestido branco de alças finas com renda até os joelhos, o cabelo castanho encaracolado amarrado às pressas acima da cabeça. A mesma pessoa da festa mais cedo, no entanto, não a mesma imagem. No rosto, agora, olhos que brilhavam no escuro e pareciam ansiosos e intencionados e furtavam a atenção do homem, e a boca estreitada e nervosa.

O clima na sala era do frio da serra. Mas havia o medo que se misturava ao calor se formando nos corpos. A luz parecia receosa de brilhar mais forte, mas a leve penumbra os acolhia. O silêncio da noite tornava-se a única comunicação.

— Professor... – falou a moça nervosa –... preciso falar com o senhor.

Ele a olhava sem acreditar que realmente ela estava ali. Pensou no copo, nos seus olhos vermelhos, mas... o que se poderia esperar?

— Você deveria estar dormindo... sabe que o ônibus sairá cedo amanhã. – ele disse.

— Eu não consegui. É um pouco urgente.

Ele empertigou-se imaginando “o que poderia ser tão importante”. Estava sem jeito por causa de sua possível aparência... E, talvez, não quisesse conversar com ela agora, ou melhor, saber do que ela gostaria de falar... Mas, poderia ser algo realmente importante, urgente e nada do que imaginava... 

— Então... – começou, mas não conseguiu terminar.

Ela o olhava fixo, mas nervosa como estava, não conseguia nem respirar, então desviou a atenção e foi até a janela. Ele a seguiu com o olhar até ela desaparecer atrás de si. Atrás dele ouviu-se o ranger de madeira e um estalido de trancas.

— Está muito frio... – ela bateu as mãos para tirar a poeira. Mas para ainda frente à janela, passa a mão na cortina e abaixa a cabeça. Olha por cima do ombro para o encosto e para o copo de uísque à direita da poltrona. Suspira.

Ela contorna a mesa pela outro lado, desce a mão pelo vestido e aperta a barra. Para paralela à cadeira um pouco distante e o olha, ele retribui. Está espantada com o homem: um copo de uísque, o corpo mole na poltrona, os olhos vermelhos e, lhes pareceram, inchados. Ele estivera triste aquela noite. Ela anda até a frente dele ainda longe. Ele quer pedir para que se sente e tentar uma conversa sociável, mas não consegue falar. Está constrangido com seu estado e ansioso para o que ela pretende falar. Não quer esperar muito, mas espera. Ele vai à frente apoiando os cotovelos nos joelhos, as mãos unidas e a cabeça abaixada escondendo o rosto.

— O senhor tá muito ocupado agora? – ele ergue a cabeça.

— Não... Estava só pensando em umas coisas...

— Preocupantes? – ela observa o copo.

— Sim, um pouco, mas nada que me impeça de falar com você.

— Família? – ele arqueia as sobrancelhas e desvia o olhar. Como não pensar nisso agora? Me diga!

— Quer conversar? Vamos conversar. Sente-se. – falou passivo.

— Depois – ele suspira. Ela estreita os lábios e lambe-os.

— Eu gosto do senhor... professor...

Ele sorri desconfortável. Gesticula a mão compreensível. Tenta falar, mas gagueja.

— Isso é-é muito bom...

— Estou apaixonada, professor.

Ele continuou a sorri desconfortável, mas, então, fecha o rosto.

— Me sinto agradecido... – começa a bater o calcanhar no chão. Não queria esperar isso, mas ouviu. Sua cabeça começou a girar e não sabia o que pensar para falar. – Me sinto a-agradeci-ido, mas... – lambe o lábio inferior – isso é muito normal. Não se sinta mal, nem com vergonha, tudo bem? É muito comum na sua idade... Vai passar rápido...

— Professor, eu acho que é sério. Não sei diferenciar, tudo bem, mas eu acho que é sério.

Ele sorri e acena afirmativamente. É só uma "apaixonite" de ensino médio, ela é uma aluna comum que, normalmente, se apaixona pelo professor e depois esquece... mas e ele? Era só uma "apaixonite" de “adultecência” em que o professor tem fantasias românticas com uma aluna? É, com certeza, sim. Isso é tão comum quanto... Mas menos ético e simplório.

— Hum, sério? Eu entendo que o que você sinta seja, assim, sério, mas é... normal... e vai passar, entende? Logo você vai estar apaixonada de novo... – continuou tentando ser gentil – Me desculpe, mas podemos conversar depois? Amanhã? Hoje eu não estou no melhor dos dias. Me desculpe, mas não sei o que falar para você sobre... É um assunto que nós sempre nos defrontamos, mas, é claro, que sempre não sabemos como lidar. Nós sabemos que é difícil pro aluno...

— Não... Eu preciso falar com alguém. Não aguento mais.

— E por que comigo? Por que decidiu falar pra mim se...

— Não sei – ela deu de ombros. Ele balançou a cabeça negativamente. Estava completamente sem jeito. O silêncio tomava espaço entre eles. Ela queria falar, mas queria ouvir também. E ele não queria ouvir, pois sabia que o que sentia não podia se quer pensar em falar.

— Apenas acho – continuou ela, corajosa – que o que sinto, também é retribuído... – ele a olha confuso. Como ela pode supor tanto? Como pode... claro, ela deve ter pensado muitas vezes que era retribuída durante as aulas, por exemplo, e durante a viagem da turma. Algumas poucas atitudes que a fizeram pensar e ter “certeza” de algo.

— Desculpe, mas... eu... não... – estendia as mãos como se se explicando.

— Eu não acredito.

— Como assim?

— É tão óbvio, professor...

— Como óbvio?

— Eu vejo como o senhor olha pra mim, como tenta disfarçar na aula e não olhar pra mim... como... como fica nervoso quando falo com o senhor na aula ou no intervalo, antes ou depois, como ri fácil de coisas bestas que falo sem a menor graça...

— Eu não fico.

— Fica. Você estava calmo quando cheguei aqui e o senhor me olhou. Ficou e está nervoso agora... – ele não sabia como revidar. Tinha que pará-la.

— Professor, sei que sou muito infantil, só tenho 16 anos... – não era isso, ele pensou – mas, não viria falar hoje, se não tivesse alguma certeza. Eu nunca falaria.

— E como tem certeza?

— Eu só tenho.

— Você é bem corajosa.

— Não sou. Eu nunca falaria se não fosse verdade.

Ele fechou e apertou os olhos. Ela o estava pressionando. Não sabia como revidar, como tira-la dali.

— Eu não sei mais o que fazer... – Ele engoliu em seco – O que quer que eu faça?

Ela pensa.

— Sinceramente, quero que me beije.

Ele deixa cair um pouco o queixo. Meneando a cabeça pega o copo e toma um gole, depois segura-o entre as mão.

— Sabe que isso não pode acontecer.

— Mas você quer? – ele toma outro gole. Como ela pode supor tanto? Que quer beija-la.

Isso vai tão mais longe que apenas querer. Envolve o mundo contra isso. Não é a idade, isto é o de menor importância agora. Envolve... o mundo, aquele que ele com tanto esforço vem construindo. O emprego e a família... a honra, a fidelidade, a moral, a perseverança. E tantas outras coisas.

Beijar a aluna. Quantos casos desses não acontecem todos os dias? Ele seria apenas mais um.

Mas as pessoas só contam e comentam do caso, do fato, da hora do encontro. Não contam a realidade, o antes e o depois. Duas linhas trajetórias que se cruzam e a partir disso podem mudar seus caminhos.

O professor que construiu com esforço suas carreira e uma vida pessoal e que tem responsabilidades a cuidar. E uma aluna com um futuro brilhante e imaculado a desvelar.

Um homem que trai sua noiva e uma garota com um histórico de caso com o homem casado...

O amor e suas variações seriam tão mais bonitos e coloridos não fossem as responsabilidades envolvidas. Seriam, também, no entanto, amargas e ilusórias.

Mas o que são amores nos papéis senão ilusões reais?

— Você sabe que eu não posso...

— Professor, eu to pouco me lixando... – mas não é tão simples, lembrou ela – Desculpa, eu sei que recai mais sobre você que em que mim... mas eu estou dando em cima de você... - Ela ri.

Ele sorri. 

— Você me deixa sem jeito – ele diz.

— Eu sei. – ele a olha e então percebe o que ela quer e para que veio.

— Foi mal – ela diz.

— Pelo que?

Ela estava nervosa, mas não conseguia tirar os olhos dele e ele da sua mente. Sabia o que queria.

— Por te provocar tanto.

Ele arqueia as sobrancelhas.

Ela se aproxima, ele se ergue da poltrona. O silêncio recai sobre eles como um véu e ouve-se apenas as respirações começando a acelerar. A moça se aproxima tocando seus joelhos nos dele, ergue as mãos e passa os dedos por seu cabelo, ele arrepia e fecha os olhos. Ela desliza a mão até o pescoço e peito entrando na camisa sobre os botões. Ela sobe as mãos até o rosto tocando a barba. Depois empurra-o até encostá-lo. Sobe na cadeira com os joelhos em cada lado do seu corpo e se senta em seu colo. Apoia as mãos no encosto da poltrona ao lado de sua cabeça e se aproxima. Ele toca as coxas dela subindo devagar pelo quadril até a cintura e segura mais forte. Ela abaixa devagar até aproximar os lábios sem encostar. Ela vai até seu ouvido e sussurra que precisam aproveitar aquela noite. Ele sobe as mãos por suas costas, toca os lados dos seios arrepiando-a, até o pescoço, lhe segura o rosto entre as mãos. Puxa-a para mais perto. Os lábios se abrem ao tempo que a temperatura aumenta, o coração acelera, os suspiros cessam e o mundo para. Ela empurra-lhe o beijo. Os lábios se molham e as línguas se procuram.

Ela abre mais as pernas e senta-se mais forte, movimentando-se. Ele desce até a coxa e entra por baixo do vestido e suavemente o levanta. Tocando e fazendo carinho na pele arrepiada da menina. Chega até a cintura e aperta enquanto beija com força, mordendo, chupando cada parte dos lábios e da língua. Ela se separa para respirar e ele sorri, mas fecha-se de novo com o rosto preocupado.

— Sabe que não podemos. Eu não posso fazer isso... Há muita gente na casa...

— Por favor. Eu nunca mais vou vê-lo. Vou embora daqui um mês. E as pessoas já foram se deitar... Por favor.

Ele a queria, ali e naquele momento. Ele começou, então, a puxar a calcinha para baixo. Tirou a mão, segurou a cintura e pediu para ela levantar. Ela ficou em pé a sua frente. Colocou os dedos nas laterais da calcinha e começou a descer. Ele a deixou baixar ao mesmo tempo que o vestido encobria. Ele se encostou na cadeira, assistindo-a enquanto levava a sua mão até a presilha do cinto, que tirou, e ao botão da calça que levou até metade das coxas, ficando apenas com a cueca. Ela deixou cair a calcinha quando chegou no joelhos. Colocou-se sobre ele e devagar se sentou e tremeu sentindo sua parte íntima e já entumecida encostar na parte rígida do homem. Começou a se movimentar fazendo o homem cair a cabeça pra trás e gemer baixo. Ele voltou sua cabeça e lhe roubou um beijo ardente. Segurou seu quadril e a levantou podendo então tirar sua cueca para baixo. Depois puxou-a com as duas mãos e levando-a devagar para baixo. Ela gemeu baixo e longamente enquanto era penetrada. Todo seu corpo tremeu ao sentir aquele membro rígido dentro de si, encostando e roçando em tudo sensível, dolorido e quente. Então começou a se movimentar para frente e para trás, aumentando a velocidade, quando ele a agarrou e diminuiu. Com as mãos no quadril ele coordenava os movimentos. Beijava-a incessantemente. Ela agarrou-lhe os cabelos da nuca e puxou, pois não aguentava mais. Afastou as bocas e gemeu baixo. Ele percebeu que ela estava perto do orgasmo e ele também então aumentou os movimentos do quadril enquanto subia e descia o seu também. Ela queria gritar, mas não podia. E seus gemidos abafados em seu ouvidos o deixava mais excitado. Aumentaram os movimentos e o corpo começava a reclamar. Ela, então, sentiu aquilo tudo vir sobre si e soltou um gemido forte o fazendo ceder também. Eles se seguraram forte, com os corpos dormentes e latejantes. Os corpos pareciam um, grudados, unidos. 

Não poderiam passar dessa noite. Amanhã eles não poderiam mais ficar juntos, nem se ver. Esqueceram-se da casa, de suas obrigações e de suas vidas, sentiram-se necessitados um do outro como se não lhes restasse mais nada, nem mundo nem tempo. Entregaram-se um ao outro num amor há tanto tempo guardado, escondido no peito.

Palavras escondendo paixão, toques de um abraço ou aperto de mão fingindo graça enquanto havia desejo, pensamentos lascivos e olhares, progressivamente, entregadores. Um sentimento sem começo, nem fim que provocaria reações.

Na festa, ela estava linda de vestido branco, cabelos encaracolados, olhos pretos, boca vermelha. Era a festa de formatura de ensino médio e a turma escolhera uma viajem para a serra de Guaramiranga, em uma casa alugada, quatro dias, e uma festa no penúltimo. Nessa festa, a garota estava com suas amigas dançando e os professores acompanhantes vigiando. E o professor a olhava tentando disfarçar ao máximo o desconforto e fingindo uma conversa agradável com os outros colegas. Até que viu a garota beijando ou sendo beijada... pelo namorado.

Ele sentiu um inesperada dor de cabeça e preferiu ir para a biblioteca da casa para revisar alguns papéis da viagem. Ficou lá até tudo acabar e as pessoas subirem para seus quartos, inclusive ela. Contra a vontade dos professores, que após atestar que todos haviam se deitado queriam também ir dormir, ele ficou sem sono e quis continuar no escritório.

Eram três e meia da manhã quando a moça decidiu ir falar com o professor sobre tudo o que sentia e o que sentiu enquanto dançava para ele na festa. Queria também esquecer o beijo ridículo do ex-namorado.

E eram quatro horas quando uma colega de quarto viu a tal moça subir e descer freneticamente e gemer com o professor na biblioteca. No caminho mais longo e escuro até a cozinha. Ela ficou sem ar ao ver a cena. E num misto de voyeurismo e choque parou assistindo.

Os corpos se acalmaram, mas eles continuavam abraçados, ou melhor, segurando um ao outro como se a qualquer momento, soltando-se, eles pudessem ir embora para sempre. Pois, e agora, o que seria? É como se algo estivesse selado entre eles. Algo inquebrável e inesquecível. Eles não queriam quebrar. Mas poderiam esquecer um pouco, para tentar seguir em frente. O que seria, no entanto, inviável: um sentimento desses requer atenção. Ele não pede nem exige, ele cobra de ambas as partes. Não é algo que se escolhe lembrar ou esquecer. É algo que se escolhe resolver. Acaba-se ou muda-se o caminho. Ou eles ficam juntos ou acabam de vez.

A menina que assistia percebeu que possuía algo na mãos. Ela segurava a responsabilidade de uma testemunha. Sabia que aquilo que viu é contra a lei, mas que acontece todos os dias, em todos os lugares. No entanto, o professor tem uma noiva e a garota, assim como ela, um futuro pela frente. Mas pode ser que ele a tenha atraído e enganado, ou o contrário... É uma grande responsabilidade. Se ela contar a alguém, pode ter resultados tristes, mas se ela não contar... Porém, ao vê-los ainda, a tanto tempo, abraçados, ela permite-se amolecer e decidi que está nas mãos deles, que resolvam. Ainda tem como intervir, mas a visão de eles ainda unidos, a fez acreditar que eles tem capacidade de se entenderem. Então sobe ao quarto.

Os dois enfim separam-se, os corpos quentes, encostam as testas e se beijam.

— O que vai ser daqui? – ela pergunta apreensiva.

— Eu não sei – ele lambe o lábio inferior – mas vamos pensar – ela acena que sim.

Ele a empurra para que levante, pega sua calcinha do chão e se arrumam. Ele vai até a mesa grande e apaga a luz.


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Notas finais do capítulo

Esperam que tenham gostado tanto quanto estava empolgada por postar. Um beijo bem grande pra todos e por favor comentem algo, gostaria muito de ouvi-los.



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