Corri até Lila, ela estava pálida e não respirava. Chequei seu pulso e não senti nada. Não, aquilo não podia estar acontecendo. Comecei a chorar e gritar desesperada:

–Socorro! Me ajudem! Aqui no corredor!

As meninas do orfanato iam aparecendo aos poucos e olhavam assustadas para Lila. Eu não conseguia parar de chorar, chorava que nem uma criancinha. Logo apareceu a diretora, Louina, eu odiava aquela mulher, ela era repugnante! Me tratava como um verme.

–O que aconteceu, Clarissa?- perguntou com aquela voz de maritaca.

–Eu... eu vi ela conversando com uma mulher, a mulher arrancou o coração dela e esmagou até virar pó...- Iam dizer que eu estava louca, mas era verdade.

–Argh- a maritaca revirou os olhos- Fale a verdade garota! Isto não é hora de brincadeiras! Quer saber? Saia daqui!

–Mas...

–SAIA!-gritou tão alto que as meninas se assustaram.

Saí correndo de lá, eu estava desesperada. Ninguém ia acreditar em mim! O que eu ia fazer? Fui para um canto e comecei a chorar, ouvi o som de um ambulância chegar e depois sair (provavelmente levando o corpo da "vítima"). Depois Daiane, uma garota que eu nunca tivera boas relações, veio em minha direção com os olhos inchados gritando:

–Sua assassina! Você matou a Lila!

–Eu... eu não fiz nada! - Eu tentava falar mas eu soluçava demais para falar normalmente- Eu já falei!

–Mentirosa! - Nesse momento ela agarrou meus cabelos e começou a me bater.

Enquanto eu tentava soltar aquelas mãos sujas do meu cabelo eu a empurrei usando poderes por conta da raiva, eu não queria fazer aquilo mas foi inevitável.

Daiane foi de encontro á parede e caiu sentada. Quando se levantou, me olhou assustada e saiu correndo. Ela ia contar á Louina, imaginei. Então percebi que se eu ficasse ali iam me levar para sabe Deus onde! Vou fugir. Olhei ao redor para ver se alguém vinha vindo. Nada. Eu estava no 1º andar então dava para pular a janela sem se estabacar no chão. Eu estava de pijama e sem nada apropriado para uma fuga, mas não tinha como arrumar uma mochila cheia de utensílios. Eu tinha que fugir logo antes que alguém visse.

Pulei a janela. Estava todo mundo do lado de dentro, fui em direção ao portão que estava fechado. Ótimo, agora eu tinha que pular o portão! Fui escalando até o topo e depois pulei de lá de cima. E agora? Virar uma garota de rua? Isso era melhor do que ser tratada como assassina. Fui andando pela calçada da rua, até que vi um garoto com cabelos loiros, alto e sorriso travesso vir em minha direção. Ele não parecia querer meu mal, mas falar com estranhos já era ruim, falar com estranhos na calada da noite era suicídio. Comecei a andar mais rápido. Ele veio atrás de mim no mesmo ritmo que estava antes. Então parei. Por que? Porque eu não sou lá muito boa da cabeça, só isso! Ele se aproximou e disse:

–Tudo bem com você? Parecia que estava fugindo de mim.

–Mas eu estava fugindo de você, um garoto me perseguindo á essa hora da noite, você queria o que?- Fui grossa eu sei, mas a única pessoa que eu tratava bem e que me tratava bem era a Lila, e ela estava morta.

–Ok, ok. Confesso que fui um pouco "assustador" mas olhe, eu só queria conversar.

–Fala - eu não tinha para onde ir mesmo, o que custava falar com um garoto no meio da rua ás 11:00? Isso mesmo, nada.

–Você parece estar fugindo, eu tenho um lugar em que todas as crianças são felizes, foram abandonadas. Elas vivem comigo em uma ilha, você só tem que dizer uma coisa: Eu acredito.

Ok, o garoto era maluco. Mas eu já estava ficando maluca também, então eu fui e fiz a pior burrada da minha vida.

–Eu acredito