Hoje faz um mês que terminamos. E eu ainda não superei tudo isso. Annabeth era complicada, mas eu gostava de coisas complicadas, acho que foi assim que me apaixonei. E se eu pudesse voltar para aquela noite, eu faria diferente. Eu sinto tanto a falta dela.

Eu sei que ela também sente, afinal os amigos dela me disseram.

Flashback On.

Estava eu no mercado, minha aparência não era uma das melhores. Minha barba cresceu, ela estava consideravelmente grande. Eu usava um gorro surrado por cima dos cabelos bagunçados. Eu usava um moletom e uma calça que era um pouco folgada. Acho que poderia facilmente ser confundido com um mendigo.

Eu vi Luke na sessão de salgadinhos, ele era melhor amigo da Annabeth, ele e sua namorada, a Thalia. Luke também era meu amigo, tanto que foi ele que me apresentou à Annabeth. Eu fui até ele, eu precisava saber dela.

- Hey.

- Desculpa amigo, não tenho dinheiro. – Ele disse sem olhar pra mim. Eu estava tão ruim assim?

- Luke sou eu. – Ele então olhou pra cima e levou um susto.

- Percy! Nossa cara... – Ele disse me olhando de cima a baixo. – Wow, está mudado.

- Jura? – Rolei os olhos.

- Você está bem?

- To sim. E você?

- É to legal.

- A Thalia está com você?

- Não, ela está na casa da Anna... – Ele ia terminar a frase, mas olhou pra mim e parou. – Desculpe.

- Não, está tudo bem. Annabeth está bem? – Eu perguntei logo, sem rodeios, afinal era isso que eu queria saber.

Ele hesitou em responder, como se pensassem se falaria a verdade ou não.

- Está sim, está bem. Muito bem. – Ele diz sem me olhar.

- Ah sim, então ta ok. Vou indo Luke, até mais. – Eu digo me virando e saindo.

Peguei uns refrigerantes e um salgadinhos, hoje eu ia passar o dia jogando videogame. Sábado geralmente era assim, só que a Annabeth jogava comigo.

Eu estava na fila e Luke apareceu atrás de mim.

- Ainda faz sábado de videogame? – Eu sorri, quase sempre o Luke e a Thalia iam lá pra casa pra jogar também.

- Sim. É um vício, meio difícil de largar mão... apesar de tudo.

Ficamos em silêncio por um tempo.

- Sabe, se um dia você quiser jogar, pode ir lá em casa. – Eu disse me virando – Talvez a Thalia não queira, mas se você quiser... sempre será bem-vindo.

- Ah obrigado cara, eu vou sim.

Passei minhas compras e paguei. O tempo estava fechado, só espero que não chova, porque eu não vim de carro. Acho que falei isso cedo demais, eu estava na metade do caminho e começou a garoar.

- Droga!

- Hey Percy! – Ouço Luke me chamar de algum lugar, a chuva engrossa. Olho para o lado esquerdo e ele está parado com seu carro. – Entra aqui, te dou uma carona!

Como eu não queria chegar em casa ensopado, eu acabei aceitando. Ficamos em silêncio até chegarmos ao meu apartamento.

- Valeu mesmo Luke.

- Que nada, amigos são pra isso. – Ela me diz sorrindo e eu retribuo. – Sai do carro. – Hey Percy! Só pra você saber, ela sente sua falta, inclusive ela sempre dorme com sua camiseta. – Fiquei surpreso com aquilo, não sabia o que dizer. – Só achei que devia saber.

- Eu também sinto.

- Isso da pra perceber. Sua aparência diz tudo. Tchau, até mais. – Ele se despediu e deu a partida no carro. Fiquei uns dois minutos parado.

- SENHOR JACKSON! SAI DA CHUVA, PEGARÁ UM RESFRIADO! – Disse a síndica do meu prédio, a senhora Watson.

Sai do meu transe e subi as escadas correndo.

Fashback Off.

Depois daquele dia o Luke passou a me ver mais vezes e conhecendo ele, tenho certeza que ele contou pra Annabeth que eu não estava melhor que ela, afinal eu estava perdendo metade de mim.

A verdade é que estar sem a Annabeth era como acordar com metade de um céu azul. Sou uma metade de um coração sem ela. E eu tenho que dizer isso a ela, antes que seja tarde demais. Eu não posso perdê-la.

Criei coragem e disquei seu número. Chamou uma, duas, três. Até cair na secretária eletrônica.

- Oi Annabeth, sou eu, o Percy. Eu precisava conversar com você. Você tem uma hora ou um pouco mais? Nós poderíamos almoçar naquele restaurante na beira do rio. Se você quiser ir, me liga, ok? Hm, ér, tchau Annie.

Agora era esperar.

-x-

Já fazia três dias que eu havia ligado pra Annabeth e ela não me retornou.

- Annabeth te ligou? – Luke me perguntou assim que eu voltei da cozinha com uma latinha de refrigerante.

Hoje era sábado e ele obviamente estava lá para jogar comigo. Thalia como sempre nunca vinha, acho que ela ainda me odeia por eu ter feito a Annabeth sofrer. Mas o que ela mal sabe é que eu sofri e ainda sofro com tudo isso.

- Não. – Eu disse fazendo um careta e lhe entregando a latinha.

- Ah. Achei que ela tinha ligado.

- Luke, ela está saindo com alguém?

- Quem?

- A Annabeth, oras. – Ele deu pause no jogo.

- Não que eu saiba. A Thalia até tentou empurrar ela pra uns caras aí, mas ela sempre recusava.

- Caras?

- É, o Travis, Connor, Charles.

- Charles? Achei que ele tinha morrido naquele acidente junto com a namorada. – Luke parou pra pensar.

- Ih, é verdade. Não lembro o nome do outro, mas ele me lembra o Charles, vai ver era primos.

Luke voltou ao jogo e eu fiquei parado pensando. Então ela estava negando sair com outros caras? Interessante.

- Espero que ela ligue. – Eu disse me sentando ao lado de Luke.

- Cara posso te dar um conselho? – Luke passou o jogo novamente. Eu apenas assenti. – Não fica esperando ela ligar, se quer mesmo resolver as coisas, vai atrás dela. Enfim, tenho que ir... – Ele diz olhando o relógio. – Thalia está me esperando. Espero que você pense no que eu disse Percy.

- Vou sim.

Eu o acompanhei até a porta

- Então é isso, mais tarde eu talvez te ligue. Tchau.

- Tchau Luke. – Então ele saiu e eu fechei a porta indo tomar um banho.

No banho, eu pensei tudo que tinha pra pensar. Resolvi ir até o apartamento dela.

Vesti uma calça jeans por cima da cueca e peguei um moletom sem nem ao menos vestir uma camiseta, calcei meu tênis e coloquei meu gorro por cima dos meus cabelos que nunca viram um pente. Peguei as chaves do carro e sai.

O tempo lá fora estava nublado e consideravelmente frio. Em 15 minutos eu cheguei à casa da Annabeth, que um dia também foi minha... nós não éramos casados, nem nada do tipo, mas a gente morava juntos e meu apartamento ficou lá vazio por todo esse tempo.

Parei o carro em frente de sua casa e fiquei olhando, estava praticamente tudo escuro, exceto pela luz da cozinha e a luz da televisão ligadas. O carro do Luke estava ali mais na frente. Minha respiração ficou rasa. Será que ele falou pra ela que eu estava esperando sua ligação? Balancei a cabeça e sai do carro decidido a fazer logo isso.

Ando até a porta e respiro fundo e toco a campainha. Prendo a respiração e balanço inquietamente os dedos. Quem atende a porta é a Thalia, seu sorriso se esvai assim que ela me vê.

- O que você quer?

- Hum, ér, eu vim falar com a Annabeth... – Olho nervosamente pros lados e foco de novo meu olhar em Thalia. – Ela ta ai?

Vejo Luke lá atrás, escorado na batente da cozinha me mandando uma piscadela e um sorriso. Tento vasculhar o lugar com meus olhos, mas Thalia não abriu toda a porta, ela abriu o suficiente apenas para o corpo dela

- Sim ela está. – Thalia diz atraindo minha atenção. – Mas ela não quer falar com você.

- Thalia, eu...

- Quem ta aí Thalia? – Annabeth aparece ao lado de Thalia e puxa a porta me vendo. – Ah...

Ela estava tão linda, que meu peito chegava a doer. Seu cabelo estava preso num coque, então eu olhei pra baixo. Ela usava um moletom meu que eu havia deixado lá e uma samba canção. Minha samba canção. Soltei um meio sorriso e então olhei pra cima rapidamente.

- Hum, ér, oi. Posso falar com você? – Eu digo olhando em seus lindos olhos cinzas.

Thalia ia falar alguma coisa, mas Luke apareceu atrás dela abraçando sua cintura.

- Amor, acho que ta na hora da gente ir... – Ele diz beijando seu pescoço.

- O que?! – Thalia quase grita. – Não! Eu não vou deixar a Annabeth com ele – Ela diz apontando pra mim e eu me encolho.

- Thalia... – Luke começa.

- Não, nem vem Luke. Você sabe o que ele fez pra ela e sabe o tanto que ela sofreu com isso, não quero minha melhor amiga assim de novo.

Senti uma dor no peito de novo. Eu havia a feito sofrer, eu me sentia uma canalha por isso, eu entendia o lado da Thalia. Mas eu havia ido ali com o intuito de dizer o quanto eu sentia a falta de Annabeth. E ninguém me impediria de falar. Engulo em seco e olho pra Thalia que olhava furiosamente do Luke pra mim. Depois olho a Annabeth que esta mordendo os lábios, parecia querer falar algo, ou apenas estava desconfortável com minha presença ali.

- Pode fica Thalia, eu só tenho umas coisas pra falar. – Thalia então cruza os braços e fica ali esperando. Então eu olho pra Annabeth e meu coração se acelera. – Não espero que você me perdoe, eu só vim dizer e ir embora, porque é algo que eu não posso mais deixar escondido. Estou deixando meu orgulho de lado, porque o medo de te perder é maior que isso. Olha, eu sei que o que eu te disse naquela noite, não foi legal, mas eu me arrependendo tanto, se eu pudesse, eu voltava e fazia diferente. Eu sofri sua ausência, Annabeth. Eu sou metade de um coração sem você. Eu sinto falta das coisas que a gente fazia. Sinto falta de acordar ao seu lado todas as manhãs, sinto falta de você falar que eu babo a noite toda, sinto falta de jogar videogame com você, sinto falta de você andando pela casa usando minhas camisetas. Sinto falta dos seus beijos. Você Annabeth Chase, é como uma droga pra mim, depois que eu provei, eu fiquei viciado. Eu... – Engoli as lágrimas e dei um sorriso torto. – Eu não me vejo num futuro com alguém que não seja você... A verdade é que sem você eu fico perdido, você é tudo pra mim e tudo que eu quero é te ver feliz, mesmo que seja com outra pessoa e que isso me doa demais. Mas se eu te amo de verdade, eu devo deixar você partir.

Então eu olho em seus olhos que estão cheios d’água e eu queria abraçá-la e fazê-la se sentir melhor. Olho pra Thalia que havia desfeito sua cara de malvada e me olhava com certa pena, eu acho. Luke a abraçava de lado e me mandou um sorriso, como se eu tivesse finalmente feito a coisa certa. Então eu olhei de novo pra Annabeth que não tinha dito nada ainda, soube então que era tarde demais. Lhe lanço um sorriso e me viro rápido e vou andando a passos largos até o carro, porque eu sei que eu iria chorar. Na metade do caminho até o carro as lágrimas começaram a cair, eu abaixei a cabeça.

- PEEERRCY!!! – Ouço alguém gritar meu nome, já sabendo quem é, eu olho pra trás e uma cabeleira loira corre em minha direção. – Eu... eu perdoo você, Percy. – Então ela avança em minha direção, me beijando. Eu sentia tanta falta dos seus beijos. Agarrei sua cintura e suas mãos foram para minha nuca. Nos separamos por falta de ar. – Eu senti tanto sua falta... Eu te amo, Cabeça de Alga.

- Também te amo, Sabidinha. – Então eu volto a lhe beijar, sabendo que dessa vez eu a faria a mulher mais feliz do mundo.